Anais: Geomorfologia de encostas
VULNERABILIDADE NATURAL AOS PROCESSOS EROSIVOS NO AGLOMERADO MORRO DAS PEDRAS EM BELO HORIZONTE-MG
AUTORES
Ferreira, N.S. (GRADUANDA DE GEOGRAFIA - PUC MINAS) ; Gonçalves, B.A. (GRADUANDA DE GEOGRAFIA - PUC MINAS) ; Bento, T.F. (GRADUANDO DE GEOGRAFIA - PUC MINAS) ; Silva, L.M.C. (GRADUANDA DE GEOGRAFIA - PUC MINAS) ; Bueno, G.T. (DOUTOR E PROFESSOR DE GEOGRAFIA DA PUC MINAS) ; Souza, J.B. (PROFESSOR DE GEOGRAFIA DA PUC MINAS)
RESUMO
Os processos erosivos s.l. constituem um importante problema ambiental urbano,
principalmente onde há ocupação de áreas naturalmente vulneráveis. Este trabalho
tem como objetivo investigar as vulnerabilidades naturais do Aglomerado Morro das
Pedras em Belo Horizonte-MG. A metodologia baseia-se na modelagem em SIG, em que
se elaborou um mapa síntese correlacionando os fatores geológicos e
geomorfológicos. Os resultados apontam os principais pontos de vulnerabilidade da
área estudada.
PALAVRAS CHAVES
processos erosivos; modelagem por SIG; vulnerabilidade natural
ABSTRACT
Erosion processes s.l. are an important environmental problem in urban zones,
mainly where naturally vulnerable areas are occupied without planning. This study
aims to investigate the natural vulnerability of soils of the “Aglomerado” Morro
das Pedras in Belo Horizonte-MG. The methodology is based on GIS modeling, which
allowed the preparation of a synthesis map correlating geological and geomorphic
factors. The results show the main points of vulnerability of the studied area.
KEYWORDS
erosion processes; GIS modeling; natural vulnerability
INTRODUÇÃO
Os processos erosivos podem ser entendidos, em seu sentido mais amplo, como a
remoção e o transporte das partículas de rocha e de solo de um local para outro
(AGI, 1973). A ação da força da gravidade, associada ou não a um agente de
transporte, é o motor desses processos. O transporte de matéria não ocorre com a
mesma intensidade em todos os pontos da paisagem, sendo condicionado por uma
série de fatores. Se esse transporte ocorre de forma repentina ao longo das
vertentes, pode resultar em eventos catastróficos. As encostas são locais de
riscos quando são ocupadas inadequadamente, gerando prejuízos, econômicos,
ambientais e sociais, muitas vezes catastróficos e irrecuperáveis (AHRENDT
2005). Assim, justifica-se a necessidade de intensificarem os estudos voltados a
esses processos, reconhecendo e entendendo a interação entre seus principais
condicionantes, para que se possa apontar as áreas de maior ou menor
vulnerabilidade erosiva natural na paisagem.
A modelagem utilizando os recursos do geoprocessamento tem trazido grandes
contribuições para os estudos ambientais. Esses recursos permitem a realização
de análises complexas, por fazer uma integração de diversos dados
georreferenciados, possibilitando a construção de banco de dados e a
distribuição espacial destes dados em mapas (CÂMARA e MEDEIROS, 1996).
O presente trabalho propõe um estudo de vulnerabilidade natural aos processos
erosivos e faz uso da modelagem por meio do geoprocessamento. Foram utilizadas
variáveis de natureza geológica e geomorfológica e suas interações. A área de
estudo se encontra na parte centro-sul do município de Belo Horizonte-MG, sobre
filitos e uma intrusão granítica de forma aproximadamente circular (CODEMIG,
2005)(Figura 1). Compreender os processos erosivos e avaliar suas possibilidades
de ocorrência é fundamental para o planejamento e gerenciamento de áreas de
riscos geológicos nas cidades, principalmente quando há empreendimentos que
causam grandes alterações ao meio.
