Autores

Silva, R.C.F.S. (UNIFESSPA) ; Ribeiro, E. (UNIFESSPA) ; Reis, G. (UNIFESSPA) ; Mascarenhas, A. (UNIFESSPA)

Resumo

Na análise de bacia hidrográfica, quanto a parte quantitativa da superfície terrestre, torna-se mais fácil a compreensão das dimensões da paisagem, por meio de estimativas das características morfométricas da Bacia Hidrográfica. O objetivo deste trabalho foi fazer a caracterização morfométrica da microbacia hidrográfica urbana denominada Grota Criminosa, localizada no Núcleo da Nova Marabá no Município de Marabá-Pará, Brasil. Os materiais consistiram em imagem de satélite, cartas topográficas e softwares especializados, como AutoCAD 2015 e Qgis 2.14, sendo possível calcular índices morfométricos variados. Estes índices atreladas ao clima da região, explicam a necessidade da aplicação de políticas públicas para gestão de recursos hídricos com o intuito de evitarem maiores prejuízos para a população que habitam próximo dos canais dessa referida bacia.

Palavras chaves

Análise de Bacia Hidrográfica; Morfometria.; Geomorfologia.

Introdução

Na análise de bacia hidrográfica, quanto a parte quantitativa da sua superfície terrestre, torna-se mais fácil a compreensão das dimensões da paisagem, por meio de estimativas das características morfométricas da Bacia Hidrográfica e sua análise torna-se mais acessível graças ao surgimento de novas tecnologias no campo do sensoriamento remoto onde a geomorfologia é a ciência mais beneficiada (SOBRINHO, 2006; FLORENZANO, 2008). A caracterização morfométrica de bacias hidrográficas é de fundamental importância para análise do comportamento hidrológico em função de suas características geomorfológicas (forma, relevo, área, geologia, rede de drenagem, solo e vegetação) e dentre outros, tais como ação antrópica de uso e ocupação do solo (SOUZA et al., 2002). Esse planejamento pode prever diversas situações como alagamentos, enchentes e inundações que trazem problemas para a população que habita próximo dos canais, pois “os principais problemas da conservação dos recursos hídricos estão relacionados à sua qualidade e disponibilidade” (ANDRADE et al., 2009). Segundo Barrella (2001), a bacia hidrográfica é um conjunto de terras drenadas por um rio e seus afluentes, formada nas regiões mais altas do relevo por divisores de água, onde as águas das chuvas, ou escoam superficialmente formando os riachos e rios, ou infiltram no solo para formação de nascentes e do lençol freático. Desse modo, segundo Christofoletti (1980, p.102) “a rede de drenagem é um conjunto de canais de escoamento inter-relacionados que formam a bacia de drenagem”. Esses canais são dispostos em hierarquias de primeira, segunda e terceira ordem e assim sucessivamente. Sobre bacia hidrográfica urbana Cunha (2003), diz que é uma consolidação de uma unidade do espaço geográfico, mais adequada para uma gestão ambiental, pois necessita de um aparato especial para o planejamento e desenvolvimento de projetos relativos à preservação sustentável dos seus recursos naturais. As microbacias possui a área inferior a 100 km2, além de compor toda área com drenagem direta ao curso principal de uma sub-bacia, assim várias microbacias formam uma sub-bacia. (FAUSTINO, 1996). As transformações ambientais ocorrida na área Grota Criminosa, iniciaram com maior intensidade a partir da década de 70, através de um projeto de realocação da população, do distrito Marabá Pioneira, que sofria com problemas das enchentes do rio Tocantins, ocasionando o remanejamento dessa população para a área da bacia, acelerando assim o processo de povoamento do Núcleo da Nova Marabá, sendo que esse projeto foi desenvolvido pela Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAN) em parceria com a Prefeitura Municipal de Marabá (ALMEIDA, 2011). Considerando a importância da Microbacia urbana da Grota Criminosa e sua influência negativa por falta de infraestrutura e na dinâmica populacional do distrito Nova Marabá e Marabá Pioneira, esse trabalho tem como intuito de caracterizar, ou seja, levantar dados quantitativos sobre a referida bacia, para uma melhor compreensão do cenário atual nessa localidade, por meio da estimativa de alguns parâmetros físicos recomendados por Christofoletti (1980), coeficiente de compacidade (Kc); fator de forma (Kf); índice de circularidade(Ic); altitude, amplitude da bacia, ordem, densidade de drenagem (Dd) e densidade de hidrografia (Dh).

