Autores

Chaves, J.J.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA) ; Lima, J.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA) ; Batista, C.C.N. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA)

Resumo

O presente estudo tem como objetivo descrever as formas geomorfológicas existentes no Parque Estadual da Pedra da Boca, localizado no município de Araruna, Paraíba. Caracterizando o meio físico da paisagem e sua interação com as atividades antrópicas. O Parque da Pedra da Boca é repleto de belezas e possui paisagem singular com diversas cavidades formadas pelos abatimentos de blocos em grandes vertentes, gerando abrigos rochosos com desenvolvimento significativo. Essa categoria de Parque é regida pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC, Lei 9.985, 2000). O presente estudo foi realizado com as seguintes etapas: seleção do material bibliográfico e cartográfico; reconhecimento de campo; e coleta de dados sobre os aspectos físicos do local. Os dados obtidos demonstram que local abrange diversas cavidades, são elas: Pedra da Boca, Pedra do Carneiro, Pedra da Caveira, Pedra da Santa, Pedra do Forno, Furna do Caçador.

Palavras chaves

Cavidades Naturais; Geomorfologia; Unidades de Conservação

Introdução

Em meados do século XIX, áreas protegidas com o intuito de conservar a natureza vêm crescendo de modo impressionante. Isso se dá pelo fato de uma degradação ambiental descontrolada devido as forças antrópicas exercidas com a expansão urbana e com a força avassaladora da indústria. Ocasionando destruição de florestas e desequilíbrio no meio ambiente. Com a criação dessas áreas protegidas, atividades serão exercidas através de um manejo bem elaborado para dar origem a um novo mercado, o mercado turístico (CAVALCANTE, 2007). No Estado da Paraíba, existem belezas onde a natureza mostra-se singular. Portanto, foram criados Unidades de Conservação para manter essas belezas intactas por tempo indeterminado. Entre essas unidades está o Parque Estadual da Pedra Da Boca, criado pelo decreto Nº 20.889 de 07 de fevereiro de 2000 pelo governador José Targino Maranhão. As áreas de conservação têm apresentado um papel extremamente importante no que diz respeito a Flora, Fauna e a todos os elementos da natureza existentes nesse local, onde os mesmos sofrem devido a degradação causada pelo homem. Diante desse pressuposto, a presente pesquisa visa analisar o Parque da Pedra da Boca abordando suas características geomorfológicas implicadas com as práticas exercidas pelo turismo no local. Este trabalho, busca engrandecer as potencialidades desse ambiente como regem o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC, 2000). UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO BRASIL A constituição de 1937 afirma que é criado o Parque Nacional de Itatiaia (RJ), tornando o mesmo a primeira área protegida do país. Durante décadas, o aumento do número de parques e áreas protegidas foi bastante tímida. No final da década de 70 são colocados sob discussão as áreas para legalmente serem protegidas. Somente em 1979, foi lançado o decreto Nº 84.017, onde é definido o Regulamento dos Parques Nacionais Brasileiros (AMARAL, 1998). Essas áreas protegidas são dedicadas à proteção e manutenção dos ecossistemas naturais, de sua diversidade biológica, recursos naturais, pela sua morfologia e geologia, para proporcionar uma oportunidade de estudos de cunho científico, viabilizar uma educação ambiental e o ecoturismo.

Material e métodos

A realização do presente trabalho tornou-se possível mediante a leituras bibliográficas, pesquisas e observações em campo. Para e elaboração desta pesquisa foi utilizado o método analógico dedutivo do meio físico onde as cavidades estão inseridas. Este método parte do geral para o particular através de premissas maiores, que são inícios para premissas menores em que o pesquisador através de analogias chagará a verdade que procura. No decorrer das pesquisas foram feitas separações de jornais e consultas em diversos sites relacionados ao tema, bem como analise de artigos científicos sobre cavidades naturais e no Brasil e também no estado paraibano. Na parte de escritório feito um vasto levantamento bibliográfico sobre o tema de forma geral e também com base em artigos científicos sobre cavidades existentes nas áreas circunvizinhas. Este serviu de alicerce para aprofundar os conhecimentos sobre cavidades e preparar para visitas futuras com a finalidade de obter novos dados e fazer novos reconhecimentos sobre o ambiente que atrai diversas pessoas pelas geomorfologia do local.A confecção dos mapas foi utilizado os softwares Spring 5.1.8 e Survex ambos são softwares livres.