MATERIAL E MÉTODOS
A modelagem da vulnerabilidade natural foi baseou-se em quatro índices:1º:
Resistência da rocha ao intemperismo (G). Os tipos de rocha da região receberam
as notas: granito (1,0), filito (3,0) (CREPANNI et al 2001). Por ter ocorrência
muito restrita, a intrusão de metadiabásio (Figura 1) não foi considerada.2º:
Declividade das vertentes (D). Foi obtida de base topográfica (PRODABEL, 2011),
gerando um mapa com 5 classes. O terceiro e quarto índices resultam da
combinação de pares de variáveis geológicas e geomorfológicas, baseado em
Espósito et al, (2010). As geológicas são o ângulo e a direção de mergulho da
estrutura geológica. Para o filito, trata-se da organização de suas camadas
metassedimentares. Para o granito, trata-se da estrutura aproximadamente
concêntrica que essa rocha adquire por alívio de pressão quando próxima ou
exposta à superfície (THOMAS, 1994). As variáveis geomorfológicas são a
declividade e a orientação da vertente: 3º: Ângulo de mergulho da estrutura
geológica e declividade da vertente (AD): os 90º possíveis para essas variáveis
foram divididos em 10 classes de 9º cada. Para o filito, o ângulo do mergulho
foi obtido por meio da interpolação de dados de carta geológica (CODEMIG, 2004).
Para o granito, foram propostas 10 classes, em uma estrutura concêntrica,
partindo do centro deste corpo geológico (ângulo zero) e terminando em seus
limites com o filito (ângulo máximo). A declividade da vertente foi obtida como
no 2º índice. 4º: Direção de mergulho da estrutura geológica e orientação da
vertente (MO): os 360º possíveis para essas variáveis foram divididos em 8
classes de 45º cada. Para o filito, a direção do mergulho foi obtida da
interpolação de dados da carta geológica acima. Para o granito, foram propostas
8 classes radiais, partindo do centro deste corpo geológico. Cada par de
variáveis dos índices 3 e 4 foi combinado por SIG, gerando classes de
vulnerabilidade. O mapa final de vulnerabilidade foi obtido pela equação: V =(G
+ D + AD + MO)/4
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A topografia da região é acidentada, com declividades que chegam a 50º e
atitudes que variam de 877 a 1055 metros, o relevo da área possui grandes
variações na orientação das vertentes. O local onde se encontra o granito é o
ponto mais alto e o ponto mais baixo se encontra na parte oeste.
O limite leste da área corresponde ao alinhamento de um espigão, que parte da
Serra do Curral, ao sul, e estende-se rumo ao norte. Esse espigão funciona como
um divisor de sub-bacias do Ribeirão Arrudas. A leste do mesmo as águas deságuam
na Barragem Santa Lúcia e a oeste, no Córrego Piteiras. O relevo da área de
estudo foi elaborado pela instalação da rede de drenagem na vertente oeste desse
espigão, gerando uma série de pequenos interflúvios orientados aproximadamente
no sentido E/W. Dessa configuração resultam vertentes voltadas para o norte e
vertentes para o sul. (Figura 1)
A vulnerabilidade natural aos processos erosivos do Aglomerado Morro das
Pedras é apresentada na Figura 2. Na região em que se encontra o filito, as
classes de vulnerabilidade se distribuem em faixas de orientação aproximadas E-
W. Isso resulta da relação entre o relevo, organizado em pequenos interflúvios
com essa orientação, e a direção preferencial de mergulho das camadas (SE).
Assim, as vertentes norte destes interflúvios são menos vulneráveis do que as
vertentes sul. Nessas formas de relevo, a vulnerabilidade é acentuada nas
vertentes de maior declividade.
