Autores

Gama, J.P.A. (UFOB) ; Barbosa, A.S. (UFOB) ; Nery, S.S. (UFOB) ; Souza, A.B.S. (UFOB) ; Santos, G.B. (UFJF) ; Diniz, P.H.G.D. (UFOB) ; Carneiro, C.E.A. (UFOB)

Resumo

Objetivou-se com este estudo a caracterização pedológica da bacia do rio de Ondas, visando identificar os principais fatores condicionantes da gênese dos solos. Nesta bacia existem projetos de irrigação e áreas de expansão urbana, sem que haja estudos sistemáticos de solos. Para tanto, foram analisados perfis de solo por meio de descrição morfológica, tendo sido suas amostras coletadas e analisadas em laboratório, onde foram realizadas análise textural, densidade de solo e de partículas. Foram identificados solos distintos nos ambientes de chapada, vereda de nascente, áreas dissecadas e planície. Os fatores cruciais nos processos pedogenéticos nestas condições são o material de origem e o relevo, que condicionam grande distinção de cores, principalmente devido as condições de drenagem, que por sua vez interferem na decomposição da matéria orgânica (escuros), em processos de oxidação (vermelhos) e em redução (cinzas).

Palavras chaves

Gênese de Solos; rio de Ondas; Pedogeomorfologia

Introdução

Entre os recursos naturais do nosso planeta, os solos ocupam um lugar de extrema importância, uma vez que estamos diretamente ligados a eles. Solos suportam os vegetais, dos quais, direta ou indiretamente, nossa vida depende. Assim, a Pedologia, como ciência que estuda diretamente os solos, seus processos formadores e constituintes, nos traz informações relevantes, cuja a aplicação se dá nas mais diversas áreas da ciência. No âmbito da Ciência dos Solos, a classificação do solo é importante parâmetro para a gestão e utilização sustentável da terra. No Brasil, a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) recomenda o uso do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS), que considera o solo como uma coleção de corpos naturais, constituídos por partes sólidas, líquidas e gasosas, dinâmicos, tridimensionais, formados por materiais minerais e orgânicos que ocupam a maior parte do manto superficial das extensões continentais do nosso planeta, contendo matéria viva, podem ser vegetados na natureza e, eventualmente, terem sido modificados por interferências antrópicas (EMBRAPA, 2013). O SiBCS possibilita a classificação de todos os tipos de solos contidos no território nacional, estruturando-os em seis níveis categóricos distintos, de forma similar à Soil Taxonomy: Ordem, Subordem, Grande Grupo, Subgrupo, Família e Série, em ordem crescente, obedecendo cada nível a um grau de detalhamento (COELHO e GIASSON, 2010). A área de estudo é a bacia hidrográfica do rio de Ondas, localizada no oeste da Bahia, abrangendo parte dos municípios de Barreiras e Luís Eduardo Magalhães representando um importante manancial para a região onde a geodiversidade desta bacia possui elementos que representam boa parte da evolução da história geológica do oeste baiano (Figura 1). Os solos presentes na área estudada são resultantes da síntese da interação dos elementos litológicos, geomorfológicos, climáticos, biológicos e antrópicos, portanto, trata-se de um sistema aberto com constantes trocas de matéria e energia. Segundo Passos et al., (2010) atualmente a região da bacia hidrográfica do rio de Ondas, bem como grande parte do oeste baiano constituem o maior polo econômico e administrativo do oeste baiano onde o agronegócio tem um papel importante, destacando-se a cultura de grãos, em especial a soja, o milho e o algodão. Trata-se de uma agricultura científica e/ou moderna de alta tecnologia, resultante da expansão de monoculturas, devido ao espraiamento do agronegócio globalizado em áreas do Cerrado brasileiro (MONDARDO, 2010). O agronegócio instalou-se na região, em sua maior extensão, em áreas de relevo plano e com uma boa disponibilidade hídrica para irrigação, estando, principalmente em área de latossolos originados à partir dos arenitos da Formação Urucuia, nos Chapadões (FOTANA et al., 2016). As demais classes do solo, no entanto, são pouco estudadas, mas também possuem importância dentro do contexto desta bacia, pois estão em áreas destinadas à agricultura familiar, expansão urbana e áreas de proteção ambiental. Diante do exposto, os objetivos deste trabalho é descrever os tipos de solos já mapeados na bacia hidrográfica do rio de Ondas, por meio de abertura de trincheiras (profundidade adaptada a cada tipo de solo) ou em áreas de empréstimo, buscando ampliar o conhecimento do ambiente produzindo informações mais detalhadas sobre esta bacia, com intuito de subsidiar projetos voltados ao planejamento e manejo do uso do solo.

