Autores

Susana de Souza Gois, L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS) ; Araújo Monteiro, K. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS)

Resumo

O estado de Alagoas possui uma pequena participação na comunidade científica quando se fala em caracterização e dinâmica da paisagem, comparado aos outros estados do Nordeste. Nesta perspectiva este trabalho traz a proposta de um mapeamento geomorfológico da Serra da Barriga e entorno, localizados no município de União dos Palmares – AL como uma contribuição para a caracterização física dos sistemas ambientais da região. O mapeamento foi feito seguindo metodologias elaboradas por Demek (1972), aplicadas por Silva et al (2017), e a interpretação feita aos moldes da classificação de Corrêa et al (2010) para o Planalto da Borborema. Foram identificadas as feições morfoestruturais Borborema e Depressão Pré-litorânea e as morfoesculturas cimeira em crista, pedimentos em diferentes níveis altimétricos, colinas e plainos aluviais.

Palavras chaves

Serra da Barriga ; Planalto da Borborema; Mapeamento Geomorfológico

Introdução

O Quaternário, último período do tempo geológico, divide-se em duas épocas de duração evidentemente desiguais. Segundo Goudie (1985) o referido período divide-se em Pleistoceno e Holoceno, onde o Pleistoceno se iniciaria entre 1,7 e 1,6 milhões de anos antes do presente (AP) e terminaria no Holoceno, cerca de 11.000 anos AP. Para Guerra (2008), é aceito subdividir o Quaternário em duas épocas: Pleistoceno e Holoceno, onde a segunda corresponde ao equivalente a 10.000 anos AP. Ainda não há um consenso na ciência sobre o período de duração desse período, porém existe uma variação entre 10.000 e 11.000 anos AP. O Quaternário é caracterizado principalmente pelas suas alternâncias climáticas conhecidas como interglaciais e glaciais, variando a temperatura e a pluviosidade. Sobre isso Guerra (2009, pág. 335) afirma que: Por todo o planeta, a intensidade das variações climáticas ocorridas durante o quaternário produziu efeitos nas taxas de intemperismo e pedogênese, nos regimes fluviais e nível dos oceanos, e na distribuição ecológica dos seres vivos, forçados a migrações e adaptações às condições mutáveis. Dessas contínuas modificações nas condições ambientais resultaram de transformações mundiais na paisagem. No caso do Nordeste brasileiro, onde está localizada a área de estudo desta pesquisa,Bigarella (2003) atribui uma formação associada a períodos de climas menos quentes e mais secos. Com essas mudanças no comportamento climático ocorreram também mudanças na gênese dos solos, na vegetação e consequentemente na estrutura do relevo devido aos processos de erosão e deposição. Hoje, com o auxílio de novas tecnologias, é possível obter, com maior precisão, como esses eventos ocorreram, através das análises de sedimentos em depósitos na superfície da paisagem. Bigarela op cit., afirma que uma vez comprovada a importância das mudanças climáticas cíclicas como fator controlador da evolução da paisagem, ter-se-iam os elementos fundamentais para a interpretação das diferentes formas de relevo. A partir de quando se conhece a estrutura morfológica de determinado lugar, torna-se possível um planejamento ambiental de qualidade que resultará em boas condições tanto para a natureza, quanto para a porção econômica e social. Nesta perspectiva o mapeamento geomorfológico surge como ferramenta essencial para a analise morfológica da paisagem. Diante disso, Rodrigues (1998) apud Miranda et al (2006),afirmam que é necessário abordar quatro elementos para elaboração do mapeamento geomorfológico de uma área, sendo eles: morfometria, morfologia, gênese e cronologia. Portanto segundo Amorim et al, (2015), o trabalho de cartografar a geomorfologia de um determinado lugar deve ser apoiado em critérios de representação gráfica bem definidos, para que se possa otimizar a sua leitura e facilitar a interpretação dos fenômenos geomorfológicos. Hoje a Geografia conta com as Geotecnologias para otimizar e acelerar esse mapeamento. Sendo possível o cruzamento de dados nos SIGs, que estão facilmente disponíveis na internet, entre eles fotos aéreas, dados de satélites e informações de GPS. A aplicação das geotecnologias aliadas ao conhecimento já produzido sobre a dinâmica da paisagem permite uma melhor análise do relevo e sua estrutura, contribuindo assim com a otimização da pesquisa, reduzindo tempo e custos em campo e propiciando uma melhor visualização, em diferentes escalas, dos compartimentos morfológicos. Sendo assim, a análise geomorfológica dos ambientes atuais constitui a base para a compreensão da sequencia evolutiva da paisagem no passado geológico recente.

