Autores

Souza, L.C. (UEMA) ; Filho, C.A.C.C. (UEMA) ; Portela, A.K.O. (UEMA) ; Lisboa, G.S. (UEMA) ; Morais, M.S. (UEMA) ; Bezerra, J.F.R. (UEMA)

Resumo

A pesquisa objetivou caracterizar a granulometria dos solos nos processos erosivos acelerados na bacia hidrográfica do rio Anil, Ilha do Maranhão. A granulometria dos solos é um importante parâmetro no entendimento dos processos erosivos servindo de base para conhecer e entender esses aspectos. Os procedimentos metodológicos constaram de revisão bibliográfica, trabalho de campo e análise de laboratório. As atividades de campo foram realizadas, no período seco da região, no ano de 2016, na área urbana do município de São Luís, mais precisamente, nos bairros do Barreto e Jaracaty, na bacia do rio Anil. A atividade de laboratório, com análise granulométrica, foi realizada com base no método da EMBRAPA (2011), baseando-se na dispersão total e pipetagem. De acordo com resultados obtidos, os dados indicam um solo com fração franco-arenosa e franco-argilo-arenosa predominante, segundo Magalhães (2001), um solo com esses teores indicam um solo mais susceptível aos processos intempéricos.

Palavras chaves

granulometria; processos erosivos ; bacia hidrográfica

Introdução

As formas de relevo constituem objeto de estudo da Geomorfologia. É a partir dela que se pode constatar a origem, construção e evolução deste, fundamentadas nas influências dos fatores exógenos e endógenos que contribuem no âmbito dessa transformação, a qual na maioria das vezes afetam a vida humana, quer seja no desenvolvimento de suas atividades, seus valores econômicos e sociais que lhes são atribuídos (GUERRA e CUNHA, 2001). No âmbito da Geomorfologia existem quatro variáveis de estudo que estão associadas ao relevo e são consideradas elementos relevantes para o equilíbrio do geosistema, são eles: morfologia, morfogênese, morfodinâmica e morfocronologia. Sendo que a morfologia é a descrição qualitativa das formas de relevo (morfografia) e a caracterização quantitativa do relevo (morfometria); a morfogênese refere-se à origem e ao desenvolvimento das formas de relevo; morfodinâmica condiz aos processos atuais e ativos, tanto endógenos como exógenos que atuam nas formas de relevo e a morfocronologia refere-se à idade, que pode ser absoluta ou relativa, das formas de relevo (FLORENZANO, 2008). Antes mesmo da existência humana e das primeiras civilizações a existência dos processos naturais transformadores da natureza já eram existentes e ativos, porém, a intensificação deste foi capaz de acelerar e criar novos processos, tal como os degradacionais do solo, como por exemplo, a erosão acelerada. Dentre alguns fatores que influenciam de maneira significativa na dimensão e na dinâmica dos processos erosivos, podem-se destacar: a erosividade que é a capacidade da chuva em erodir o solo; a erodibilidade que é o grau de suscetibilidade do solo em erodir; a cobertura vegetal que atua como proteção para camada do solo e as características das encostas, fatores que ditarão a dinâmica da transformação do relevo e dos solos (GUERRA, 1999). A esse respeito, é importante ressaltar a influência do uso e ocupação sem planejamento do solo e as suas respectivas consequências, causando impactos negativos, ou mesmo otimizando a existência de fatores degradacionais dos solos, mais precisamente os processos erosivos, podendo ser percebida tal interferência de forma direta em áreas urbanas e rurais. Para esse fator, traz-se a situação da área estudada, a bacia hidrográfica do rio Anil, Ilha do Maranhão, a qual se trata de uma região de alta suscetibilidade, que vem sofrendo influência dos impactos gerados pela ação antrópica ao longo dos anos, ocasionando vários processos de degradação ambiental nos solos, como a erosão acelerada em forma de ravinas e voçorocas. Por esta razão, sabendo-se das variações dos processos degradacionais bem como dos processos erosivos em si, ver-se a importância da análise granulométrica, a qual será estabelecida como uma importante ferramenta no desenvolver deste trabalho, visando-se aqui compreender a origem e evoluções daqueles processos existentes na área. Nessa perspectiva, por via de tal análise remete-se ao conhecimento da fração granulométrica que pode tornar o solo mais susceptível à ação dos processos intempéricos, como por exemplo, os altos teores de areia nos Neossolos. Sabendo-se a importância dos recursos naturais como todo, os quais são indispensáveis para vida humana, o presente trabalho traz os estudos relacionados às características granulométricas dos solos na bacia do rio Anil, visto que este é um dos principais rios da Ilha do Maranhão. Visando- se diagnosticar e compreender os processos erosivos procurou-se analisar a granulometria na área mencionada, tendo em vista obter-se conhecimento sobre a suscetibilidade dos solos daquela região à ocorrência de processos erosivos, a fim de propor melhores condições de vida à população existente ali, além de sugerir e dar subsídios para elaboração de um possível plano de ação aos órgãos responsáveis, bem como para a população em si.

