Autores

Silva, E.R.F. (UFPI) ; Araújo, R.L. (UFPI)

Resumo

O Semi-Árido Brasileiro configura-se como uma região natural de grandes dimensões espaciais submetida a especificidades climáticas que contribuem para a modelagem de um relevo (geomorfologia) bastante peculiar. O substrato geológico, formado pela estrutura ou disposição das rochas e pelas unidades litológicas, que compreendem a sua constituição mineral, representa a matéria principal do sistema, pois é sobre as rochas que o relevo é esculpido e desgastado, fornecendo desse modo os sedimentos e constituindo os modelados de erosão e de acumulação. O clima interfere no sistema através de imputs – energia solar, chuvas e oscilações térmicas, e produz como outputs o modelado, a drenagem, o solo e a vegetação. O sistema climático atua sobre as rochas, através de seus fatores e elementos, no processo de intemperismo, desagregando e decompondo-as e formando relevos. O tipo de clima produz processos morfogênicos específicos, que modelam as vertentes além da paisagem que é constituída.

Palavras chaves

clima; paisagem; semiárido

Introdução

A Geomorfologia tem como principal objeto de estudo as formas do relevo, além de investigar os processos que deram origem a essas formas e os materiais que foram trabalhados pelos processos para resultar em diferentes feições (ARAÚJO et. al., 2005). Além de ser uma ciência integradora na análise da paisagem, pois quase todas as atividades desenvolvidas pela sociedade desenvolvem-se sobre alguma forma de relevo na superfície terrestre. Dentro desse contexto, o Semi-Árido Brasileiro configura-se como uma região natural de grandes dimensões espaciais submetidas às especificidades climáticas que contribuíram (e contribuem) para a modelagem de um relevo bastante peculiar e na formação das suas paisagens naturais. Dessa forma, objetiva-se no presente estudo analisar como a Geomorfologia do Semi-Árido Brasileiro tem influenciado no clima e nas paisagens naturais, dando ênfase aos agentes, processos morfogenéticos e formas de relevo dominantes na região. 1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO O Semiárido brasileiro ocupa uma área de 969.589 km e inclui os Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, a maior parte da Paraíba e Pernambuco, Sudeste do Piauí, Oeste de Alagoas e Sergipe, região central da Bahia e uma faixa que se estende em Minas Gerais, seguindo o Rio São Francisco, juntamente com um enclave no vale seco da região média do rio Jequitinhonha (BRASIL, 2005). Uma região natural pode ser delimitada pelo conjunto de condições naturais integradas que possibilita distingui-las com o restante do espaço terrestre que está ao seu redor, ou seja, o conceito de região aplicado a qualquer superfície territorial envolve, de acordo com Witlesey (1960), uma área qualquer que pode ser delimitada por um conjunto de características homogêneas, sendo definida como uma região tão somente por estar baseada nessas características ou critérios utilizados para sua definição. Portanto, região é uma concepção humana, uma leitura do espaço que nos cerca e baseado nos critérios pré-estabelecidos. Esta região natural de grandes dimensões espaciais submetidas às ações do Clima Tropical Semi-Árido, o qual tem como principal característica os baixos e mal distribuídos índices pluviométricos, tanto no tempo, quanto no espaço, possuindo uma estação seca bastante pronunciada pela sua intensidade e periodicidade.

