Autores

Krein Rademann, L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA (UFSM)) ; Trentin, R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA (UFSM))

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo o agrupamento de dados morfométricos e morfológicos do relevo de Cacequi, localizado no Oeste do estado do Rio Grande do Sul, através do uso de SIGs e seus modelos matemáticos automatizados, para gerar diferentes unidades geomorfométricas do município. Para a elaboração do mapa das unidades geomorfométricas foram utilizados os parâmetros de declividades, divididos em maior e menor que 2%, de hipsometria superiores e inferiores a média, plano de vertentes convergente e divergente e, perfil de vertentes côncavo e convexo, que posteriormente foram combinados em doze unidades geomorfométricas. A Unidade X apresentou maior ocorrência, que é característica de pequenas depressões com plano convergente associadas aos canais fluviais. De modo geral o uso de SIG se mostrou eficaz para o estudo do relevo, sendo ele de forma precisa e rápida, gerando resultados que permitiu localizar as áreas com maior risco de erosão e as áreas de deposição do município.

Palavras chaves

Geomorfométrico; SIG; Relevo

Introdução

Os estudos do relevo são importantes para a compreensão dos processos que atuam no ambiente, pois através da compreensão do relevo e de seus processos atuantes podemos entender a dinâmica do ambiente e, portanto, as suas potencialidades e susceptibilidades. Para Casseti (2005) a Cartografia Geomorfológica se constitui em importante instrumento na espacialização dos fatos geomorfológicos, permitindo representar a gênese das formas do relevo e suas relações com a estrutura e processos, bem como com a própria dinâmica dos processos, considerando suas particularidades. De modo geral, a cartografia geomorfológica demanda representar e explicar diversas variáveis endógenas e exógenas do relvo, bem como as suas interações. Desta forma destacam Cunha, Mendes e Sanchez (2003) que a cartografia geomorfológica constitui-se em um tipo de mapeamento cuja complexidade é inerente ao próprio objeto de representação. O relevo apresenta uma diversidade de formas e de gênese, as quais são geradas por complicado mecanismos que atuam no presente e que atuaram no passado. Conforme Trentin e Robaina (2016) a parametrização da morfologia do relevo por meio de SIG é o processo de extração de atributos quantitativos da topografia. Segundo Guadagnin e Trentin (2014) estes atributos dizem respeito parâmetros morfométricos (altimetria, dimensões, desníveis, extensões) e da morfologia (formas do perfil, concavidades, convexidades, rupturas, topos e fundos de vale). Para Wood (1996) a parametrização do relevo refere-se à representação quantitativa das características morfológicas da paisagem descritas de forma contínua por meio de equações aplicadas a modelos numéricos de representação altimétrica, os MDTs, que derivam os atributos. Ainda conforme Trentin e Robaina (2016) o estabelecimento de critérios com parâmetros fixos, utilização de MDTs para o cálculo de variáveis permitem o mapeamento do relevo, diminuindo a subjetividade para a identificação e a delimitação das feições. De acordo com Sccoti (2015) a evolução das geoinformações aderem agilidade e precisão a pesquisas geográficas, a evolução de técnicas computacionais e matemáticas permitem a modelagem de superfícies e com isso prever a ação de agentes erosivos e a determinação da modelagem do relevo. Assim a utilização de SIGs se mostra um grande facilitador da análise dos parâmetros de relevo, bem como explica Serres Luis e Trentin (2016) que com o uso dos Sistemas de Informações Geográficas (SIGs) e de Modelos Digitais de Elevação (MDEs) pode-se estudar e compreender as formações de relevo e suas distribuições em suas respectivas áreas, visto que estes modelos e ferramentas proporcionam maior dinâmica nas análises espaciais. Deste modo, o presente trabalho tem como objetivo o agrupamento de dados morfométricos e morfológicos do relevo de Cacequi e fazer uso dos SIGs e seus modelos matemáticos automatizados, para gerar diferentes unidades geomorfométricas do relevo do município, levando em consideração os aspectos de hipsometria, declividade, plano e perfil de encosta.