Material e métodos

A Serra da Barriga e seu contexto geológico-geomorfológico Corrêa et al (2010), propuseram uma definição do planalto da Borborema e a identificação de três níveis hierárquicos de compartimentos morfoestruturais. Estes níveis seriam: o macrodomo correspondente à Província Borborema incluindo suas bacias fanerozóicas, o planalto strictu sensu e seus compartimentos. Tendo como Planalto da Borborema o conjunto de terras altas que se distribuem ao longo da fachada do Nordeste oriental do Brasil, ao norte do rio São Francisco, acima da cota 200 m, cujos limites são marcados por uma série de desnivelamentos topográficos, sendo sua gênese epirogênica associada à fragmentação de Pangea e ao magmatismo intraplaca atuante ao longo do Cenozoico (CORRÊA et al., 2010). Os autores criaram ainda uma divisão megageomorfológica do Planalto da Borborema compartimentando-o em 8 unidades morfoestruturais, dentre elas a Cimeira Estrutural Pernambuco-Alagoas onde está localizada a área de estudo desta pesquisa (Fig. 1). O setor da Cimeira Estrutural Pernambuco-Alagoas é caracterizado por Corrêa et al, op cit. como de norte para sul, a partir das imediações do município de São Caetano, Pernambuco, assumindo uma feição topográfica mais homogênea em relação aos setores circunvizinhos, onde predominam as cristas e relevos residuais. O eixo central desta unidade, que se estende pela BR-423 entre São Caetano e Garanhuns, predomina uma topografia marcada pelas cimeiras planas com espesso manto de argissolos e neossolos, cuja elevação varia de 600 a 700 metros. Sua ocorrência resulta da combinação de fatores, como a homogeneidade litológica do Maciço Pernambuco-Alagoas (Complexo Gnáissico- Migmatítico), seu afastamento do Domínio da Zona Transversal (um dos eixos principais do arqueamento regional) e finalmente sua própria posição interiorana, na cimeira do bloco, a montante das áreas escarpadas sujeitas à intensa dissecação vertical. A estrutura daSerra da Barriga faz parte do Macrodomo da Borborema e encontra-se, mais especificamente, no limite sul do compartimento Cimeira Estrutural Pernambuco-Alagoas, caracterizado por Correa (et al, 2010) como possuindo ocorrência de complexos gnáissico-migmatitícos e extensos lineamentos estruturais. Segundo a MASCARENHAS (2005) a área está inserido na bacia hidrográfica do Rio Mundaú, que atravessa o município a SSW. Os solos do município são caracterizados segundo o ZAAL (2010) e do IMA (2015)como argissolo amarelo, argissolos vermelho-amarelo, gleissolo, neossololitólico e planossolosháplico. Na Serra da Barriga localizou-se o Quilombo dos Palmares – maior e mais duradouro da América - serviu como refúgio para milhares de negros escravizados tanto na dominação portuguesa quanto na holandesa no período colonial. Estima-se que cerca de 20 mil pessoas viveram no local entre 1597 a 1695, entre elas destaca-se a figura de Zumbi dos Palmares considerado herói negro símbolo da resistência a escravidão no Brasil (PALMARES, 2017). Mapeamento Geomorfológico Para realização do mapeamento geomorfológico na área da Serra da Barriga e seu entorno, no município de União dos Palmares – AL,foi feita a elaboração do banco de dados em ambiente SIG utilizado à interpretação da imagem do TOPODATA produzida a partir dos dados no Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) junto com isolinhas a cada 5m. O datum e o elipsóide de referência em todos os cartogramas foi o WGS 84 Zona 24S. Foram utilizadas as propostas de Silva et al (2017) seguindo as orientações da UGI (União Geográfica Internacional), e sua Comissão de Mapeamento Geomorfológico baseada na propostas de Demek (1972), onde se recomenda inicialmente o mapeamento das morfoestruturas e posteriormente das morfoesculturas, sempre levando em consideração a gênese e cronologia das formas.

