Autores

Vitor Barbosa Sousa, R. (UNESP/FCT)

Resumo

O objetivo deste artigo é apresentar resultados de cota altimétrica do Rio Tibagi, principal rio da cidade de Jataizinho, referente à inundação de 23/01/1997, considerada uma das inundações de maior impacto socioeconômico para a referida cidade. A impossibilidade de acesso direto ao alvo de interesse demandou levantamento topográfico, por meio de estação total sem prisma e uso de técnicas GNSS, para o cálculo da cota altimétrica do Rio Tibagi. O uso de geotecnologias, como técnicas GNSS e aerofotogrametria digital foi fundamental, respectivamente, para a padronização do datum das referências de nível – RNs, consequentemente, das cotas zeros dos primeiros lances de réguas das estações fluviométricas e, para a determinação do nível de margens plenas do Rio Tibagi. Os resultados mostram-se relevantes, pois apontam com precisão a altitude que o nível do Rio Tibagi pode atingir, em determinadas áreas da cidade de Jataizinho, em episódios de inundações bruscas.

Palavras chaves

Geotecnologia; Inundação; Geomorfologia

Introdução

A cidade de Jataizinho – PR, localizada no baixo curso do Rio Tibagi, norte do Estado do Paraná, 25 km a leste da cidade de Londrina, destaca-se na literatura e nos registros oficiais da Defesa Civil do Paraná no que diz respeito à ocorrência de inundações. Nesse sentido, o objetivo deste artigo é apresentar resultados de cota altimétrica do Rio Tibagi, principal rio da cidade de Jataizinho, referente ao episódio de inundação de 23/01/1997, considerado um dos que apresentou maior impacto socioeconômico para a referida cidade. O Rio Tibagi, localizado no Estado do Paraná, é o principal tributário da margem esquerda do Rio Paranapanema; possui 550 km de percurso e está inserido em uma bacia hidrográfica com 24712 km2 de área de drenagem (MAACK, 1981, p.329; FRANÇA, 2002, p.47), ambos constituintes da bacia hidrográfica do Rio Paraná. A área de estudo pode ser observada na (Figura 1).

Material e métodos

Conhecendo-se a localização in situ das referências de nível – RNs das réguas linimétricas referentes às estações fluviométricas Jataizinho – 64507000, Canal de Fuga Jataizinho – 64506500 e Chácara Ana Cláudia – 64506000, coordenadas geodésicas das RNs foram obtidas através de técnicas GNSS. O resultado da cota zero foi determinado subtraindo-se o valor da altitude da RN obtida por técnicas GNSS pela altura da RN fixa in situ, ora em m ora em mm, dado pela (Equação 1). C0gnss = RNgnss – RN (1). Sendo: C0gnss = Altitude da cota zero. RNgnss = Altitude ortométrica da RN obtida com base em técnicas GNSS. RN = Altura da RN fixa no local − marco. A técnica GNSS empregada foi a relativa estática rápida pós-processada, utilizando-se dois receptores geodésicos, um como base e outro como rover (Monico, 2008). A fim de aumentar a produtividade em campo, o tempo de coleta dos dados in situ oscilou entre 5’ e 10’. Os dados foram pós- processados através do software GNSS Solutions. O datum planimétrico utilizado foi o SIRGAS 2000, de modo que a altitude elipsoidal também foi obtida com base neste datum. A projeção adotada foi a Universal Transversa de Mercator – UTM. A altitude geométrica elipsoidal foi convertida para altitude ortométrica – em relação ao geóide ou ao nível médio dos mares – através de um modelo de ondulação geoidal para o território brasileiro. Para isso, fez-se o uso do software MAPGEO 2010, disponível em BRASIL (2015). É válido pontuar que foram obtidas coordenadas geodésicas em pontos dentro da cidade de Jataizinho e adjacentes a esta, a fim de serem utilizadas para a construção de um modelo estereoscópico digital da área urbana de Jataizinho. Um levantamento topográfico com estação total sem prisma, modelo Topcon GPT 3107w, permitiu calcular a altitude que o nível do Rio Tibagi alcançou no topo das colunas de sustentação da linha férrea, divisa entre os municípios de Ibiporã e Jataizinho, em 23/01/1997 (ver Figura 2). Os dados de cota fluviométrica do Rio Tibagi, posteriormente convertidos para cota altimétrica, foram obtidos em ANA (2005) – Hidroweb, à Superintendência de Gestão de Rede Hidrometeorológica – SGH/ANA e ao Instituto de Águas do Paraná.