Material e métodos

Para a elaboração dos mapas hipsométrico, de declividade, plano e perfil de encosta foi utilizado o software ArcGis 10.1, desenvolvido pela ESRI. A análise e processamento dos dados se deu no software Excel da Microsoft. A classificação do relevo do município de Cacequi foi realizada a partir da proposta de mapeamento geomorfométrico automatizado através do uso de SIG, apresentado por Silveira e Silveira (2013), a partir dos trabalhos de Iwahashi e Pike (2007). Para o estudo da hipsometria do município de Cacequi foi utilizado imagens SRTM de resolução de 90 metros como Modelo Digital de Elevação e através de média simples do histograma de frequência, foi estabelecido duas classes de hipsometria para o estudo geomorfométrico, sendo estas as altitudes inferiores a 116 metros e superiores a 116 metros. A elaboração do mapa de declividade para a análise geomorfométrica se deu a partir de imagens de radar SRTM de 90 metros. O mapa de declividade do município foi dividido em duas classes, as inferiores a 2% e as superiores a 2%. O uso da declividade de 2% como valor de referência é devido às características do relevo de Cacequi que é bastante plano, possuindo poucas áreas de alta declividade. Para o estudo do plano e perfil de vertente foi utilizada a ferramenta Curvature do ArcGIS 10.1 e classificados o plano em convergente, onde há uma concentração do escoamento superficial, e divergente, onde o escoamento se dá de forma difusa. Quanto ao perfil, as vertentes foram segmentadas e classificadas em côncavas, onde a velocidade de escoamento é maior no topo da vertente e em convexas, onde a velocidade de escoamento é menor no topo e maior na base. Segundo Gallant e Wilson (2000) o perfil de curvatura é importante para caracterizar mudanças na velocidade do fluxo da água e processos relacionados ao transporte de sedimentos, enquanto que o plano de curvatura demonstra a propensão da água a convergir ou divergir no terreno. Após o levantamento e o compilamento dos dados morfométricos do relevo, foram discriminadas 12 classes geomorfométricas do relevo, usando a ferramenta combine sobre os rasters das variáveis de hipsometria, declividade e plano e perfil de encosta, sendo unidos os perfis côncavos e convexos nos casos de planos convergentes, visto que o plano convergente é determinante na dinâmica da vertente.

