Autores

da Silva, M.L.G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO) ; de Arruda, (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO) ; da Silva, D.G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO)

Resumo

O mapeamento geomorfológico é uma ferramenta de análise indispensável na compreensão das unidades geomorfológicas da paisagem. Trata-se de um mapeamento elaborado na escala de 1:150 000, abarcando o maciço residual localizado no munícipio de Água Branca – Alagoas. A área em questão possui características geomorfológicas distintas relacionadas a sua localização que está em ambiente semiárido, porém sofrendo a influência do relevo local devido a sua altitude. A metodologia adotada foi proposta por IBGE, (2009). Sendo adaptada para o contexto regional do semiárido brasileiro. Foram analisadas características relacionadas a morfometria, morfografia, morfogênese e estrutura do relevo local. A obtenção dos resultados, mostraram a eficácia deste método de análise, aplicado a área de estudos supracitada. Permitindo a identificação do funcionamento da dinâmica de sedimentos da área.

Palavras chaves

Mapeamento Geomorfológico; Maciço Residual; Água Branca

Introdução

No grande grupo das Geociências, o uso do mapeamento geomorfológico por parte da Geografia Física especificadamente, ganhou espaço como ferramenta indispensável para interpretação dos modelados terrestres, contribuindo na compreensão da paisagem e na identificação dos compartimentos do relevo. A elaboração de modelos de evolução da paisagem que possam ser adaptados às condições específicas de cada região deve buscar uma integração entre a estratigrafia, a geomorfologia e a pedologia. Esses modelos facilitam na compreensão dos problemas e na elaboração de políticas de planejamento, manejo e recuperação de área degradadas (CORRÊA, 1997; RAMOS, et al., 2016; SILVA, 2013). Ao esquadrinhar as formas de relevo, a assimilação das particularidades morfológicas, bem como a dinâmica evolutiva da paisagem, o mapeamento das feições geomorfológicas e seu arranjo baseado nas configurações morfoestruturais são de suma importância na determinação de uma tipologia de formas e interpretação coerente do modelado (CORRÊA & FONSÊCA, 2016). O município de Água Branca está situado no estado de Alagoas na região Nordeste do Brasil, mais precisamente na porção oeste do estado, correspondendo à microrregião do Sertão Alagoano. A altitude média do município é de 570 metros e, por esta razão, possui um padrão de valores de temperatura e precipitação diferenciados da região em seu entorno. A área estudada é composta pela feição geológica denominada plúton de Água Branca, sua origem está relacionada ao neoproterozóico (1 bilhão e 541 milhões de anos atrás), tratando-se de um relevo antigo. O Plúton de Água Branca está inserido na Suíte intrusiva Serra do Catu que compreende uma forma alongada na direção NW-SE, paralela à estruturação regional. Este batólito está encaixado, através de contatos bruscos, em litotipos do Batólito Águas Belas-Canindé. É representado por leucogranitóides (alcalifeldspato granitos a granodiorito) inequigranulares porfiríticos (alcalifeldspato) médios a grossos, com evidências de deformação no estado sólido na direção NW-SE (BRITO NEVES et al., 2009). Geomorfologicamente o município está inserido no subdomínio da Depressão Sertaneja. Onde predominam feições de pedimentos com ou sem cobertura arenosa e detrítica, e a presença de inselbergs cuja ocorrência está associada à resistência de plútons neoproterozóicos, como foi mencionado acima. As feições de relevo de Água Branca estão entre modelados de denudação e modelados de acumulação, que caracterizam a dinâmica geomorfológica que ocorre na região (SANTOS et al., 2016). No estabelecimento das tipologias das unidades geomórfologicas da área de trabalho, optou-se por seguir as normas estabelecidas pela comissão de mapeamento da UGI – União Geográfica Internacional, descrita por Demek (1972), com a finalidade de obter um mapeamento em escala intermediária. O mapa final combina informações sintéticas sobre a morfografia, morfometria e estrutura das formas, a fim de estabelecer uma relação clara entre os materiais estruturadores e as unidades morfológicas. Neste sentido, o presente trabalho de pesquisa justifica-se em virtude da importância de compreender as unidades geomorfológicas de uma determinada área, e sua relação com a geologia e a geomorfologia local. Compreender também como essa interação influência na dinâmica de erosão e deposição de sedimentos na área.

Material e métodos

O mapeamento presente foi realizado na escala de 1:150 000 para fim de reconhecimento das unidades geomorfológicas presentes no maciço residual do município de Água Branca – AL. A metodologia empregada foi proposta por Demek (1972), sendo adaptada para o contexto regional do semiárido brasileiro. O modelo digital de elevação (MDE) utilizado, foi colocado também afim de localizar a área de estudo dentro do seu contexto regional. A imagem de satélite aplicada, foi a Alos Palsar com resolução de 12,5m. Fez-se também uso de ambiente de Sistemas de Informações Geográficas (SIG), no caso o ArcGis 10.3 para confecção da rede triangular irregular – TIN. A partir desses dados foram analisadas as características de morfometria, morfografia, morfogênese e estrutura do relevo. Aliado ao mapeamento geológico realizado pela CPRM, para o estado de Alagoas. Em seguida foram determinadas as unidades geomorfológicas da área, dividindo-as em modelados de denudação e de agradação, para uma melhor interpretação dos modelados destacados foram elaborados perfis topográficos.