Resultado e discussão

A abordagem das questões relacionadas a patrimônios naturais, como geológicos e geomorfológicos, tem ganhado um espaço significativo nas discussões mundiais, visto que são diversos os países que se manifestam em sua defesa e significado ambiental, turístico e cultural (CRISTO et al. 2013). No Brasil, a preocupação com esta questão também começa a tomar maior espaço nas discussões com desenvolvimentos de trabalhos de pesquisa, como pode-se perceber com a realização de eventos e publicações na área. Isto demonstra, além da preocupação com a busca de melhor conhecimento sobre o patrimônio nacional, bem como em termos de seu potencial. O Estado paraibano possui uma grande variedade paisagística e com imensas riquezas que nossos olhos podem vislumbrar, seja de ordem natural, social e histórico-cultural. Com o intuito de proteger a natureza, foram criadas 24 Unidades de Conservação (Fig. 1), reconhecidas pelos seus aspectos peculiares e sua maioria encontra-se na mesorregião do litoral paraibano. Para termos uma noção de patrimônio geomorfológico é necessário fazer um balanço completo das tendências naturais e o que é induzido pelas atividades humanas no meio (DEMANGEOT, 1993), pois constituem verdadeiros desafios para a manutenção da conservação de determinados locais com paisagens bastante peculiares. O Parque Estadual da Pedra da Boca localiza-se no município de Araruna na mesorregião do agreste paraibano. Mais precisamente na porção norte do município de Araruna com as coordenadas geográficas de 6º 31’ e 6º 33’ de latitude Sul e 35º 36’ 35º 38’ de longitude Oeste (Fig. 2), possuindo delimitação de 158 hectares de extensão. Os limites territoriais onde está localizado o Parque, são: Município de Passa e Fica (ao Norte); Sítio Água Fria (ao Sul); Rio Calabouço (a Leste) e Serra da Confusão (a Oeste). O Patrimônio geomorfológico pode ser entendido como um conjunto formas de relevo, solos e depósitos correlativos, que pelas suas características genéticas, sua raridade e originalidade evidenciam clara riqueza cientifica, merecendo ser preservadas e conservadas (PEREIRA, 1995). Muitas destas formas de relevo constituem o significado da paisagem, como (montanhas, cavernas, paisagens litorais). Quanto ao patrimônio geomorfológico do Parque, podem ser observadas diversos conjuntos rochosos de grande beleza cênica, de composição granítica com vestígios de gnaisses com fáceis arredondadas devido ao alto grau de intemperismo físico-químico e grandes caneluras que percorrem do cume até o chão. Muitos autores utilizam sinônimos como geopatrimônio, como aponta Borba (2011), para tentar evitar algumas polemicas entre cientistas de diferentes áreas. Independentemente da terminologia, o significado não muda, ela corresponde a uma representação da geodiversidade que a priori apresenta valores significativos para a sociedade e notifica-se com elementos notáveis na natureza. Com isso, podem ser classificados como patrimônio geomorfológico, geológico entre outros (BENTO, RODRIGUES, 2013). A Pedra da Boca é formada por grandes serras e constituição granítica. Através do pouco desenvolvimento da superfície pediplanizada, o espaçamento entre as serras ou testemunhos relativamente pequeno, sendo assim, não pode ser caracterizado como Inselberg, muito comuns no sertão da Paraíba. Regionalmente as serras como as de Araruna e também de Confusão podem ser consideradas como ramificações da superfície mais elevada da Borborema (CARVALHO, 1982). Presente nesses maciços, existem grandes cavidades decorrentes por falha e fraturas nas rochas, o que impulsiona a queda de grandes blocos rochosos, formando abrigos de tamanho significativo. Além desses abrigos que se localizam nas vertentes, os blocos colapsados se amontoam e formam acumulação de blocos de diversos tamanhos. Com a disposição desses blocos, formam-se cavidades naturais que segundo Carvalho (1982, p. 84) são depressões que apresentam um ecossistema frágil e delicado, normalmente contém algum corpo rochoso, conteúdo mineral, hídrico, flora e fauna, bem como sítios arqueológicos e paleontológicos. Já Bigarella et al. (1994, p. 359) define cavidade natural como “qualquer cavidade penetrável pelo homem, com uma ou mais entradas, seja seca, total ou parcialmente tomada pelas águas, [...]e sem levar em conta seu desenvolvimento na rocha encaixante”. Para a SBE (1991) apud Spoladore (2006, p. 05) cavidade natural é “um termo genérico que define qualquer cavidade desenvolvida na rocha, independentemente de seu tamanho, da existência ou não de curso d’água em seu interior, desnível, ornamentação ou da incidência de luz solar”. Existem muitos conceitos para denominar uma cavidade natural, sendo esta apenas uma categoria que generaliza os tipos de cavidades na íntegra, ou seja, há diversos tipos de cavidades, como: cavernas, grutas, abrigos, furnas, abismos entre outros. Mas, para a nomeação dessas cavidades a regionalização será um fator chave para distinguir o que é caverna ou abrigo. As vertentes apresentam elevada declividade e seu perfil é convexo (GUERRA e GUERRA, 2009). Podem apresentar em seu perfil diversas descontinuidades e planos de falhas, fraturas e alivio de pressão. Podemos observar ao longo desses vertentes blocos instáveis, que futuramente se tornarão matacões. A desagregação das rochas é outro tipo de processo erosivo que potencializa o recuo das vertentes, sendo ocasionado pela variação da temperatura na rocha bruta. A área é caracterizada pela presença de grandes cavidades desenvolvidas ao longo das vertentes pelos caimentos de blocos e pelo deslocamento regressivo das vertentes. Os blocos que se encontram instáveis entram em colapso e caem devido a ação da gravidade dando origem as cavidades nas vertentes. No Parque podemos destacar a cavidade Pedra da Boca, Pedra do Carneiro, Pedra da Caveira e Pedra da Santa. Nos vales estreitos, precipitam blocos das vertentes que dará origem a furnas. Para Guerra e Guerra (2009, p. 331) essa formação acontece “nas regiões onde afloram rochas eruptivas ou metamórficas, algumas vezes o amontoado irregular de blocos desmoronados dá aparecimento ao que chamamos de furnas, geralmente confundida pelos leigos com as cavernas propriamente ditas”. Este tipo de formação assemelha-se com as furnas de Agassiz na encosta do maciço da Tijuca, onde são formados por granitos e gnaisses que se acumularam uns sobre os outros. •Furna do Caçador – Está situada a Leste da Pedra da Boca e suas características são singulares como diversas entradas, direções e formas; •Pedra do Forno – É formado por um grande matacão sobre outro bloco rochoso, em seu interior desenvolveu-se um pequeno abrigo com 11 metros de extensão e 5 de profundidade; •Pedra da Boca – É um grande afloramento granítico que possui cerca de 335 metros de altura e nela existe uma cavidade localizada na porção leste do seu corpo rochoso (Fig. 3). Esta cavidade tem cerca de 92 metros de largura, 35 metros de profundidade e 52 metros de altura; •Pedra da Caveira – Esta cavidade chama atenção pelo fato de sua feição ser bastante semelhante a um crânio humano (Fig. 4) devido a ação constante do vento, da água e da oscilação térmica do corpo rochoso; •Pedra do Carneiro – Esse abrigo rochoso possui esse nome pelo fato da existência de animais (carneiros) utilizarem como abrigo durante as noites. Esse corpo rochoso tem uma dificuldade de escalada devido a sua declividade; •Pedra da Santa – No interior dessa cavidade foi construída uma capela com a imagem de Nossa Senhora de Fátima, onde uma vez por ano, um culto religioso é realizado atraindo muito fiéis de diversos lugares da Paraíba. Na Pedra da Santa podemos encontrar pinturas rupestres bastante degradadas devido aos agentes intempéricos.