Resultado e discussão

O município de Cacequi está localizado na Mesorregião Centro-Oeste do estado do Rio Grande do Sul, fazendo limite a Norte com São Vicente do Sul e São Pedro do Sul, a Leste com Dilermando de Aguiar, a Oeste com Alegrete e a Sul com os municípios de Rosário do Sul e São Gabriel (Figura 1). Segundo a classificação de Carraro (1974) Cacequi pertence ao compartimento geomorfológico da Depressão Periférica do Rio Grande do Sul, caracterizada pela litologia da Bacia Sedimentar do Paraná, que em alguns pontos é bastante friável e suscetível a processos erosivos. O relevo de Cacequi foi dividido em doze unidades geomorfométricas, de acordo com a sua declividade, hipsometria, plano e perfil da vertente que estão representados na tabela da Figura 2 abaixo. Sendo assim, as unidades de I a VI representam as porções de altitude maior que a média do município que estão representadas no mapa da Figura 3. A Unidade I, que representa 10,71% da área total, é caracterizada por declividades superiores a 2% e plano de encosta convergente, portanto é uma unidade em que os processos erosivos ocorrem mais facilmente, devido a energia do fluxo d’água nestes pontos da encosta. Está presente principalmente nas áreas de colinas, nas porções Oeste e Centro-Leste da área de estudo. Presente em 77,26 Km² (3,31%) a Unidade II possui perfil côncavo e plano divergente, associado a declividades superiores a 2%, portanto com menores susceptibilidades a processos erosivos. Localiza-se nas áreas de interflúvio de dispersão d’água por toda a parte superior do relevo de Cacequi. A Unidade III possui uma área de 211,99 Km², ou seja 9,09% da área total, possui plano divergente de característica de dispersão d’água e perfil convexo, que aumenta a velocidade do fluxo da água, associado a declividades superiores a 2%, podendo assim causar erosão na parte inferior da vertente. Localiza-se dispersa nas áreas de colinas e colinas suaves do município. A Unidade IV representa 11,23% da área de estudo, o que equivale a um total de 261,88 Km². Esta unidade representa áreas de nascentes e algumas áreas de clinas com topos planos devido a sua característica convergente de áreas com declividades inferiores a 2% em altitudes superiores a média do município. Representando 3,16% da área do município (73,89 Km²), a Unidade V representa áreas planas com baixa meteorização devido o seu caráter côncavo- divergente. Esta unidade está dispersa na área de estudo, mas predominando no topo das colinas do município. A Unidade VI que possui 215,43 Km² de área, totalizando 9,24% do território, é caracterizada por ser uma área de meteorização e pertencendo em sua grande maioria ao topo das vertentes. Com uma dinâmica diferente das unidades anteriores, as unidades de VII a XII são características de altitudes abaixo da média do município e estão representadas no mapa da Figura 4. A Unidade VII representa as porções da encosta onde a declividade é superior a 2% e fluxo de drenagem convergente, sendo assim uma porção da vertente onde é propício à ocorrência de erosão. Esta unidade possui uma área de 73,89 Km², que equivale a 3,16% da área total. Está localizada na base das vertentes próxima aos canais fluviais. A Unidade VIII, que possui uma área total de 24,60 Km² equivalente a 1,05% da área de Cacequi, é caracterizada por vertentes divergentes e côncavas, com declividades superiores a 2%, sendo assim, podem ocorrem processos erosivos nestas vertentes que se localizam no terço médio das vertentes na porção mais baixa do relevo. Em 1,72% da área de estudo, totalizando 40,10 Km², há a ocorrência de vertentes pertencentes a Unidade IX que se caracterizam pelo fluxo da drenagem mais elevado em sua base, podendo vir a ocorrer processos morfogenéticos de erosão na sua base. Está localizada principalmente na base das colinas suaves do município de Cacequi. A Unidade X é a que possui maior representatividade no município, com área de 633,17 Km², equivalente a 27,15% da área total. Esta unidade se caracteriza por pequenas elevações próximas aos canais de drenagem com declividades inferiores a 2%, estando localizada nas áreas de planícies dos principais rios do município. A Unidade XI possui uma área de 124,70 Km² (5,34% do território municipal) é característica de declividades inferiores a 2% e plano divergente côncavo, com diminuição da velocidade do fluxo de drenagem na sua base. Representa áreas onde há a deposição de material, bem como a formação de solos. Está localizada nas áreas mais baixas associada aos canais fluviais. Em 344,32 Km², o que equivale a 14,77% da área de estudo, ocorre a Unidade XII que se caracteriza por áreas de deposição com aumento da velocidade do fluxo. Esta unidade está localizada nas áreas planas do município.

Figura 2 - Unidades Geomorfométricas de Cacequi



Figura 1 – Mapa de Localização do Município de Cacequi – RS;

Figura 1 – Mapa de Localização do Município de Cacequi – RS;

Figura 3 – Mapa das Unidades Geomorfométricas I a VI;

Figura 3 – Mapa das Unidades Geomorfométricas I a VI;

Figura 4 – Mapa das Unidades Geomorfométricas VII a XII

Figura 4 – Mapa das Unidades Geomorfométricas VII a XII

Considerações Finais

O sistema matemático e automatizado do SIG, com MDTs e parâmetros fixos de análise oferece uma análise menos subjetiva na classificação do relevo, e se mostra eficiente visto que foram obtidas doze unidades homogêneas e representativas com as quais foi possível analisar o relevo de Cacequi. O relevo de Cacequi apresenta um predomínio de baixas altitudes que são representadas pela Unidade X que está presente em 27,15% da área de estudo, caracterizando as áreas planas e baixas próximas aos canais de drenagem. Também podemos perceber uma ocorrência espacial relativamente grande da Unidade I, que é a unidade que apresenta maior suscetibilidade à ocorrência de processos morfogenéticos de erosão, o que associado à litologia friável presente no município vai acarretar em problemas ambientais de voçorocamento e ravinamento. Portanto, o estudo das unidades geomorfométricas de Cacequi servem para a análise do relevo do município como também de subsídio para novos estudos na área e ainda como ferramenta para o planejamento ambiental e de ordenamento territorial da área de estudo.

Agradecimentos

Referências

CARRARO, C.C. Mapa Geomorfológico do Estado do Rio Grande do Sul. FAPERGS – UFRGS/Instituto de Geociências. 1974, 1: 1.000.000.
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