Autores

Silva, V.N. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO MATO GROSSO - UNEMAT) ; Cunha, S.B. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - UFF) ; Souza, C.A. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO MATO GROSSO - UNEMAT)

Resumo

O córrego Padre Inácio, é um afluente da margem direita do rio Paraguai, localizado na região sudoeste de Mato Grosso. Este trabalho teve como objetivo verificar os parâmetros hidrodinâmicos e o comportamento sedimentológico da bacia hidrográfica do Padre Inácio. Para execução da pesquisa foi realizado levantamento bibliográfico; trabalho de campo, para a coleta das variáveis hidrodinâmicas, sedimentos de fundo e em suspensão (para verificar a turbidez foi utilizado o turbidímetro, para as medidas batimétricas foi utilizado trena e para medir a velocidade do fluxo, o molinete fluviométrico); em laboratório, para verificar tipos de sedimentos de fundo foi feito análise granulométrica (pipetagem e peneiramento) e para os sedimentos em suspensão foi utilizado o método de evaporação. A bacia hidrográfica do Padre Inácio apresentou valores baixos de velocidade e vazão, contribuindo para o predomínio de areia fina no fundo do leito com alta capacidade de transportar sedimentos em suspensão.

Palavras chaves

Ambientes fluviais; Sedimentação; Granulomtria

Introdução

A bacia hidrográfica possui grande importância nos estudos geográficos, de acordo com Christofoletti (1980) possuindo função relevante na geomorfologia, haja visto que os cursos de água constituem o processo morfogenético mais ativo na esculturação da paisagem terrestre, sendo ela analisada com maior destaque segundo Cunha (2008) na geomorfologia fluvial. Para Albuquerque (2012, p. 204) as bacias hidrográficas representam a área de captação de um recurso fundamental para a vida humana, a água. Este recurso é forte atrativo para diversos tipos de atividade como: irrigação, lazer, navegação, energia, uso doméstico, moradia e outros. Garcez e Alvarez (1988, p. 43), a define como sendo “uma área definida e fechada topograficamente num ponto de curso de água, de forma que toda vazão afluente possa ser medida ou descarregada através desse tempo”. Para Brigante e Espíndola (2003), a bacia hidrográfica é uma unidade natural, resultado da interação da água com outros recursos naturais, tais como: material de origem, topografia, vegetação e clima. Segundo Cunha e Guerra (2009), ela possui caráter integrador, das condições naturais e atividades humanas nelas desenvolvidas. Nos estudos dos sedimentos, Carvalho (2008) diz que a sedimentação se refere aos processos derivados do sedimento, abrangendo erosão, transporte e deposição. Segundo Cunha (2008, p.231), os processos de erosão, transporte e deposição de sedimentos no leito fluvial alternam-se no decorrer do tempo e, especialmente, são definidos pela distribuição da velocidade e da turbulência do fluxo dentro do canal. Estes fenômenos são naturais e sempre ocorreu ao longo o tempo geológico e são responsáveis pela forma atual da superfície da Terra. De acordo com Riccomini et al. (2009, p.311), a morfologia dos canais fluviais é controlada pelos fatores autocíclicos, (volume, e a velocidade de fluxo da água, a carga de sedimentos transportada, a largura, a profundidade e a declividade do canal, a rugosidade do leito e a cobertura vegetal nas margens e ilhas, e esse, por sua vez, são condicionados pelos fatores alocíclicos, como variáveis climáticas (pluviosidade, temperatura) e geológicas (tectônica ativa, nível do mar). O córrego Padre Inácio, é um afluente da margem direita do rio Paraguai, a bacia hidrográfica que a tem como canal principal está situado entre duas grandes importantes bacias hidrográficas do alto Paraguai, a do Cabaçal a montante e a do Jauru a jusante, mas ao contrário das demais bacias da região, afluentes do rio Paraguai, a bacia do Padre Inácio possui características atípicas (morfologia do canal, principalmente no baixo curso), o que então faz surgir o interesse em compreender os condicionantes responsáveis pela morfologia da sua rede de drenagem e da bacia. Sendo assim, o trabalho teve como objetivo verificar os parâmetros hidrodinâmicos e o comportamento sedimentológico da bacia hidrográfica do Padre Inácio, localizado na região sudoeste de Mato Grosso.

