Autores

Oliveira, H.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA) ; Vasconcelos, J.O. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA) ; Lima, S.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA) ; Souza, J.O.P. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA)

Resumo

O estudo aqui apresentado a partir dos conceitos sistêmicos expostos por Bertalanffy na teoria geral do sistemas, busca identificar e caracterizar os diferentes níveis de fragilidades ambientais presentes na bacia hidrográfica do Alto Curso do Rio Paraíba, localizado no Cariri Oriental paraibano, com clima predominantemente tropical seco (Semiárido). Para isso, foram adotados os métodos proposto por Ross (1994), em que o mesmo define níveis de fragilidades diferentes para diferentes tipos de elementos, em que essa fragilidade compreende todos os elementos presentes na bacia, sendo eles de alta relevância ou não. Como resultados esse artigo propôs fragilidades as quais poderão servir de auxílio para os órgãos/agências administradoras desses locais, propondo estudos prévios para exercer determinada atividades nás áreas de estudos proposto.

Palavras chaves

fragilidade ambiental; análise ambiental; semiárido

Introdução

No decorrer da história humana, a necessidade de se adequar ao lugar e aos métodos exigidos em cada época, fez com que a humanidade buscasse sempre formar mais “ideais” para cada tempo. Com isso métodos e formas de estudo científico sempre vieram à tona com mais detalhes e com uma visão mais holística ao passar do tempo. Para a geografia um dos marcos foi a “Teoria Geral dos Sistemas” primeiramente, tratada por Bertallanffy. Em que este afirma que o sistema é “Um conjunto de elementos em interação” (BERTALANFFY, 1973, p.84). O sistema ambiental físico (SAF) a princípio é tratado como uma visão holística do ambiente, desta forma, este é uma perspectiva que leva em consideração todos os elementos de um sistema, fazendo assim a totalidade da natureza indivisível como um todo. Considerando matéria, estrutura e energia como componentes do sistema, cada sistema possui mecanismos próprios e capacidade de auto-organização inerentes ao seu funcionamento. Introduzindo este pensamento no estudo aqui proposto, a fragilidade ambiental propicia uma análise sistêmica, tendo em vista que este abarca as interações entre os diversos elementos que compõem a bacia hidrográfica do Alto Curso do Rio Paraíba, como análise geológica, geomorfológica, de uso e ocupação, vegetação, clima dentre outras. O estudo se passa no semiárido, o qual possui clima marcado pelo estresse hídrico local, devido às chuvas, que geralmente são concentradas em curtos períodos, ou ainda sendo condicionadas pelos fatores orográficos presentes como as formações cristalinas do Planalto da Borborema fornecendo condições as quais se mostram favoráveis a adaptação de vegetação hiperxerófila. Assim, em função da seca e dos tipos de uso do solo, a vegetação responde por meio de caducifolia e de sua distribuição esparsa na região. Devido aos elementos apresentados, há a necessidade de estudos quanto às suscetibilidades locais, desta forma, o estudo de fragilidade ambiental, que consiste em analisar os diversos elementos presentes na área e suas condicionantes a determinados eventos e potencialidades, permite avaliar os possíveis impactos ambientais na localidade. Deste modo, por exibir áreas homogêneas ou não com necessidades diferentes de intervenções, definindo assim diretrizes e ações mais precisas a serem adotadas em cada local (MASSA e ROSS, 2012). Deste modo, este estudo visa avaliar e expor as diversas áreas e intensidades de fragilidade ambiental na bacia hidrográfica do Alto Curso do Rio Paraíba, atribuindo valores aos atributos ambientais avaliados e identificando seus níveis de resistência ou suscetibilidade aos processos de degradação ambiental.

