Autores

Bento, L.C.M. (FACIP-UFU) ; Cantu, C. (FACIP-UFU)

Resumo

O presente trabalho tem por objetivo analisar as possibilidades didáticas associadas a um geomorfossítio: o Salto da Prata, queda d’água localizada no município de Ituiutaba, na mesorregião do Triângulo Mineiro. Os procedimentos metodológicos empregados, de modo simplificado, envolveram levantamento, fichamento e análise de bibliografia pertinente ao tema e trabalhos de campo na área de estudo. Conclui-se que o Salto da Prata apresenta grande potencial para o ensino da Geomorfologia, sendo também um local potencial para a prática do geoturismo.

Palavras chaves

Geodiversidade; Geomorfologia; Ensino

Introdução

O município de Ituiutaba está localizado no Pontal do Triângulo Mineiro, oeste de Minas Gerais e conta com uma diversidade de elementos da geodiversidade, tais como quedas d’água e relevos residuais. A grande maioria desses locais é desconhecida não só pela população local, mas também são espaços subutilizados para a prática de trabalhos de campo e turismo. Nesse sentido, o Laboratório de Geologia e o de Pedologia e Geomorfologia do curso de Geografia da FACIP-UFU estão fazendo pesquisas buscando mapear e caracterizar os sítios geológicos e geomorfológicos do município, no intuito de contribuir com o processo de geoconservação desses locais, bem como incentivar a realização de trabalhos de campo locais, otimizando o tempo e os recursos. Neste trabalho, a área de estudo se restringiu a um único geomorfossítio, o Salto da Prata e o objetivo foi determinar as possibilidades didáticas que podem ser associadas a uma visita ao local (Figura 01).

Material e métodos

Como se trata de resultados parciais, para atingir o objetivo proposto a pesquisa foi estruturada em três fases principais, a saber: a) fundamentação teórica sobre os aspectos geológicos e geomorfológicos da área de estudo, b) realização de trabalho de campo, o qual possibilitou observar a área, fazer registro fotográfico e caracterização e, ainda, recolher amostras de rochas para análise e obter as coordenadas geográficas, c) trabalhos de gabinete, posteriormente se correlacionou os dados obtidos nas etapas anteriores e foram elaborados alguns mapas temáticos.

