Autores

Santos, J.E.B. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS) ; Ferreira, B. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS)

Resumo

O estado de Alagoas possui uma faixa costeira que vem sofrendo elevados problemas socioambientais, ocasionados pela erosão costeira, decorrente da ocupação desordenada. O estudo teve como objetivo realizar a avaliação da vulnerabilidade à erosão costeira na Praia de Lagoa Azeda, litoral sul de Alagoas. Para isto foi levado em consideração às características naturais, elementos presentes e as estruturas construídas. Classificou-se cada setor, de acordo com o grau vulnerabilidade à erosão costeira. A identificação e avaliação de setores por meio de índices quantitativos e qualitativos mostrou-se ser uma importante ferramenta para à análise do processo erosivo no sistema praial, bem como, fornecer subsídios a aplicação de políticas públicas municipal. Além disso, ressalta-se a importância de estudos posteriores para monitorar a dinâmica praial da região e além de uma maior mobilização pelo poder público para controlar e averiguar as construções, antes destas obras serem erguidas.

Palavras chaves

erosão costeira; vulnerabilidade; Lagoa Azeda

Introdução

O estado de Alagoas possui uma faixa costeira de aproximadamente 220 km de extensão, sentido NE-SW, representando um patrimônio geoambiental bastante diversificado (ARAÚJO et al., 2006). Devido a sua grande beleza cênica e riqueza de paisagens, o Litoral Alagoano tem grande importância econômica e sociocultural para o Estado, no entanto, vem apresentando, nas últimas décadas, elevados problemas socioambientais, ocasionados pela erosão marinha, na maioria das vezes, decorrente de processos inadequados de ocupação, uso, intervenção desordenada da zona costeira. Os ambientes costeiros são áreas de grande diversidade de processos naturais e apresentam complexos arranjos ambientais, muito sensíveis a mudanças. Nesse sentido, Rossetti (2008) afirma que esses ambientes são especialmente frágeis à ocupação humana, dada a sua natureza instável, resultante da dinâmica de evolução dos sistemas deposicionais. Desse modo, pode-se pensar esses ambientes em uma abordagem sistêmica de atuação de processos, a exemplo de uma referência clássica como Tricart (1977), em sua proposta ecodinâmica, onde esses ambientes foram classificados como intergrades, ou seja, susceptíveis a alternâncias entre períodos de estabilidade e instabilidade morfodinâmicas. Assim como, numa abordagem sistêmica mais atualizada, a luz dos geossistemas, como sistemas de ação, repercussão, rearranjo e reorganização. Caracterizando sistemas dinâmicos complexos de troca de energia e matéria, bastante susceptíveis a mudanças, com lenta capacidade de resiliência (CHRISTOPHERSON, 2012). Um dos aspectos importantes ao se estudar as regiões costeira é sua vulnerabilidade a processos erosivos acelerados. Segundo Silva et al. (2016), a definição e a quantificação do grau de vulnerabilidade à erosão costeira, permite a identificação de áreas sujeitas a ação de eventos de elevada magnitude, como ressacas e marés de sizígias, os quais se traduzem em riscos a população, com energia suficiente para transformar/destruir porções significativas de espaços naturais e/ou antropizados. No tocante as áreas de ocupação humana, essas transformações podem levar a elevados graus de risco, com destruição de construções e também ameaça à saúde/vida da população residente. Dada a relevância das zonas costeiras para o Estado de Alagoas, este trabalho justifica-se por analisar os impactos causados pela erosão costeira. Além disso, é importante porque propõe uma quantificação do grau de vulnerabilidade aos processos erosivos na Praia de Lagoa Azeda, Litoral Sul de Alagoas, o que pode representar um importante instrumento à gestão territorial e ambiental, tendo em vista que este revela às tendências a erosão ou não da região praial (SILVA et al., 2016). Diante desse contexto, o presente estudo compreendeu a realização de uma avaliação da vulnerabilidade à erosão costeira na Praia de Lagoa Azeda, litoral sul de Alagoas, a fim de identificar pontos mais suscetíveis e tendências ao processo erosivo e sua intensificação, em razão das formas de uso e ocupação territorial. A área de estudo, está situada no Litoral Sul de Alagoas no município de Jequiá da Praia. A sede do Município localiza-se à 68 km da capital e o seu acesso se faz pela BR 101. A economia municipal é fortemente ligada ao setor canavieiro e cultivo de coco, além do crescimento do setor turístico nos últimos anos. Já o Povoado de Lagoa Azeda, distrito de Jequiá da Praia, compreende uma pequena vila de pescadores que ocupa aproximadamente 1,2 km do litoral do Município, localizado próxima a laguna que dá nome ao povoado, e cercada por falésias ativas da Formação Barreiras.