Material e métodos

Para a elaboração do trabalho; primeiramente, será realizado leituras e debates previamente, no laboratório de Geografia Física da Unifesspa (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará), com o intuito de criar uma bagagem teórica que se aplica às diversas questões que envolvem o processo prático de levantamento dados sobre bacia hidrográfica e modelagem de superfícies como apoio para avaliação morfométrica da dinâmica ambiental local. Para isso, gerou-se os mapas com imagem do satélite SPOT, com sobreposição das camadas vetoriais de rede de drenagem mais a planta cadastral municipal com curvas de nível de equidistância de 2 (dois) metros a 2 (dois) metros, juntamente com o limite da zona urbana fornecidos pelo SDU (Superintendência de Desenvolvimento Urbano) de Marabá, localizados no polígono envolvente dos vetores limítrofes municipais e estaduais disponibilizados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O conjunto dessas peças técnicas constituíram subsídio para o estudo da referida bacia. A metodologia para caracterização morfométrica desta bacia foram necessárias as delimitações das áreas, dos perímetros e dos comprimentos axiais da microbacia com o auxílio dos softwares AutoCAD 2015 e Qgis 2.14 (AUTODESK, 2012; BOSSLE, 2014). Para Christofoletti (1980, p.102), a hierarquização fluvial torna-se mais fácil o estudo morfométrico sobre bacias hidrográficas. Sendo assim, calculando os chamados índices de forma da bacia, traduzindo nos valores de coeficiente de compacidade (Kc) que é a relação entre o perímetro da bacia e a circunferência de um círculo de área igual a da bacia, foi calculado pela equação: Kc = 0,28 x P/A. Onde, Kc é o coeficiente de compacidade, P é o perímetro em km (quilômetro) e A é a área da bacia em km2 (quilômetro quadrado). Para o fator de forma (Kf) é a relação entre a largura média e o comprimento axial da bacia (da foz/exutório ao ponto mais longínquo do espigão) é calculado a partir da equação: Kf = A / Lx2. Onde, Kf é o fator de forma, é a área da bacia em km2 e Lx é o comprimento axial da bacia em km. O índice de circularidade (Ic) ele tende para a unidade à medida que a bacia se aproxima da forma circular e diminui à medida que a forma torna-se alongada. Ela foi calculada pela equação: Ic = 12,57 A / p2. Onde, o Ic é o índice de circularidade, A é a área em km2 e P é o perímetro em km. Além destes valores, foram calculados também para a referida bacia a densidade de drenagem pela fórmula Dd = Lt / A. Onde Dd = densidade de drenagem; Lt = comprimento total dos canais (km); A = área da bacia (km2). E a densidade de hidrografia (Dh) que consiste na quantidade dos canais pela área da bacia. Onde, D = densidade; h é a quantidade de canais divido pela área da bacia.