Material e métodos

A pesquisa foi iniciada com levantamento bibliográfico e cartográfico, etapas imprescindíveis para a fundamentação deste trabalho. As atividades de campo foram realizadas no segundo semestre de 2016 nos bairros do Barreto e Jaracaty, cidade de São Luís, onde se encontram processos erosivos acelerados dentro da bacia do rio Anil, denominados: 1. Voçoroca Castelão (localizada nas imediações do Complexo Esportivo Governador João Castelo).Esta, por sua vez, possui 12 m de largura, 11 m de comprimento e 1,5 m de profundidade média. A declividade média do entorno está em aproximadamente 30º apresentando a forma ovalar; 2. Voçoroca Santa Eulália (localizada próxima a Via Expressa de São Luís), que por sua vez possui aproximadamente 30m de largura, 16m de comprimento e 2 m de profundidade média, com declividade média de aproximadamente 10º, apresentando a forma linear no sentido sul da bacia em questão. . Nas voçorocas supracitadas foram coletadas amostras para análise laboratorial, do tipo deformadas (não preservam a estrutura do solo), totalizando 52 (cinquenta e duas) amostras, sendo 5 (cinco) amostras retiradas de cada ponto no talude e na encosta das voçorocas em destaques. As análises das amostras coletadas foram realizadas no Laboratório de Geociências do Curso de Geografia, na Universidade Estadual do Maranhão, para a determinação da granulometria dos sedimentos das feições erosivas, de acordo com os procedimentos propostos pela EMBRAPA (2011). Além da caracterização granulométrica dos sedimentos dos processos erosivos acelerados, que resultam em ferramenta auxiliar no diagnóstico de áreas com ocorrências dessas formas de degradação, podendo ser facilmente observados nos topos e nas bordas dos tabuleiros, repercutindo de forma direta e indireta nas calhas fluviais e planície de maré, influenciando na morfodinâmica da área. Abaixo seguem as etapas de desenvolvimento da análise granulométrica em laboratório (figura 1). Figura 1: Pesagem da amostra (A); lavagem da amostra pós-sedimentada (B); deposição de amostra pós lavagem (C); adição de compostos (D); pipetagem das alíquotas (E); pesagem final da areia (F)

