Autores

Estevam, A.L.D. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA) ; Nascimento, A.S. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA) ; Santa, N.S. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA)

Resumo

Este trabalho tem como objetivo analisar os processos morfodinâmicos em vertentes nos Tabuleiros Costeiros na cidade de Santo Antônio de Jesus–BA. Através do emprego do Método Geossistêmico, efetuou-se de forma detalhada a interpretação dos processos morfogenéticos nas vertentes. Nos procedimentos metodológicos foram adotadas as seguintes fases: i. Notas técnicas de campo; ii. Revisão de literatura; iii. Análise visual de ortofotos com a geração de Mapa Temático de Uso do Solo e da Vegetação. Foi identificado intenso grau de erosão nas vertentes devido à pecuária extensiva e do crescimento rápido e mal planejado da cidade.

Palavras chaves

Morfodinâmica; Tabuleiros Costeiros; Vertentes

Introdução

Este trabalho foi realizado com o objetivo de analisar as transformações dos padrões erosivos atuantes ao longo das vertentes nos Tabuleiros Costeiros na cidade de Santo Antônio de Jesus na Região do Recôncavo Sul da Bahia (Coordenadas de 24 L 8563900N e 24 L 467800E e 24L 8567900N e 24L 475000E). Pretende-se com este trabalho compreender a evolução das vertentes no Bairro Maria Preta a partir da análise dos processos e formas erosivas atuantes nos modelados investigados. A área de estudo constitui-se de feições de vertentes côncavas e convexas, cabeceiras de drenagem em forma de anfiteatro intensamente impactadas por pastagens e pela urbanização. No entanto, a ocupação dessas áreas se torna preocupante a medida que loteamentos mal planejados ramificam-se por áreas que deveriam ser preservadas por motivos de precauções a futuros danos socioambientais. Guerra e Marçal (2009: 153) evidencia que a expansão urbana crescente e desordenada, que ocorre em várias partes do mundo também tem causado toda a sorte de danos ao meio ambiente, assim como a agricultura e a pecuária que não levam em conta práticas conservacionistas. Contudo, a pesquisa abrange estudos sobre as teorias geomorfológicas, os conceitos e categorias de vertentes, os processos morfogenéticos, a importância da cobertura vegetal e as formas de uso do solo nas encostas conforme (GUERRA e CUNHA, 2004). Os resultados desta pesquisa contribuíram de forma significativa para a compreensão dos fenômenos geomorfológicos e sua correlação com os processos de urbanização.

Material e métodos

Este trabalho foi desenvolvido na zona urbana da cidade de Santo Antônio de Jesus sobre superfície geomorfológica residual localizada ao longo dos Tabuleiros Costeiros no Estado da Bahia. As classes de solos predominantes na área de investigação constituem-se essencialmente em Latossolos Amarelos Distróficos ou Álicos nas zonas de topo do relevo e nas vertentes destacam-se os Argissolos Vermelho Amarelo, (RIBEIRO,1998). Os procedimentos metodológicos compreenderam quatro fases distintas que se complementaram no intuito de atingir as metas propostas pela pesquisa. Primeiramente efetuou-se a revisão de literatura, que consiste no estudo sistemático dos conceitos e categorias de análise em geomorfologia ambiental em trabalhos de teses, dissertações, artigos científicos e livros especializados. Posteriormente foi realizada uma interpretação visual da Ortofoto SAD 69, Zona UTM 24 L da área de estudo. Efetuou-se também, levantamento de campo das informações mais relevantes, valendo-se de registros fotográficos. A partir das visitas técnicas foram identificadas as classes de vertentes e os seus principais problemas morfológicos. Avaliou-se nas visitas técnicas os impactos provenientes do uso e da ocupação do solo no Bairro Maria Preta. No trabalho realizado em gabinete ocorreu a sistematização das informações com a conversão dos dados obtidos em campo para o Mapeamento das Feições das Vertentes através do aplicativo Arc View 9.3.

