Autores

Moura, P.E.F. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ) ; Alves, R.H.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ) ; Capistrano, F.R.B. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ) ; Maia, R.P. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ)

Resumo

Este trabalho tem como objetivo identificar e fazer uma caracterização geral do carste do município de Felipe Guerra, localizado no nordeste brasileiro. A metodologia incluiu inicialmente uma análise por sensores remotos em um ambiente SIG usando imagens SRTM e Quickbird. A análise evidenciou que o município de Felipe Guerra- RN possui amplos e extensos lajedos fraturados, campos de lapiás relacionados a diversas fases erosivas, assim como: dolinas de colapso, vales incisos e ravinas desenvolvidas a partir do alargamento dos planos de falhas.

Palavras chaves

carste ; sig ; alargamento

Introdução

O relevo cárstico é associado com rochas calcárias, podendo ser também se referir a paisagens com outros tipos de rochas similares, sendo carbonáticas ou não (Piló,2005). As formas cársticas destacam-se por seu modelado ruiniforme (Kohler,1995). Existem três domínios em sua morfologia, sendo eles: (Exorcaste) relacionado a superfície, (Epicarte) a subsuperfície e a (Endocarstica) em meio subterrâneo. Em sua maior parte, esses processos tem sua gênese no período quaternário. Há registros de feições pretéritas, onde suas feições paleocársticas que podem ter origem no período pré-cambriano (Auler et al..2005). Dessa forma, o objetivo desse trabalho é caracterizar o relevo desenvolvido nos carbonatos cretáceos da Bacia Potiguar e determinar a importância dos sistemas de falhas no condicionamento de feições cársticas, bem como suas implicações para a gênese de cavernas . A área de trabalho é a porção onshore da Bacia Potiguar, localizada no extremo nordeste brasileiro, nos Estados do Rio Grande do Norte e leste do Ceará, entre 35° e 38° de longitude oeste e 5°00 de latitude sul. A área de estudo encontra-se delimitada pela ocorrência dos carbonatos da Formação Jandaíra de idade Cretácea, sequência pós-rifte da Bacia Potiguar. Esta unidade litoestratigráfica possui até 700 m de espessura e extensa distribuição na bacia (CREMONI,1993).

Material e métodos

Os procedimentos metodológicos da pesquisa incluíram o levantamento bibliográfico, revisão de literatura e obtenção de uma base cartográfica através do IBGE. Foram utilizadas análises de informações geológicas e geomorfológicas em um ambiente SIG, a partir da relação da folha Jaguaribe/Natal (SB-24-X-D) de 15M disponível pela Embrapa e pelo Shuttle Radar Topographic Mission (SRTM) com dados e descrições estratigráficas da bacia Potiguar nordestina. O tratamento da imagens SRTM foram feitos pelos programas global mapper 16 e pelo programa ENVI 5.3, além de imagens de satélite com resolução de 15m (Imagem Landsat 8-ETM, no modo pancromático e sintético com modo espectral. Este trabalho contou com processamento digital adquiridos de Imagens do o Google Earth. O georreferenciamento das imagens foram feitos com o uso do software ARCGIS 9.1 para o mapeamento de detalhe do relevo cárstico.