Resultado e discussão

Sendo a cota altimétrica do Rio Tibagi na estação fluviométrica Jataizinho e no topo das colunas de sustentação da linha férrea, respectivamente, 341.46 m e 349.673 m, constata-se que a diferença altimétrica do nível do Rio Tibagi entre os dois pontos, em 23/01/1997, foi de 8.22 m. Um perfil longitudinal do nível do Rio Tibagi entre as estações fluviométricas Chácara Ana Cláudia – 64506000 e Jataizinho – 64507000 pode ser observado na (Figura 3) e na (Figura 4). A fim de verificar se a diferença de 8.22 m da cota altimétrica do Rio Tibagi entre os pontos 3 e 4 foi uma diferença específica para o episódio de inundação em 23/01/1997, calculou-se a diferença entre os dois pontos também em 25/04/1970, data correspondente à data de vôo de aerofotos utilizadas nesta pesquisa. A cota altimétrica do Rio Tibagi sob a linha férrea, em 25/04/1970, assim como o nível de margens plenas do Rio Tibagi na estação fluviométrica Jataizinho – 6450700, foram determinadas através de estereoscopia digital, especificamente, por meio do software Prestitui.exe, desenvolvido por Hasegawa (2010). Assim, os resultados apontam que, em 25/04/1970, a diferença de cota altimétrica do Rio Tibagi entre os dois pontos equivale a 7.89 m, uma diferença muito próxima àquela do dia 23/01/1997, de modo que a média da diferença da cota altimétrica do rio entre as duas datas corresponde a 8.1 m. A diferença média da cota altimétrica de 8.1 m entre os pontos 3 e 4, isto é, entre as colunas de sustentação da linha férrea e a estação fluviométrica de Jataizinho, distante entre si apenas 1.28 km, pode ser explicada por razões topográficas e geomorfológicas. As margens do Rio Tibagi onde se localiza a ponte ferroviária – ponto 3 –, encontram-se topograficamente mais elevadas em comparação às margens onde se localiza a seção transversal da estação fluviométrica Jataizinho – ponto 4 –, principalmente em relação à margem direita desta, lado que corresponde à cidade de Jataizinho. Ademais, as margens do Rio Tibagi correspondentes ao ponto 3 apresentam altitudes entre 349 m e 353 m; enquanto as que correspondem ao ponto 4, principalmente na margem referente à cidade de Jataizinho, denotam altitudes entre 339 m e 341 m. Geomorfologicamente, as margens do Rio Tibagi onde se localiza a ponte ferroviária – ponto 3 –, são constituídas principalmente por terraços; enquanto a margem direita do Rio Tibagi onde se localiza a seção transversal da estação fluviométrica Jataizinho – ponto 4 – é constituída principalmente por planícies fluviais. Nesse sentido, as maiores altitudes do relevo nas adjacências do ponto 3 faz com que o vale do canal fluvial neste trecho seja mais encaixado, permitindo que haja maior amplitude da cota altimétrica do Rio Tibagi em comparação ao ponto 4, onde as altitudes mais baixas e o tipo de relevo viabilizam maior amplitude lateral do rio, principalmente para a margem onde se localiza a cidade de Jataizinho. Destaca-se que, as formas de relevo foram observadas em campo e iniciou-se um mapeamento destas com base em ROSS (1992), ROSS; MOROZ (1997) e BRASIL (2009). Convém acrescentar que aproximadamente 688 m a jusante da linha férrea, seguindo o canal fluvial, encontra-se uma anomalia de drenagem, um cotovelo, seguida de um lineamento estrutural, ambos possivelmente formados por processos de neotectônica, o que demandaria um estudo geológico mais detalhado para esta confirmação. E é nesse lineamento estrutural que se encontra a seção da estação fluviométrica de Jataizinho. Assim, a gênese da diferença altimétrica do nível do Rio Tibagi entre os pontos 3 e 4 talvez esteja relacionada aos processos geológicos que deram origem à anomalia de drenagem e ao lineamento estrutural identificados nas aerofotos e na imagem orbital. Nesse sentido, essa anomalia de drenagem talvez funcione como um controlador natural do fluxo e do nível do rio, aspecto que será melhor analisado em pesquisas futuras.