Resultado e discussão

Na figura 1, consta a área da microbacia urbana da Grota Criminosa que atualmente é constituído de 28 bairros, alguns denominados por folhas, com formato do desenho de uma castanheira, árvore tipica da região. Atualmente, com uma população estimada em 79 mil pessoas que habitam nesse distrito, incluindo alguns bairros resultado da expansão urbana na ultima década (SILVA & SAMPAIO, 2015). A referida bacia localizada proximo da confluência dos Rios Tocantins e Itacaiúnas, com extensão territorial de aproximadamente 1.093 hectares, ou seja, 10,93 km2, sendo enquadrada como microbacia (FAUSTINO, 1996). Essa bacia está inserida em sua maior parte dentro do distrito Nova Marabá. O seu canal principal com suas curvas sinuosas possuindo uma extensão de 9.141 metros, da nascente a foz (FIGURA 2). Na figura 2a, consta a microbacia com curvas de nível de 2 a 2 metros de equidistância, a rede de drenagem e sua hierarquia, variando de primeira a terceira ordem. Na figura 2b, está em destaque os comprimentos dos canais, principal em quilômetro (km) e secundários em metros (m), dando subsídio para os cálculos de caracterização da referida bacia. Com a análise do sistema de drenagem da bacia (Tabela 1), verificiou-se que a Microbacia da Grota Criminosa é de 3ª ordem, conforme a classificação de Strahler (1953), o que demostra que a bacia possui um sistema de drenagem de ramificação pequeno. Durante a análise da hierarquia das bacias, verificou-se que a bacia da Grota Criminosa possui padrão de drenagem, variando de treliça a paralelo e retangular, sendo os dois últimos encontrado principalmente a partir da modificação da drenagem em treliça, uma de aspecto ortogonal e a outra de com escoamento paralelo dos canais (CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 104-105). Na tabela 2, consta detre outros o coeficiente de compacidade (kc) que foi de 0,58 e fator de forma (F) 1,44. Conforme essas dimensões a microbacia não tem forma circular, portanto, possui forma alongada e pouca susceptível a enchentes e inundações em condições normais de precipitação (ANDRADE et al., 2009). Para reforçar que a microbacia não tem forma circular o índice de circularidade obtido foi de 0,261, indicando que este valor se encontra abaixo de 1 (um), quanto mais próximo de 1 (um) tende para a forma circular. A altitude máxima de 102 metros e altitude mínima de 71,80 metros com amplitude altimétrica de 30,20 metros. O padrao de drenagem foi treliça, de acoordo com Christofoletti (1980, p. 105, tradução nossa), “este tipo de drenagem é composto por rios principais consequentes, corrento paralelamente, recebendo afluentes subsequentes que fluem em direção transversal aos primeiros [...] em geral as confluências ralizam-se em ângulos retos”. A densidade de drenagem foi de 1,37 km/km2. Para Christofoletti (1980) valores menores que 7,5 km/km2 estão em situação de baixa drenagem. Com relação a densidade de hidrografia foi obtido o valor de 1,46 canais/km2 constatando pequena distribuição hidrográfica.

Figura 1: Localização da Microbacia Hidrográfica no perímetro urbano d

Nessa figura, está em destaque a localização da bacia em questão sobreposta numa imagem SPOT, para melhor compreensão da distribuição do uso do solo.

Figura 2: A) mapa de hierarquia dos canais na grota criminosa. B) comp

Na figura 2a, consta a ordenação dos canais conforme a hierarquia de Strahler (1953). Na figura 2b, contém os comprimentos dos canais.

Tabela 1 - Sistema de Drenagem da Microbacia da Grota Criminosa

NO sistema de drenagem da bacia, verificou-se que a grota criminosa é de 3ª ordem e que a bacia possui um sistema de drenagem pequena.

Tabela 2 - Dados morfométricos da Grota Criminosa.

Os dados morfométricos da microbacia consta os valores para a caracterização da mesma.

Considerações Finais

Conclui-se que esse trabalho trouxe o conceito de bacia hidrográfica e sua importância para o planejamento urbano que é de muita relevância no Município de Marabá, pois necessita de mais estudos nessa área devido a constantes problemas a partir da falta de planejamento urbano. Os índices gerados dos cálculos da caracterização morfométrica da microbacia urbana Grota Criminosa, demostraram-se condizentes com a realidade da dinâmica ambiental da bacia de forma parcial, devido a complexidade da dinâmica da mesma, pois varia conforme as estações climáticas. Mesmo assim, foi possível vislumbrar de um melhor entendimento da bacia, e focar em possibilidades de uma melhor gestão. Todavia, outras medidas deveriam serem incluídas nas políticas públicas, desde orientação da população sobre educação ambiental até a execução de obras que realmente melhorem a qualidade de vida da população que residem próximas dos canais dessa referida bacia.

Agradecimentos

Referências

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