Resultado e discussão

Aspectos geológicos e geomorfológicos da área de estudo Ituiutaba faz parte do Domínio Morfoestrutural Província Sedimentar Meridional, tendo como principais unidades litológicas as formações: Marília, Vale do Rio do Peixe e Serra Geral (Figura 02). Soares et al (2017), de forma resumida, argumentam que a Formação Serra Geral compreende, no geral, os sucessivos derrames de basalto e pode ser encontrado nos fundos de vale e nas quedas d’água. A Formação Marília é composta basicamente por arenitos maciços e conglomerados subordinados, cimentados por CaCO3, equivale aos locais onde existem os relevos residuais. Já a Vale do Rio do Peixe compreende a parte inferior da Formação Adamantina e é constituída por arenitos intercalado com siltitos, muito finos ou finos, marrom-claros rosado a alaranjado, aspecto maciço ou cruzado tabular, localmente é cimentado com CaCO3. Do ponto de vista geomorfológico, esse município apresenta relevo do tipo tabuliforme e faz parte, regionalmente, dos “Domínios dos Chapadões Tropicais do Brasil Central”, proposto por Ab’Saber (1969). Existem três principais compartimentos morfológicos em Ituiutaba, um Planalto dissecado pelo entalhamento dos dois principais cursos d’água, Tijuco e Prata, com vertentes mais abruptas, corredeiras e quedas d’água, coincidindo com a Formação Serra Geral. Um conjunto de relevos residuais de topo plano, sustentados pelos arenitos da Formação Marília e que apresentam níveis de calcrete e silcrete tornando-os mais resistentes aos processos intempéricos e erosivos. E, nas partes mais elevadas, um Planalto tabular, com topo plano e modelado suave, coincidente com os arenitos da Formação Vale do Rio do Peixe (BACCARO et al, 2001; MARTINS; COSTA, 2014). O Salto da Prata e suas possibilidades didáticas O Salto da Prata é uma queda d’água formada no rio homônimo, distante cerca de 25 km da área urbana de Ituiutaba e, desde 2011, faz parte do Refúgio de vida silvestre da bacia do rio Tijuco, importante unidade de conservação da região do Triângulo Mineiro. Uma queda d’água pode ser de origem construtiva ou destrutiva, no caso em questão, é de origem destrutiva, associado ao processo de erosão diferencial do basalto. O processo erosivo ocorre, pois os derrames de basalto são limitados por camadas de resistência diferente, os topos são formados por basalto vesicular ou amigdaloidal, mais facilmente erodido e, no centro, um basalto mais denso (BENTO, 2011). Através das diversas fraturas existentes ao longo dos derrames, a água penetra até atingir as camadas menos resistentes, a área com vesículas, e começa o seu trabalho erosivo, propiciando a evolução da queda (Figura 03). Para explicar a formação da queda é necessário contextualizar o surgimento dos derrames de basalto e, para isso, devem-se abordar os processos geodinâmicos internos. Penha (1998) argumenta que esses processos, em conjunto com a atuação dos agentes geodinâmicos externos, modelam a superfície terrestre e contribuem para o ciclo das rochas. Além disso, a geodinâmica interna pode ser trabalhada a partir de três aspectos: magmático, metamórfico e o tectônico. No caso dos basaltos encontrados no Salto da Prata, o aspecto magmático deve ser entendido em interface com o tectônico, pois eles têm sua origem a partir da separação do Gondwana e formação do que viria a se tornar na América do Sul e a África. Essa separação se deu através do movimento divergente das placas (movimento ocasionado pela movimentação do magma), o que também provocou o nascimento de um oceano, o oceano Atlântico. A análise das rochas encontradas no salto permite também compreender o processo de evolução da queda. O entendimento das propriedades geomorfológicas dos materiais constituintes da crosta, minerais e rochas, é fundamental no estudo do comportamento de uma estrutura em relação à erosão. Segundo Penteado (1978) esse comportamento dele levar em conta algumas propriedades, a saber: a) propriedades que influem no modo do escoamento superficial: grau de coesão, permeabilidade e plasticidade, b) propriedades que interferem no intemperismo físico: grau de maciez e tamanho dos grãos e c) propriedades que facilitam o intemperismo químico: grau de solubilidade e de heterogeneidade. Nos basaltos duas características principais interferem no seu comportamento, uma é a existência de diaclases que constituem zonas de fraqueza da rocha, por onde a água vai caminhar e a outra é a existência de heterogeneidade dentro do derrame com a alternância de basalto denso com o vesicular, este último mais facilmente erodido. Além da feição geomorfológica, queda d’água, ao longo do curso pode ser verificada outras feições que oportunizam, ainda, a assimilação dos processos fluviais: erosão, transporte e deposição. No rio da Prata, nas proximidades do salto em questão existem muitas feições geradas a partir do transporte e erosão provocados pelas águas: as marmitas. Cunha (1998) explana que a capacidade de erosão das águas está atrelada a alguns fatores como velocidade e turbulência, volume e tipos de partículas transportadas. No caso das marmitas, ocorre um tipo de corrasão gerada pela pressão exercida pelo movimento turbilhonar no fundo do leito, da água carregada de sedimentos. Este tipo de processo, ao longo do tempo, consegue escavar essas depressões geralmente circulares e de tamanhos variados. A figura 04 exemplifica parte dessas temáticas que podem ser abordadas durante a visita ao Salto da Prata:

Figura 1

Localização da área de estudo e imagens representativas, vista aérea (Bing Maps) e horizontal

Figura 2

Unidades litológicas encontradas na área de estudo

Figura 3

À medida que a água penetra pelas diaclases, no basalto denso, consegue atingir a camada com vesículas, mais facilmente erodida e promove a erosão remontante, com queda de blocos que ficam sem sustentação e, ainda, a verticalidade da queda. Font

Figura 4

Possibilidades didáticas no Salto da Prata: A- Vista do Salto da Prata, B- Deriva continental mostrando a separação da América do Sul e da África, C- A separação entre esses continentes gerou não apenas os derrames de basalto, como a formação do

Considerações Finais

Neste estudo considerou-se que o Salto da Prata é um geomorfossítio, isto é, um sítio geomorfológico que apresenta valores destacados tais como, principalmente, científico e educativo, estético, cultural e funcional (PEREIRA, 2006). Justamente esses valores sinalizam para o potencial desta queda em permitir o entendimento da evolução do planeta Terra mediante a atuação dos processos endogenéticos e exógenos, ao longo do tempo geológico. Evidentemente não apenas conteúdos relacionados à disciplina de Geomorfologia podem ser enfocados, muitos outros como geológicos, pedológicos e biogeográficos também podem, fazendo com que se tenha uma visão integrada e mais realista da realidade. Um aspecto muito importante que enaltece ainda mais o potencial didático associado a esse salto é sua beleza cênica e o fato de oportunizar uma atividade extraclasse, o trabalho de campo. Tais ingredientes promovem, na visão de Tiba (1998), um aumento na palatabilidade da aula, elevando o potencial de aprendizagem dos alunos. O objetivo desse estudo foi determinar as possibilidades didáticas que podem ser associadas a uma visita ao Salto da Prata e, como foi demonstrada, essa possibilidade é real. Entretanto, ressalta-se que o local faz parte uma unidade de conservação e que é preciso que todas as visitas, de cunho educativo ou não, sejam devidamente planejadas para que ele não seja degradado e tenha seus valores ameaçados. Os resultados aqui obtidos são parciais, há intenção de se aprofundar a

Agradecimentos

Referências

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