Autores

Oliveira, P.C.A. (UFU) ; Luz Netto, F.M. (UFU) ; Silva, K.C. (UFU)

Resumo

O patrimônio geomorfológico é definido nesse trabalho como as formas de relevo que podemos atribuir algum tipo de valor, e considerado como produto da geodiversidade, assim como o patrimônio geológico, mineralógico, paleontológico etc. O município de Coromandel em Minas Gerais é bastante conhecido pela abundância de cachoeiras e lagos, e por isso, no de 1997, foi certificado pelo Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR) com o selo de município com potencialidade para o Ecoturismo.A proposta aqui apresentada consiste na avaliação(inventariação e quantificação) do patrimônio geomorfológico, mais especificamente das cachoeiras, corredeiras e lagos, visto que, são as feições geomorfológicas que ocorrem em maior quantidade na área de estudo, bem como na apresentação de propostas de interpretação ambiental (valorização e divulgação)dos geomorfossítios selecionados.

Palavras chaves

PATRIMONIO GEOMORFOLOGIO; AVALIAÇÃO NUMÉRICA ; INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL

Introdução

O patrimônio geomorfológico é definido nesse trabalho como as formas de relevo que podemos atribuir algum tipo de valor, e considerado como produto da geodiversidade, assim como o patrimônio geológico, mineralógico, paleontológico etc., Ele também é afetado pela degradação decorrente principalmente da falta de conhecimento sobre a importância dos geomorfossítios. Serras, planaltos, planícies fluviais e rios são por vezes alterados/destruídos para a construção de empreendimentos como estradas, linhas férreas, pavimentação de ruas, barragens, expansão de áreas agricultáveis, dentre outros. Os geomorfossítios – termo utilizado como sinônimo de patrimônio geomorfológico - para Pereira (2006, p. 34), “são vistos como elementos da cultura e potenciadores de atividades ligadas à educação ambiental ou ao geoturismo”. Conferir um determinado tipo de valor ao patrimônio geomorfológico também é uma forma de planejamento e gestão do território, visto que as formas de uso e leis de proteção podem ser direcionadas de acordo com a utilização desse patrimônio. Cunha e Vieira (2004) consideram que, “se a riqueza do património geomorfológico potencia a procura, a fragilidade ambiental dos espaços em questão implica rigorosos cuidados de gestão de modo a não delapidar um património que não é só de agora”. A interpretação ambiental é outra grande ferramenta de auxílio na compreensão dos aspectos geológicos e geomorfológicos da paisagem, pois segundo Tilden (1957), é “uma atividade educativa que aspira revelar os significados e as relações existentes no ambiente, por meio de objetos originais, através de experimentos de primeira mão e meios ilustrativos, em vez de simplesmente comunicar informação literal” (TILDEN, 1957 apud MOREIRA, 2011, p, 23). Os princípios da interpretação resumem-se em provocar, introduzindo novas ideias, entendimentos e/ou discussões com os visitantes; relacionar experiências do dia a dia dos visitantes, usando analogias e revelar uma mensagem inesquecível para que o visitante se lembra da visita (OLIVEIRA, 2015). Vasconcellos (2006) afirma que a interpretação ambiental deve ser temática: pois tem uma mensagem a ser comunicada; organizada: não requer muito trabalho da audiência; pertinente: tem significado e é pessoal; amena: entretém. Os meios interpretativos podem ser classificados em personalizados, que são aqueles que englobam a interação entre o público e um guia ou intérprete, como trilhas guiadas, palestras, jogos, filmes, representação teatral, passeios em veículos não motorizados, dentre outros; e não-personalizados que são aqueles que não utilizam diretamente pessoas, apenas objetos e aparatos, como por exemplo sinalização e placas indicativas, painéis interpretativos, publicações (folhetos, guias, mapas), trilhas autoguiadas, etc. O município de Coromandel (Figura 1)está inserido no Circuito Turístico do Triângulo Mineiro, sendo bastante conhecido pela abundância de cachoeiras e lagos, e por isso, no de 1997, foi certificado pelo Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR) com o selo de município com potencialidade para o Ecoturismo (PREFEITURA DE COROMANDEL, 2012). A proposta aqui apresentada consiste na avaliação do patrimônio geomorfológico, mais especificamente das cachoeiras, corredeiras e lagos, visto que, são as feições geomorfológicas que ocorrem em maior quantidade na área de estudo, bem como na apresentação de propostas de valorização e divulgação dos geomorfossítios selecionados.

