Autores

Carvalho, I.T.C. (UFS) ; Tavares, K.C.O. (UFPE) ; Lira, D.R. (UFS)

Resumo

O relevo dômico está compreendido na região central do agreste sergipano, representa um relevo testemunho de um antigo domo estrutural erodido em sua porção central, derivados do corpo batólitico oriundo do embasamento e constituídos de rochas que derivam dos terrenos mais antigos. Nesta região os padrões de solos que predominam na composição da estrutura superficial correspondem a Argissolos, Planossolos e Neossolos Quartzarênicos desenvolvidos sobre rochas metamórfica.A drenagem assume um padrão complexo, ou seja uma associação de vários padrões, destacando-se padrões Pinados, Dendríticos e Paralelo onde toda drenagem parece ser controlada por compartimentos morfotectônicos, que delineiam a forma atual do domo, a partir da extração automática da rede de drenagem, foi possível definir padrões distintos de drenagem, que interferem na dissecação do relevo, esses padrões de drenagem foram correlacionadas a dados de declividade, cobertura pedológica e litologia.

Palavras chaves

Superfícies de Erosão; Morfotectônica; Cobertura Pedológica

Introdução

A área de estudo está compreendida na região central do agreste sergipano, representando um relevo testemunho de um antigo domo estrutural, que em sua porção central encontramos um relevo erodido, formando superfícies planas. As bordas que circulam essa região erodida são formadas por serras e maciços estruturais. A problemática é relacionar a densidade da rede de drenagem com o embasamento geológico, bem com seus controles estruturais. A densidade de drenagem é definida como o comprimento total de canais por unidade de área, que pode ser aplicado para uma bacia hidrográfica ou células de análise de um mapa qualquer, é uma propriedade natural do terreno, que reflete o clima local, relevo, geologia, e de outros fatores (TUCKER et. al. 2001). É reconhecidamente, uma das variáveis mais importantes para a análise morfométrica do relevo, agindo diretamente sobre o grau de dissecação topográfica, em paisagens elaboradas pela atuação fluvial, ou expressando a quantidade disponível de canais para o escoamento e o controle exercido pelas estruturas geológicas (Christofoletti, 1981). A premissa norteadora deste procedimento é de que a densidade de drenagem é um parâmetro intrinsecamente relacionado ao rebaixamento do relevo, e que, portanto, serve de ponto de partida para as análises desta propriedade morfométrica. O primeiro a isolar e estudar esse parâmetro foi Neuman (1900) apud Christofoletti (1981) que assinalou os principais fatores que influenciam sobre as diferenças na densidade de drenagem, como a declividade das vertentes, a cobertura vegetal, o tipo de substrato geológico e o fator mais importante: a precipitação. A identificação e classificação dos padrões e arranjos espaciais da rede de drenagem, visando correlacionar esses parâmetros às influências dos demais elementos do quadro fisiográfico da área: disposição das coberturas pedológicas, litologia, vegetação e topografia. Desta forma, mediante o emprego dos parâmetros de análise será possível estabelecer quais fatores exercem maior influência sobre a organização da drenagem. O controle estrutural geomorfológico, fornece base para o entendimento dos processos que formam o relevo, e estimula os estudos a respeito das morfoestruturas e morfotectônismo, já que interação da fisiografia juntamente a atividade tectônica relacionam a sucessão de eventos geológicos, antigos ou recentes que modelam o relevo através de ações erosivas. Sendo que a rede de drenagem e o primeiro a modificar-se de acordo com modificação tectônica. A geomorfologia emprega representações cartográficas com o desígnio de identificar e localizar espacialmente seu objeto de estudo e assim melhor visualizar as formas e os processos recorrentes, buscando informações que deem o suporte melhor compreensão da evolução e dinâmica do relevo. Tendo como objetivo central este estudo visa compreender a dinâmica da drenagem associando ao relevo, buscando analisar resultados obtidos a partir do mapeamento da rede de drenagem (processado em uma escala possível de identificar a dissecação) com as formas de relevo.

Material e métodos

Para demonstrar o papel da drenagem na elaboração e reafeiçoamento do modelado, foi elaborado um roteiro considerando a resistência dos materiais superficiais à atuação da drenagem e os controles estruturais sobre a organização da rede de drenagem. Para tanto foi feita a extração automática da rede de drenagem (LUO e STEPINSKI, 2007); a determinação dos padrões de drenagem (BIGARELLA, et al., 1979) e a correlação dos padrões de drenagem com a cobertura pedológica e a densidade de drenagem. O mapeamento da densidade de drenagem e condicionantes topográficos como declividade, relevo sombreado, foram gerados a partir de derivados do MDT (Modelo Digital do Terreno) tendo como base de dados o radar SRTM (Shuttle Radar Topography Mission), com resolução de 30 m, disponibilizado pela National Aeronautics and Space Administration - NASA de forma gratuita. Assim, a partir das extensões Raster Surface e Hydrology (ferramentas 3D Analyst e Spatial Analyst do software ArcGIS – licença pessoal) foram gerados os referidos mapeamentos, além da utilização da extração automática da rede de drenagem. Os índices de densidade de drenagem são obtidos a partir da confecção de uma malha quadrática de amostragem, sobre a carta digitalizada, com células de 1 km x 1 km. Em seguida foram realizadas as medições dos segmentos de drenagem contidos em cada célula no ambiente do software Arcgis. Os índices de densidade serão obtidos para cada célula mediante o uso da seguinte fórmula de acordo com a proposta metodológica de Christofoletti (1983): Dd=Lc/Ac Onde Dd é igual a densidade de drenagem, Lc é o somatório do comprimento de todos os canais encontrados em cada célula e Ac é a área da células.

