Autores

Farias, T.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA) ; Oliveira, H.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA) ; Romano, M.P.C.G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA) ; Souza, J.O.P. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA)

Resumo

As pesquisas relacionadas à fragilidade ambiental têm cada vez mais significância nos estudos de análise ambiental, os quais são importante ferramenta ao planejamento, com finalidade de identificar áreas vulneráveis à ocupação e ao desenvolvimento de atividades humanas. O presente artigo tem como objetivo analisar as áreas suscetíveis a mudanças diante as intervenções na Bacia do Riacho do Saco em Pernambuco. Para a realização deste trabalho foi utilizada a metodologia desenvolvida por Crepani et al (1996), baseada em Ross (1994), com adaptações feitas para as particularidades dos elementos da paisagem semiárida, gerando o mapa de fragilidade. Dessa forma, encontraram-se valores de fragilidade ambiental entre 3 a 4 ao norte e 2 a 3 no sul da bacia. Esses valores correspondem à influência da declividade, sendo a parte norte mais íngreme e a parte sul mais plana, refletindo nos valores da fragilidade.Assim, a bacia possui um quadro de pouca fragilidade mediante a metodologia utilizada.

Palavras chaves

Fragilidade Ambiental; Análise Ambiental; Semiárido

Introdução

Estudos voltados à fragilidade ambiental a partir da abordagem sistêmica têm ganhado cada vez mais relevância, vista a necessidade de análise dos avanços dos impactos ambientais causados principalmente por atividade humana, além da aplicação de métodos a fim de amenizar os impactos gerados. Os trabalhos de perspectiva geossistêmica do cenário acadêmico atual têm trabalhado enfaticamente na produção de informação relacionada aos elementos vulneráveis da paisagem e propriamente ligados ao sistema ambiental físico. Os conceitos de susceptibilidade, vulnerabilidade e fragilidade ambiental são dessa forma, destinados as análises de estudos geoambientais, que corroboram para a compreensão dos sistemas ambientais físicos e otimizam os manejos de danos, construindo os planos de gestão. O presente artigo tem como objetivo gerar um mapa de fragilidade ambiental, bem como citar outras práticas voltadas para o planejamento por meio dos estudos ambientais,como os métodos de análises gerados a partir da vulnerabilidade, susceptibilidade, ou sensitividade. Com base nos mapas temáticos criados referentes à região rural do município de Santa Cruz da Baixa Verde localizado na microrregião do Vale do Pajeú, no estado de Pernambuco. As metodologias utilizadas na coleta de dados em campo se basearam no princípio da análise integrada dos elementos da paisagem, utilizando de abordagem holística para a análise dos fenômenos naturais e efeitos da ação antrópica, construindo então as unidades de paisagem. Assim sendo, o princípio básico para a compreensão da complexidade da natureza é estabelecido como o de análise de sistemas ambientais físicos, o que fortalece a perspectiva de análise integrada da forma que demonstra as inter-relações e retroalimentações entre os sistemas e suas especificidades. A metodologia de análise dos elementos da paisagem pela teoria de sistemas foi introduzida na ciência geográfica por Sotchava (1977) e por ela foi observado o funcionamento das paisagens por esse trabalho contempladas.