Figura 1

Localização da área de estudo.

Figura 2

Nível do Rio Tibagi, nas colunas de sustentação da linha férrea, durante a inundação de 23/01/1997 e em um dia com nível dentro da normalidade.

Considerações Finais

O levantamento topográfico e o uso de técnicas GNSS foram de extrema importância para o cálculo da cota altimétrica do Rio Tibagi, no topo das pilastras de sustentação da linha férrea, no episódio de inundação de 23/01/1997, qual seja, 349.673 m, tendo em vista a impossibilidade de acesso direto ao alvo de interesse. A gênese da diferença altimétrica do nível do Rio Tibagi entre os pontos 3 e 4 observados no perfil longitudinal, parece estar relacionada com os processos geológicos que deram origem à anomalia de drenagem e ao lineamento estrutural identificados nas aerofotos utilizadas no modelo estereoscópico e na imagem orbital. Vale destacar que o episódio de inundação, em 23/01/1997, foi considerado um dos que apresentou maior impacto socioeconômico para a referida cidade. Conforme o registro de inundação – Notificação Preliminar de Desastres, feito pela Defesa Civil, no dia anterior, isto é, em 22/01/1997, 900 pessoas ficaram desalojadas, 180 edificações residenciais e 2 edificações públicas foram danificadas. No cômputo geral, a metodologia mostrou-se satisfatória e os resultados podem ser considerados relevantes para a gestão do território. Ressalta-se que, os resultados é parte de uma pesquisa em nível de Doutorado que busca investigar os relacionamentos hidrométricos entre as inundações, na cidade de Jataizinho, e o regime de operação da UHE Capivara, localizada no médio curso do Rio Paranapanema.

Agradecimentos

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pelo suporte financeiro para o desenvolvimento desta pesquisa em nível de Doutorado. À Profª. Dra. Fernanda L. Ribeiro e ao Prof. Dr. Luciano N. Gomes, ambos do Depto. de Geociências da UEL, ao Paulo R. Praxedes, ao Paulo Roberto e ao Jakison X. de Almeida, todos da FCT/UNESP, pela assistência nos trabalhos de campo. Ao Prof. Dr. Júlio K. Hasegawa, Depto. de Cartografia – FCT/UNESP, pelo ajuste do modelo estereoscópico digita

Referências

BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Geodésia: Modelo de ondulação geoidal. MAPGEO 2010, versão 1.0. 2015. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/geodesia/modelo_geoidal.shtm>. Acesso em: 15/05/2015.

_____. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Manuais técnicos em geociências. Manual técnico de geomorfologia. 2. ed, n.5. Rio de Janeiro: IBGE, Coordenação de Recursos Naturais e Estudos Ambientais, 2009.

FRANÇA, Valmir de. Análise das influências dos pulsos das inundações no geossistema da sub-bacia do alto curso do rio Paraná, região de Porto Rico (PR) e Taquaraçu (MS) – por meio de teledetecção espacial, 1998. Tese (Doutorado em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais) – Universidade Estadual de Maringá, Maringá, p.71-79.

HASEGAWA, Julio. K. Simulador digital do restituidor analógico: Orientação e restituição fotogramétrica digital baseada em técnicas analógicas. Presidente Prudente: FCT – UNESP, 2010, 60p.

MAACK, Reinhard. Geografia Física do Estado do Paraná. 2. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio; Curitiba: Secretaria da Cultura e do Esporte do Governo do Estado do Paraná, 1981. p.329-420.

MONICO, João. F. G. Posicionamento pelo GNSS: Descrição, fundamentos e aplicações. 2ª ed. São Paulo: Editora UNESP, 2008.

ROSS, Jurandyr L. S. O registro cartográfico dos fatos geomorfológicos e a questão da taxonomia do relevo. Revista do Departamento de Geografia. v.6, p.17-29, 1992. Disponível em: < http://www.revistas.usp.br/rdg/article/view/47108>. Acesso em: 05. mar. 2014.

ROSS, Jurandyr L. S; MOROZ, Isabel C. Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo: Escala: 1:500.000. São Paulo: FFLCH-USP, 1997.

SOUSA, Rodrigo V. B. Estudo sobre as inundações no curso inferior do Rio Tibagi – PR, 2012a, 191pp. Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Estadual de Londrina - UEL.