Material e métodos

Área de Estudo A bacia hidrográfica do Padre Inácio está localizada entre as coordenadas geográficas 57º45’53” a 58º07’01” de longitude Oeste e 15º34’25” a 16º18’57’’ de latitude Sul (SILVA et al., 2012 - Figura 01). E segundo Dassoller et al. (2014) a área territorial de 1.726,53 km² da bacia, encontra-se distribuída nos municípios de Cáceres (74,79%), Mirassol D’Oeste (17,20%) e Curvelândia (8,01%). Segundo Silva (2012) a bacia hidrográfica Padre Inácio é de 5ª ordem e o canal principal possui 87 km de comprimento, sendo o córrego Caramujo o seu principal tributário, pois possui uma área de influência maior em relação a área de abrangência do córrego Padre Inácio. No seu percurso o córrego Padre Inácio recebe um total de 43 afluentes. Procedimentos Metodológicos Para o desenvolvimento do trabalho foi realizado os procedimentos de gabinete, de campo e de laboratório, assim como salienta Ross e Fierz (2009) a importância destes nas pesquisas em geomorfologia e nas ciências que tem como campo de estudo o conhecimento da Terra. O campo foi realizado no mês de outubro de 2017, sendo coletados as informações em treze seções transversais (pontos – figura 01 e 02) em toda a bacia (alto, médio e baixo curso) e uma seção realizada na baía do Tuiuiú (local onde deságua o Padre Inácio, ponto 14 – figura 01e 02). Trabalho de Gabinete O trabalho de Gabinete conforme orienta Marconi e Lakatos (2003), foi utilizado para realização de levantamentos de dados, a partir levantamento bibliográfico, e também para organização e tabulação dos dados obtidos em campo e laboratório. Cálculo da Vazão Para calcular a área na seção transversal no nível de margens plenas e área da seção molhada foi utilizado a fórmula de Cunha (2008): A = L x P Em que: A – Área da seção (m²), L – Largura média do canal (m) e P – Profundidade média do canal (m). E para obter a vazão, a formula: Q = V x A Sendo: Q = Vazão (m³/s), V = Velocidade média (m/s) e A = Área da seção (m²). Cálculo da Descarga Sólida Suspensa Para mensurar a quantidade de descarga sólida suspensa foi utilizado a formula: Qss= ∑▒〖(Cssi〗 .Qli) .0,0864 Em que: Qss = descarga sólida em suspensão (t/dia); Cssi = concentração de sedimento em suspensão da vertical (mg/l); Qli = descarga líquida da respectiva vertical (m3/ s) (SOUZA et al., 2013). Trabalho de Campo Sedimentação e Variáveis Hidrodinâmicas Os pontos de coleta de dados em campo foram estabelecidos em gabinete e em campo (conforme necessidade ou imprevisto) levando em consideração os objetivos do trabalho, sendo selecionados pontos de coletas do ponto de vista espacial que melhor definissem as características da bacia (alto médio e baixo curso). Para a coleta de sedimentos de fundo em alguns pontos foi utilizado a draga do tipo Petersen (amostrador de mandíbulas), as amostras coletas foram condicionados em sacos plásticos e etiquetados com os dados do ponto de coleta e de localização. Na coleta de água para verificar os sedimentos em suspensão, em alguns pontos foi utilizado a garrafa de Van Dorn e armazenadas em garrafas plásticas com a capacidade de 1L. Para verificar a turbidez foi utilizado o turbidímetro. Para o monitoramento da batimetria (largura e profundidade do canal) foi utilizado trena e para medir a velocidade do fluxo, o molinete fluviométrico. Trabalho de Laboratório Para verificar tipos de sedimentos transportados e depositados no fundo do canal fluvial foi feito análise granulométrica (pipetagem e peneiramento - adaptado da EMBRAPA, 1997) assim como realizado por Souza e Cunha (2012). Para análise dos sedimentos transportados em suspensão (quantidade em ml/l) foi utilizado o método de evaporação de Carvalho (2000).