Material e métodos

A área de estudo (Figura1) compreende a bacia hidrográfica do riacho do saco, localizada alto Pajeú, Sertão Central Pernambucano, inserida em partes na depressão sertaneja pernambucana. A área da bacia contempla as cidades de Serra Talhada, Santa Cruz da Baixa Verde, e um pequeno pedaço de Triunfo e Manaíra. A vegetação da Bacia é diretamente influenciada pela declividade do relevo, acima de 900m de altitude a vegetação encontrada é do tipo floresta subcaducifólia, entre 900 a 700m a vegetação é de transição, já a caatinga é encontrada abaixo dos 700 metros (SOUZA, 2014). No quesito clima, o que ocorre é que de forma gradativa a deficiência hídrica é maior de acordo com a queda de altitude, dos 1118 m até os 409 m, além do fato de que a sequidão aumenta no mesmo sentido. Baseada nas metodologias de Ross (1994) e Crepani et al (1996), foi utilizada a análise de fragilidade ambiental partindo de princípios e interpretações diferentes dos dados anteriormente adquiridos. São examinadas e enumeradas as características fundamentais para a análise da fragilidade ambiental com base nos dois métodos e sua adaptação às características observadas, de forma que estabelecidos grau mínimo e máximo de suscetibilidade a danos ambientais, de 1 a 5, sendo possível a criação de mapas temáticos referentes à fragilidade, e calculada a média dos valores para a identificação da fragilidade ambiental da bacia. Os elementos destacados nesse processo são: A cobertura da terra, a qual engloba o uso da terra e a presença e os diferentes tipos e tamanhos de vegetação. As áreas com presença de Caatinga ou vegetação de transição conservada receberam valor 1 nas classes de fragilidade, as florestas subcaducifólia e a vegetação degradas receberam valor 3 de fragilidade, a caatinga degradada valor 4 e, por ultimo, as áreas de uso agrícola misto obtiveram o valor 5. O clima, referente ao regime pluviométrico. A quantidade de precipitação indicará maior ou menor pressão frente os elementos da paisagem, influenciando nos processos e na dinâmica erosiva. Para a área de estudo foram encontrados três diferentes tipos de clima mediante ao regime pluviométrico, o da região de Serra Talhada, com médias pluviométricas entre 600 mm/ano, o qual recebeu valor 5 de fragilidade, o da região de Santa Cruz da Baixa Verde, com médias de 950 mm/ano, recebendo valor 4 e, por ultimo, o da região de Triunfo, que possui médias superiores a 1200 mm/ano, recebendo valor 3 de fragilidade. A litologia, relacionada à fragilidade da rocha matriz em questão; o solo, de acordo com a resistência dos solos aos processos erosivos conforme as suas características físicas. Para a área de estudo a litologia permaneceu constante em toda a bacia. Em relação à pedologia, foi avaliada a sua resistência aos processos erosivos de acordo com as suas classificações e características. Os afloramentos rochosos foram classificados como nível 1 de fragilidade, os argissolos e luvissolos como nível 3, já os cambissolos e planossolos nível 4 e, por último os neossolos flúvicos, litólicos e os gleissolos foram classificados como nível 5. O relevo, referente ao grau de declividade e consequente impacto gravitacional nos processos erosivos. Sendo dividido pela classe de declividade, onde as menores declividades receberam valor 1 e as áreas com maior declividade receberam valor 5. Após a classificação e o tratamento, os dados no formato shapefile foram convertidos para o formato raster, através do programa ArcGis 10.2, com base na classificação da fragilidade de cada um dos elementos analisados, posteriormente cada raster de fragilidade dos elementos foram interpolados por meio da álgebra de mapas que consistiu na soma entre os valores obtidos dos rasters de fragilidade de cada um dos elementos e, posteriormente, foi feita uma média aritmética dos elementos analisados, o qual, como produto final, foi gerado mapa de fragilidade ambiental da área.

Resultado e discussão

A partir da aplicação da metodologia selecionada de Ross (1994) e Crepani et al (1996), com algumas adaptações advindas das condições fisiográficas regionais da área de estudo, já que se trata de uma área com variações climáticas predominantemente semiárida à árida. O clima da área está em íntima relação com a dissecação do relevo do terreno como um todo. O relevo tem sua altitude variando de 409 metros a 1.118 metros acima do nível do mar. É claro que esse tipo de ondulação do terreno provoca comportamento de precipitação orográfica, bem como transforma os pontos mais altos da área de estudo em brejos de altitude, onde as temperaturas são mais amenas, e a ocorrência de chuvas é mais presente. (SOUZA, 2014). Nessas áreas, a fragilidade foi classificada como 3, pelo fato da ocorrência de chuvas ser mais presente ao longo do ano. À medida que a altitude diminui a pluviosidade média também diminui. Nas áreas de transição, a fragilidade do clima foi classificada como 4 e nas áreas de menor altitude como 5, esses valores foram atribuídos pelo fato da irregularidade das chuvas ao longo do ano e pela intensidade, que ocorre de maneira concentrada. A estrutura litológica da bacia tem sua mineralogia baseada em quartzo e feldspato/plagioclásio, são rochas de intrusão sienítica além de algumas rochas metamórficas, são litoestratigrafias resistentes de estrutura rígida, que demandam fragilidades baixas, pelo fato da geologia ser padrão em toda a área, os valores de fragilidade foram desconsiderados. Os solos mais presentes da bacia são respectivamente Neossolo Litólico, Cambissolo Háplico e Argissolo vermelho-amarelo. O Neossolo Litólico, que é o mais presente da área, é caracterizado por estar presente em áreas de relevo com maior declividade e que tem seu desenvolvimento comprometido, se apresentando sempre com estratigrafia delgada, além de serem facilmente desfragmentados, sendo assim atribuído valor 5 de fragilidade. Os Cambissolos são solos caracterizados por estarem localizados em áreas de transição baixa e relevo plano. São solos com pouca profundidade e textura de média a fina, além de apresentar cascalho e pedregulhos na superfície, é um solo bom para o desenvolvimento de plantas, principalmente de caráter florestal, por suas características, foram classificados como nível 4 de fragilidade. E o Argissolo Vermelho-Amarelo, que são solos com textura de arenosa a média, horizontes de transição abrupta e visível. São solos que dependem majoritariamente da rocha de origem para se desenvolver. São solos que foram classificados como fragilidade 3. Após a interpolação dos dados, os valores referentes à fragilidade da bacia ficaram distribuídas em valores medianos de 3 a 4 no norte da bacia e 2 a 3 no sul da bacia (Figura 2). Esse fato deve-se principalmente a influência da declividade,as áreas situadas ao norte caracterizam-se por serem mais dissecadas ao norte, justamente onde a altitude atinge 1118m, potencializando a ação erosiva na paisagem. Já na porção sul da bacia, o relevo caracteriza-se por ser mais plano, e dessa forma a fragilidade vai de mínima, de valor 2,até pouco frágil, de valor 3,visto pelo fato de que a declividade é um elemento condicionante da erosão devido à fragilidade inerente ao sistema encosta. Desse modo, a bacia está em situação de pouca fragilidade de acordo com a metodologia utilizada. Além da declividade, a fragilidade responde diretamente ao uso do solo, visto que as áreas ao norte apresentam um clima com menor déficit hídrico e solo mais espesso, sendo, assim, mais adequadas para a agricultura. A resposta disto é visível na baixíssima cobertura de vegetação nativa no norte da bacia, sendo predominante cultivos temporários, que elevam o valor de fragilidade, sendo áreas de alta produção de sedimento. Ao contrário a semiaridez encontrada na porção sul da bacia, acaba resultado em uma menor pressão antrópica e maior conservação da vegetação nessas áreas, diminuindo assim a produção e sedimentos dessa área, e consequentemente a fragilidade. Outro ponto interessante a ser notado, é que as áreas com maior declividade, situadas em cima da falha de Serra Talhada, não resultam nas áreas de maior declividade, visto que a dificuldade de acesso levou a uma maior conservação da vegetação. E isto faz com que essas áreas tenham níveis intermediários de fragilidade. Por fim, notou-se que a fragilidade é o resultado da interação entre os fatores ambientais, sendo que os maiores índices de fragilidade encontram-se nas áreas de declividade mediana, visto que nessas áreas o uso agrícola é possível, o que pode ser visto na maior parte da área norte da bacia. É justamente nessas áreas que vê-se como imprescindível formas de manejo do solo adequadas para que se diminua os problemas decorrentes da declividade acentuada, contudo na escala na qual foi analisada nesse trabalho não foi possível identificar o uso dessas técnicas, sendo que os próximos passos da pesquisa visa essa identificação.

