Autores

Dias, D.F. (UFSM) ; dos Santos, V.S. (UFSM) ; Trentin, R. (UFSM) ; Robaina, L.E.S. (UFSM)

Resumo

O foco principal desse trabalho é realizar uma compartimentação morfolitológica do município de Rosário do Sul, que localiza-se na porção sudoeste do estado do Rio Grande do Sul. Para isso, realizou-se uma integração entre os elementos contidos nos levantamentos do relevo e das litologias, que permitiram a definição de dez unidades morfolitológicas que serviram como base para a caracterização do meio físico da área de estudo. É importante destacar que a metodologia empregada tornou-se viável para a área em questão, em razão de que um dos principais focos desse trabalho é aproximar as discussões referentes ao planejamento e ao ordenamento territorial, levando em consideração a definição dos locais mais apropriados para os diferentes usos.

Palavras chaves

Rosário do Sul; Morfolitologia; Planejamento

Introdução

Nos dias de hoje, com o aumento da pressão antrópica sobre o meio físico, é de extrema importância que ocorram estudos que contemplem os diversos fatores ambientais e que sirvam como um suporte para a elaboração de futuros zoneamentos geoambientais, mapeamentos fisiográficos e no planejamento de uma determinada área. Com isso, é de extrema importância destacar que o planejamento de um determinado território não deve se limitar apenas aos aspectos socioeconômicos, mas sim levar em consideração a análise das características que compõem o meio físico, pois não se pode pensar no espaço de forma fragmentada, mas sim como um sistema amplo e integrado. Robaina et al (2015) definem que as formas de relevo e as litologias constituem o substrato físico, na qual se desenvolvem as atividades humanas e diante disso, faz-se necessária a realização de trabalhos de zoneamentos que determinam unidades homogêneas fundamentais para o entendimento do processos geomorfológicos e como as ações geomorfológicas podem interferir no meio. Esses trabalhos que integram as informações referentes as formas de relevo e as litologias são chamados de zoneamentos morfolitológicos. Em contra partida, a partir do advento das geotecnologias torna-se possível a partir de um banco de dados georreferenciado, realizar a interpolação de informações referentes ao meio físico, que possibilitando o ordenamento dessas informações, que servirão para a organização e a execução de diferentes tipos de análises. Frente a isso, a análise morfolitológica consiste na integração dos elementos contidos nos levantamentos do relevo e das litologias, onde o uso de operações computacionais utilizando dados vetoriais, tem como objetivo permitir o cruzamento dessas informações que terão como produto final, a indicação das diferentes unidades morfolitológicas de uma determinada área. Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo apresentar uma compartimentação morfolitológica para o município de Rosário do Sul, tendo como base os componentes do substrato litológico e das formas de relevo. Para isso, segue as propostas de trabalho desenvolvidos na porção oeste do Rio Grande do Sul, como Trentin e Robaina (2008) que definiram um zoneamento morfolitológico para a bacia hidrográfica do rio Itu, Robaina et al (2013) que estabeleceram uma compartimentação no município de Manoel Viana e Robaina et al (2015) que realizaram um zoneamento morfolitológico na bacia hidrográfica do rio Ibicuí, com ênfase nos processos de dinâmica superficial e o uso do solo.

