Autores

Paciência, L.G.M. (INSTITUTO FEDERAL DO PIAUÍ / CAMPUS PIRIPIRI) ; Mendes, J.M. (INSTITUTO FEDERAL DO PIAUÍ / CAMPUS PIRIPIRI) ; Santos, F.A. (INSTITUTO FEDERAL DO PIAUÍ / CAMPUS PIRIPIRI) ; Aquino, C.M.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ)

Resumo

As Unidades de Conservação abrangem espaços cujos recursos naturais possuem grande relevância para proteção legal. Logo, foi essencial identificar e analisar as classes de declividade e fragilidade no Parque Nacional de Sete Cidades, situado no Nordeste do estado do Piauí. Para tal fim foram utilizados os Modelos Digitais de Elevação (MDE’s) aliados à metodologia proposta por Ross para análise empírica da fragilidade dos ambientes naturais e antropizados. Os MDE’s foram manuseados e refinados através do Sistema de Informação Geográfica (SIG) Quantum GIS (QGIS) versão 2.10.1. Os resultados apontaram que 83,9% da área estudada apresenta fragilidade morfológica muito baixa a baixa (0 a 12%), que aliado a solos jovens e concentração de chuvas em curto período de tempo fragiliza a área. Em 9,3% e 6,8% foram encontrados, respectivamente, relevo com fragilidade média e alta a muito alta, demandando atenção especial por possuírem relevo exposto e sujeito à ação das intempérie

Palavras chaves

Suscetibilidade; Unidade de Conservação; Geoprocessamento

Introdução

As Unidades de Conservação (UC’s) constituem espaços com recursos naturais que apresentam grande relevância para proteção legal. Nesse contexto, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) aponta que sua conservação deve compreender o manejo adequado, perpassando pela preservação, manutenção, utilização sustentável, restauração e recuperação do ambiente natural, cujos benefícios possam ser desfrutados pela geração atual e futura, sob bases sustentáveis (BRASIL, 2000). Diga-se, ainda, que o manejo adequado dos recursos naturais presente nas UC’s passa diretamente pelo conhecimento da dinâmica natural de sua paisagem. Diante disso, tornou-se de grande importância empreender estudo acerca da fragilidade quanto à declividade em áreas de proteção, a exemplo do Parque Nacional (PARNA) de Sete Cidades, localizado entre as cidades de Piracuruca e Brasileira, Nordeste do estado do Piauí. Nesse sentido, Ross (1994) afirma que a maior ou menor fragilidade ambiental dos ambienteis naturais está ligada às suas características genéticas, sendo que as atividades humanas têm influenciado diretamente o equilíbrio dinâmico nesses ambientes, através do desenvolvimento tecnológico, científico e econômico. Desse modo, a fragilidade morfológica foi estimada mediante a identificação das classes de declividade, essa conceituada como a inclinação do terreno em relação ao horizonte, desse modo em cartas topográficas observa-se que a distância entre as curvas de nível é inversamente proporcional à inclinação do relevo (GUERRA e GUERRA (2011). Os estudos abaixo apontam a importância do conhecimento da fragilidade morfológica em Unidades de Conservação. Maganhotto et al. (2011) em análise da fragilidade ambiental como suporte ao planejamento do ecoturismo em Unidades de Conservação: estudo de caso FLONA de Irati-PR, encontraram classes de declividade que varia de 0 a 30%. Os resultados do estudo apontam que em 88% da área predomina fragilidade muito baixa a baixa, ao passo que fragilidade alta foi encontrada em apenas 0,8% da área de estudo. Embora a unidade em estudo apresente predomínio das classes de muito baixa a baixa fragilidade, deve-se considerar importante os 0,8% de relevo com alta fragilidade, visando a conservação da FLONA. Ávila e Medeiros (2014) buscaram identificar as áreas mais susceptíveis à erosão na Estação Ecológica (ESEC) de Aiuaba. Seus resultados apontaram que as classes de declividade variaram de plano a montanhoso. A distribuição nas classes foi a seguinte: o relevo plano a suave ondulado (0 a 8%) foi encontrado em (58,2%) da área estudada, em 11,3% da ESEC o relevo foi classificado como de forte ondulado a montanhoso (20 a maior de 45%). Os autores afirmam que os 11,3% de relevo forte ondulado a montanhoso quando integrado a outros dados da paisagem relevam alta fragilidade ambiental na área. Através da análise da suscetibilidade e potencial á erosão laminar da Área de Preservação Ambiental (APA) das Nascentes do Rio Vermelho, Santos (2015) afirma que a área apresenta-se relativamente plana com declividades que variam entre 3 e 75%. Logo, declividades inferiores compreendem declives suaves com escoamento superficial lento ou médio, desse modo a erosão hídrica não oferece grandes problemas e práticas mais simples de conservação podem ser utilizadas. Nesse sentido, foram utilizados os Modelos Digitais de Elevação (MDE’s) para identificação das classes de fragilidade morfológica aliado à proposta metodológica de Ross (1994). Destaque-se que os MDE’s foram obtidos por meio da missão SRTM (Shuttle Radar Topographic Mission), que são distribuídos no site do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS - United States Geological Service).As imagens foram manuseadas e refinadas através do Sistema de Informação Geográfica (SIG) Quantum GIS (QGIS) versão 2.10.1 - Pisa. Nesse contexto, buscou-se identificar e analisar as classes de declividade e fragilidade no referido PARNA, a partir dos MDE’s.

