Autores

Araujo Alves, V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DA BAHIA) ; Hoffmann Costa, D. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DA BAHIA) ; Reis Alves, R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DA BAHIA)

Resumo

Esta pesquisa tem como objetivo diagnosticar processos erosivos em uma área localizada no extremo sudoeste do estado de Tocantins, na divisa com estado da Bahia, além de elucidar quais são os principais fatores que desencadeiam as ações erosivas, realizando uma análise espaço temporal da evolução das erosões com o intuito de observar a taxa de evolução dos processos e examinar se há tendências evolutivas ou de estabilização. Foram utilizadas imagens orbitais TM/LANDSAT 5 e 8 com processamento digital pelo Software ArcGis 9.3 para identificar e catalogar as voçorocas existente na área de pesquisa, bem como a técnica de monitoramento de erosão dos solos por meio de pinos. Os resultados demostram uma área com grande fragilidade a processos erosivos onde predomina o arenito friável da formação Posse, e intensificado pela ocupação de grandes áreas agricultáveis.

Palavras chaves

Erosão dos solos; Monitoramento; SIG

Introdução

Os Processos erosivos são eventos naturais que fazem parte do processo de modelagem do relevo, e que há bilhões de anos atuam sobre a superfície do planeta. Tais processos ocorrem demasiadamente em três etapas: erosão, transporte e sedimentação, sendo responsável pela dinâmica dos solos e consequentemente, da gênese de rochas sedimentares. Entretanto, as atividades antrópicas são capazes de iniciar e intensificar os processos erosivos, gerando impactos negativos em diversos ambientes, modificando a paisagem, desde a diminuição da quantidade de solos disponíveis para a agricultura e outros usos, até o assoreamento intensificado de canais fluviais. O baixo indicie de planejamento para ocupação do solo faz com que o homem assuma o papel de “catalisador” no que diz respeito ao surgimento e desenvolvimento de processos erosivos. Guerra (1999), afirma que as erosões tendem a acelerar à medida que mais terras são desmatadas para a exploração de madeira e/ou produção agrícola. Desta forma, a abertura de fronteiras agrícolas no Oeste da Bahia/Estremo Sudoeste do Tocantins na década de 1970, trouxe serias preocupações ambientais. Os cerrados baianos, áreas já consolidadas, alcançou um destaque no cenário nacional na produção e exportação de commodities agrícolas. O agronegócio de fato tem a sua parcela de contribuição para o desenvolvimento regional, com destaque para a geração de empregos e renda em toda cadeia produtiva deste setor e em outros setores econômicos. Segundo Ferreira (2012), o mapeamento geomorfológico torna-se necessário na identificação e análise das feições e estruturas do relevo. Nesse sentindo, surge a importância do Sensoriamento Remoto como resposta técnica à necessidade de se conhecer o território, por meio da obtenção de imagens orbitais. Com o avanço tecnológico inicia-se a utilização de uma nova ferramenta, Drone, proporcionando maior detalhe e precisão nas pesquisas, bem como praticidade durante a obtenção de imagens aéreas. Esta pesquisa tem por objetivo identificar os pontos de ocorrência de voçorocas na escarpa da Serra Geral do Tocantins, na divisa com a Estação Ecológica Serra Geral de Tocantins (EESGT), fazendo a distinção entre eventos antrópicos e naturais, e acompanhando o processo evolutivo de voçorocas, através de técnicas de geoprocessamento com imagens LANDSAT 8 e LANDSAT 5 bem como atestar a eficiência do uso de Drone no monitoramento e avaliação dos processos erosivos. De acordo com Valadão (2009), para entender os processos de gênese do relevo no território brasileiro, é necessário destacar as diferentes superfícies de aplainamento, formadas a partir de uma junção de eventos tectônicos. O autor utilizou áreas do Cráton do São Francisco como referência, destacando que a partir da individualização da Placa Sul- Americana e abertura do Oceano Atlântico Sul, um novo ritmo de erosão e deposição natural passou a ocorrer, de maneira que solos e rochas passaram a ser erodidos na área central da placa. É possível destacar três amplas superfícies de aplainamento diferentes na placa da América do Sul: Superfície Sul-Americana, Superfície Sul-Americana I e Superfície Sul-Americana II. A área se se encontra na Superfície Sul-Americana, que correspondem às regiões de rochas sedimentares de idades do Cretáceo, e que vem passando por processos erosivos desde a individualização da Placa Sul-Americana. A área de estudo está localizada no extremo sudoeste do estado de Tocantins, na divisa com o estado da Bahia, na borda sudoeste da Estação Ecológica da Serra Geral do Tocantins. A litologia da área é composta basicamente por rochas sedimentares de idade paleozoica e mesozoica, que fazem parte da Bacia Sedimentar do São Francisco e da Bacia Sedimentar do Parnaíba. Os solos são predominantemente autóctones, classificados como Latossolos ou Neossolos Quartzarênicos, que se formam em regiões de relevo plano, com escarpas de transição entre as Chapadas e os Planaltos em Patamares.