Na área cujo substrato é o granito, as classes de declividade se distribuem de
forma aproximadamente concêntrica, embora a parte oeste seja mais vulnerável do
que a parte leste. Isso se explica por dois motivos. O primeiro diz respeito ao
fator geomorfológico declividade, que é menor na parte leste, mais elevada, da
área de granito. O segundo decorre da relação entre orientação geral das
vertentes e a direção de mergulho das estruturas geológicas do granito. Como
essa estruturação resulta do processo de alívio de pressão, consideramos que a
rocha apresenta uma organização aproximadamente concêntrica, resultando em
orientações para todas as direções a partir do centro. Como, do ponto de vista
geomorfológico, a orientação geral das vertentes é oeste, a partir do espigão
principal (limite leste da área), a parte leste da área granítica apresenta
divergência entre as duas orientações (camadas da rocha e vertentes), enquanto a
parte oeste apresenta concordância entre essas orientações.
Figura 1: Mapa geológico
Figura 2: Mapa de Vulnerabilidade
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo demonstrou que a estrutura geológica, em associação com os aspectos
geomorfológicos, tem papel fundamental na vulnerabilidade aos processos erosivos.
A área estudada possui uma vulnerabilidade mediana que se agrava devido à ocupação
existente no local, podendo gerar danos físicos e materiais para a população. A
geologia exerce uma influência muito forte no local, entretanto deve ser analisada
associada aos fatores geomorfológicos. A presença da intrusão granítica interfere
na vulnerabilidade, devido à resistência e à sua estruturação, diferentes daquelas
do filito. Pretende-se em trabalhos futuros acrescentar outras variáveis naturais
(características pedológicas) e antrópicas (presença de antigo lixão e tipo de
ocupação), além de comparar o mapeamento com os registros de eventos catastróficos
na área.
AGRADECIMENTOS
A Deus,que nos guiou e protegeu durante toda essa caminhada.
Aos pais, que com amor e carinho nos ensinaram a viver.
Aos Professores,Guilherme Taitson Bueno e Jorge Batista de Souza pela dedicação e
todo auxílio prestado.
A equipe da PRODABEL e GERARI-O, por disponibilizar as diversas informações e
bases cartográficas utilizadas ao longo do trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
AHRENDTH, Adriana. Movimentos de massa gravitacionais – proposta de um sistema de previsão: aplicação na área urbana de Campos do Jordão – SP. Tese de doutorado em Geotécnia – Escola de Engenharia de São Paulo. Orientação: Prof. Dr Lázaro Valentin Zuquette. São Paulo: 2005.
American Geological Institut. Investigando a Terra. Rio de Janeiro: McGraw- Hill, 1973, p. 297-321.
CAMARA, G.; MEDEIROS J. S. de (Org.). Geoprocessamento para projetos ambientais. São José dos Campos: INPE, 1996. Disponível em: http://mtc-m12.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/sergio/2004/04.19.15.08/doc/cap10-aplicacoesambientais.pdf. Acesso em maio 2012.
CODEMIG – Companhia de desenvolvimento Econômico de Minas Gerais. Disponível em: < http://www.codemig.com.br/tre2/geofisica.html>. Acesso em: Maio de 2012.
CREPANNI, Edison et al. Sensoriamento remoto e geoprocessamento aplicados ao zoneamento ecológico- econômico e ao ordenamento territorial. INPE. São José dos Campos. Jun. 2001. Disponível em: <http://www.lapa.ufscar.br/bdgaam/geoprocessamento/Crepani%20et.%20al.pdf> . Acesso em maio 2012.
ESPÓSITO, Cátia Cristina; BUENO, Guilherme Taitson; LOBO, Carlos Fernando Ferreira, SOUSA, Jorge Batista. Estrutura de Rochas Metassedimentares e Vulnerabilidade aos Movimentos de massa de Massa – Bacia do Córrego do Cercadinho, Belo Horizonte – MG. Anais... Simpósio Brasileiro de Geomorfologia.8. Recife-PE, 2010.
PRODABEL - Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte, 2011.