Material e métodos

Para a realização do mapeamento da área de estudo, utilizou-se como base a Malha Digital do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) que serviu para definir o limite territorial do município de Rosário do Sul; a Base Cartográfica Vetorial Contínua do Rio Grande do Sul com escala 1:50.000 (Hasenack e Weber, 2010), utilizada para identificar a rede hidrográfica, as curvas de nível e os pontos cotados; além das imagens RADAR Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) com resolução espacial 3 arcsec (90 metros) que serviram como base para a elaboração do Modelo Digital de Elevação (MDE) da área de estudo. A definição das formas de relevo, realizou-se com o intuito de individualizar as áreas com características homogêneas, levando em consideração a análise combinada dos atributos morfométricos: amplitude altimétrica, declividades e comprimento das vertentes analisadas através de perfis topográficos. Corroborando com isso, utilizou-se como base a proposta de classificação do relevo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT, 1981), sendo essa modificada e adaptada seguindo algumas particularidades do relevo da área de estudo. Sendo assim, definiu-se as seguintes formas de relevo na área de estudo: áreas planas, colinas levemente onduladas, colinas onduladas, colinas de altitudes, associação de morros e morrotes e morros e morrotes isolados. Em contra partida, a análise da distribuição das litologias encontradas no município, realizou-se tendo como base o Mapeamento Geológico do Rio Grande do Sul desenvolvido em escala 1:750.000 pelo Serviço Geológico do Brasil (Wildner et al, 2006) e o auxílio de trabalhos do Laboratorio de Geologia Ambiental da Universidade Federal de Santa Maria (LAGEOLAM/UFSM) desenvolvidos em regiões próximas ao município: Determinação dos litótipos aflorantes na bacia hidrográfica do rio Ibicuí, RS (Trentin et al, 2015); zoneamento morfolitológico da bacia hidrográfica do rio Ibicuí e sua relação com os processos superficiais e o uso do solo (ROBAINA et al, 2015). Após a obtenção das informações, as unidades litológicas foram refinadas e detalhadas, a partir dos resultados obtidos com a realização dos trabalhos de campo na área de estudo e, com isso, foram definidas as seguintes litologias: Depósitos Recentes, Rochas Vulcânicas das Fácies Alegrete e Gramado, Rochas Sedimentares das Formações Botucatu, Guará, Piramboia, Rio do Rasto e Subgrupo Estrada Nova. O produto final da análise dos elementos físicos do município de Rosário do Sul foi constituído por unidades morfolitológicas, que representam a integração dos elementos contidos nos levantamento das formas de relevo e das litologias encontradas na área de estudo. Com isso, a elaboração do mapa que corresponde as unidades morfolitológicas, realizou-se a partir do processo de vetorização manual no software ArcGIS® 10.1, onde foram sobrepostos os layers da litologia e do relevo do município de Rosário do Sul. Em decorrência disso, para a área de estudo foram estabelecidas as seguintes unidades morfolitológicas: áreas planas com depósitos recentes, colinas suaves sobre arenitos, colinas suaves em rochas vulcânicas, colinas onduladas sobre arenitos, colinas onduladas sobre arenitos marinhos, colinas onduladas em rochas vulcânicas, colinas de altitudes em rochas vulcânicas, associação de morros e morrotes em rochas vulcânicas, morros e morrotes isoladas sobre arenitos e morros e morrotes isolados em rochas vulcânicas. Por fim, a partir da utilização da ferramenta Dissolve do software ArcGIS® 10.1, realizou-se o agrupamento das classes vetorizadas e a quantificação das unidades morfolitológicas da área de estudo.