Material e métodos

A metodologia aplicada nessa pesquisa iniciou com levantamento do referencial teórico para o desenvolvimento de um arcabouço teórico- metodológico que versam sobre temática, com a aquisição de imagens orbitais gratuitas TM/LANDSAT 8 , adquirida no Serviço de Levantamento Geológico Americano (USGS, 2015), com resolução espacial de 30 metros, sendo a banda 8 pancromática com resolução de 15 metros. Posteriormente ocorreu a etapa de trabalho de campo desenvolvendo uma logística de monitoramento evolutivo de processos erosivos lineares. A primeira etapa do monitoramento ocorreu entre Novembro/2015 a Janeiro/2016, o monitoramento completo ira ocorrer no período após o final do período de chuva de 2015/2016. Os eventos erosivos foram descritos e catalogado e posterior deu-se inicio a instalação dos pinos, seguindo a metodologia proposta por Guerra (2005), os pinos foram fixados em posições onde se concentra o fluxo superficial, cuja distancia foi de aproximadamente 7 metros das voçorocas obtendo variáveis de acordo a geometria, são monitoradas nove voçorocas. Para caracterização de maiores detalhamentos dos eventos erosivos foram utilizadas imagens de Drone, possibilitando melhor resolução espacial dos eventos. Com o intuito de obter um acompanhamento evolutivo dos processos erosivos através de imagens orbitais TM/LANDSAT 5 e 8 (INPE e USGS) fez se necessário o processamento digital condicionando o ano inicial dos processos erosivos, por meio do Software ArcGis no Laboratório de Geoprocessamento da Universidade Federal do Oeste da Bahia – UFOB.

