Autores

Lima Amaral, L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) ; Silva de Faria, K.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) ; Soares Cherem, L.F. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS)

Resumo

As alterações causadas pelo rápido crescimento urbano são responsáveis por vários impactos ao meio físico, podendo, inclusive aumentar, significativamente, o risco ambiental. Neste estudo, é analisada a relação entre a urbanização no Setor Fonte Nova (Goiânia/GO) e a erosão acelerada no canal de primeira ordem que drena a área, que é definida como de baixo risco ambiental nos estudos da prefeitura municipal. Para tanto, foram mapeados a cobertura do solo e os limites da feição erosiva para os anos de 1984, 1992, 2002, 2006 e 2015. Os mapas foram comparados e a evolução temporal dessa feição erosiva foi avaliada. Os resultados mostram que o indutor da erosão nesse canal não foi estritamente a urbanização iniciada na década de 1980. A erosão teve início em 2008, logo após a conexão do sistema de drenagem pluvial urbana a drenagem fluvial, aumentando o risco ambiental de uma bacia hidrográfica.

Palavras chaves

Crescimento urbano; processo erosivo; análise temporal

Introdução

A urbanização condiciona uma intensa modificação no meio físico, tendo uma forte influência nos danos ambientais que acontecem nas cidades. No Brasil, esse processo ocorre de forma acelerada, em 1980 cerca de 67,7% da população residia em área urbana, já em 2010 a população urbana atingiu 84,4%(IBGE, 2016). Os desdobramentos desse processo têm forte impacto nos recursos hídricos, pois altera a distribuição ao longo do ano e altera parâmetros físico-químicos que definem a qualidade da água. Em eventos intensos ou persistentes de chuvas, a área da bacia impermeabilizada em decorrencia da urbanização, favorece o escoamento superficial da água, intensificando e concentrando o fluxo nos canais. Nessa situação, o aumento de energia inicia o processo de erosão por solapamento de borda e causa a incisão do mesmo (TUCCI & COLLISCHONN, 1988). Esta situação foi observada em um canal de primeira ordem, localizado no setor Finsocial, no município de Goiânia. A cidade de Goiânia, capital do estado de Goiás, uma das capitais brasileiras planejadas, teve o crescimento populacional rápido com grande desenvolvimento de loteamentos periféricos. Nesse sentido, Goiânia, possui um histórico de desenvolvimento de processos erosivos acelerados, correlatos a ocupação desordenada, impactando a drenagem urbana (SOARES NETO & FARIA, 2014). Na região noroeste de Goiânia, existe uma pequena bacia hidrográfica que passou por um intenso processo de ocupação a partir de 2006 e que exibe uma feição erosiva na calha de seu canal contemporânea a intensificação da ocupação de 2006. Assim, esse trabalho objetiva analisar a relação entre erosão e ocupação urbana periférica, no canal de primeira ordem, situado no setor Fonte Nova (Figura 1). Essa análise é feita por meio da classificação de uma série temporal da cobertura do solo para 1984, 1992, 2002, 2006 e 2015 e sua comparação com o mapeamento de uma feição erosiva localizada no canal fluvial que drena a área para os mesmos anos. Esse trabalho se justifica por a bacia ter sido classificada em 2008 como área de baixo risco a processos erosivos (ITCO, 2008) e ainda em 2008 a erosão do canal ter se iniciado e intensificado em 2011.

Material e métodos

O canal degradado estudado é um canal de primeira ordem, afluente do córrego Caveirinha. Está situado no Setor Finsocial, na região Noroeste do município de Goiânia (Figura 1). Com a finalidade de realizar uma analise temporal, foi realizado o mapeamento de uso e cobertura do solo, de acordo com a interpretação de imagens Landsat 5 para os anos de 1984, 1992, 2002 e 2006 e landsat 8 para o ano de 2015. As imagens foram obtidas no site da USGS. Para as imagens landsat 5 foi utilizado composição RGB 543, e para landsat 8 RGB 654. Para produzir o mapa de uso e ocupação, foram estabelecidos seis classes: água, vegetação, solo exposto, área não urbanizada, área parcialmente urbanizada e área totalmente urbanizada. Para delimitação da área do canal em cada ano, foi realizada a vetorização do mesmo, para todos os anos com usou do solo classificados, utilizando ortofotos de alta resolução espacial. A cobertura do uso do solo foi comparada à evolução do processo erosivo e a relação de causa e consequência foi avaliada.