Resultado e discussão

A bacia hidrográfica é caracterizada por possuir uma área em que ocorre a drenagem da água para um rio principal e os seus afluentes (CHRISTOFOLETTI, 1980). A bacia do rio Anil está localizada no município de São Luís e suas nascentes situam-se no Tabuleiro Central da Ilha do Maranhão, com uma altitude de cerca de 55 m, em relação ao nível do mar, nesta bacia foram identificadas feições erosivas como voçorocas. Segundo Silva (2012), a base geológica da área em estudo é constituída por rochas do Grupo Barreiras (Terciária), com origem entre o Mioceno e o Plioceno, onde a porção aflorante é composta essencialmente de arenitos e siltitos, seguido de argilitos e folhelhos. Além da formação Itapecuru que apresenta arenitos de granulação fina e coloração cinza-clara ou avermelhada, ocorrendo intercalações de folhelhos, argilitos e siltitos, arenitos finos com significativa cimentação carbonífica. Ainda são comuns as estratificações cruzadas acanaladas, tabulares, estruturas flaser, linsen, estruturas de fluidição e convolutas (PEREIRA, 2006). No que se trata sobre a Geomorfologia da Ilha, tem-se a variação de compartimentos geomorfológicos, que são herdados de ações morfogenéticas dos períodos Terciário e Quaternário. Durante esses períodos, houve várias alterações climáticas que possibilitaram um revezamento entre os climas úmido e seco, possibilitando um decréscimo do relevo. Criando assim, os conhecidos relevos de mesas e tabuleiros. Levando-se em conta os níveis hierárquicos de classificação de Solos da Embrapa (2006) e o mapeamento feito por Silva (2012) são encontradas na área da bacia hidrográfica em questão as seguintes classes de solos: Argissolos e Gleissolos. No tangente às subordens de Maranhão (1998) é encontrada na área a seguinte m: ARGISSOLOS Vermelho-Amarelo. Partindo desse princípio, faz-se uma correlação entre solo, clima e o uso e ocupação da área de estudo uma vez que a caracterização do clima de um lugar é fundamental para a compreensão das geoformas, uma vez que este atua direta e indiretamente sobre a superfície terrestre, esculturando as mais diversas morfologias (SILVA, 2012). O clima especificamente da Ilha do Maranhão e, consequentemente, da área em estudo – bacia do rio Anil caracteriza-se como tropical chuvoso, com períodos secos no inverno, conforme (STRAHLER, 1960 apud PEREIRA, 2006); quente com chuvas de verão, isto é, Aw (KÖPPEN, 1918 apud MENDONÇA ,2007); e quente e úmido, com características equatoriais. Somando-se aos processos citados acima e o inadequado uso e ocupação dos solos, e por toda esta resposta negativa proveniente da natureza esta é uma das questões mais discutidas atualmente, principalmente quando levado em conta a problemática das cidades e das grandes áreas agricultáveis, pois nesses locais é possível perceber de maneira mais intensa e abusiva a exploração dos solos. Diante desta perspectiva, a análise das propriedades físicas dos solos se faz de grande importância no estudo dos processos erosivos, tais como: granulometria, densidade do solo, porosidade e teor de matéria orgânica (CAMARGO, 2009). Os processos erosivos encontrados, voçorocas Castelão e Santa Eulália apresentam as seguintes características: a do Castelão situa-se na vertente do estádio Governador João Castelo, localizado no Bairro do Barreto, Município de São Luís, e na porção Sudeste da bacia do rio Anil, alto curso desta bacia hidrográfica. Esta, por sua vez, possui 12 m de largura, 11 m de comprimento e 1,5 m de profundidade média. A declividade média do entorno está em aproximadamente 30º apresentando a forma ovalar. Ao que concerne à Voçoroca Santa Eulália, localiza-se dentro do Sítio Santa Eulália, no Bairro do Jaracaty, na porção Nordeste da Ilha do Maranhão, localizada no baixo curso da bacia em estudo. Que por sua vez possui aproximadamente 30m de largura, 16m de comprimento e 2 m de profundidade média, com declividade média de aproximadamente 5º, apresentando a forma linear no sentido sul da bacia em questão. Os resultados da análise granulométrica indicam predomínio da fração arenosa e franco argilo-arenosa (figura 1). Considerando as características apresentadas no diagrama textural para a Voçoroca Castelão concorda-se com Magalhães (2001), quando afirma que os solos mais propícios à erosão são os arenosos, sobretudo os finos, secos, ácidos, pouco coesivos, coluviais e porosos. O autor acrescenta ainda que os solos mais propícios à formação de voçorocas são os do tipo arenoso e ácidos, predominando as cores claras nos horizontes mais superficiais. Acerca do diagrama textural da Voçoroca Santa Eulália, constatou-se por meio das análises obtidas em laboratório a presença das frações Franco-Argilo- Arenosa, Franco-arenosa e Areia Franca (Figura 2). Com base nas tabelas abaixo (tabelas 1 e 2), é possível aperfeiçoar os resultados das análises granulométricas das voçorocas identificadas - Voçoroca Castelão e Santa Eulália, o que garante a sucessão dos solos dessas áreas tenderem a ocorrência tipo de processos erosivos acelerados, uma vez que o percentual de areia é bem significativo podendo ser encontrado na maior parte dos pontos coletados para análises laboratoriais. Nesse sentido, concorda-se com Bertoni e Lombardi Neto (2005), quando afirmam que a erosão não é a mesma em todos os solos. As propriedades físicas, principalmente estrutura, textura, permeabilidade e densidade, assim como as características químicas e biológicas do solo influenciam a erosão.Suas condições físicas e químicas, ao conferirem maior ou menor resistência à ação das águas, tipificam o comportamento de cada solo exposto a condições 27 semelhantes de topografia, chuva e cobertura vegetal (BERTONI E LOMBARDI NETO, 2005). A textura, ou seja, o tamanho das partículas é um dos fatores que influenciam na maior ou menor quantidade de solo arrastado pela erosão. Assim, por exemplo, o solo arenoso, com espaços porosos grandes, durante uma chuva de pouca intensidade pode absorver toda a água, não havendo, porém, nenhum dano; entretanto, como possui baixa proporção de partículas argilosas que atuam como uma ligação entre as partículas grandes, pequena quantidade de enxurrada que escorre na sua superfície pode arrastar grande quantidade de solo. Já no argiloso, com espaços porosos bem menores, a penetração da água é reduzida, sendo esta ocorrente mais pela superfície; entretanto, a força de coesão das partículas é maior, o que faz aumentar a resistência à erosão (BERTONI E LOMBARDI NETO, 2005). Para esse fator, baseia-se na Geologia da área, predominando a Formação Itaparecuru, Grupo Barreiras e Formação Acuí e uma vez que tais formações Geológicas apresentam um alto teor de areia na sua composição, sendo elas designadas como estruturas de baixa consistências apresentando uma alta porosidade em seus agregados (RODRIGUES et al, 1994) (PEREIRA, 2006). A segunda feição erosiva (tabela 2) se faz em maior atividade, uma vez que suas características apontam um índice maior de areia, sendo essa fração mais fácil de ser removida pela erosão hídrica superficial a somar com os processos intempéricos situados na área, além uso e manejo do solo.