Resultado e discussão

Na região da área de pesquisa houve a inversão entre os ciclos de deposição e erosão no final do Cretáceo. Com a evolução do tempo geológico, e predomínio da erosão no local, as Chapadas Ocidentais do São Francisco/Tocantins vêm sendo afetadas por este fenômeno, deixando como evidência morros residuais na paisagem, além de movimentos de massas em locais preservados, como no caso no parque Estadual do Jalapão, bem como pela intensa ação antrópica (Figura 1). Foi possível verificar diante do estudo realizado com imagens orbitais LANDSAT 5 desde 1985, a ocorrência de algumas voçorocas antes da ocupação do Cerrado pelo agronegócio, admitindo um processo natural que modela o relevo, demostrando também a fragilidade da área a processos erosivos. A partir do momento que o Cerrado foi modificado por áreas agricultáveis, observa-se um aumento progressivo das voçorocas na região. Isso devido o desmatamento e construção de estradas que servem como condutoras de água para a área das escarpas, aumentando as possibilidades de ocorrência de erosão (Figura 2). Devido às características dos sedimentos gerados pelas voçorocas e das rochas contidas nas mesmas, a litologia pode ser confirmada como arenito da Formação Posse, que é a base do grupo Urucuia, cuja unidade geológica teve sua deposição em ambiente desértico, e hoje apresenta-se bastante friável em seus afloramentos. Esta fragilidade provoca intensa perda de solo e deposição em canais fluviais, gerando impactos negativos de cunho ambiental, econômico e social. A técnica de instalações de pinos utilizada neste estudo possui resultados em curto prazo, identificando o auge dos processos que ocorrem no período chuvoso (Gráfico 1). As voçorocas ocorrem situadas ao longo da escarpa da Serra onde possui maior concentração de escoamento superficial. No intervalo de aproximadamente 3 meses após a instalação dos pinos o índice pluviométrico da área foi elevado, constatando nesse intervalo o avanço de algumas voçorocas com desmoronamento de suas paredes e deposição de sedimentos. Foi constatada uma maior taxa de erosão nas voçorocas V3, V4, V7 e V9, ficando nítida que lugares que apresenta escoamento concentrado obtiveram-se maior erosão. Mesmo com baixa declividade do terreno, mas com pouca cobertura vegetal, permite o aumento das erosões em direção à borda das voçorocas. As voçorocas V5 e V6 mantiveram estabilidade na taxa de erosão, devido contenções de fluxos preferenciais de água em direção as voçorocas, cujo intuito foi amenizar os processos erosivos principalmente na estação chuvosa quando ocorre maior desequilíbrio, pelo grande volume de água que escoa no sistema. A cobertura vegetal bem desenvolvida do cerrado serve de barreira diminuindo a energia do escoamento superficial e concentrado, proporcionando um menor efeito erosivo, tais características condicionam as voçorocas V1 e V8 que obteve menor taxa de evolução e V2 que apresentou a sedimentação do pino, devido ao transporte de sedimentos ocasionando uma regressão. Por meio das imagens TM/LANDSAT 5 e 8 com composição multiespectral e a banda 8 pancromática foi possível identificar e catalogar as voçorocas. As Voçorocas V7, V8 e V9 tiveram a sua origem antes do ano de 1985, o que comprova o potencial natural para ocorrência de erosão. Entretanto, houve eventos iniciados após esta data indicando que o potencial natural foi acelerado pelo manejo impróprio das atividades agrícolas na área da chapada, o que pode ter sido ainda mais potencializado por eventos de maior intensidade de chuva (Figura 3). As Voçorocas V1, V6 e V8 são caracterizadas de cabeceira e as V2, V3, V4, V5, V7 e V9 sendo origem de topo da escarpa apresentando fluxo superficial que aumenta o crescimento das bordas. As voçorocas de cabeceiras são que possuem conexão com a rede de drenagem, seja diretamente por fluxos superficiais ou indiretamente, através de fluxos sub superficiais, que ocorrem nos lineamentos das fraturas geológicas. Ou seja, os setores de cabeceiras de drenagem são muito instáveis, portanto, suscetíveis à erosão.

Figura 1

A) Processo de erosão natural, morros residuais (seta vermelha) e a erosão natural na escarpa (seta preta). B) erosão antrópica na escarpa.

Figura 2

(A e B) Imagens de Drone das Voçorocas.

Gráfico 1

Medidas obtidas com o monitoramento feito com os pinos no período de 7 e 8 de novembro de 2015 a 28,29 e 30 de Janeiro de 2016 (período chuvoso).

Figura 3

Mapa de ocorrência das voçorocas

Considerações Finais

Com os resultados é possível acompanhar os processos erosivos, desde o início da ocupação do cerrado, identificando principalmente voçorocas iniciadas de modo natural pela própria dinâmica de modelagem do relevo. Entretanto esta fragilidade natural à erosão pode ser aumentada ou transformada em fato a partir da ocupação intensa pela agricultura. A Analise das voçorocas através do monitoramento com os pinos possibilitou resultado satisfatório na pesquisa, visto que foi possível acompanhar os processos erosivos que estão condicionado ao escoamento superficial e concentrado. Algumas voçorocas tiveram a sua gênese antes da ocupação intensa pela agricultura, identificando nesses setores locais que apresentam maiores fragilidades naturais, como nas cabeceiras de drenagem (lineamento das fraturas geológicas), onde ocorre à formação Posse e onde os índices pluviométricos são maiores em função da morfologia do terreno.

Agradecimentos

Ao ICMBIO(Instituto Chico Mendes de Convervacao da Biodiversidade, a Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB).

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