Autores

Oliveira, M.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS) ; Nascimento, J.P.H. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS)

Resumo

Este trabalho fez uso de produtos de sensoriamento remoto e técnicas de geoprocessamento para extrair lineamentos de drenagem e relevo e ordenar canais da bacia do rio Mundaú localizado entre os estados de Pernambuco e Alagoas. Buscou-se com este trabalho traçar correlações das possíveis influências estruturais na formação e comportamento da Bacia Hidrográfica do Rio Mundaú a partir da análise da extração de lineamentos de drenagens e de relevo na referida bacia. Os lineamentos de drenagem apresentaram direção NE- SW, E-W e NW-SE, principalmente. Já os lineamentos de relevo apresentaram dois grupos preferenciais de direcionamento: NE-SW e NW-SE. O uso das técnicas aqui empregadas permitiu verificar influências estruturais como importantes condicionantes da bacia do rio Mundaú, estando em grande parte condicionada pela estrutura regional, e assim contribuir para o desenvolvimento da ciência geomorfológica neste setor do nordeste brasileiro.

Palavras chaves

Lineamentos; Controle estrutural; Bacia do Rio Mundaú

Introdução

A definição de bacias hidrográficas é dita pela composição de canais de escoamentos inter-relacionados que por assim dizer, drenam toda uma área pela ação de rios e sistemas fluviais (Christofoletti, 1980). A estrutura geológica e tectônica de uma bacia hidrográfica, por vezes, reflete toda a hidrodinâmica dos canais. Os sistemas de drenagens fluviais são analisados a partir das características da paisagem que os integram, como: geologia da bacia, clima, declividade e a paleo-formação de relevos. Tendo em vista a possibilidade de influência estrutural geomorfológica nessas bacias, torna-se necessário o entendimento dessas estruturas quanto à sua origem e evolução, começando pela sua gênese morfológica, até identificar os processos que levam a entender como os sistemas fluviais das bacias hidrográficas se comportam. A priori, as estruturas encontradas atualmente nas margens leste do continente sul-americano, melhor especificando, as margens de todo território brasileiro tiveram sua gênese no período do cretáceo, e posteriormente, passando por reativação estrutural nas falhas em zonas de cisalhamento dessas margens durante o período da abertura do Atlântico (MAIA,2012). Zonas essas que possuem falhas e fraturas que atuam como condicionantes à rede de drenagem (MAIA; BEZERRA, 2014). A análise de bacias hidrográficas, segundo Christofoletti (1980), tornou-se mais comum, a partir de 1945, com Robert E. Horton, um engenheiro hidráulico que abordou pela primeira vez, de forma quantitativa as leis de desenvolvimento de rios e bacias. É a partir de índices e parâmetros morfométricos que foram analisadas e quantificadas as diversas características da bacia, dentre elas, hierarquia fluvial. A hierarquia fluvial atua na classificação e identificação de diversos canais ao longo de toda a bacia, facilitando no processamento de outros parâmetros de análise morfométrica, como análise linear, areal e hipsométrica (Christofoletti, 1980). Alguns autores como Horton, e Arthur N. Strahler tiveram a primazia de desenvolver esse tipo de classificação, que considera os canais em ordens, do menor para o maior, influenciado pela quantidade de tributários (afluentes), deixando claro assim a magnitude de drenagens em bacias hidrográficas. Considerando que uma bacia tem sua configuração determinada pela estrutura morfogênica, a extração de lineamento de drenagens e de relevo sombreado é viável para entender se a dinâmica das bacias hidrográficas, que relacionada com a morfogênese estrutural dessa bacia, apresenta uma explicação para o comportamento dessas drenagens. Esses lineamentos correspondem a feições retilíneas ou levemente curvas representadas por cristas e vales, como proposto por Ethcbehere et al. (2007) apud MONTEIRO (2015, p.84) que os define como "feições lineares topográficas ou traços observáveis nas imagens fotográficas, que podem representar descontinuidades estruturais”. A análise dos lineamentos foi realizada junto aos diagramas de rosetas, os quais demonstram o direcionamento preferencial destas feições lineares. O presente trabalho justifica-se na necessidade de contribuir para o entendimento geomorfológico do estado de Alagoas, o qual carece de dados e interpretações objetivas da paisagem. Objetiva-se traçar correlações das possíveis influências estruturais na formação e comportamento da Bacia Hidrográfica do Rio Mundaú, localizada nos estados de Pernambuco e Alagoas (Figura 1), a partir da aplicação de parâmetros morfométricos como, hierarquização fluvial, extração de lineamentos de drenagens e de relevo.

