Autores

Macedo, S.A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC)

Resumo

Este trabalho teve como objetivo modelar e desenvolver um banco de dados geográficos para mapeamento geomorfológico do município de Gandu, Bahia, utilizando técnicas de geoprocessamento. Para a realização do trabalho, foram utilizadas dados índice digital disponibilizados pelo IBGE, microcomputadores e o softwares ArcGis 10.2.2. O levantamento do meio físico foi realizado a partir dos temas: curvas de nível, drenagem e limites do município, que possibilitaram elaborar os mapas temáticos da declividade do terreno, hipsometria e bacias hidrográficas. Os mapas temáticos foram elaborados utilizando o software ArcGis 10.2.2, que possibilitou também a aquisição de dados quantitativos da área de estudo. Os primeiros dados quantitativos revelaram que 50,4% da área do município possuem declividade variando entre 20 a 45%. O geoprocessamento foi importante para se chegar a resultados confiáveis.

Palavras chaves

Sensoriamento Remoto; Geoprocessamento; Cartografia

Introdução

O desenvolvimento do conhecimento geomorfológico no território Brasileiro é um acontecimento recente. Para Christofoletti (1980, p.20), “as contribuições de caráter estruturado e direto sobre o território Brasileiro pertencem todas ao século XX. A propósito do desenvolvimento histórico dessa ciência entre nós, só existia algumas notas de Aziz N. Ab’Saber (1817- 1910)”. “A geomorfologia é a ciência que estuda as formas de relevo, sua gênese, composição (materiais) e os processos que nelas atuam” (FLORENZANO, 2008, p. 10). Assim sendo, “as formas de relevo constituem o objeto da Geomorfologia” (CHRISTOFOLETTI, 1980, p.1). Se as formas existem, é porque elas foram esculpidas pela ação de determinado processo ou grupos de processos. “As formas, os processos e as suas relações constituem o sistema geomorfológico, que é um sistema aberto, pois recebe influência e também atua sobre outros componentes do universo” (CHRISTOFOLETTI, 1980, p.1). O relevo representa um dos componentes indispensável ao entendimento das correlações entre a forma litológica, o clima, a vegetação, os solos e a rede hidrográfica, bem como a maneira desses fatores condicionarem as ações humanas (FERREIRA, 2005). Os processos modeladores de formas de relevo não acontecem igualmente em toda a superfície devido ao embasamento rochoso, da estrutura geológica, da cobertura pedológica e do clima, que propicia seu desenvolvimento para originar variadas formas (ROCHA E ROSA, 2006). “O estudo dos processos morfogenéticos demonstra a importância que o fator climático assume no condicionamento para a esculturação das formas de relevo” (CHRISTOFOLETTI, 1980, p.31). O modelado das partes básicas das formas de relevo, tais como a superfície dos topos, a geometria das vertentes (meia encosta) e a atributos dos vales são calculáveis, tendo potencial, em última exploração, transformar-se um mapa geomorfológico (GOULART, 2001). “Os estudos concernentes às vertentes representa um dos mais importantes setores da pesquisa geomorfológica, englobando a análise de processos e formas” (CHRISTOFOLETTI, 1980, p.31). O objetivo geral deste trabalho foi desenvolver de um banco de dados geográficos para mapeamento geomorfológico do município de Gandu, Bahia.