Resultado e discussão

O município de Rosário do Sul localiza-se na porção sudoeste do Rio Grande do Sul, entre as coordenadas geográficas de 30º00’55” e 30º45’01” de latitude sul e 55º43’15” e 54º37’19” de longitude oeste (Figura 1), limitando-se com os seguintes municípios: Alegrete (a noroeste), Cacequi (ao norte), Dom Pedrito (ao sul), Quaraí (a oeste), Santana do Livramento (a sudoeste) e São Gabriel (a leste). De forma geral, a área de estudo está inserida na Mesorregião do Sudoeste Rio-Grandense e na Microrregião da Campanha Central. Segundo dados do IBGE (2010), o município possui uma área territorial de 4.369,32 km², uma população total de 40.773 habitantes e densidade demográfica de 9,09 hab/km². A compartimentação morfolitológica do município de Rosário do Sul tem como objetivo apresentar e caracterizar as unidades identificadas na área de estudo, através da integração entre os elementos do relevo e das litologias, juntamente com algumas características de altitudes, declividades e os solos predominantes. Sendo assim, foram definidas dez unidades morfolitológicas que estão quantificadas na Tabela 1, espacializadas na Figura 2 e caracterizadas logo a seguir. ÁREAS PLANAS Ocorrem nas altitudes mais baixas da área de estudo (inferiores a 120 metros) e apresentam declividades que não ultrapassam os 2%, configurando uma área onde ocorrem os eventos de deposição de sedimentos fluviais, constituindo uma litologia caracterizada como depósitos recentes. Em decorrência da grande quantidade de sedimentos transportados pelos cursos d’água, essas áreas apresentam solos férteis e hidromórficos, principalmente do tipo planossolos. COLINAS SUAVEMENTE ONDULADAS Ocorrem nas altitudes entre 120 e 160 metros, com declividades que variam entre 2% e 5%, caracterizando áreas onde ocorrem os processos de deposição. Na área de estudo, elas abrangem as porções centro-oeste e noroeste, apresentando litologias compostas por rochas sedimentares e vulcânicas. A unidade morfolitológica das colinas suavemente onduladas sobre arenitos localizam-se com maior expressividade na porção centro-oeste do município e representam 18,68% do total da área de estudo. Apresenta litologias constituídas por arenitos eólicos da Formação Botucatu e fluviais das Formações Guará e Sanga do Cabral e solos rasos a profundos do tipo neossolos e argissolos. Já a unidade das colinas suavemente onduladas sobre rochas vulcânicas abrangem uma pequena porção no noroeste, próxima ao limite territorial com o município de Alegrete e representa 2,15% do total da área de estudo, apresentando substrato litológico constituído por derrames de basaltos amigdaloides que caracterizam as rochas vulcânicas da Fácies Gramado. Além disso, os solos nessa porção variam de rasos a profundos, sendo representados pelos neossolos e argissolos, respectivamente. COLINAS ONDULADAS Essa unidade de relevo predomina nas altitudes entre 120 e 220 metros e apresentam declividades entre 5% e 15%, marcando o limite para o processo de mecanização agrícola. As colinas onduladas ocupam a maior parte do município de Rosário do Sul e apresentam substrato rochoso composto por rochas sedimentares e vulcânicas. A unidade morfolitológica das colinas onduladas sobre arenitos estende-se em toda a porção leste da área de estudo, além da porção da centro-oeste, limitando-se com a Serra do Caverá. Representando 27,11% da área do município, essa unidade apresenta litologias constituídas por arenitos fluviais das Formações Guará e Piramboia e solos profundos do tipo argissolos, chernossolos e luvissolos. Em contrapartida, a unidade das colinas onduladas sobre arenitos marinhos ocupa a porção sul e abrange 5,85% do total da área do município, apresentado litologias compostas por arenitos finos, intercalados com argilitos, folhelhos e siltitos e solos hidromórficos (planossolos) e profundos (chernossolos). Por fim, a unidade das colinas onduladas sobre rochas vulcânicas cobre uma pequena porção situada na porção noroeste, próximo ao limite territorial do município de Santana do Livramento e representa 1,46% da área de estudo. O substrato litológico é constituído por derrames de composição intermediária a ácida, caracterizando as rochas vulcânicas da Fácies Alegrete e os solos são caracterizados como rasos (neossolos). COLINAS DE ALTITUDES Representando 2,36% da área de estudo, essa unidade morfolitológica ocorre nas áreas onde as altitudes mínimas correspondem a 200 metros, apresentam declividades entre 2% e 5% e localizam-se na porção sudoeste, nas proximidades com o município de Santana do Livramento. Essa unidade apresenta litologia constituída por derrames de composição intermediária a ácida que caracterizam as rochas vulcânicas da Fácies Alegrete e solos rasos do tipo neossolos. ASSOCIAÇÃO DE MORROS E MORROTES Essa unidade morfolitológica corresponde a uma associação de morros e morrotes que fazem parte da Serra do Caverá (áreas de grandes elevações que estende-se desde as proximidades da cidade de Alegrete na porção mais a leste, até o município de Santana do Livramento, sendo que alguns autores consideram que a mesma estende-se ainda pelo território uruguaio) e representa 8,33% da área do município, apresentando altitudes mínimas de 200 metros e declividades superiores a 15%, onde nessas áreas ocorrem os processos de movimentos de massa e pequenas corridas em porções convergentes da encosta. O substrato litológico é composto por rochas vulcânicas da Fácies Gramado sobre arenitos eólicos da Formação Botucatu, onde destaca-se que em algumas porções, a ocorrência de arenitos entre os derrames geram surgências que permitem a instalação da vegetação arbóreo-arbustiva formando uma espécie de “anel” ao redor dos morros e morrotes. Destaca-se ainda que os solos dessa unidade são caracterizados como rasos do tipo neossolos. MORROS E MORROTES ISOLADOS Caracterizam-se por serem feições que marcam a evolução dos processos erosivos sobre uma porção mais elevada do terreno. Na área de estudo, os morros e morrotes isolados representam os antigos modelados do atual Planalto da Campanha, com altitudes superiores a 250 metros, declividades acima de 15% e substrato litológico formado por rochas sedimentares e vulcânicas. A unidade dos morros e morrotes isolados sobre arenitos ocupam a porção leste e noroeste da Serra do Caverá e representam 0,68% do total da área de estudo. Apresentam litologias constituídas por arenitos eólicos da Formação Botucatu e fluviais das Formações Guará e Piramboia, caracterizando morros e morrotes com topos planos. Os solos são caracterizados como rasos do tipo neossolos. Por fim, a unidade dos morros e morrotes isolados em rochas vulcânicas localizam-se predominantemente ao norte da Serra do Caverá e correspondem a 0,30% da área de estudo, sendo a unidade menos expressiva do município. O substrato litológico é constituído por derrames de basaltos granulares que formam as rochas vulcânicas da Fácies Gramado e, em decorrência disso, os morros e morrotes nessa porção apresentam topos arredondados. Os solos são caracterizados como rasos (neossolos) a profundos (argissolos).

Figura 1

Localização da área de estudo.

Tabela 1

Quantificação das unidades morfolitológicas.

Figura 2

Distribuição das unidades morfolitológicas na área de estudo.

Considerações Finais

O presente trabalho desenvolveu uma breve caracterização e análise sobre os elementos que compõem o meio físico de Rosário do Sul, a partir da integração entre as formas de relevo e as litologias, permitindo a definição de dez unidades morfolitológicas para a área de estudo. É de extrema importância ressaltar que a metodologia empregada para a execução desse trabalho tornou-se muito viável para a área em questão, visto que um dos focos principais desse trabalho é aproximar as discussões referentes ao planejamento e ao ordenamento territorial, levando em conta a definição de locais mais apropriados para os diferentes tipos de usos. Diante disso, é essencial que ocorra um prévio conhecimento da dinâmica territorial, com o intuito de sugerir alternativas que tenham como premissa recuperar ou preservar a paisagem em suas dimensões naturais e antrópicas.

Agradecimentos

Referências

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