Material e métodos

A Bacia Hidrográfica do Rio Mundaú tem uma extensão de área total de 4457,87 km² e perímetro de 382,68 km², sendo 45,10% desse total no estado de Alagoas, e o estado de Pernambuco com 54,90% de área da bacia. O clima predominante em quase toda bacia é o Tropical, com maior divergência em períodos de chuvas, já que a Massa Tropical Atlântica influencia a umidade relativa do ar, e a medida que a bacia vai se estendendo ao sertão e se afastando do litoral essas massas de ar surtem menos efeitos (MARCUZZO, et al, 2011). Os principais rios dessa bacia são o Rio Mundaú, Rio Satuba, Rio Inhaúma e o Rio Canhoto.Os subdomínios físico-geográficos são caracterizados principalmente pelo Planalto da Borborema, Planalto Sedimentar Costeiro, Depressão Pré-litorânea e já na sua foz encontra-se o subdomínio da Planície Costeira do Nordeste (CAVALCANTI, 2010). A metodologia aplicada para construção de mapeamentos de análises morfométricas, foi a coleta de produtos de sensoriamento remoto, através de dados SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) articulados numa escala 1:250.000, obtidas em ambiente digital da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias – EMBRAPA. Os recortes utilizados correspondem às subdivisões cartográficas SC-24-X-B, SC-25-V-A, SC-24-X-D, SC-25-V-C, que envolvem a Bacia Hidrográfica do Rio Mundaú. De maneira a atingir os objetivos propostos para este trabalho, seguiu-se com alguns procedimentos e aplicação dos parâmetros morfométricos em ambiente GIS sendo eles: delimitação da bacia hidrográfica do rio Mundaú, hierarquização fluvial como proposta por Strahler, localização da bacia, extração de lineamentos de drenagem e de relevo a partir de mapas de relevo sombreado, no caso destes últimos, construção de diagramas de rosetas a partir dos lineamentos (de drenagem e relevo) extraídos.

Resultado e discussão

Realizado o mapeamento dos lineamentos de drenagens por ordem de canais (Figura 2) e lineamentos de relevos sombreados (Figura 3) da Bacia Hidrográfica do Rio Mundaú, seguiu-se com análises integradas das feições lineares, atentando para os seus direcionamentos, afim de considerar a influência de controles estruturais para a bacia. Utilizando ainda mapa de localização da Bacia do Rio Mundaú no NE do Brasil, afim de considerar a bacia em escala regional (Figura 1). 3.1 Direção preferencial dos lineamentos de drenagem por ordem de canal Foi realizada extração dos lineamentos de drenagem da bacia do Rio Mundaú, por ordem de canais (1º, 2°, 3°, 4° e 5° ordem) conforme Strahler (1952), e elaborado o mapeamento destas feições lineares, como é possível visualizar na Figura 2. Prosseguiu-se com a elaboração de diagramas de rosetas para cada ordem de canal. Nos canais de 1° ordem, a direção encontrada foi NE-SW. Destacam-se os direcionamentos predominantes de E-W, encontrados para os lineamentos de 2°, 3° e 4°ordem. Os lineamentos de 5° ordem assumiram direção preferencial NW-SE, como observado no mapa e diagramas de roseta da Figura 2. 3.2 Direção preferencial dos lineamentos de relevo sombreado Elaborou-se mapeamento dos lineamentos de relevo sombreado para cada azimute (45°; 90°; 315° e 360°). Identificou-se uma predominância de direcionamentos preferencialmente nas direções NE-SW nos azimutes 90°, 315° e 360° como é possível observar na Figura 3 (B), (C) e (D). Já nos lineamentos correspondentes ao azimute de 45°, observou-se a predominância de direção NW-SE, como destacado na Figura 3 (A). 3.3 Condicionantes estruturais da bacia De acordo com Brito Beves et al. (2001) apud MONTEIRO(2015), as definições dos trends regionais seguem as direções E-W e NE-SW. Entende-se que, os direcionamentos das feições lineares nos diagramas de 1°, 2°, 3°, 4° ordem de canal estão nas direções NE-SW e E-W, e sendo assim, estariam em consonância com o trend regional. Acredita-se que, por se tratarem de canais relativamente pequenos e com baixa disponibilidade de água, não teriam capacidade erosiva intensa, estariam sujeitos, assim, a adequarem-se a estrutura determinante em escala regional. Já o os lineamentos de 5° ordem apresentaram direções preferenciais NW – SE, e dessa maneira, outros condicionantes estariam influenciando o direcionamento destas feições lineares. A bacia do rio Mundaú assume duas orientações principais, sendo elas: E – W, de acordo com o trend regional, e outra NW – SE, distanciando-se da tendência geral. Acredita-se que, a existência de uma área mais elevada no médio curso da bacia, como observada na Figura 4, poderia atuar como um impedimento estrutural desviando o rio Mundaú da direção condicionada pela Borborema. (Figura 4). Postula-se ainda que a existência de uma possível área rebaixada localizada próximo ao setor sul (baixo curso) dessa bacia interfira no direcionamento dessas feições lineares, e seja por isso que, ao invés destes lineamentos seguirem o trend regional (E-W/NE-SW), eles se desviem de NW para SE. (Figura 4).

