Autores
Xavier, R.A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA) ; Nascimento, M.E.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA) ; Pereira, T.F. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA) ; Souza, N.R.L. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA) ; Fialho, D.A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA)
Resumo
No Cariri Paraibano, o Lajedo do Bravo, no município de Boa Vista-PB, apresenta distinta paisagem geológica, geomorfológica e cultural. Nas últimas décadas, vem crescendo a atividade do turismo no Lajedo do Bravo. Os atrativos turísticos são vários: lajedo granítico com várias geoformas (matacões arredondados com diversas formas, tanques naturais, muralhas, etc.), arte rupestre (pinturas e gravuras), registros arqueológicos e paleontológicos. Este trabalho tem como objetivo inventariar o patrimônio geomorfológico do Lajedo do Bravo. Foram feitos trabalhos de campo para, com auxílio da planilha de valoração proposta por Vieira (2014), identificar, descrever e valorar o patrimônio geomorfológico. Os resultados mostraram um alto valor intrínseco do lajedo, mostrando seu expressivo patrimônio. Os indicadores de uso e gestão foram relativamente os de mais baixo valor. Estas características mostraram a necessidade de se investir em estratégias de conservação.
Palavras chaves
geoconservação; paisagens graníticas; semiárido
Introdução
Nas últimas décadas, segundo Vieira (2014), a natureza deixou de ser considerada apenas como um recurso econômico, associada à sua exploração, e transformou-se em patrimônio dotado de um conjunto significativo de valores: estético, científico, educativo, cultural e mesmo econômico. Esse reconhecimento da natureza foi referendado na conferência da UNESCO, em 1972, onde foi aprovada a Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural. Segundo esta convenção são considerados “Patrimônio Natural” (UNESCO, 1973): os monumentos naturais constituídos por formações físicas ou biológicas ou por grupos dessas formações que tenham um valor universal excepcional do ponto de vista estético ou científico; as formações geológicas e fisiográficas e as zonas estritamente delimitadas que constituam o habitat de espécies animal ou vegetal ameaçadas, que tenham um valor universal excepcional do ponto de vista estético ou científico; os lugares naturais ou as zonas naturais estritamente delimitadas, que tenham um valor universal excepcional do ponto de vista da ciência, da conservação ou da beleza natural. Desde então, é crescente o desenvolvimento de estudos e políticas voltadas para a conservação do patrimônio natural em diversas partes do mundo. Nesses estudos, inicialmente, valorizou-se sobremaneira os elementos bióticos do patrimônio natural, como flora e fauna locais, resultando no levantamento e valorização da biodiversidade. Com o intuito da preservação e conservação da natureza, em particular dos aspectos abióticos, surgiram os conceitos de geoconservação e geopatrimônio, que, em última análise, expressam a ideia de conservação do patrimônio geológico-geomorfológico da Terra. Nesse sentido, uma das primeiras definições de patrimônio geomorfológico foi apresentada por Pereira (1995, pág. 11), definindo como: “o conjunto de formas de relevo, solos e depósitos correlativos, que pelas suas características genéticas e de conservação, pela sua raridade e/ou originalidade, pelo seu grau de vulnerabilidade, ou, ainda, pela maneira como se combinam espacialmente (a geometria das formas de relevo), evidenciam claro valor científico, merecendo ser preservadas.” (PEREIRA, 1995, pág. 11) Diversas metodologias foram desenvolvidas para inventariar o patrimônio geomorfológico. Nessas metodologias, foram incluídos, além dos aspectos intrínsecos a forma com valor científico e pedagógico, valores relacionados aos aspectos econômicos, funcional e cultural. Nesta perspectiva, Figueiró et. al. (2013) ressaltaram que: “o valor cultural do relevo, que acresce elementos importantes à sua necessidade de conservação, refere-se às ligações que são feitas tanto no sentido estético da interpretação da paisagem (...), quanto no plano simbólico, referindo-se a aspectos espirituais e religiosos ligados a determinados geossítios considerados como sagrados para certas populações.” (FIGUEIRÓ et. al., 2013, pág. 64.) Segundo Meneses & Souza (2016), a região do Cariri Paraibano possui expressiva geodiversidade, com paisagens excepcionais de grande potencial turístico, tanto no âmbito nacional quanto internacional. No Cariri Paraibano, o Lajedo do Bravo, na comunidade rural homônima, no município de Boa Vista-PB, apresenta distinta paisagem geológica, geomorfológica e cultural (FIALHO et. al., 2010). A comunidade rural do Bravo possuí na pecuária extensiva de caprinos a principal atividade econômica. Contudo, nas últimas décadas, observa-se o crescimento da atividade turística no Lajedo do Bravo. Os atrativos turísticos neste Lajedo são vários: lajedo granítico com várias geoformas (matacões arredondados com diversas formas, tanques naturais, muralhas, etc.), arte rupestre (pinturas e gravuras), e registros arqueológicos e paleontológicos. Este trabalho tem como objetivo inventariar o patrimônio geomorfológico do Lajedo do Bravo, com intuito de produzir conhecimento científico voltado à geoconservação da área.