Resultado e discussão

Os estudos sobre carste e seus conceitos, iniciaram a partir das feições derivadas do relevo e de processos de dissolução de rochas carbonáticas pela ação da água subterrânea, na qual predomina a ação do intemperismo químico, originando em abertura de cavidades subterrâneas (CECAV/ICMBIO, 2008; PILÓ, 2000; ROSSATO et al, 2003). Na região nordeste do Brasil, o fator climático favorece o desenvolvimento dessas feições com médias de 8 meses de estiagem e baixa umidade do ar. Além do clima, outros fatores são importantes na sua formação, uma vez que esse tipo de relevo é encontrando em apenas algumas áreas do nordeste, como na bacia potiguar onde estão localizados 91,5% de todas as cavidades do Rio grande Norte. Assim considera-se que as morfologias encontradas hoje no nível de superfície são indicadores paleoclimáticos e quando associado com outros indícios são dados considerados importantes para se compreender o ambiente e a evolução das paisagens cársticas. A área de estudo está localizada sobre o domínio semiárido (RADAM, BRASIL,1981), que caracteriza-se por altas temperaturas e chuvas escassas, concentradas nos primeiros 4 meses do ano. Através do sensoriamento remoto e de levantamentos bibliográficos verificou-se que a tectônica cretácea e cenozoica que atuou na área de estudo é representada por estruturas macro e mesoscópicas identificadas nas rochas da Formação Jandaíra (Maia, et al.,2012). O traçado das estruturas na área de pesquisa comporta se como enxames de lineamentos da ordem de metro a alguns quilômetros com importante potencial a formação de cavernas. O relevo é de origem cárstica, tendo sua área delimitada pela ocorrência de carbonatos da Formação Jandaíra de idade Cretácea, sendo caracterizada em diversas formas como: lapiás, dolinas, cavernas e estruturas ruiniformes, produzidas pela ação geológica da água subterrânea e superficial sobre rochas solúveis (calcários). Essas dolinas caracterizam-se por serem depressões fechadas, e comuns na região de estudo, geralmente elas são caracterizadas pelo abatimento e tem a configuração circular. Os Lapiás ou Karren, correspondem as caneluras gerados tanto na rocha exposta como sob pedimentos (Auler, et al., 2005). Mostrado na imagem 2. Segundo Gomes 2008, essa área possui diversos campos de lapiás, que correspondem a grandes superfícies recobertas por lapiesamento. O canalículo ocorre em forma de “V”, com comprimentos métricos e padrão retangular em paralelo ao intenso sistema de fraturamento existente na área. No domínio endocárstico, têm-se cavidades, cavernas ou canalículos de ondem de milímetros ou centímetros denominados protocavernas, a região de Felipe Guerra a morfologia desses condutos é controlada por uma hierarquia de influências, dentre as quais estão, principalmente, a hidrologia subterrânea, o grau de solubilidade da rocha e o seu padrão estrutural, visto na imagem 3. Segundo Kohler in Guerra e Cunha (1998), a evolução de um carste no tempo leva a sua dissolução total e absoluta. Trata-se de um processo dinâmico enquanto houver água e rocha. Assim a evolução de uma paisagem cárstica não é um fenômeno estático. O processo tem seu nascimento e desenvolvimento até alcançar a maturidade, quando entra em estado destrutivo até desaparecer.

figura 1:

: Mapa de localização da bacia potiguar, modelo digital de elevação SRTM e mapa geológico da Bacia. (Modificado de Angelim et al., 2006; Mohriak,2003)

figura 2:

Lajedo em Felipe Guerra, ( Fonte: MAIA, 2012 )

figura 3

Caverna do Urubu, (Fonte: COUTINHO, 2016).

Considerações Finais

No município de Felipe Guerra, conclui-se que a morfologia e erosão desse município são controlados por 2 eventos climáticos, onde a morfogênese física é oriunda do período de escassez de chuvas. A morfogênese química ocorre com maior intensidade no período de fevereiro a maio, onde se concentram a maior parte das chuvas na região, formando canais de drenagem através de águas meteóricas sobre o carbonatos. A área de estudo possui amplos e extensos lajedos fraturados, campos de lapiás relacionados lajedos fraturados em fases erosivas mais avançadas, dolinas de colapso, vales incisos e ravinas desenvolvidas a partir do alargamento dos planos de falhas.

Agradecimentos

Agradecimentos aos programas de financiamento de pesquisa de iniciação científica do CNPq e PIBIC-UFC que investe no desenvolvimento do estudo cujo este trabalho apresenta resultados prévios. Agradecemos aos colegas e integrantes do "Lageco" pelas discussões que culminaram neste trabalho.

Referências

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