Material e métodos

Os dados utilizados neste estudo foram obtidos durante pesquisas exploratórias, com realização de trabalhos de campo, ao longo de um trecho de praia, que vai da foz de um rio até o final de uma lagoa, no município de Jequiá da Praia, Alagoas. O trecho escolhido apresenta três conjuntos distintos, uma área com presença de restinga próxima a voz da Laguna Azeda, outra constitui uma transição entre a restinga e as falésias, onde se tem o Povoado Lagoa Azeda e, por fim, a área com presença de falésias vivas, estruturadas sobre os sedimentos da Formação Barreiras, distribuídas do final do povoamento até a voz do Rio Tabuado. Em campo, as áreas de amostragem foram especializadas com o auxílio de um GPS, para plotagem em base cartográfica. Foram escolhidos pontos dentro das três áreas de amostragem com equidistâncias de 200 metros, para a identificação do grau de vulnerabilidade à erosão, em uma adaptação da metodologia proposta por Marcomini e López (2007, REIS et al., 2008). Com as adequações, o método consistiu na observação de algumas características da praia, como a presença de estruturas de contenção à erosão marinha e o grau de ocupação do estirâncio e pós-praia. As adaptações ao método proposto por estes autores foram necessárias devidos as particularidades ambientais presentes na área estudada. Para à determinação do grau de vulnerabilidade à erosão foi atribuído classes e pesos para cada parâmetro, que levou em consideração as características naturais, elementos presentes, bem como, de estruturas construídas pelo homem durante o trecho estudado. Os pesos aumentam de acordo com o impacto negativo da ausência ou presença dos elementos propostos, conforme a seguir: I)Presença de pós praia a)Peso 1: Presente, sendo bem conservadas e sem ocupação urbana; b)Peso 2: Presente, sendo conservadas e com pouca urbanização; c)Peso 3: Ausente, substituídas pelas urbanização ou sem a presença desta. II)Estruturas naturais de proteção a)Peso 0: Presença de proteção natural b)Peso 1: Sem a presença de proteção natural III)Adensamento populacional a)Peso 1: baixa concentração urbana ou ausente na zona costeira b)Peso 2: média concentração urbana na zona costeira c)Peso 3: alta concentração urbana na zona costeira IV)Estruturas de contenção a)Peso 1: Sem estruturas de proteção ou contenção b)Peso 2: Com estruturas de proteção ou contenção V)Falésias a)Peso 0: Sem a presença de falésias vivas b)Peso 1: Com a presença de falésias vivas Para o estabelecimento do grau de vulnerabilidade à erosão marinha, foram utilizados os valores obtidos em campo, classificando essa vulnerabilidade a partir de intervalos, resultando em uma escala de 0 a 9, variando do menor (baixo) para o maior grau (alto), conforme: 1.Grau de vulnerabilidade baixo (entre 0 a 3) - Praia com tendência à progradação; pós-praia e estirâncio bem desenvolvidos; ausência de obras de contenção; desenvolvimento urbano incipiente. 2.Grau de vulnerabilidade moderado (entre 4 a 6) - Praia com frágil estabilidade ou ligeira tendência erosiva; setores de pós-praia e estirâncio pouco desenvolvidos; presença de obras de contenção e média concentração urbana. 3.Grau de vulnerabilidade alto (entre 7 a 9) - Ausência de pós-praia e estirâncio reduzido; praia com tendência erosiva, presença de estruturas artificiais de proteção e alta concentração de ocupação urbana.

