Autores

Oliveira, J.G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR) ; Nowatzki, A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR) ; Lange, D.R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR) ; Marion, F.A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOEST) ; Neuman, G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR) ; Santos, L.J.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR) ; Marcolin, L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR) ; Hung, M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR) ; Comerlato, T. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR)

Resumo

O presente trabalho teve por objetivo delimitar os limites laterais das variações em Latossolos através da análise estrutural da cobertura pedológica. A área estudada situa-se na região noroeste do Paraná, é caracterizada pela presença de arenitos do grupo Caiuá e solos de textura arenosa. O método foi aplicado através de topossequências, sendo possível assim amostrar de maneira sistemática as variações do solo ao longo de duas vertentes. Foram realizadas 27 sondagens coletando amostras em 5 profundidades. Os dados coletados nas topossequencias demonstram que o solo é homogêneo ao longo das vertentes até as proximidades do fundo do vale. Nas proximidades do vale existe uma transição dos solos com horizonte Bw Vermelho (2,5 YR) em Bw amarelado (5 YR).

Palavras chaves

Topossequência; Cobertura pedológica; Variação lateral

Introdução

Classicamente na pedologia os estudos tomavam por base o perfil de solo como unidade fundamental de trabalho (SANTOS, 2000), entretanto, a partir da década de 1970, pedólogos franceses iniciaram as tentativas de tratar o solo como um corpo natural continuo. Para que isso ocorresse, um conceito importante passou a ser utilizado, o de Catena (MILNE, 1934). Esse termo trata da variação do solo ao longo de diferentes condições de relevo. Até a década de 1960, os trabalhos sobre solos no Brasil apresentavam enfoque apenas no cadastramento, todavia surgiram nos anos 70 estudos buscaram a interpretação de perfis de solos quanto à variação dos processos (BARROS, 1985). Neste sentido, analisando o solo nas suas variações laterais, com base no conceito de Catena, surgiu a análise estrutural da cobertura pedológica. Essa linha de pensamento se iniciou com os trabalhos de Boulet (1975), sendo que Queiroz-Neto (2011) atribui o seu surgimento a preocupação dos pedólogos em compreender a distribuição dos solos na paisagem, e entender quais processos e quais fatores levariam a essa distribuição. Esses trabalhos buscaram entender o solo nas suas modificações laterais e na sua variação na paisagem. Queiroz-Neto (2011), ressalta que esses estudos superaram a análise do solo apenas como perfil e que a partir deles, é possível concluir a dinâmica físico-hídrica no solo e também realizar prognósticos quanto à erosão no solo. No Brasil, estudos dessa natureza, levaram a percepção de que a cobertura pedológica é um sistema estrutural continnun na vertente e complexo, inserido na paisagem que apresenta transformações progressivas das organizações dos horizontes, tanto verticais como (principalmente) lateralmente no sentido da vertente (Fernandes Barros, 1985; Castro, 1989; Salomão, 1994; Santos, 1995; Calegari, 2000; Martins, 2000). Partindo do contexto da analise estrutural, objetiva-se com o presente trabalho delimitar os limites laterais das variações em Latossolos através de topossequências. A área de estudo na qual foi aplicado o método se situa na bacia do ribeirão Jurema, localizada no município de Amaporã, na Mesorregião Noroeste Paranaense na Microrregião de Paranavaí (Figura 1). Dentro da bacia do córrego jurema, o presente trabalho foi desenvolvido a montante do parque estadual de Amaporã, unidade de conservação criada pelo Decreto Estadual nº 3280 de 18 de novembro de 2011 (IAP, 2015). A bacia do córrego Jurema se situa em uma área de ocorrência de rochas do grupo Caiuá, com idade mesozoica e origem sedimentar (FERNANDES et al., 2012). Localiza-se na unidade morfoescultural do terceiro planalto paranaense, na sub-unidade planalto de Paranavaí, com características de baixa dissecação do relevo e topos aplainados (SANTOS, 2006). Segundo a classificação climática de Köppen, a região noroeste do Paraná apresenta clima Cfa (clima temperado úmido com verão quente), onde as temperaturas médias anuais variam entre 22 e 24°C e a precipitação anual média varia entre 1200 e 1400mm, nas porções mais ao norte do município, e entre 1400 e 1600mm, nas partes centrais e sul (IAPAR, 1994).