Material e métodos

A primeira etapa desse trabalho consistiu na inventariação, ou seja, na identificação e descrição dos potenciais geomorfossítios presentes no município de Coromandel, através de pesquisa bibliográfica e trabalhos de campo. Após a identificação desses sítios foi aplicada uma metodologia de quantificação, baseada nos estudos de Brilha (2005), Pereira (2006), Lima, (2008), Pereira (2010), Medina (2012); Bento (2013) e Oliveira (2015). Os critérios selecionados para análise foram o turístico (i) devido à potencialidade da área de estudo e o didático (ii), pois entende-se que é possível agregar ao potencial turístico dos geomorfossítios o conhecimento científico. No critério valor turístico foram analisados os seguintes parâmetros: a) Acessibilidade: esse critério indica o grau de dificuldade de acesso ao local; b) Aspecto estético: é relativo ao aspecto da beleza cênica do local, ressaltando que nesse critério a subjetividade dificulta o processo de avaliação; c) Associação com elementos culturais: indica se o local possui algum tipo de associação com elementos culturais, como por exemplo cultos religiosos; d) Condições de observação: esse critério abrange o grau de facilidade de observação do geomorfossítio, se existem obstáculos à observação ou se é facilmente observável; e) Estado de conservação: designa o grau de deterioração do geomorfossítio. No critério valor educativo foram analisados os parâmetros: a) Potencial didático: indica a possibilidade de realizar atividades didáticas, ilustrando elementos ou processos da geodiversidade; b) Diversidade: associação do geomorfossítios com outros tipos de elementos geomorfológicos, como por exemplo, presença de formação vegetal; animais, etc.; c) Variedade da geodiversidade: indica a quantidade de interesses e elementos da geodiversidade associados, como por exemplo solo, agua, rochas, relevo; Para cada parâmetro (Figura 2), optou-se por atribuir valores crescentes de 1 a 3, e para se chegar ao ranking final de classificação dos geomorfossítios, optou-se pela somatória dos valores atribuídos a cada parâmetro. Dessa forma quanto maior for o resultado da somatória, maior será o potencial do geomorfossítios. Definiu-se, então a seguinte classificação: geomorfossítios com valor final de 8 a 16 são considerados com baixo potencial; geomorfossítios com valor final de 17 a 19 são considerados com médio potencial; geomorfossítios com valor final de 20 a 24 são considerados com alto potencial. As propostas de valorização e divulgação serão elaboradas para os geomorfossítios que apresentarem um valor final de 17 a 24, ou seja, os locais que são considerados com médio e alto potencial turístico e didático. Identificados os geomorfossítios com médio e alto potencial turístico e didático, foram selecionadas as estratégias de valorização e divulgação mais adequadas a eles, buscando-se embasamento teórico em trabalhos já realizados com temáticas semelhantes, baseando-se fundamentalmente na afirmação de Pereira (p.18 s/d ), que diz que são três canais de comunicação direcionados para públicos-alvo distintos e utilizados com estratégia de difusão das geoformas: painéis interpretativos e roteiros de exploração do território; disponibilização de informações em ambiente digital (websites) e trabalhos científicos teóricos e práticos.