Material e métodos

O município de Gandu está localizado na Região Sul da Bahia, entre os paralelos 13º44’ (S) e 13º52’ (S), entre os meridianos 39º24’ (W) e 39º33’ (W) (Figura 1), apresentando divisas com os municípios de Wenceslau Guimarães, Piraí do Norte, Nilo Peçanha, Ibirapitanga e Nova Ibiá. Com uma área de 229,631km², o município possuía em 2010, conforme censo do IBGE, uma população de 30.336 habitantes. O município de Gandu apresenta clima do tipo Af da classificação de Koeppen - clima das florestas tropicais, quente e úmido, sem estação seca, com pluviosidade total superior a 1.300 mm, e por estar localizado no bioma da Mata Atlântica (FILHO, 1983). “A precipitação normal de Gandu, segundo dados da CEPLAC, é de aproximadamente 1213 mm anuais. No período de 1979 a 2008 aí ocorreram precipitações desde 536 mm (em 1982) até 1653 mm (no ano de 1999)” (SANTOS e FRANÇA, 2009, p.25). O relevo é de planalto pré-litorâneo e solos Latossolos (BahiaSEI, 2017). A investigação do meio físico foi feito através dos temas: curvas de nível, drenagem e limites do município. Os temas citados acima viabilizaram o desenvolvimento dos mapas temáticos da declividade do terreno, hipsometria e geomorfologia, com uso do software ArcGis 10.2.2. As curvas de nível possibilitou produzir o MDE (Modelo Digital de Elevação) dentro do ArcMap 10.2.2, a partir do MDE se desenvolveu os mapas de declividade e hipsometria. A declividade da extensão de terra é que mostra as velocidades de escoamento superficial e subsuperficial de uma bacia hidrográfica, influenciando o tempo de concentração (ROSA et al, 2004). O mapa hipsométrico possibilita compreender o relevo local, oferecendo uma classificação altimétrica do relevo. As investigações hipsométricas viabiliza saber mais sobre o relevo por via do escoamento superficial da água. Através da hipsometria torna-se viável identificar o índice de dissecação do relevo (ROSA et al, 2004).

Resultado e discussão

A declividade do terreno representada na figura 2 foi mapeada nas seguintes classes: entre 0 - 3%; 3 a 8%; 8 a 20%; 20 a 45%; 45 a 75%; e maior que 75% (EMBRAPA, 1979). A tabela 1 evidencia os resultados quantitativos da área ocupada pelas classes de declividade em Gandu. Tabela 1: Área ocupada pelas classes de declividade do município de Gandu – BA Classes de declividade Intervalos de declividade em % Área ocupada Km Ha % A 0 – 3 5,4 538 2,3 B 3 – 8 22,1 2210 9,6 C 8 – 20 82,2 8217 35,8 D 20 – 45 115,7 11575 50,4 E 45 – 75 4,1 408 1,8 F 75 – 100 0 0 0 Total 229,5 22948 99,9 Nas áreas com declividade inferior a 3%, o escoamento superficial é muito lento; locais com declividade entre 3 e 8% possuem um escoamento superficial relativamente lento; em regiões com declividade variando de 8 a 20% o escoamento superficial é pouco acelerado; declividades variando de 20 a 45% possuem escoamento superficial acelerado; áreas com declividade entre 45 e 75% possuem escoamento superficial rápido; regiões com 5 declividade superior a 20% possuem escoamento superficial muito rápido. Os dados da tabela 1 mostram que 50,4% da área do município possuem declividade variando entre 20 a 45%; as áreas com declividade inferior a 3% correspondem a 2,3%; áreas com declividade ente 3 e 8% correspondem a 9,6%, já as áreas entre 8 e 20% ocupam 35,8%, e os 1,8% restantes da área contêm declividade entre 45 e 75%. A figura 3 mostra o mapa hipsométrico do município de Gandu - BA. Para a elaboração da figura 2 foram estabelecidas as seguintes classes altimétricas: menor que 129m, 129 a 200m, 200 a 300m, 300 a 400m, 400 a 500m e maior que 500m. A tabela 2 evidencia os resultados quantitativos da área ocupada pelas diferentes categorias altimétricas do município. Tabela 2 - Área ocupada pelas diferentes categorias altimétricas do município de Gandu - BA Categorias (m) Área ocupada Km² Hectare % 129 – 200 38,9 3895 17 200 – 300 115,6 11563 50 300 – 400 63,1 6305 27 400 – 500 8,2 825 4 >500 3,6 360 2 Total 229,4 22948 100   A tabela 2 mostra que 50% do município encontram-se em uma altitude de 200 a 300m. Altitudes superiores a 500m ocupam 2% da área do município. Altitudes inferiores a 200m ocupam 17 % da área total. A figura 4 mostra o mapa das bacias hidrográficas presentes no município de Gandu - BA. “A drenagem fluvial é composta por um conjunto de canais de escoamento inter-relacionado que formam a bacia de drenagem, definida como a área drenada po um determinado rio ou por um sistema fluvial” (CHRISTOFOLETTI, 1980, p.102). As bacias de drenagem presentes no município de Gandu são Endorréicas, “quando as drenagens são internas e não possuem escoamento até o mar” (CHRISTOFOLETTI, 1980, p.102). O padrão de drenagem é dendrítico, “A presença de confluências em ângulos retos, no padrão dendrítico, constitui anomalias que se deve atribuir, em geral, aos fenômenos tectônicos” (CHRISTOFOLETTI, 1980, p.103). Quanto a hierarquia, todas possuem mais de 3 ordens, a bacia hidrográficas do rio Gandu – o rio principal do município -, em fator de escala de 500, foi caracterizada como sendo de 5 ordem.