Resultado e discussão

Em 1984 a bacia hidrográfica apresentou baixa densidade de ocupação, quando a área densamente urbanizada se encontrava na porção centro-oeste da bacia, ocupando apenas 19% da área total. Nesse ano, o canal apresentava suas características naturais preservadas. Em 1992, poucas mudanças foram observadas. A aréa densamente urbanizada sofreu um crescimento de cerca de 1%, enquanto que a área parcialmente urbanizada não sofreu nenhum crescimento. As características do canal permaneceram inalteradas. No ano de 2002, a área urbanizada representou 22% da bacia. Já a área parcialmente urbanizada apresentou um crescimento significativo, ocupando 43% bacia, substituíndo as áreas não ocupadas e de vegetação. O canal de drenagem permaneceu com as características naturais. Em 2006, a área urbanizada permaneceu igual a 2002, enquanto que a área parcialmente urbanizada se expandiu em direção ao sul da bacia, ocupando 55% da área. Em 2006, percebe-se o início da incisão fluvial, que, de acordo com a delimitação realizada, a feição erosiva apresentou uma área de 2.392 m². Já em 2015, a área urbanizada correspondia a 70% da bacia, ocupando áreas que em 2006 estavam parcialmente urbanizadas, enquanto que as áreas parcialmente urbanizadas foram reduzidas para 13%. A degradação do canal foi intensificada e a feição erosiva apresentou uma área de 9.352 m² (Figura 2). Em 2002,o canal conservava suas características originais, quando seu entorno começa a ser ocupado. Em 2006, com a intensificação da ocupação e o asfaltamento das vias, a impermeabilização aumenta exponencialmente. Após essa impermeabilização da área, em 2008, foi construída a rede de drenagem urbana pluvial conectada ao canal, quando teve início o processo de incisão fluvial e solapamento das margens do canal. Dessa maneira, a mudança da dinâmica do escoamento superficial e infiltração na bacia foi alterada e com a redução da área de infiltração, aumentou-se o volume de água para o escoamento superficial que chega ao canal fluvial, o que foi agravado devido a drenagem pluvial ter sido diretamente conecta a drenagem fluvial. Em campo, constatou-se que as águas pluviais do sistema de drenagem urbana foram conectadas a rede fluvial sem nenhum tipo de medida que visasse reduzir a energia cinética ou dissipar a água. Nisso, a manilha onde é feita essa conexão foi o indutor do processo erosivo, além de ter sido responsável por sua retroalimentação, já que não foram adotadas medidas corretivas até a última data analisada. Essa situação evidencia que a implementação de algumas obras de engenharias que objetivam melhorar o sistema de drenagem urbana podem induzir novos riscos ambientais, antes inexistentes na área, fazendo com que uma área de baixo risco a ocorrência de processos erosivos desenvolvesse uma grande feição em menos de 10 anos. Nisto a geomorfologia urbana visa aperfeiçoar a utilização dos espaços adaptado as limitações do relevo, que é de grande relevância para o planejamento urbano (GUERRA & MARÇAL, 2006).

Figura 1

Localização da área de estudo.

Figura 2

Série histórica do mapeamento de uso e cobertura

Considerações Finais

Os resultados obtidos demonstram que a implementação de obras de engenharia em sistemas de drenagem urbana deve levar em conta características das áreas onde são implantadas, já que, se feitas sem levar em conta as características geomorfológicas da bacia, novos riscos ambientais podem ser gerados. Os resultados indicam, ainda, que mapeamentos que visem classificar o risco a desenvolvimento de processos erosivos, especialmente em áreas urbanas periféricas, devem considerar fatores políticos para rebaixar a nota de áreas inicialmente classificadas de baixo e médio riscos.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao CNPq pela bolsa de PIBIC recebida pela primeira autora durante o desenvolvimento desse trabalho.

Referências

IBGE- Intistituto Brasileiro de Geografia e estatística. 2016. Disponível em: <http://7a12.ibge.gov.br/vamos-conhecer-o-brasil/nosso-povo/caracteristicas-da-populacao.html>. Acesso em: 28 de fevereiro de 2016.

ITCO – Instituto de desenvolvimento tecnológico do centro oeste. Revisão e Detalhamento da Carta de Risco de Goiânia (Mapa Geral). Prefeitura Municipal de Goiânia: Goiânia. 2008.

Guerra, A. J. T. & Marçal, M. S. (2006). Geomorfologia Ambiental. Bertrand Brasil: Rio de Janeiro, 192 p.

Soares Neto, G.B.; Faria, K.M.S.; Geomorfometria e planejamento urbano: Padrões de vertentes para ocorrência de erosões urbanas no município de Goiânia/GO. REVISTA GEONORTE, Edição Especial 4, V.10, N.1, p.458-462, 2014.

Tucci,C.E.M.; Collischonn, W.; Drenagem urbana e controle de erosão. VI Simpósio nacional de controle da erosão. 1998, Presidente Prudente, São Paulo.