Material e métodos

Através de pesquisa bibliográfica e de artigos foram discutidos como a geomorfologia influência o clima e as paisagens naturais do semiárido nordestino brasileiro, para caracterizar cada uma das grandes unidades da paisagem do semiárido. Assim foram apresentadas as características climáticas de maneira geral, assim como a geologia da área de estudo, para desta forma compreender as precipitações e as formas de relevo na paisagem. Em seguida foram apresentadas as grandes unidades de Paisagens, que foram ordenadas, preferencialmente, por nível decrescente de altitude e de expressão geográfica. Até que se pudesse demonstrar em cada unidade de paisagem suas características geomorfológicas e precipitações. CARACTERISTICAS CLIMÁTICAS A Região Semiárida do Nordeste do Brasil apresenta como fator de destaque o clima, responsável pela variação dos outros elementos que compõem as paisagens. Ao clima estão adaptados a vegetação e os processos de formação do relevo, com predomínio de um processo sobre outro e de acordo com a época do ano, período seco ou chuvoso; os solos são, em geral, pouco desenvolvidos em função das condições de escassez das chuvas, tornando os processos químicos mitigados. Segundo Nimer (1979), o clima da região apresenta três características específicas, que podem ser resumidas em: temperaturas altas, acima dos 20º C de médias anuais; precipitações escassas, entre 280 a 800 mm e déficit hídrico. As temperaturas altas estão relacionadas à sua localização, quase totalidade da região se localiza em baixa latitude, bem próximas do Equador, entre 5° e 10°S, conferindo-lhe assim temperaturas com mínimas acima de 15° C e as máximas podendo atingir os 40° C. Segundo Nimer (1979), as temperaturas médias anuais são sempre superiores aos 24°C, ultrapassando 26°C na depressão sanfranciscana e no vale do rio Piranhas, com altitudes abaixo dos 200 e 300 metros. A pouca variação de médias mensais e anuais lhe dá amplitudes térmicas de 3° a 5° C, menores que nas demais regiões intertropicais. Essa região possui forte insolação e o Sol atinge o zênite duas vezes ao ano, fatores que já justificariam a baixa amplitude térmica. Há escassez de chuvas em diversas localidades na Região do semiárido brasileiro, que apresentam precipitações entre 280 a 800 mm de médias anuais. Na maior parte da região as precipitações médias anuais não ultrapassar os 800 mm, embora nos chamados brejos e serras úmidas possam exceder esse total; na verdade predomina na região áreas com precipitações entre os 400 e 600 mm – é geralmente esse o intervalo mais observado nas isoietas médias anuais da região. O período de chuvas é variável dependendo das condições da dinâmica atmosférica, como fluxos das massas de ar durante o ano, do relevo e da exposição aos ventos, etc. Na maior parte do semiárido nordestino predomina o período chuvoso de 3 ou 4 meses (NIMER, 1977). O déficit hídrico pode ser constatado com balanço hídrico dessa região que apresenta deficiência hídrica, porque o potencial de evapotranspiração é maior do que as precipitações, conforme considerações de Vieira (2003), o déficit de evapotranspiração real em relação à evapotranspiração potencial varia de 50 mm, até valores superiores a 1.000 mm, denotando alto índice de aridez para a região. Devido a isso as plantas adaptaram-se ao longo de milhares de anos a essa variação das condições ambientais, permanecendo vivas, mas como estivessem ‘mortas’, em um período de latência, esperando para florir e se mostrarem frondosas na época das chuvas. PAISAGEM DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO As grandes unidades de paisagem, conforme estabelece o Zoneamento Agroecológico do Nordeste Brasileiro - ZANE (Silva et al. l994), são as seguintes: Chapadas Altas; Chapada Diamantina; Planalto da Borborema; Superfícies Retrabalhadas; Depressão Sertaneja; Superfícies Dissecadas dos Vales do Gurguéia, Parnaíba, Itapecuru e Tocantins; Bacias Sedimentares; Superfícies Cársticas e Maciços e Serras Baixas.