Resultado e discussão

O mapa geomorfológico (Fig. 2) apresentou duas morfoestruturas, classificadas como Borborema e Depressão Pré-litorânea, e ainda algumas morfoesculturas, todos constituintes da Cimeira estrutural Pernambuco-Alagoas. A Cimeira em Crista é a feição mais elevada, possuindo hipsometria de 370m a 538m, exibindo uma feição de topo em crista, com pouca ou sem cobertura detrítica devido a sua alta declividade principalmente na face Sul, encaixando-se assim na sub-classe dos modelados de denudação. Em seguida tem- se a Encosta com Cobertura Coluvial, na altimetria entre 300m e 370m ocorrendo um nível abaixo da cimeira, apresentando um relevo mais suave que a feição anterior, onde já ocorre uma cobertura coluvial vinda da área mais alta, sendo assim classificada na categoria de modelado de acumulação. A próxima unidade é o Pedimento a 300m, esta constitui áreas elevadas que sofreram a ação do intemperismo e foram relativamente rebaixadas ao níveis atuais devido a ação da erosão remontante, está entre 180m e 300m na face Norte e entre 165m a 300m na face Sul, devido as características da sua dinâmica a feição foi classificada como modelado de denudação. Todas as três unidades morfoesculturais estão dentro do grupo morfoestrutural Borborema. O grupo morfoestrutural Depressão Pré-litorânea, apresenta unidades de morfoesculturas classificadas como Colina, relevo dissecado presente apenas na face Sul, apresentando topo arredondado e possuindo cerca de 180m, os Pedimentos na face Norte a 180m e na face Sul 165m, caracterizam-se pela pouca cobertura de detritos, apresentando ainda alguns morros baixos, sendo classificados como modelados de denudação juntamente com a Colina. Ainda neste mesmo grupo estão os plainos aluviais, área de deposição da dinâmica das drenagens da região, por conta disso possuem relevo bastante suave e foram classificados como modelados de acumulação. Sendo assim o mapa pode ser validado a partir da descrição de Corrêa et al (2010), onde a Cimeira Estrutural Pernambuco-Alagoas apresenta cimeiras em crista e relevos residuais, acordando com tal classificação morfoescultural, com predomínio de argissolos, contemplando ainda complexos gnáissicos- migmatíticos, supondo uma região de muitas falhas geológicas contando com trend de lineamentos de E-W e de NE-SW.

Figura 1: Contexto geológico-geomorfológico regional.



Figura 2: Mapa Geomorfológico



Considerações Finais

O mapeamento geomorfológico apresenta a distribuição dos conjuntos morfoestruturais e morfoesculturais presentes na Serra da Barriga e entorno e sua relação com a formação de áreas de possíveis locais de armazenagem de sedimentos. De acordo com o mapeamento foi possível identificar as áreas de denudação e de acumulação de sedimento assim como as encostas com cobertura coluvial e os pedimentos e ainda uma Cimeira em crista. Esse processo auxilia de forma significativa para as coletas em campo, tal como permite uma visão completa do modelado, auxiliando na apreciação e compreensão da dinâmica desta paisagem.

Agradecimentos

Referências

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