Resultado e discussão

A classificação do grau de vulnerabilidade à erosão costeiras dos setores do ambiente praial do povoado Lagoa Azeda ocorreram por meio de parâmetros e pesos, os quais resultaram na distribuição descrita na tabela 1 e espacializado no mapa abaixo (fig. 01). No setor 1, a soma dos pesos resultou em um grau de vulnerabilidade variando de 2 a 6 em oito pontos observados (Tab. 01) Foram 4 pontos com valor 6 e dois com valor 2 nos pontos observados, representando um moderado grau de vulnerabilidade na maioria dos pontos observados. Para o setor 2 a soma dos pesos variou entre 4, em um ponto, até 7 nos outros, constatando um alto grau de vulnerabilidade. Já no setor 3 verificou-se um baixo grau de vulnerabilidade, constatado pelos baixos valores encontrados no somatório dos pesos. 3.1. Setor 1 – Falésias vivas da Formação Barreiras Este setor compreende ao trecho de falésias vivas da Formação Barreiras, com comprimento de aproximadamente 2 quilômetros do final do Povoado Lagoa Azeda até a foz do rio Tabuado, apresentou um ambiente em processo de dissecação gerando grandes voçorocamentos (Fig. 02-A). Ao longo do arco praial foi observado, em alguns trechos, a presença de blocos ferruginosos que desmoronaram das falésias e afloramentos de rochas praiais que ficam expostas durante a baixa-mar. Este setor foi considerado com grau moderado de vulnerabilidade à erosão com valores de 2 a 6 o que compreende uma área medianamente estável a erosão. Ao norte do setor foi observado, próxima a foz do rio Tabuado, um incipiente pós-praia (Fig. 02-B), que pode está ligado a presença das paleofalésias no único trecho do setor e também ao processo de transportes de sedimentos trazidos pelo rio. Na parte central, têm-se processos de dissecação das falésias, o acarreta o suprimento de sedimentos aumentando o estirâncio, com trechos variando de 15 a 30 metros. Ao sul do setor desta área foi detectado a presença de grandes blocos ferruginosos e afloramentos de rochas praiais de tamanho médio e estreita faixa de areia. 3.2. Setor 2 – Povoado Lagoa Azeda Este setor compreende ao trecho de transição entre a área de restinga e as falésias vivas, é onde se localiza o Povoado Lagoa Azeda. Caracteriza-se por ser uma praia com forte presença de obras de contenção marinha e construções residenciais, sendo algumas dessas desocupadas pelos donos devido ao processo erosivo, o qual foi intensificado devido a ocupação desordenada e ao lançamento de esgotos a base da falésia, acelerando aos processos erosivos (Fig. 02-C). Apresentando dessa forma, um ambiente com ausência de pós-praia e uma região com praia pouco desenvolvida, estreita e sobreposta por falésias irregulares e/ou construções. Quase todo o setor está representado por um alto grau de vulnerabilidade à erosão costeira e apresentou uma distribuição espacial diferente em sua parte central, com presença de grandes blocos de rochas praiais chegando até a base do muro de contenção da rua (Fig. 02-D), o que não ocasiona a ausência de faixa de areia. O trecho de praia do povoado tem uma tendência erosiva, sendo constatada ao longo deste setor, estruturas artificiais de proteção à erosão costeira (muros de arrimos e enrocamentos) e uma alta concentração de ocupação urbana. Vale ressaltar que nesses trechos onde foi detectada a presença dessas estruturas de proteção, aceleraram o processo erosivo, especialmente nas extremidades do setor. 3.3. Setor 3 – Área de restinga Este setor abrange a área de restinga, que possui aproximadamente 1 quilômetro trecho, que corresponde outro local sem nenhum tipo de ocupação humana, tendo em vista a presença da lagoa que dá nome ao povoado, sendo dessa forma o trecho com menor grau de vulnerabilidade apresentando valores de 2 a 3 (Tab. 01). Ao longo do trecho foi observada a presença de pós-praia bem desenvolvido, chegando a ter 35 metros de largura em alguns pontos (Fig. 02-E), além de possui um estirâncio com largura variando entre 5-15 metros da baixa-mar até a crista do berma. O trecho apresenta ao longo de sua extensão locais com afloramentos de rochas praiais (Fig. 02-F) e vegetação herbácea na parte superior do pós-praia, sendo uma região que apresenta tendência a progradação. Vale observar que dentre todos os setores estudados, é preocupante a avaliação feita no setor 2 onde está localizado o povoado, tendo em vista que a erosão costeira é acelerada tanto pela ocupação desorganizada sobre a falésias quanto pela construção inadequada das estruturas de contenção. Tal configuração, levando a acelerados processos erosivos põem em risco a maior parte da ocupação, levando a prejuízos econômicos e sociais devido a reorganização da linha de costa.

Figura 01

Mapa de setorização com os graus de vulnerabilidade à erosão costeira na área estudada.

Tabela 01

Classificação da vulnerabilidade à erosão costeira por meio dos parâmetros e classes

Figura 02

Voçorocamento(A; pós-praia perto da foz(B); canos expostos(C); rochas praiais(D); pós-praia bem desenvolvido(E) e rochas praiais do setor 3(F).

Considerações Finais

A análise realizada na praia do Povoado Lagoa Azeda foi desenvolvida a partir de observações durante os setores estudados e das atribuições dos pesos e classes aos parâmetros do grau de vulnerabilidade, sendo definidos como: alto, médio e baixo. O que pode contribuir para a gestão e tomada de decisões na região, contribuindo para o desenvolvimento local. A identificação e avaliação de setores por meio de índices quantitativos e qualitativos mostrou-se ser uma importante ferramenta para à análise do processo erosivo no sistema praial, bem como, fornecer subsídios a aplicação de políticas públicas municipal. Além disso, ressalta-se a importância de estudos posteriores para monitorar a dinâmica praial da região e além de uma maior mobilização pelo poder público para controlar e averiguar as construções, antes destas obras serem erguidas.

Agradecimentos

Referências

ARAÚJO, T. C. M. de. et al. Erosão e progradação do litoral brasileiro: Alagoas. In:. MUEHE, D. Erosão e progradação do litoral brasileiro. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, p. 198-212, 2006.
CHRISTOPHERSON, Robert W. Geossistemas: uma introdução à geografia física. 7. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. 727 p.
REIS, C. M. M.; NEUMANN, V.H. de L.; LIMA, E.R.V. Vulnerabilidade do litoral de João Pessoa (PB) à erosão costeira. Revista Estudos Geológicos, v. 18, n. 2, p. 25-36, 2008.
ROSSETI, D. de F. Ambientes costeiros. In: FLORENZANO, T. G. Geomorfologia: conceitos e tecnologias atuais. São Paulo: Oficina de Textos, p. 248-285, 2008.
SILVA, C. F. A. da. et al. Índices de vulnerabilidade à erosão das praias de Ilha de Itamaracá, litoral norte de Pernambuco, Brasil. Revista Investigaciones Geográficas, Chile, n. 52, p. 71-82, Dez. 2016
TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE/SUPREN, 1977. 91 p.