Mapa de Localização

Mapa de Localização da Bacia do Riacho do Saco

Mapa de Fragilidade Ambiental

Mapa de Fragilidade Ambiental da Bacia do Riacho do Saco

Considerações Finais

O estudo de fragilidade ambiental tem sua importância na intenção de práticas conservacionistas do meio, de forma que exista um manejo adequado aliado ao uso sustentável. Através de estudos como este é possível indicar práticas que auxiliem a restauração de áreas identificadas como frágeis, que já possuem um estágio de degradação. A metodologia aplicada no presente trabalho é indicada a estudos de caráter ambiental, de casos de áreas afetadas por impactos antrópicos, seguidas também de mudanças drásticas na dinâmica da paisagem. Através deste método, foi possível ampliar o nível de conhecimento acerca da área de estudo, identificando áreas de potenciais perdas.Áreas como a bacia do Riacho do Saco são carentes de estudos que analisam suas condições em relação a impactos ambientais, pois possuem variações abruptas de unidades de paisagem, com diferentes percentuais de chuvas, temperaturas e outros elementos definitivos para o desenvolvimento da paisagem, sendo interessante revelar a situação em termos ambientais da bacia. Este trabalho constitui uma análise preliminar da área de estudo, haja vista que uma boa parcela da bacia do Riacho do Saco possui o estrato de caatinga degradada por práticas de desmate com finalidade agrícola e seria adequado um estudo de conservação da área. Os aspectos referentes às maiores fragilidades da área são potencializados devido às atividades realizadas em áreas de alta declividade, intensificando o quadro de fragilidade elevada já diagnosticada.

Agradecimentos

Referências

CREPANI, E.; MEDEIROS, J.S.; L.G.; AZEVEDO, L.G.; HERNANDEZ FILHO, P.; FLORENZANO, T.G.; DUARTE, V. Curso de sensoriamento remoto aplicado ao zoneamento Ecológico- Econômico. São José dos Campos. INPE, 1996.

ROSS, J. L. S. Análise Empírica da Fragilidade dos Ambientes Naturais e Antropizados. Revista do Departamento de Geografia. n. 8, FFLCH-USP, São Paulo, 1994.

SOTCHAVA, V. B. O Estudo de Geossistemas. Métodos em questão, 16. IG-USP. São Paulo, 1977.

SOUZA, J.O. P. de. Modelos de evolução da dinâmica fluvial em ambiente semiárido bacia do açude do saco, Serra Talhada, Pernambuco. Tese (doutorado) Universidade Federal de Pernambuco. Recife. 2014.