Material e métodos

Para alcançar os objetivos propostos foi realizada a descrição morfológica de cinco perfis de solo (Figura 2), além da coleta de amostras dos que foram cuidadosamente limpos para se retirar material intemperizado. A descrição morfológica do perfil de solo foi realizada a partir da delimitação dos horizontes, profundidade e espessura, cor, textura, estrutura, consistência, plasticidade e pegajosidade, seguindo recomendações do “Manual de Descrição e Coleta de Solo no Campo” de Santos et. al, (2013), foram coletadas amostras em todos os seus horizontes. As amostras após a coleta foram secas, destorroadas e peneiradas (2 mm) em laboratório. Os atributos físicos foram determinados de acordo com Manual de Métodos de Análise de Solo da Embrapa (DONAGEMA et al., 2011). A composição granulométrica foi calculada pelo método da pipeta, usando-se dispersão com NaOH1 mol L-1; a densidade das partículas (Dp) foi determinada pelo método do balão volumétrico e a Densidade de Solo (Densidade Aparente) foi obtida pelo método do torrão.

Resultado e discussão

Os atributos morfológicos dos cinco tipos de solos da bacia do rio de Ondas serão descritos a seguir, as profundidades do perfil e a espessuras dos solos podem ser observadas na tabela 3. O perfil do Latossolo Vermelho- Amarelo foi descrito até a profundidade de 200 cm, onde foi possível identificar dois horizontes. Sendo o horizonte A subdividido em duas e o B em seis unidades para análises. Todo o perfil apresentou um predomínio da fração areia na composição granulométrica, com os teores de 808.5 a 882 g kg-¹. A participação dessa fração, no entanto, diminuiu em profundidade, com aumento gradativo da fração argila no Horizonte B. A densidade aparente variou entre 1,5 e 2,7 g/cm³, os menores valores foram registrados no horizonte A1, provavelmente relacionados ao maior teor de matéria orgânica, o que confere maior porosidade ao solo. A densidade de partícula não variou significativamente no perfil e está dentro da média esperada para solos minerais, o que indica boa capacidade de infiltração e desenvolvimento radicular. Os resultados das análises granulométricas evidenciaram a natureza arenosa do material. Foi observado a textura Areia Franca para todos os horizontes analisados. Ambos também apresentam estrutura granular, consistência solta para amostras úmidas e para os horizontes A1 e A2 para amostras secas além de consistências macia para os demais horizontes em amostras secas. Quanto à coloração todo o perfil encontra-se bastante avermelhado devido ao intenso processo de alteração, o horizonte Bw vermelho e o horizonte A Bruno- avermelhado, este último mais escuro devido a maior presença de matéria orgânica. O perfil do Gleissolo foi descrito até a profundidade de 130 cm, onde foi possível identificar dois horizontes. Sendo o horizonte Glei subdividido em quatro unidades para a realização das análises. A análise granulométrica do Gleissolo, assim como do Latossolo apresentou maior teor de areia em todos os seus horizontes, visto que este tipo de solo formou-se também sobre os arenitos do Grupo Urucuia, porém as condições de má drenagem possibilitam sua formação e particularidades. Os valores de densidade de partículas variaram de 2,5 a 2,7 g/cm3, o valor mais baixo corresponde ao horizonte A que possui maior teor de matéria orgânica. Na análise de densidade aparente foi possível observar aos menores valores nos horizontes superficiais com leve aumento nos horizontes subsuperficiais. Os horizontes apresentam estrutura de grau indo de forte a moderada, tamanho variando de pequena a muito pequena do tipo granular herdada do material de origem arenoso. Neste tipo de solo a consistência foi analisada apenas na forma úmida e molhada, pois trata-se de um solo hidromórficos, não sendo possível atestar a consistência seca em campo. Quando úmida a consistência apresentou-se solta. Quando molhada o horizonte A apresentou-se ligeiramente plástico e ligeiramente pegajoso devido ao maior teor de argila, o horizonte Glei1 apresentou-se ligeiramente plástico e ligeiramente pegajoso, já os horizontes subsuperficiais não apresentaram plasticidade nem pegajosidade por conter maiores teores de areia. Todos os horizontes possuem coloração Preta-esverdeado, sendo que o Glei1 e Glei2 apresentam mosqueamento Vermelho-amarelado. A análise granulométrica