Resultado e discussão

A área de investigação detém vertentes côncavas e convexas, cabeceiras de drenagem. Sobre estas unidades geomorfológicas desenvolveram- se os modelos conflituosos de ocupação do espaço esparsos em expansão identificou-se o avanço de loteamentos inecriteriosos sobre áreas com solos já compactados por pisoteio de gado em zonas de pastagens abandonadas e degradadas como pode ser observado na Carta de uso do solo e cobertura vegetal (Figura 01). O crescimento mal planejado da cidade com o adensamento das vias urbanas, construções, e arruamentos promoveram a saturação das áreas de relevo plano da cidade. Devido à este fato as zonas de vertentes vem sofrendo forte impacto erosivo provocados pelo desmatamento, pelos trabalhos de terraplanagem que antecedem a instalação de redes de loteamentos e pelas ocupações indevidas por moradias. Estes impactos têm provocado o entalhamento de ravinamentos e a formação de leques de espraiamento de sedimentos arenosos no sopé das vertentes. A intensificação da ocupação indevida nas vertentes do Bairro Maria Preta a partir do ano de 2000 efetuou-se também nos fundos de vale promovendo a retirada total das matas ciliares. O crescimento mal planejado e a ocupação indevida acentuaram os riscos de movimentos de massa ao longo das vertentes antropizadas nas classes de declividade acima de 25%. A partir do levantamento in loco percebeu-se que a expansão da especulação imobiliária tem ocorrido significativamente sem a devida atenção pelo órgão gestor do município. O planejamento, administração, legislação e fiscalização, necessários ao ordenamento da ocupação do espaço durante o processo de urbanização, requerem um conhecimento das relações funcionais dos diferentes elementos da paisagem natural (ROSS, 1994). Os moldes de ocupação com base na pecuária e expansão mal planejada da malha urbana vêm interferindo nos padrões de escoamento superficial. Principalmente devido a impermeabilização do solo induzida por edificações e pavimentação de ruas e pelo pisoteio do gado nas zonas de pastagens. A morfogênese acentuou-se sobre as vertentes truncando ravinamentos sobre as cabeceiras de drenagem e ao fundo de vale. Neste contexto, constatou-se o desaparecimento de canais de drenagem de primeira ordem. Conforme pode observar, que a partir do momento em que a vertente passa a ser ocupada, iniciando uma retirada da cobertura vegetal, as relações processuais entre a morfogênese e pedogênese desarticulam-se (ERHART, 1955). Os solos já compactados propiciam a efetivação do escoamento superficial concentrado com maior capacidade erosiva.

Figura 01

Carta de uso do solo e vegetação da cidade de Santo Antônio de Jesus - BA.

Considerações Finais

Na realização da pesquisa, constatou-se, que as vertentes analisadas foram acometidas por intensos processos de urbanização sobre áreas ocupadas anteriormente por pastagens. Foram diagnosticados calçamentos, construção de moradias, muros e supressão da cobertura vegetal em Áreas de Proteção Permanente como às de entorno das cabeceiras de drenagem e nascentes (ESTEVAM, 2010). Estes processos induziram à extinção do escoamento fluvial nos fundos de vale e das áreas de cabeceiras de drenagem. A partir do momento em que as vertentes foram ocupadas os processos morfodinâmicas aceleraram-se devido à supressão da cobertura vegetal e o incremento dos processos pluvio-erosivos. A realização desta pesquisa foi de grande contribuição para a compreensão da dinâmica geomorfológica das vertentes e o seu grau de fragilidade ambiental frente aos agentes morfogenéticos no Bairro Maria Preta na cidade de Santo Antônio de Jesus.

Agradecimentos

Referências

ESTEVAM, A. L. D. Geomorfologia ambiental e paisagem urbana no Recôncavo Sul da Bahia (uso do solo e fragilidade dos sistemas de lagoas na cidade de Santo Antônio de Jesus – BA). Universidade Federal da Bahia. 2010. 276p.
ERHART, H. Biostasie et rhexistasie: esquisse d’une théorie sur le rôle de pedogenése en tant que phénomèse géologique. C. R. Séanc. Acad. Sci. , v. 241, p. 1218-20, 1955.
GUERRA, A. J. T. E CUNHA, S. B. Impactos ambientais urbanos no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.
GUERRA, Antonio José Teixeira; MARÇAL, Mônica dos Santos. Geomorfologia Ambiental. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
RIBEIRO, P. L. Os Latossolos Amarelos do Recôncavo Baiano: gênese, evolução e degradação: CADCT, 1998.
ROSS, J. L. S. Análise empírica da fragilidade ambiental dos ambientes naturais e antropizados. In: Revista do Departamento de Geografia (USP).(6): 63 – 74. 1994.