Figura 1

Mapa de localização da Bacia Hidrográfica do Rio Mundaú, no NE brasileiro.

Figura 2

Mapa de lineamentos de drenagem e diagramas de rosetas da Bacia Hidrográfica do Rio Mundaú.

Figura 3

Mapa de lineamentos de relevo sombreado e diagramas de rosetas da Bacia do Rio Mundaú. (A)azimute 45°;(B)azimute 90°;(C)azimute 315°; (D)azimute 360°.

Figura 4

Bacia Hidrográfica do Rio Mundaú no contexto do Planalto da Borborema.

Considerações Finais

A aplicação da metodologia de extração de lineamentos de drenagem e de relevo se mostrou satisfatória para a Bacia Hidrográfica do Rio Mundaú, uma vez que se pode verificar a relação existente entre a maior parte dos lineamentos extraídos e o trend regional admitido para a região em apreço, evidenciando assim, a existência de um controle estrutural na região. Para os lineamentos que apresentaram direções diferenciadas, pode-se levantar algumas proposições de acordo com dados disponíveis, e passíveis de investigações futuras. Assim, o presente trabalho ofereceu à região da Bacia do Rio Mundaú algumas contribuições científicas que podem ajudar no entendimento da paisagem nas margens continentais do Nordeste brasileiro.

Agradecimentos

Referências

CAVALCANTI, L. C. S. Geossistemas no Estado de Alagoas: Uma contribuição aos estudos da natureza em geografia. 2010. 132f. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de Pernambuco – CFCH, Recife, 2010.

CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. 2ª ed. Edgard Blücher. São Paulo, 1980.

MAIA, R. P.; BEZERRA, F. H. R. Condicionamento Estrutural do Relevo no Nordeste Setentrional Brasileiro. Mercator. Fortaleza, v. 13, n. 1, p. 127-141, jan./abr. 2014.

MAIA, R. P. Geomorfologia e Neotectônica no Vale do Rio Apodi-Mossoró RN. Pós-graduação em Geodinâmica e Geofísica – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2012.

MARCUZZO, F. F. N.; ROMERO, V.; CARDOSO, M. R. D. Detalhamento hidromorfológico da Bacia do Rio Mundaú. In: XIX SIMPÓSIO BRASILEIRO DE RECURSOS HÍDRICOS, 2011, Maceió.

MONTEIRO, K. A. Análise geomorfológica da escarpa oriental da Borborema a partir da aplicação de métodos morfométricos e análises estruturais. 2015. 222f. Tese de Doutorado – Universidade Federal de Pernambuco – CFCH, Recife, 2015.

STRAHLER, A.N. Hypsometric (area-altitude) analysis and erosional topography. Geological Society of America Bulletin, v. 63, p. 1117-1142, 1952.