aponta que os a fração areia prevalece frente as demais, e a fração silte é a que aparece em menores quantidades nos horizontes, exceto no horizonte Glei1 onde ele é a maior fração. As texturas encontradas vão desde Areia Franca para os horizontes A1, Glei3, Glei4, Franca para o horizonte Glei1 e Areia para o horizonte Glei2. O perfil do Neossolo Flúvico foi descrito até a profundidade de 120 cm, onde foi possível identificar dois horizontes. Sendo o horizonte C subdividido em duas unidades para a realização das análises. A análise granulométrica do Neossolo Flúvico revelou uma composição textural mais fina em relação aos solos analisados anteriormente. Além disso, os texturas não são homogêneas ao longo do perfil. Isso se deve ao material que originou este solo. Trata- se de uma planície de inundação que recebe o material que o rio carrega em suspensão e deposita nos diferentes pulsos de cheia. De acordo com a análise granulométrica a textura do horizonte A e do horizonte B é a Franco-Arenosa, e do horizonte C siltosa. A fração em maior abundância nos horizontes é a areia fina, principalmente no horizonte A e C1, o horizonte C possui uma grande quantidade de sedimentos finos. Com relação a densidade, o horizonte A é o que possui o menor valor, 2,5 g/cm3 o que está relacionado a maior quantidade de matéria orgânica nesse horizonte. O Neossolo Flúvico apresenta estrutura de grau forte a moderada, tamanho grande do tipo prismática a colunar. A consistência seca varia de ligeiramente dura a extremamente dura, quando úmida se comporta como muito friável no horizonte A, friável no horizonte C1 e Firme no horizonte C2, a consistência molhada vai de plástica e pegajosa do horizonte A, e muito plástica e muito pegajosa nos horizontes C1 e C2. Todo o perfil do solo possui coloração uniforme Bruna-avermelhada-clara. O perfil do Neossolo Quartzarênico foi descrito até a profundidade de 180 cm, onde foi possível identificar dois horizontes. A análise granulométrica do Neossolo Quartzarênico mostra que o horizonte A é composto por areia franca e horizonte C por areia. Areia é a principal fração que compõe este solo, o baixa quantidade de silte e argila estão associadas à pouca alteração química do material de origem jovem (coberturas aluvionares). A densidade de partícula foi de 2,5 g/cm3 para o horizonte A e 2,8 g/cm3 para o horizonte C. A menor densidade aparente no horizonte superficial pode estar atrelada a menor quantidade de silte e argila neste horizonte, o que o confere poros maiores relacionados à textura arenosa. O Neossolo Quartzarênico possui estrutura de grau forte, tamanho pequeno, no horizonte A e muito pequeno no horizonte C, do tipo grãos simples e maciça. A consistência, em amostra seca, é dura no horizonte A e solta no horizonte C, quando úmida, a consistência apresenta-se friável no horizonte A e solta no horizonte C, quando molhada, a consistência no horizonte A mostrou-se plástica e não pegajosa e ligeiramente plástica e não pegajosa no horizonte C. Quanto à coloração o horizonte A foi classificado como Bruno-acinzentado- escuro e o horizonte C Bruno-muito claro-acinzentado, a matéria orgânica é a responsável por escurecer mesmo que pouco o horizonte A. O perfil do Neossolo Litólico foi descrito até a profundidade de 80 cm, onde foi possível identificar dois horizontes. O Neossolo Litólico possui características morfológicas como estruturas de grau forte, tamanho pequenas e do tipo granular, a consistência é ligeiramente dura quando seca, solta quando úmida e não plástica e não pegajosa quando molhada. A textura apresenta pelos horizontes são do tipo areia franca, onde tem-se a fração maior de areias, em destaque a areias finas. Os horizontes A e C apresentam cor Vermelha, relacionadas principalmente as rochas da Formação Serra das Araras, que possui arenitos silicificados vermelhos com níveis amarelos e argilitos e conglomerados vermelhos. A análise de densidade de partículas mostrou valores de 2,6 g/cm3 para o horizonte A e 3,0 g/cm3 para o horizonte C. O aumento na densidade no horizonte C evidencia a pouca alteração química deste solo. Já a análise de densidade aparente apresentou valores 2,9 g/cm3 para o horizonte A e 2,2 g/cm3 para o horizonte C. Esta diminuição pode estar atrelada à maior quantidade de areia no horizonte subsuperficial, dando-lhe caráter mais poroso.