Material e métodos
O Bravo é uma comunidade rural situada no município de Boa Vista, no Cariri Paraibano. Nessa comunidade situa-se o Lajedo do Bravo que é uma área de grande interesse geológico, geomorfológico, arqueológico e paleontológico (ALMEIDA, 1979; FIALHO et. al., 2010; LAGES et. al., 2013). O Lajedo possuí 4,35 km2, sendo um importante ponto de turismo desenvolvido em bases locais (Figura 1). Em termos geológicos o Lajedo do Bravo está inserido no Plutão Bravo (31,43 km2 de área), que é um “stock de biotita monzo/sienogranitos de cor cinza, textura fanerítica inequigranular grossa a porfirítica com megacristais de K-feldspato de até 2 cm, colocado entre duas zonas de cisalhamento conjugadas (NE-SW e E- W)” (LAGES et. al., 2013, pág. 4). De acordo com Uña-Álvarez (2014): "As formas de modelagem em rochas graníticas são um conjunto de ativos com valor patrimonial. Eles representam sequências de processos diferenciais de alteração, meteorização e erosão da rocha. Superfícies, vales em linha de fratura, cúpula, tor, boliche e amplo namoro de formas menores (pías, tafoni, potes ...) eles formam uma paisagem herdada. Além do seu valor científico, eles constituem o cenário natural para Estratégias de revitalização e promoção do território." (UÑA-ÁLVAREZ, 2014, pág. 2158). A evolução geológico-geomorfológica do Lajedo Bravo tem sua origem a 580 Mi anos, quando ocorreu a formação do corpo ígneo, que Segundo Lages et. al. (2013): "(...)passou por inúmeras mudanças pelos processos geológicos, ação do vento, da chuva e do clima. (...) Entre os períodos jurássico e cretáceo, um extenso soerguimento regional, relacionado ao evento que fragmentou o supercontinente Pangea, expôs as rochas do Plutão Bravo, que passou desde então por diversos ciclos de intemperismo/erosão associados a outros episódios de deposição/soerguimento. No caso do Plutão Bravo, um dos mais importantes eventos foi a ascensão do planalto da Borborema (...)." (LAGES et. al., 2013, págs. 9-10) Foram realizados 2 trabalhos de campo na área de estudo. Os materiais utilizados foram GPS Garmin, para localização das geoformas descritas, máquina fotográfica para o registro imagético e as planilhas para a inventariação. Para realizar o inventário do patrimônio geomorfológico, foi utilizado a metodologia proposta por Vieira (2014). A valoração é feita em uma escala que varia de 0 a 1, de acordo com as características de cada indicador. Os indicadores são divididos em valor intrínseco, que corresponde ao valor científico, Valor adicional, que corresponde aos valores cultural, econômico, estético e ecológico, e o valor de uso. Nesta proposta, o valor científico tem maior ênfase pois objetiva evidenciar as características geomorfológicas sobre os demais aspectos. O valor de uso dimensiona as necessidades de preservação e o valor adicional agrega valor ao patrimônio geomorfológico analisado. Cada indicador possuí vários critérios a serem analisados, onde a cada um é atribuído um valor dentro da escala que pode ter 3, 4 ou 5 níveis. Quando o critério possuí uma escala de 3 níveis, os valores definidos são 0, 0,5 e 1. Em 4 níveis os valores são 0, 0,33, 0,67 e 1. Já quando o critério possuí escala de 5 níveis os valores são 0, 0,25, 0,5, 0,75 e 1. Como a planilha é muito grande e detalhada, o quadro 1 mostra apenas a parte referente ao valor científico. Assim, a partir dos valores estabelecidos em cada critério (VIEIRA, 2014), avaliou-se o Lajedo do Bravo segundo o seu patrimônio geomorfológico. Após a valoração de todos os critérios, faz-se a média geral do indicador e, no final, calcula-se a média geral de todos os indicadores, compondo, assim, o valor do patrimônio geomorfológico atribuído.