FIGURA 1

Localização das Unidades de Conservação da Paraíba.

FIGURA 2

Mapa de localização do Município de Araruna.

FIGURA 3

Feição geomorfológica da Pedra da Boca.

FIGURA 4

Cavidade vista por esse ângulo semelhante a um crânio, denominado Pedra da Caveira.

Considerações Finais

Diante do que foi apresentado neste trabalho, a criação do Parque Estadual da Pedra da Boca tem por objetivo preservar o ambiente natural e impulsionar o turismo local de forma sustentável. Atualmente, alguns parques passam por problemáticas de infraestrutura e isso não passa a ser viável para garantir a preservação ou o manejo dos diversos ecossistemas que existem no local. Outro pressuposto que vale ressaltar são os estudos geomorfológicos que são de grande importância para as ciências que analisam e estudam o meio físico, podendo explicar as formas do relevo, descobrir sua gênese e compreender toda sua evolução através do tempo. A região tem atraído diversos pesquisadores e turistas do Brasil. Os afloramentos rochosos vislumbram principalmente os praticantes de esportes radicais, nesse caso, o rapel. Esses afloramentos estão interligados por trilhas e podem ser observados nos repousos das caminhadas, o que torna o local bastante apropriado para o lazer, mas isso apenas se concretiza se houver um manejo bem elaborado pelas autoridades competentes.

Agradecimentos

Referências

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