Triângulo Textural para a Voçoroca Castelão

Triângulo Textural para a Voçoroca Castelão

Triângulo Textural para a Voçoroca Santa Eulália

Triângulo Textural para a Voçoroca Santa Eulália

Análise granulométrica para voçoroca Castelão

Análise granulométrica para voçoroca Castelão

Análise granulométrica para voçoroca Santa Eulália

Análise granulométrica para voçoroca Santa Eulália

Considerações Finais

Os resultados alcançados demonstram dados satisfatórios, apontando para algumas conclusões a respeito da ocorrência de processos erosivos na bacia hidrográfica do rio Anil. Como expostos nos dados, foram encontradas respostas condizentes ao objetivo da pesquisa o que será mais influente ainda na compreensão dos processos ali ocorrentes, uma vez que a partir do conhecimento da granulometria dos solos é possível uma prévia no tangente às ações intempéricas que este pode sofrer, acarretando em impactos ambientais urbanos com consequências naturais e antrópicas. Em concordância com o exposto, à análise granulométrica se faz de extrema importância para o diagnóstico, avaliação, controle e prevenção de processos erosivos e quaisquer formas de degradação dos solos. Para tanto, a Ilha do Maranhão é composta por uma paisagem dinâmica e heterogênica, existem nela um total de 12 bacias hidrográficas, tendo a dinâmica influenciada pela ação antrópica. No entanto, os gestores ambientais bem como das políticas públicas voltadas para este fim não dão a devida importância aos fatores naturais que circundam estas áreas, sofrendo elas as consequências de toda pressão advinda do crescimento urbano desenfreado. Portanto, as bacias hidrográficas figuram importantes áreas para manutenção natural de toda a biota que a cerca. Nesse sentido, é de fundamental importância essa análise, permitindo estudos mais sistemáticos, dando suporte para planejamentos ambientais nestas áreas de extrema vulnerabil

Agradecimentos

A Deus, pelo dom da Vida. Ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) pela bolsa de Iniciação Científica, (BIC-CNPQ), pelo financiamento do projeto de pesquisa. Ao Grupo de pesquisa Geomorfologia e Mapeamento (GEOMAP) pelo acolhimento e incentivo no desenvolvimento do trabalho.

Referências

BERTONI, J. E LOMBARDI NETO, F. (2005) Conservação do Solo. 5.ed. São Paulo. 355p
CAMARGO, O.A.; MONIZ, A.C.; JORGE, J.A.; VALADARES, J.M.A.S. Métodos de Analise Química, Mineralógica e Física de Solos do Instituto Agronômico de Campinas. Campinas, Instituto Agronômico, 2009. 77 p. (Boletim técnico, 106, Edição revista e atualizada).
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Centro Nacional de Pesquisas de Solos. Manual de métodos de análises de solos. 2.ed. Rio de Janeiro: 27 Embrapa Solos, 2011.
GUERRA, A. J. T & MARÇAL, M. dos S. Geomorfologia Ambiental. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2006.
SILVA, Q. D. Mapeamento geomorfológico da ilha do maranhão. Presidente Prudente (2012).
RODRIGUES, T. L. das N.; FAVILLA, C. A. C.; CAMOZZATO, E.; VERÍSSIMO, L. S. Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil. Bacabal. Folha SB.23-X-A. Estado do Maranhão. Escala 1: 250.000. Brasília: CPRM, 1994b. 124 p.
MAGALHÃES, A.R. Erosão: definições, tipos, e formas de controle. In: VII Simpósio Nacional de Controle de Erosão. Goiânia. 2001

PEREIRA, E. D. Avaliação da vulnerabilidade natural à contaminação do
solo e do aqüífero do Reservatório Batata. Rio Claro .2006