Resultado e discussão

Foram levantados seis geomorfossítios(Figura 3), entre corredeiras, lagos e cachoeiras, e após a quantificação somente o Poço Verde foi apto à receber as propostas de divulgação e valorização, que foram o guia de bolso dos geomorfossítios, o cartão postal e um painel informativo. Esperava-se chegar a um número maior de geomorfossítios selecionados, porém, ao analisarmos a matriz de quantificação, verificamos que apenas 35% dos geomorfossítios possuem uma boa acessibilidade e 50% possuem aspecto estético considerado relevante. Em contrapartida, apenas 14% dos geomorfossítios apresentam baixo potencial didático, concluindo então que o valor turístico sobressai sobre o valor didático. O Guia dos geomorfossítios de Coromandel foi baseado no Guia Geoturístico e Histórico de Santos e São Vicente e no folder de divulgação do município fornecido pela prefeitura. O guia foi elaborado em folha sulfite branca do formato A3 (297 × 420 cm), e dobrado ao meio e depois em quatro partes para virar um guia de bolso. O guia foi desenvolvido com objetivo de divulgar não só o Poço verde, mas também os outros atrativos do município de Coromandel. O material traz informações consideradas importantes sobre a formação geológica, geomorfológica e outros atrativos do município. O intuito é que ele esteja disponível nos órgãos públicos (prefeitura, casa da cultura, secretarias, etc.) e seja distribuído para as pessoas que por algum motivo O layout do cartão postal foi criado de acordo com os cartões simples distribuídos em pontos turísticos, bem como os cartões postais do Geopark de Hong Kong (Moreira, 2006, p.106). A impressão será em papel Couché 300 gramas, no formato A6 (10 x15 cm). O cartão postal do geomorfossítio Poço Verde traz além de fotos, informações sobre o município de Coromandel e sobre a formação do lago. A intenção é utilizar o mesmo modelo para outros atrativos naturais da cidade. O painel do Poço Verde é do tipo informativo e escolheu-se a mesa de leitura, com as dimensões:1,10 metros de largura por 1,40 metros de altura e inclinação de 60º para trás. Na área onde se localiza o Poço Verde existe uma pequena placa que está bastante degradada e contempla poucas informações sobre o lago. Sugere-se a implantação da placa informativa no mesmo local onde a placa degradada se encontra. Optou-se por manter algumas informações contidas na placa degradada (Figura 6) - profundidade, comprimento e largura- incluindo informações complementares sobre a possível formação do lago e a geologia local. Também foi escolhido um pequeno trecho de “Poço Verde” uma composição de Gerson Coutinho da Silva, mais conhecido como Goiá, que é natural de Coromandel, para ilustrar o painel.

Figura 1

lOCALIZAÇÃO DE COROMANDEL - MG

FIGURA 2

TABELA DE CRITÉRIOS/PARÂMETROS AVALIADOS

FIGURA 3

MATRIZ DE QUANTIFICAÇÃO

Considerações Finais

As unidades de conservação são locais muito apropriados para o desenvolvimento de pesquisas que valorizem a geodiversidade (patrimônio natural abiótico). O município de Coromandel tem grande potencial geoturístico, que pode ser amplamente utilizado para contemplação dos elementos da natureza (em especial a geodiversidade), seja para fins de lazer quanto para fins educativos, nas disciplinas de geografia, biologia, geologia, biogeografia, recursos naturais, entre outras, tanto no ensino básico, quanto no ensino técnico e superior. Entende-se que as estratégias de promoção do patrimônio geomorfológico aqui adotadas são importantes ferramentas para a compreensão e divulgação, no entanto precisam ser aprimoradas para que seus objetivos sejam amplamente alcançados.

Agradecimentos

A FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais) pelo apoio financeiro na participação do XV SINAGEO - Simpósio Nacional de Geomorfologia, e pela bolsa CNPQ/ Brasil n°150699/2015-8.

Referências

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LIMA, F. F. Proposta metodológica para a inventariação do patrimônio geológico brasileiro. 2008. 103 f. Dissertação (Mestrado em Patrimônio Geológico e Geoconservação). Escola de Ciências. Universidade do Minho. Portugal, 2008.

MEDINA, W.M. Propuesta Metodológica para el Inventario del Patrimonio Geológico de Argentina. 2006, 106f. Dissertação. (Mestrado em Património Geológico e Geoconservação). Universidade do Minho. Portugal, 2012. Disponível em < http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/22783 >. Acesso em: fev.2012.

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PEREIRA, P. J. da S. Patrimônio geomorfológico: conceptualização, avaliação e divulgação. Aplicação ao Parque Nacional de Montesinho. 2006, 395f. Tese. (Doutorado em Ciências – Geologia). Universidade do Minho. Portugal, 2006. Disponível em < http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/6736>. Acesso em: fev.2012.

PEREIRA, R. G. F. A. Geoconservação e desenvolvimento sustentável na Chapada Diamantina (Bahia - Brasil). 2010. 295 f. Tese (Doutoramento em Ciências) Universidade do Minho, Portugal, 2010.

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VASCONCELLOS, J.M.O Educação e interpretação ambiental em unidades de conservação. Cadernos de conservação, ano 04 nº 04. Dez. 2006.