Material e métodos

A bacia hidrográfica do Alto Curso do Rio Paraíba está localizada na microrregião do Cariri Oriental, nas coordenadas 7º20’48’’ – 8ª18’12’’ S de Latitude e 36º07’44’’ – 37º21’22’’ O de Longitude. Com uma área total de 6.717,39 km de extensão. No que diz respeito a condição geológica e geomorfológica desta região, ela está inserida no Planalto da Borborema, sobre a Depressão Intraplanáltica Paraibana (CORRÊA, 2010), caracterizado por ser uma superfície rebaixada por arrasamento de uma estrutura cristalina. E está limitada a sul pelos Maciços Remobilizados da Zona Transversal, em Pernambuco. O relevo, predominantemente de natureza cristalina, é caracterizado pelo processo de metamorfismo atuante, demonstrando o tipo de rocha resistente presente, a qual possui dificuldades de ser intemperizadas. Dentre muitas variações de condição litológica, é possível observar presença de afloramentos, falhas, remobilização do estrato geológico dentre outros. Os processos mecânicos do intemperismo na área de estudo (figura 1), são destacadas por possuírem vital participação nas paisagens áridas/semiáridas, devido aos processos químicos ou biológicos definidos pela própria natureza local, que no tocante à alteração da rocha devido à baixa disponibilidade hídrica e limitação de sua cobertura vegetal (COOKE e WARREN, 1973), propica assim, menor desenvolvimento e formação do solo e da paisagem local. No tocante às condições climáticas presentes, esta área possui média anual que vai de 300mm a 700mm aproximadamente, estas variações se dão em função dos sistemas atmosféricos atuantes, bem como condições orográficas. Quanto a vegetação, há principalmente a predominância de Caatinga Arbustiva, principalmente em função do uso e ocupação destas terras. A metodologia utilizada para o mapeamento de fragilidade da bacia baseia-se na análise empírica proposta por Ross (1994) sobre fragilidade ambiental, que ressalta a importância de identificar as fragilidades do ambiente para um planejamento territorial ambiental. Para Ross (1994), a fragilidade de um ambiente natural só pode ser identificada após levantamentos básicos de geomorfologia, solos, vegetação, uso da terra e clima. Uma vez que esses elementos são tratados de forma sistêmica, possibilitam obter um diagnóstico completo e dividir as categorias das fragilidades dos ambientes naturais de forma hierárquica. Dessa forma fora estabelecida uma classificação da fragilidade através da composição entre estes quatro planos de informação composta pelas categorias e algarismos acima mencionados. O primeiro relacionado ao relevo, o segundo ao solo, o terceiro à cobertura vegetal/uso da terra e o quarto à pluviosidade (SPÖRL, C. & ROSS, J.L.S, 2004). Assim representado: • Classes de Declividade – categoria hierárquica de muito baixa (1) a muito alta fragilidade (5); • Solos - classes de fragilidade muito baixa (1) a muito alta (5); • Cobertura Vegetal - grau de fragilidade muito baixa (1) a muito alta (5); • Clima - categoria hierárquica de fragilidade muito baixa (1) a muito alta (5). A execução da metodologia foi estritamente por meio de geoprocessamento, através de sensoriamento remoto. Foram utilizadas imagens de SRTM, dados dos levantamentos da AESA- PB e da SUDEMA- PB. O software utilizado foi o ArcMap 10.3. A escala escolhida para o mapeamento foi de 1:250.000.