Material e métodos

Procedimentos metodológicos Os Modelos Digitais de Elevação (MDE’s) foram utilizados para determinação das classes de declividade, obtidos a partir da missão SRTM (Shuttle Radar Topographic Mission), posto que os mesmos sejam distribuídos gratuitamente no site do USGS <http://earthexplorer.usgs.gov/>. Para Valeriano (2008), a elaboração de MDE’s está relacionada ao armazenamento de cotas altimétricas em arquivo digital composto por linhas e colunas. Nesse sentido, tendo como base os MDE’s foram determinadas as classes de declividade e fragilidade baseando-se na proposta metodológica de Ross (1994) que a classifica da seguinte forma: muito baixa (0 a 6%), baixa (6 a 12%), média (12 a 20%), alta (20 a 30%) e muito alta (>30%). Posteriormente, os dados foram manuseados e refinados no Sistema de Informação Geográfica (SIG) Quantum GIS (QGIS) versão 2.10.1 - Pisa. Localização e caracterização geoambiental O Parque Nacional (PARNA) de Sete Cidades foi criado pelo Decreto 50.744, de 08 de junho de 1961. A referida Unidade de Conservação (UC) é administrada pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio). A Portaria nº 126, de 14 de dezembro de 2010, criou seu Conselho Consultivo, que objetiva “[...] contribuir com ações voltadas à gestão participativa, implantação e implementação do Plano de Manejo desta Unidade, bem como ao cumprimento dos seus objetivos de criação”. O PARNA de Sete Cidades está localizado no Nordeste do estado do Piauí, entres os municípios de Brasileira e Piracuruca, mais precisamente às coordenadas geográficas 04º05'S e 04º15'S e 41º30'W e 41º45'W. O referido PARNA apresenta 6.221 ha de extensão, delimitado por um perímetro que compreende 36,2 km (BRASIL, 1979). A área de Sete Cidades assenta-se sobre a Formação Cabeças, que data da Era Paleozóica e Período Devoniano Médio e apresenta litologia com predomínio de arenitos, que apresentam cores claras. Seu relevo compreende chapadas com altitudes que variam de 60 a 250 m, além de uma sequência de superfícies estruturais pediplanas, predominando relevo de linhas suaves. As maiores altitudes são representadas por testemunhos e as superfícies mais baixas e/ou médias são cônicas e tabulares, representadas pelas serras regionais da Descoberta, Cochicho e Sambaíba (Idem, 1979). A temperatura estimada para o PARNA apresenta média de 26ºC, com amplitude anual de 2ºC a 4ºC, quanto ao nível de precipitação a média pluviométrica é 1.554 mm (Ibidem, 1979). De acordo com a Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais os solos na área são representados pelas seguintes associações: Plintossolo Pétrico Concrecionário, Neossolo Litólico Distrófico e Neossolo Quartzarênico Órtico (INDE, 2014). Esses solos são recobertos por vegetação do tipo cerrado com manchas de cerradão, campos abertos inundáveis, matas ciliares, caatinga e floresta decídua (BRASIL, 1979).