Resultado e discussão

CHAPADAS ALTAS- De acordo com (SILVA, J. M. C. da; TABARELLI, M.; FONSECA, M. T. da; LINS, L. V., 2004) com altitude superior a 800 metros, as Chapadas Altas são formadas por platôs altos e extensos, apresentando encostas íngremes e vales abertos. Têm grande extensão no extremo oeste do estado da Bahia (Gerais) e na região de Pirapora (MG). De menor expressão, as Chapadas do Araripe (PI/CI) e da Ibiapaba (CE) Nessa unidade ocorrem três regimes climáticos relativamente semelhantes: o primeiro, com maior predominância, ocorrem no oeste da Bahia e norte de Minas Gerais, com precipitação média anual superior a 1.000 mm e período chuvoso de outubro a abril; o segundo, na Serra da Ibiapaba (CE), também com precipitação média anual superior a 1.000 mm e período chuvoso de dezembro a junho; e o terceiro, no Planalto da Borborema e na Chapada do Araripe (CE/PI), com precipitação média anual de 600 a 900 mm e período chuvoso de dezembro a maio (Silva et al., 2004). PLANALTO DA BORBOREMA- Essa unidade é formada por maciços e outeiros altos, com altitudes variando de 650 a 1.000 metros. Ocupa uma área em forma de arco, que se estende do sul de Alagoas até o Rio Grande do Norte. O relevo é geralmente movimentado, com vales profundos e estreitos. A região é agreste no seu conjunto, sendo caracterizada por clima seco, muito quente e semiárido. A estação chuvosa adianta-se para o outono (fevereiro/março) e o período seco inicia-se em junho/julho. A precipitação média anual varia de 400 a 650 mm. Existem áreas com diferentes microclimas, como no município de Areia (PB), onde a precipitação média anual é superior a 1.500 mm e o período chuvoso estende-se de janeiro a setembro (Silva et al., 2004). SUPERFÍCIES RETRABALHADAS- Essa unidade é formada por áreas que têm sofrido retrabalhamento intenso, com relevo bastante dissecado e vales profundos. Tem grande expressão na Bahia, acompanhando a encosta oriental da Chapada Diamantina, com altitude variando de 500 metros, próximo ao litoral, até 1.000 metros, na região de Brumado (Silva et al., 2004). Ocorre também na região litorânea de Alagoas e Pernambuco, com altitude variando entre l00 e 600 metros. Em Pernambuco e no norte de Alagoas, é formado pelo "mar de morros" que antecede a Chapada da Borborema (Silva et al., 2004). Os regimes climáticos são diferentes em função da posição geográfica. No estado da Bahia, em áreas próximas ao litoral, o clima é quente e chuvoso, tendo o mês mais se com precipitação média mensal superior a 60 mm e média anual em torno de 1.500mm. Na região da Zona da Mata, o período chuvoso ocorre de janeiro a setembro com média anual em torno de 1.200 mm. Na região da bacia do rio de Contas, a precipitação média anual é da ordem de 650 mm, com período chuvoso de novembro a abril. No norte de Minas Gerais, o clima é mais ameno, com precipitação média anual em torno de 850 mm e período chuvoso de outubro a abril (Silva et al., 2004). DEPRESSÃO SERTANEJA- Trata-se de paisagem típica do semiárido nordestino, caracterizada por uma superfície de pediplanação bastante monótona, com relevo predominante- mente suave ondulado, e cortado por vales estreitos com vertentes dissecadas. Elevações residuais, cristas e/ou outeiros pontuam a linha do horizonte. Esses relevos isolados testemunham os ciclos intensos de erosão que atingiram grande parte do sertão nordestino. Essa Grande unidade de Paisagem ocupa grande parte do estado do Ceará e grandes trechos nos estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Na Bahia, chega até Feira de Santana e, a leste, ocupa toda calha do rio São Francisco, até a região de Pirapora (MG), (Silva et al., 2004). No sertão central da Bahia e nos sertões de Alagoas e Sergipe o modelado é pouco dissecado, em parte do sertão central e leste do Ceará e nos sertões de Piranhas (PB) e Itaú (RN), observam-se, em relevo pouco movimentado. No piemonte do norte do Araripe e nos sertões das encostas das serras da Ibiapaba e do alto Jaguaribe, predomina relevo bastante movimentado. Segundo Silva et al. (2004), nas regiões de Quixadá, General Sampaio, sudeste de Santa Quitéria e Crateús (CE), sertão centro-norte do Rio Grande do Norte e parte do litoral norte do Ceará, são observados, em relevo pouco movimentado. O clima dessa unidade é quente, semiárido e