Material e métodos

O procedimento utilizado é denominado topossequência. Este método permite amostrar de maneira sistemática uma vertente, tornando possível a verificação das descontinuidades de camadas. (GASPARETTO et al. 2001). De início, é necessário o levantamento topográfico em campo. O método foi adotado através da utilização de um clinômetro analógico, no qual é usado para obter o desnível do relevo em pontos com distâncias conhecidas. Esse procedimento é realizado até que a área de interesse seja totalmente recoberta (BRICALLI, 2006; CUNHA et al., 2011). O trabalho de campo foi realizado de acordo com Boulet et al. (1992, a, b) visando a incisão dos solos por sondagens, obtendo a distribuição bidimensional dos horizontes pedológicos e suas transições laterais. A descrição dos solos foi realizada segundo Santos et al (2015) e classificação conforme Embrapa (2013). Amostras deformadas de cada horizonte foram coletadas para realização de análises físicas e químicas para caracterização dos solos. O trabalho foi feito iniciando-se em dois topos, convergindo para um vale comum (Figura 2). Ao longo da topossequência 1 (T1) foram realizadas 13 sondagens, e na topossequência 2 (T2) 14 sondagens, totalizando 27 sondagens no solo utilizando um trado holandês, até 120 cm de profundidade. Para cada sondagem foram coletadas amostras nas profundidades de 0-5, 20, 50, 90 e 120 cm, com o objetivo de serem dispostas em um pedocomparador para a análise da diferenciação das características do solo ao longo das vertentes e também para a realização de análises granulométricas. Para a verificação das cores do solo foi utilizada uma carta de cores de Munsell. Por fim os resultados foram plotados em papel milimetrado, respeitando as escalas verticais, horizontais e do solo. Posteriormente o perfil espacializado foi convertido em arquivo digital e processado utilizando o software ArcGIS 10.3.

Resultado e discussão

O solo ao longo das vertentes é homogêneo até o terço inferior (sondagem 8 na T1 e 11 na T2), conforme pode ser observado na topografia local e da distribuição das sondagens nas duas vertentes (FIGURA 3). As amostras coletadas apresentam textura arenosa ao tato, e em nível de sistematização existem apenas dos Latossolos em primeiro nível categórico. A montante das duas vertentes o solo caracteriza-se pela presença de um horizonte A, variando na maior parte de 15 cm a 30 cm, seguido de um horizonte B latossólico (Bw) com cor vermelho-escuro ou vermelho (2,5 YR 3/6 ou 2,5 YR 4/6). Na T1, que inicia a SE, em duas sondagens não foi constatado a existência de horizonte A no solo (sondagens 3 e 5), sendo que a falta desse horizonte foi atribuída ao uso da terra, predominando nas duas vertentes o cultivo da cana de açúcar. A partir do terço inferior, a sondagem 8 na T1, e a sondagem 11 na T2, o horizonte B passa a possuir um tom de cor mais amarelado, vermelho-amarelado (5 YR 5/6). (Figura 4) A partir das sondagens mais próximas do fundo do vale (sondagem 9 na T1 e 12 na T2), observou-se a presença de água no solo, sendo que na sondagem 10 da T1, a partir de 100 cm da superfície, a resposta na retirada do trado do solo era de uma amostra saturada. Em certos estudos realizados em topossequências (p. ex. FAUCK, 1974; BOULET et al., 1984) é comum a identificação de um limite de drenagem vertical em solos amarelados, condizendo com os resultados obtidos em campo, visto que conforme se descola do topo das vertentes em direção ao fundo de vale, o nível freático apresenta-se mais próximo da superfície do solo e consequentemente, limitando a drenagem vertical. Portanto, analisando os resultados das topossequências e comparando com os trabalhos acima citados, é notada uma relação direta entre a posição na vertente e as características morfológicas do solo, verificando que no terço inferior das vertentes estudadas os solos são amarelados, enquanto nos terços médio e superior das vertentes existem solos avermelhados.

FIGURA 1

LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO DAS TOPOSSEQUÊNCIAS.

FIGURA 2

ÁREA DE REALIZAÇÃO DAS TOPOSSEQUÊNCIAS, A CIMA VISTA DA T2 E A BAIXO DA T1

FIGURA 3

REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS TOPOSSEQUÊNCIAS

FIGURA 4

VARIAÇÃO DAS CORES DO SOLO AO LONGO DAS VERTENTES

Considerações Finais

Cabe se destaque ao método, que empregado através do trabalho de campo e analises em gabinete apresentou resultados satisfatórios na investigação das variações laterais dos Latossolos na área em estudo. A análise dos resultados obtidos permite relacionar a variação lateral dos solos na área de estudo a sua posição topográfica, enquanto a variação da cor reforça a relação entre a posição na vertente e a morfologia do solo. Em comparação com outros estudos (FAUCK, 1974; CHAUVEL & PEDRO, 1978; BOULET et al., 1984), as características morfológicas encontradas nas sondagens podem indicar processos pedológicos de transformação lateral, característicos de região com estações contrastantes ao longo do ano. O método da análise estrutural por meio do estudo de topossequências se mostra útil em estudos de caracterização e gênese de solos, pois mesmo tendo sua origem na década de 1960/70 ainda continua sendo amplamente utilizado. A ampliação de estudos sobre as relações solos-relevo auxilia para o avanço das análises integradas de planejamento de uso do solo, potencialidades e fragilidades, devido à falta de dados sobre o tema em diversas áreas do território nacional. Por fim, os dados obtidos pelas topossequências irão servir como base para análises posteriores do solo no local, contribuindo para o levantamento e estudos das características do solo na região noroeste do Paraná.

Agradecimentos

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