Resultado e discussão

Na figura 01, é possível observar o contexto regional da área de estudo, com destaque para altitude máxima que chega 839m e a altitude mínima que é de 102m. A região apresenta uma área de planície ao sul, onde está localizada a drenagem do Rio São Francisco. Ao norte, pode-se verificar a presença de alguns relevos residuais, como o plúton de Água Branca e mais um plúton a sua esquerda, sem denominação. Ao norte da divisa do estado de Alagoas está a suíte intrusiva Chorrochó que data do mesoproterozóico. Constituindo, portanto, um relevo mais antigo se comparado com o plúton de Água Branca, que data do neoproterozóico. Os resultados obtidos com o mapeamento de unidades geomorfológicas do maciço residual de Água Branca –AL (figura 02), permitiu identificar as seguintes compartimentações. Unidade de Cimeira acima de 700m: Corresponde aos níveis conservados da dissecação, com uma morfologia de topo plano ou em crista, sendo marcada pela presença de vegetação e de sedimentos coluviais. Unidade de Encosta sem Cobertura coluvial acima de 630m: É marcada pela presença de encostas íngremes que fazem a ligação entre a unidade de cimeira e a encosta com cobertura coluvial ou diretamente com a unidade de pedimento. Por possuir uma inclinação acentuada essa unidade de encosta não favorece a deposição de sedimentos coluviais. Está sujeita a processos denudacionais principalmente nas áreas em que ocorre a retirada da vegetação. Também é marcada pela ocorrência de depósito de tálus. Unidade de encosta com cobertura coluvial a 420m: Esta unidade está localizada na face barlavento do maciço residual, situada entre a encosta íngreme e os níveis de pedimento. Por possuir uma declividade menos acentuada do que a encosta acima, favorece a deposição do sedimento coluvial. Unidades de Pedimento: São superfícies de aplainamento, de inclinação suave, capeada por material detrítico, não apresentando dissecação marcada ou deposição excessiva. Estão divididos em dois níveis, um mais elevado a 400m e outro menos elevado a 300m. Os dois níveis apresentam forte ângulo no contato com a vertente montanhosa íngreme ou menos íngrime, foramndo uma ruptura de declive, enquanto a jusante, suaviza-se com a deposição detrítica em direção as áreas mais planas. Inserlbergs: São unidades residuais cuja ocorrência na área está associada à resistência de plútons neoproterozóicos. Estão delimitados por encostas íngremes, sobre a influência principalmente do intemperismo físico. E estão localizados nas áreas próximas aos pedimentos.

Figura 01 – Modelo digital de elevação



Figura 02 – Mapa de Unidades Geomorfológicas no Maciço residual do mun



Figura 03 – Perfis topográficos ao longo das unidades geomorfológicas.

A-B: morfologia dos topos. C-D: encosta com cobertura coluvial, encosta menos íngreme. E-F: encosta sem cobertura coluvial, encosta íngreme.

Considerações Finais

A delimitação dos compartimentos de agradação e denudação permitiram identificar o funcionamento da dinâmica de erosão e deposição de sedimentos na área. O relevo local do maciço residual de Água Branca possui uma influência orográfica, de modo que em sua face a barlavento é possível encontrar a presença da encosta com cobertura coluvial. O que pode ocorrer devido a um maior índice de precipitação no local, contribuindo para que os sedimentos localizados, na parte mais alta da encosta ou em seu topo, possam ser erodidos e depositados na parte menos íngreme da encosta. É importante ressaltar também a presença de dois níveis de pedimentos dispostos em degraus que estão associados ao escalonamento da área. A partir das considerações realizadas é possível perceber que o mapeamento geomorfológico é uma ferramenta importante no discernimento das unidades geomorfológicas da paisagem e na compreensão da dinâmica superficial da área. Destacando ainda a relevância da realização de trabalhos de campo que tornaram possíveis a validação das características observadas através do mapeamento.

Agradecimentos

Referências

BRITO NEVES, B. B.; VAN SCHMUS, W. R.; KOZUCH, M.; SANTOS, E. J. PETRONILHO, L. A. Zona Tectônica de Teixeira Terra Nova – ZTTN – Fundamentos da Geologia Regional e Isotópica. Geol. USP Sér. Científica, v.5 (1), p. 57-80, 2009.
IBGE/ Manual técnico de geomorfologia, Coordenação de Recursos Naturais e Estudos Ambientais. – 2. ed. - Rio de Janeiro : IBGE, 2009. 182 p. – (Manuais técnicos em geociências, ISSN 0103-9598 ; n. 5).
CORRÊA, A. C. B. Mapeamento geomorfológico de detalhe do maciço da Serra da Baixa Verde, Pernambuco: estudo da relação entre a compartimentação geomorfológica e a distribuição dos sistemas geoambientais. 183p. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de Pernambuco. 1997.
CORRÊA, A. C. B., FONSÊCA, D. N. Compartimentação Geomorfológica e Morfoestrutural da Bacia do Rio Capibaribe Mirim, Pernambuco. Clio Arqueológica, Recife. V31N3 p. 25-47, 2016.
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SANTOS, L. F. L.; ARRUDA, Í. R. P.; MELO, R. F. T.; SILVA, D. G. Análise e interpretação dos lineamentos no maciço estrutural de Água Branca/AL utilizando o software Microdem. In: E-book do I Workshop de Geomorfologia e Geoarqueologia do Nordeste. 1ed. RECIFE: GEQUA, 2016, v. 1, p. 201-210.
SILVA, D. G. Reconstrução da dinâmica geomorfológica do semiárido brasileiro no quaternário superior a partir de uma abordagem multiproxy. Tese de Doutorado – PPGEO, UFPE. Recife, 2013. 277p.