Resultado e discussão

A área de estudo está situada na região central do agreste sergipano, característica marcante do agreste central e a presença de relevos cristalinos residuais, que representam a herança de um antigo domo batólito reconhecido regionalmente como o Domo de Itabaiana. O Domo de Itabaiana se apresenta como uma paisagem complexa semelhante a superfície de arrasamento da depressão sertaneja. com altitudes variando entre 400 e 659 metros. A área é constituída por interflúvios tabulares e colinas, dissecada pela rede de drenagem. Este Domo apresenta 45 km de comprimento e 30 de largura aflorando como um stock, derivados do corpo maior (batólito) oriundo do embasamento e constituídos de rochas que correspondem aos terrenos mais antigos prescritos do ciclo transamazônico (figura 2). Constituído por um conjunto de maciços cristalinos residuais, correspondente as Serra da Miaba, Serra do Caju, Serra Comprida, Serra de Itabaiana, Serra do Capunga e Serra do Machado. O comportamento das litologias atual confere várias fases tecto- orogenéticas, posteriores ao ciclo –transamazônico e mais precisamente no brasiliano. Para Araújo e Mendonça (2003). Esta feição dômica aparece na faixa tecto-orogenéticas antiga propiciando a erosão a atuar ao centro desta e ao longo do tempo, deixando apenas os vestígios da antiga superfície, em forma circular ou ligeiramente ovalada, representada pelas encostas arrasadas. Essa esculturação do relevo seria consequência da atuação da rede de drenagem que de início atuou na porção mais convexa do domo, facilitando o entalhe, construindo uma depressão circular no centro do domo. Nesse sentido faz-se necessário compreender como atuam a rede de drenagem contemporânea e penecontemporânea que interfere fundamentalmente nas feições geomorfológicas, junto aos padrões de drenagem e o substrato pedológico vão interagir e possibilitar a dissecação do relevo O padrão de solos predominante na composição da estrutura superficial é o de Argissolos, Planossolos e Neossolos Quartzarênicos este, desenvolveu-se sobre rochas metamórficas de contato, onde o padrão da drenagem se apresenta dedrítico, relacionado a rochas reologicamente homogêneas das classes sedimentar e por vezes ígnea; terrenos dominados por granitóides não deformadosas, as declividades médias são suaves e a altitude média é de 150 metros. Em alguns trechos a drenagem assume o padrão paralelo, orientado na direção NE, com declives suaves e predominância de Argissolos e Neossolos Litólicos. Onde a rede de drenagem mostra-se Pinada, orientada mormente para Sudeste, na direção acima do Domo de Itabaiana, com predominância de Neossolos Litólicos nos topos e Cambissolos na encosta, o relevo predominante apresenta-se plano, mas com vales de rasos. Toda drenagem parece ser controlada por compartimentos morfotectônicos, que delineiam a forma atual do domo. A partir da extração automática da rede de drenagem (Figura 3), foi possível definir padrões distintos de drenagem, que interferem na dissecação do relevo, esses padrões de drenagem foram correlacionadas a dados de declividade, cobertura pedológica e litologia. Na área a drenagem assume um padrão complexo, ou seja uma associação de vários padrões, destacando-se padrões Pinados, Dendríticos e Paralelo, onde os canais de ordem superior a 1 estão orientados para NE na Bacia do Rio Sergipe e SE na Bacia do Rio Vaza-Barris (Strahler apud. CHRISTOFOLETTI, 1980). No primeiro momento (A) temos o mapeamento da drenagem com efeito da topografia; Segundo (B) Mapa da rede de Drenagem e relevo, evidenciado os padrões de drenagem; Terceiro (C) Mapa de declividade com destaque para a rede de drenagem; Quarto (D) Mapa da Hierarquização da drenagem e Bacias Hidrograficas.

Figura 1

Mapa com a Localização do Domo de Itabaiana em relação ao Nordeste Brasileiro. Fonte: Autores

Figura 2

1.Mapa da litologia sobreposta a rede de drenagem; 2. Mapa da cobertura pedológica sobreposta a rede de drenagem. Fonte: Autores.

Figura 3

Mapeamento da densidade da drenagem em torno do Domo de Itabaiana, utilizando diferentes parâmetros de investigação.

Considerações Finais

O mapeamento realizado a partir das aplicações geotecnológicas se mostrou de grande eficácia para os estudos geomorfológicos, permitindo previamente demonstrar o papel da drenagem na elaboração e reafeiçoamento do modelado. Que numa análise preliminar comparativa respondeu aos questionamentos onde a densidade da drenagem atua de forma mais concentrada ao centro do domo de Itabaiana, correspondente a área mais erodida. Devido principalmente a declividade mais plana, homogeneidade da cobertura pedológica e da litologia. Os padrões e orientações da rede de drenagem na área do Domo de Itabaiana parecem intimamente relacionados à configuração do relevo tectônico, cujo controle evidencia-se sobre os padrões de dissecação do relevo e formação do substrato pedológico. Este trabalho dará sequência a uma maior investigação, utilizando parâmetros de estudos posteriores acerca da orientação das vertentes e análise detalhada dos materiais superficiais permitiram distinguir com maior precisão a presença não apenas do controle estrutural mas também do tectônico na formação do relevo atual e do pacote pedológico analisando os processos erosivos da área.

Agradecimentos

Referências

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Identificação semiautomática de lineamentos morfoestruturais no norte da Bacia Paraíba, PB. Conference Paper · May 2017 with 46 Reads. Conference: XVIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, At Santos. Cite this publication. Fabio Alves at National Institute for Space Research, Brazil.
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