Resultado e discussão

A partir dos dados secundários já expostos na metodologia e com o auxilio da metodologia exposta por Ross (1994), foi possível elaborar os recortes dos mapas temáticos a serem utilizados para a confecção do mapa de fragilidade ambiental da bacia hidrográfica do Alto Curso do Rio Paraíba. O qual se refere a fragilidade geral dos solos, clima e demais elementos atuantes na dinâmica local da região de estudo. As condições geomorfológicas e grande parte do relevo em si é condicionado pela matéria raiz local, que é o planalto da Borborema, o qual possivelmente foi fruto de tectonismos epirogênicos condicionando o levantamento de boa parte da estrutura local. Outro fator importante no relevo local é que os maciços remobilizados a Sul, como chama Corrêa (2010), expõe também a possibilidade de chuvas orogenéticas, fazendo assim desses relevos mais elevados, tipos de barlaventos e sotaventos. Devido ao tipo de solo presente, isso fez com que os processos intempéricos atuem de modo mais eficaz, sendo assim categorizado como área de fragilidade média. Porém de um modo geral o clima semiárido e árido denomina sendo classificado como fragilidade intermediária., e nas áreas onde o clima é auxiliado localmente com algumas estruturas geológicas fornecendo umidade para as áreas mais baixas aos seus redores possuindo fragilidade baixa. A estrutura Geológica é predominantemente caracterizada por grandes maciços de gnaisse, Metacalcários, Quartzitos e xistos, com porções menores, porém também consideráveis de granitos, granodioritos e metagranodioritos, devido a isto a estrutura geológica não fora considerada na fragilidade, pois esta possui quase que uma parcialidade em toda a bacia. As classes de solos identificadas no mapeamento foram: Luvissolos, Argissolos Vermelho-Amarelos, Neossolos Regoliticos, Neossolos Fluvicos, Neossolos Litólicos, Vertissolos e Planossolos. De acordo com a classificação de fragilidade de solos proposta por Ross (1994), os solos encontrados na área da bacia estão numa classificação que vão de baixa até muito alta, conforme apresentado na Tabela 1. Neossolos Litólicos são distribuídos predominantemente em declives fortes de áreas com relevo em constante alteração. Configurando o solo raso e com presença de rocha e da frequente pedregosidade, pontuados com valor 5 de fragilidade. Os Neossolos Regoliticos, apesar de não apresentarem rocha a pouca profundidade, apresentam obstáculos pela propensão à erosão, semelhantes às dos Litólicos. Os Neossolos Flúvicos são solos derivados de depósitos aluviais, com resistência variada aos processos erosivos (EMBRAPA, 2006), sendo assim atribuído valor 4 de fragilidade a ambas as classes. Os Luvissolos, Planossolos e Vertissolos apresentam resistência intermediária, visto que são moderadamente evoluídos e coesos, assim apresentando uma resistência maior aos processos erosivos atuantes. São solos pouco a mediamente intemperizados, ricos em bases e com acumulação de argila de alta atividade. Os Argissolos Vermelho-Amarelo, que são solos com textura de arenosa a média, horizontes de transição abrupta e visível. São solos que dependem majoritariamente da rocha de origem para se desenvolver. São solos que foram classificados como fragilidade 2 em função de um maior grau de desenvolvimento e resistência à erosão. Quanto a vegetação, há a predominância de caatinga arbustiva de forma mais ampla na área de estudo, principalmente em função do uso e ocupação da área, a qual atualmente apresenta fortes indícios de impactos de ordem biótica, reduzindo consideravelmente as espécies da flora local em maior parte devido às atividades extrativistas na área, utilização das espécies lenhosas para produção de carvão e remoção da vegetação nativa para pasto e/ou para plantação de palma, que também se utiliza de alimento para o gado. Nas áreas mais conservadas, normalmente em função da baixa aptidão agrícola e dificuldade de acesso, em função do relevo mais acidentado, há a predominância de caatinga arbustiva arbórea aberta e fechada, configurando áreas com uma densidade e diversidade elevada de espécies. É possível observar áreas de exceção ligadas aos afloramentos rochosos e a presença de fraturas nos mesmos, visto que esses maciços, em função de condicionarem o escoamento superficial em detrimento da infiltração, permitem o acúmulo de sedimentos nas suas bordas, que ao interagir com a água que infiltra e é retida neles, favorece um maior desenvolvimento de regolito. A vegetação reflete a esses processos a partir de uma maior concentração de espécies, a dominância geralmente associada a espécies de maior porte (arbóreas) e uma alta diversidade, até mesmo de espécies de outros biomas, como Mata Atlântica, Cerrado e Floresta Amazônica. Em suma, de acordo o mapa de uso e cobertura da bacia a fragilidade da cobertura vegetal apresenta as seguintes classificações, assim representados na Tabela 2. No que se refere ao clima, considerando as condições de clima tropical seco (semiárido), no qual possui relação intrínseca com a dissecação do relevo local, o nível de fragilidade para toda a bacia é pontuado com valor 5, visto o déficit hídrico e as chuvas concentradas em curtos intervalos temporais. Nos resultados gerados a partir do mapa final de fragilidade, é possível observar três classes distintas, as quais são produto da interseção dos valores dos quatro atributos avaliados. Classificados em alta fragilidade estão as áreas em que há um uso mais intenso do solo por meio de atividade antrópica, de forma que há a remoção por completa ou significativamente da cobertura vegetal, expondo o solo aos processos erosivos, que podem ser acentuados de acordo com a presença de classes de solo com menor resistência (Neossolos ou Afloramento de Rochas) e declividade acentuada.