apresenta dois períodos chuvosos distintos: o primeiro, em maior proporção, ocorre na região mais seca (sertão), com período chuvoso de outubro a abril; e o segundo ocorre na região de clima mais ameno (agreste), com período chuvoso de janeiro a junho. De modo geral, a precipitação média anual de toda a área é da ordem de 500 a 800mm (Silva et al., 2004). SUPRFÍCIES DISSECADAS DOS VALES DO GURGUÉIA, PARNAÍBA, ITAPECURU E TOCANTINS- Essa unidade incorpora áreas dissecadas acompanhando os vales do Gurguéia, do médio e baixo Parnaíba, do alto e médio Itapecuru e do médio Tocantins, com altitudes variando entre 300 e 560 metros. É formada por relevo ondulado associado a áreas rebaixadas e, em grande parte. O clima da área da unidade é do tipo chuvoso, com período seco de cinco meses. As precipitações médias anuais variam de 900 a 1.500mm, ocorrendo, no estado do Piauí, as mais baixas precipitações médias anuais. Em ambos estados, o período chuvoso concentra-se de outubro a maio (Silva et al., 2004). BACIAS SEDIMENTARES- Essa unidade ocupa uma faixa de orientação sul-norte, de Salvador até a calha do rio São Francisco, tomando o rumo nordeste já em Pernambuco, além de pequenas áreas nos estados do Ceará, Pernambuco e Sergipe (Silva et al., 2004). A bacia do Recôncavo Baiano, com relevo ondulado, tem altitude entre 150 e 300 metros, bacia do Tucano é formada por grandes superfícies aplainadas, em altitudes que variam de 400 a 600 metros, cujo trecho mais conhecido é o Raso da Catarina. O relevo tabular apresenta- se recortado por entalhes profundos em cujas baixas encostas encontram-se solos mais férteis. A bacia do Jatobá, em Pernambuco, tem relevo suave ondulado com altitudes entre 350 e 700 metros, têm relevo pouco movimentado (Silva et al., 2004). Os regimes climáticos são segmentados e bastantes distintos em função da localização dessas áreas. Na região do Recôncavo, o clima é quente e chuvoso, com precipitação média mensal superior a 60 mm e média anual de 1.450 a 1.800mm. Nas áreas semi-áridas da Bahia (Raso da Catarina), o clima é bastante quente e seco, com média anual das precipitações em torno de 650mm e período chuvoso de dezembro a julho. Em Pernambuco (bacia do Jatobá), o clima é mais seco ainda, com precipitação média anual em torno de 450 mm e período chuvoso de janeiro a abril (Silva et al., 2004). MACIÇOS E SERRAS BAIXAS- Segundo Silva et al. (2004), com altitude entre 300 e 800 metros, essa unidade ocupa área expressiva nos estados do Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. É formada por maciços imponentes que se caracterizam por relevo pouco acidentado. Na Bahia, observam-se serras bastante estreitas e compridas, de orientação geral norte-sul, que rompem a monotonia da vasta planície da Depressão Sertaneja. É o caso das serras do Estreito e de Itiúba. Esses relevos são também notados em outras regiões do Nordeste, como no alto do Jaguaribe, no Ceará, e nos sertões paraibano e norte-rio-grandense (Silva et al., 2004). A área dessa unidade apresenta distinção climática em função da altitude, ou seja, áreas de clima mais ameno nas cotas mais altas e de clima mais quente nos sopés e encostas das serras e maciços. Essas áreas, no entanto, apresentam período chuvoso de janeiro a maio e precipitação média anual de 700 a 900 mm (Silva et al., 2004).

Considerações Finais

As características climáticas de uma região são essenciais na delimitação de ocorrências das espécies vegetais e animais; contribuem para o desenho do relevo; atuam em processos erosivos; e desempenham importante papel na disponibilidade e no manejo dos recursos hídricos, dentre outros aspectos. Verificou-se que as grandes unidades paisagens do semiárido nordestino, possuem características bastante variadas e que a geomorfologia influência, acarretando no clima com áreas de precipitações elevadas e outras escassas, dependendo da localização, definindo assim as especificidades de cada uma. A região caracteriza-se por apresentar relevo plano a ondulado, com vales muito abertos, pela menor resistência à erosão dos xistos e outras rochas de baixo grau de metamorfismo, onde sobressaem formas abauladas esculpidas em rochas graníticas, gnáissicas e outros tipos de alto metamorfismo.

Agradecimentos

Referências

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