Resultado e discussão

As imagens SRTM aliadas à proposta metodológica de Ross (1994) permitiram identificar cinco classes de declividade e fragilidade no Parque Nacional de Sete Cidades. Pode-se constatar que a fragilidade de relevo da área variou de muito baixa (0 a 6%) a muito alta (>30%), conforme apresentado na Figura 1. Em Sete Cidades predomina relevo com fragilidade muito baixa a baixa (0 a 12%). Esta classe ocorre em 83,9% da área, ao passo que em 9,3% e 6,8% encontram-se, respectivamente, relevo com fragilidade média e alta a muito alta. Embora em 83,9% encontre-se relevo com declives suaves, deve-se considerar que são áreas com presença de afloramentos rochosos, couraça ferruginosa, de acordo com Santos e Pellerin (2006), e solos jovens e pouco desenvolvidos, a exemplo dos Neossolos Litólicos e Quartzarênicos. Esses fatores aliados à cobertura vegetal do tipo caatinga acentuam a fragilidade nesse tipo de relevo. Por outro lado, a fragilidade alta a muito alta distribuída em 6,8% da área está diretamente relacionado aos morros testemunhos, que correspondem às Serras da Descoberta (Figura 2), Cochicho e Sambaíba, que devido sua declividade encontram-se exposto e suscetível às intempéries naturais, que são responsáveis por sua modelação. Essa resulta em modelado ruiniforme chamado de monumento geológico e que possui grande beleza cênica. Os resultados encontrados são semelhantes aos de Maganhotto et al. (2011), que identificou que a FLONA de Irati (PR) apresenta 88% da área com predomínio de fragilidade muito baixa a baixa, e o estudo de Ávila e Medeiros (2014), que identificaram as áreas com relevo forte ondulado a montanhoso em 11,3% da ESEC de Aiuaba. Nesse sentido, é possível inferir que as Unidades de Conservação apresentam classes de fragilidade morfológica natural, sendo de suma importância seu conhecimento e integração a outros dados da dinâmica da paisagem para estimar de forma completa a vulnerabilidade nessas Unidades de de preservação/conservação.

Figura 1 - Declividade e Fragilidade do Parque Nacional de Sete Cidade

Mapa de declividade e fragilidade, com suas respectivas classes, conforme proposta metodológica de Ross (1994). Fonte: IBGE (2010); USGS (2015).

Figura 2 - Serra da Descoberta.

A Figura 2 corresponde à Serra da Descoberta, classificada como de alta fragilidade. Fonte: Santos (2014).

Considerações Finais

O uso de imagens SRTM aliadas à metodologia proposta em Ross (1994) mostrou-se satisfatório ao estudo da declividade e fragilidade no Parque Nacional de Sete Cidades. Foram identificadas cinco classes de fragilidade, que permitiram estimar que em 83,9% da área do Parque predomina relevo com fragilidade ambiental muito baixa a baixa (0 a 12%). Entretanto, é mister destacar que são áreas que quando aliado a exemplo dos solos jovens e as precipitações pluviométricas concentradas em curto período de tempo, tornando as áreas potencialmente frágeis. As áreas com fragilidade média estão distribuídas por 9,3% da área, enquanto a fragilidade alta a muito alta (20 a mais de 30%) ocupa 6,8% do PARNA. Ressalta-se que estas demandam atenção especial, posto serem com relevo exposto e sujeito à ação das intempéries naturais. Devido a facilidade na aquisição das imagens SRTM, bem como o manuseio destas através dos diversos SIG’s disponíveis, recomenda-se o emprego da metodologia aqui aplicada a outras Unidades de Conservação, sejam do Estado no Piauí ou mesmo em outros estados brasileiros, posto a eficiência da mesma no conhecimento da fragilidade morfológica em áreas de proteção, fundamental para ações de planejamento e ordenamento territorial.

Agradecimentos

Agradecemos ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI, pelo financiamento da pesquisa através do Edital nº 57/2015, referente ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - PIBIC/PIBIC-Jr.

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