Figura 1

Localização da área de Estudo

Figura 2

(A) Latossolo Vermelho-Amarelo, (B) Gleissolo, (C) Neossolo Flúvico, (D) Neossolo Quartzarênico, (E) Neossolo Litólico.

Tabela 1

Espessuras dos horizontes dos Solos da bacia do rio de Ondas.

Considerações Finais

Os solos presentes na bacia do rio de Ondas são em sua maioria arenosos, pois são originários dos arenitos do Grupo Urucuia ou de coberturas inconsolidadas, que são provenientes da erosão e deposição dos arenitos, além de apresentarem uma grande distinção de cores, principalmente devido as condições de drenagem, que por sua vez interferem na decomposição da matéria orgânica (escuros) e processos de oxidação (vermelhos) e redução (cinzas). As principais variações dentre os solos arenosos se deveram à percolação de água, que depende da permeabilidade das rochas e da declividade do terreno. Quando ocorre descontinuidade no material de origem, formam-se os gleissolos, resultantes de hidromorfia. Já nas declividades mais acentuadas ocorrem os Neossolos Litólicos, pouco espessos. Já o Neossolo Flúvico que se origina de materiais trazidos pelos canais fluviais e depositados em suas planícies de inundação, se configura por ser o solo de textura mais fina da bacia do rio de Ondas. Os parâmetros físicos do solo foram eficazes para a interpretação da gênese dos solos. Estes dados podem servir de base para a tomada de decisão relacionadas a atividades urbanas e agrícolas.

Agradecimentos

Os autores agradecem a PROPGPI/UFOB mediante financiamento do projeto “Desenvolvimento de um aplicativo de celular para classificação de solos do município de Barreiras” e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) concessão de Bolsa de Iniciação Científica da quarta autora.

Referências

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DONAGEMA, G. K.; CAMPOS, D. V. B. de; CALDERANO, S. B.; TEIXEIRA, W. G.; VIANA, J. H. M. (Org.). Manual de métodos de análise de solos. 2.ed. rev. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2011. 230p. (Embrapa Solos. Documentos, 132).
EMBRAPA, Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. Brasília: EMBRAPA Produção de Informação; 3 ed. Rio de Janeiro: EMBRAPA Solos, 2013. 356 p.
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PASSOS, A. L.; ROCHA, S. S.; HADLICH, G. M. Evolução do uso do solo e agronegócio na região oeste do estado da Bahia. 2010.
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