Resultado e discussão

Parâmetros Hidrodinâmicos da bacia hidrográfica do Padre Inácio A morfologia dos canais da bacia hidrográfica não está bem definida, principalmente os afluentes do córrego Caramujo podendo ser considerado meandrantes, divagando suavemente sobre extensa área de planície inundada em quase todos os pontos de coleta. O que pode ser justificada pela baixa declividade do relevo que segundo Silva (2012), a declividade média da bacia hidrográfica do córrego Padre Inácio é de 0,42 e que para a mesma, a declividade é importante para definir a velocidade de escoamento superficial, podendo influenciar no tempo de permanência da água na bacia hidrográfica e na infiltração. A batimetria dos canais (largura e a profundidade), onde o fluxo da água se concentra apresentou variações conforme a sua localização, nas seções mais próximas das nascentes a profundidade média mais baixa atingiu 0,07 metros (ponto 10 - figura 03) e 0,80 metros de largura (ponto 4 - figura 03). No ponto doze, localizado a jusante da confluência dos dois principais canais que formam a bacia (córrego Padre Inácio e Caramujo), podendo ser considerado baixo curso, a profundidade (2,50 m) e a largura (35,22) apresentaram os maiores valores (figura 03). No entanto no sentido a foz (ponto 13 e figura 03), o canal vai diminuindo os valores de largura (14,4 m), e profundidade média (1 m) que podem ser justificados pelas quantidades de sedimentos que vem sendo transportados das áreas de nascente, e que ao perder capacidade em função da declividade, que diminui, vão sendo depositados e consequentemente assoreando não só o canal do córrego Padre Inácio como também o local de recepção desses sedimentos, como pode ser observado no ponto quatorze (figura 03), em que a largura da baía Tuiuiú foi de 97,09 m e a profundidade média foi de 0,39 m. A vazão nos pontos coletados apresentou valores baixos (0,06 m³/s, menor valor, ponto 01 - figura 02), e baixa amplitude, exceto para o ponto cinco que apresentou o maior valor (19,47 m³/s - figura 02). E isso se deu aos baixos valores, principalmente da área da seção. Espacialização dos Sedimentos na Bacia Hidrográfica do Padre Inácio Na granulometria dos sedimentos de fundo, notasse que há predomínio de areia fina em todos os pontos de coletas (figura 03), sendo que não foi possível realizar coleta no ponto doze, o mesmo além de apresentar a maior profundidade, tem no fundo da calha, rochas que foram colocadas para a construção de uma ponte. Quanto a quantidade de sedimentos em suspensão, a bacia apresentou valores altos se comparados com os trechos analisados por Silva (2017), no rio Paraguai a montante e a jusante da foz do córrego Padre Inácio, em que para datas aproximadas, a quantidade não ultrapassou a 100 mg/l, sendo que em alguns pontos da bacia, esses valores são até duas vezes mais altos (figura 03), o que pode apresentar a capacidade da bacia em transportar sedimentos em suspensão. No entanto a turbidez não apresentou altos valores, estando todos os pontos dentro dos limites aceitáveis para todos os tipos de uso estabelecidos pela Resolução CONAMA Nº 20, de 18 de junho de 1986. A descarga sólida suspensa em toneladas ao dia apresentou oscilações entre os valores (figura 04), sendo que a menor quantidade foi encontrada no ponto quatro com 0,46 t/dia e a maior quantidade foi encontrada no ponto cinco (100,93 t/dia), com 200 vezes mais quantidades.

Figura 01: localização da área de estudo

Fonte: Os autores

Figura 02: Coordenadas de localização dos pontos

Fonte: Os autores.

Figura 03: Variáveis hidrodinâmicas

Fonte: Os autores.

Figura 04: Sedimentos e turbidez

Fonte: Os autores

Considerações Finais

As características morfológicas da bacia hidrográfica do córrego Padre Inácio, principalmente do seu padrão drenagem é de difícil compreensão, haja visto que a baixa declividade do relevo, faz com que os mecanismos hidrodinâmicos responsáveis pela formação das formas dos canais fluviais na bacia, haja de forma irregular, estabelecendo padrões de difícil reconhecimento, necessitando de uma analise mais abrangente da bacia. Contudo podemos considerar a que a bacia hidrográfica do Padre Inácio apresenta o predomínio de areia fina na composição granulométrica, e tem grande capacidade de transportar sedimentos em suspensão.

Agradecimentos

A FAPEMAT (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Mato Grosso) e a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), pelo financiamento através de concessão de bolsa.

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