Figura 1: Localização do município de Gandu, Bahia. Fonte: SEI/BA

Figura 1: Localização do município de Gandu, Bahia. Fonte: SEI/BA

Figura 2 – Mapa de declividade do terreno em Gandu-BA

Figura 2 – Mapa de declividade do terreno em Gandu-BA Fonte: SEI/BA e IBGE

Figura 3 – Mapa hipsométrico do município de Gandu – BA Fonte: SEI/BA

Figura 3 – Mapa hipsométrico do município de Gandu – BA Fonte: SEI/BA

Figura 4 – Bacias hidrográficas do município de Gandu – BA. Fonte: SEI

Figura 4 – Bacias hidrográficas do município de Gandu – BA. Fonte: SEI/BA

Considerações Finais

A utilização do Geoprocessamento é fundamental para trabalhos com banco de dados geográficos. A elaboração de um banco de dados geógraficos é relevante, visto que é nessa fase que são determinados todos os dados a serem adicionado no Banco de dados geográficos. A base de dados geográficos desenvolvida inclui dados de atributos e gráficos, são essenciais para realização de estudos geomorfológicos em bacias hidrográficas, por exemplo, análise das vertentes. “O conhecimento e a compreensão dos processos atuais leva-nos a interpretar os ambientes antigos e estudar a paleogeografia” (CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 61). Esses dados serão de extrema importância para realização do mapeamento geomorfológico do município de Gandu.Trata-se da primeira pesquisa geomorfológica do município. Espera-se que sirva de base para realização de estudos geomorfológicos mais detalhados. O banco de dados será disponibilizado em um repositório online e ficará a disposição de instituições de ensino superior, órgãos administrativos públicos e Organizações Não Governamentais (ONG’s).

Agradecimentos

Referências

CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo: Edgard Blücher, 2ª ed. 1980.

FERREIRA, I. L. Estudos Geomorfológicos em áreas amostrais da Bacia do Rio Araguari – MG: uma abordagem da cartografia geomorfológica. 2005. Dissertação(Mestrado em Geografia) – Instituto de Geografia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2005.

GOULART, A. C. de O. Relevos e processos dinâmicos: uma proposta metodológica de cartografia geomorfológica. 2001. Disponível em:
<http://www.ufes.br/~geoufes/download%5Crelevos%20.pdf> Acesso em: 3 jan. 2006.

ROCHA, M. B. B.; ROSA, R. MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO DO MUNICÍPIO DE ARAXÁ–MG, UTILIZANDO TÉCNICAS DE GEOPROCESSAMENTO. In: VI Simpósio Nacional de Geomorfologia/Regional Conference on Geomorphology, 6, 6-10 Set., Goiânia - GO. Anais... UFG 2006. p. 1-8.
FLORENZANO, Teresa Gallotti. Geomorfologia: conceitos e tecnologias atuais. Oficina de Textos, 2016.