Tabela 1

Classificação de Fragilidade de Solos

Tabela 2

Grau de Fragilidade dos Tipos de Vegetação

Figura 1

Mapa de Fragilidade Ambiental

Considerações Finais

O presente trabalho que traz como temática a fragilidade ambiental, tem sua importância no desenvolvimento do planejamento ambiental territorial, a partir de práticas conservacionistas do meio, baseado no produto final no estudo da fragilidade do ambiente. O qual possibilita a prática do manejo adequado aliado ao uso sustentável. É através de pesquisas como esta que é possível alcançar resultados que auxiliem no processo de recuperação de áreas identificadas com alta fragilidade, ou seja, de áreas degradadas. A abordagem metodológica aplicada neste trabalho assume caráter ambiental e sistêmico, com objetivo de identificar áreas afetadas pelo antropismo, que no geral causam graves mudanças na dinâmica da paisagem. Além da contribuição cientifica, esta pode ser uma contribuição política e social , já que se trata de dados de uma região que sofre com as condições do clima árido e que pouco se investe para a solução das problemáticas ocasionadas pela seca. Dessa forma, os dados apresentados podem ser uteis nas análises quanto a impactos ambientais, pois possuem variações abruptas de unidades de paisagem, com diferentes percentuais de chuvas, temperaturas e outros elementos definitivos para o desenvolvimento da paisagem, sendo interessante revelar a situação em termos ambientais da bacia.

Agradecimentos

A todos os participantes do trabalho, bem como ao CNPq.

Referências

BERTALANFFY, L. V. Teoria geral dos Sistemas, 2: 82-84. Petrópolis: Editora Vozes, 1973.
COOKE, R.U; WARREN, A. Geomorphology in deserts. London: Batsford, 1973.
CORRÊA, A. et al. MEGAGEOMORFOLOGIA E MORFOESTRUTURA DO
PLANALTO DA BORBOREMA. Revista do Instituto Geológico, São Paulo, 31 (1/2),
35-52, 2010.
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos (Rio de Janeiro, RJ). Sistema
brasileiro de classificação de solos. 2. ed. – Rio de Janeiro: EMBRAPA-SPI, 2006.
MASSA, E. ROSS, J. Aplicação de um modelo de fragilidade ambiental relevo-solo na
Serra da Cantareira, bacia do Córrego do Bispo, São Paulo-SP. Revista do
Departamento de Geografia – USP. v. 24. p. 57-79. 2012.
ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Análise Empírica da Fragilidade dos Ambientes
Naturais e Antropizados. Revista do Departamento de Geografia. N°8, FFLCH-USP,
São Paulo, 1994.
SPÖRL, C.; ROSS, J.L.S. Análise Comparativa Da Fragilidade Ambiental Com
Aplicação De Três Modelos. GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 15, pp.39-49,
2004