Resultado e discussão
O valor científico do Lajedo do Bravo foi mensurado em 0,9, apresentando assim,
grande importância geomorfológica intrínseca (Quadro 2). O item
raridade/originalidade foi avaliado como 1,0 pois a área apresenta uma complexa
formação geomorfológica em ambiente semiárido. Segundo Lages et. al. (2013),
poucas áreas no mundo possuem características semelhantes às do Plutão Bravo,
unidade geológica onde está inserida o Lajedo do Bravo. Em relação à
diversidade, também foi atribuído valor 1,0, pois foi encontrado uma grande
diversidade de geoformas (Figura 2), incluindo grandes matacões arredondados
(boulders), e com diferentes formas, tanques naturais, lagoas pleistocênicas e
uma muralha granítica.
Suas geoformas graníticas apresentam características variadas que evidenciam
atuação de processos tectônico-estruturais e de intemperismo e erosão. sendo,
assim, de difícil compreensão para a maioria das pessoas que visitam o lajedo e
até mesmo para os pesquisadores das geociências. Dessa forma, a
representatividade que avalia a capacidade de um elemento geomorfológico
transmitir conteúdos relacionados a sua gênese e evolução, foi valorada em
0,67, conforme a escala de valoração de Vieira (2014).
A presença de lagoas preenchidas por sedimentos, onde foram encontrados
fósseis da megafauna pleistocênica (LAGES et. al., 2013), conferiu valor 1,0 ao
critério interesse paleogeográfico. O critério integridade foi valorado com
grau 0,75 em função apresentar um bom nível de preservação das características
morfológicas. Para concluir, ao sub-indicador valor científico foi atribuído
1,0, demonstrando o quanto a área desperta interesse na comunidade científica.
O valor intrínseco, que é o mais importante na matriz de Vieira (2014),
foi calculado em 0,9, o que representa um alto valor científico para o Lajedo
do Bravo.
O valor adicional, que é a média dos valores cultural, econômico,
estético e ecológico, foi valorado em 0,83. O lajedo apresenta grande valor
histórico-arqueológico, contudo em relação aos aspectos religiosos e artístico
a importância é menor. Os 3 critérios relacionados ao valor econômico foram
valorados como 1,0, pois o lajedo é um importante local de visitação turística.
O valor estético foi um dos mais baixos pois a pouca presença de água e
contraste de cor, além da presença de elementos não harmônicos - em alguns
tanques naturais foram construídos pequenos muros para aumentar a capacidade de
armazenamento de água.
O valor ecológico é alto, tendo todos os critérios valorados em 1,0 -
em função da existência de enclaves de vegetação de caatinga arbórea densa e
refúgio da fauna típica do Cariri Paraibano.
O indicador de uso e gestão foi o que teve o valor mais baixo de toda a
avaliação. Isso se deve à falta de um plano de manejo e uma gestão eficiente da
área: falta infraestrutura de acesso para a chegada de ônibus, além de ser
difícil acesso para pessoas com dificuldade de locomoção. A proteção da área
também é precária pois não há um cercamento nem um controle da entrada de
pessoas na área.
Localização regional do Lajedo do Bravo e do Plutão Bravo.
geoformas: a) Pedra da Concha acústica b) Muralha do Bravo c) Tanque natural d) Pedras 2 irmãos e) Lagoa pleistocênica f) Lagoa da Laje g) Pedra da Va
Definição da forma de quantificação dos critérios de Valor Intrínseco (VIEIRA, 2014)
Valoração do Patrimônio Geomorfológico do Lajedo do Bravo
Considerações Finais
O Lajedo do Bravo apresenta um alto valor de seu patrimônio geomorfológico, principalmente pelo alto valor intrínseco aos aspectos científicos da área, que traduziu a grande diversidade de geoformas e presença de elementos paleogeográficos. Soma-se a isso o alto valor adicional atribuído aos significativos vestígios arqueológicos encontrados na área. Os baixos valores de uso e gestão refletem a necessidade de se buscar parcerias entre o poder público, as universidade e a comunidade local no intuito de implementação de planos de manejo e maior fiscalização da área.
Agradecimentos
Os autores agradecem a Universidade Estadual da Paraíba e ao CNPq por apoiarem o desenvolvimento desta pesquisa.
Referências
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