Autores

Esteves de Freitas, L. (UFRJ) ; Coelho Netto Duek, T. (UFF) ; Navarro da Fonseca, Y. (COLÉGIO PEDRO II) ; Coelho Netto, A.L. (UFRJ)

Resumo

Em janeiro de 2011 ocorreu um evento extremo de chuva que gerou milhares de deslizamentos de terra na bacia do Córrego Dantas em Nova Friburgo-RJ. A formação da REGER-CD, rede que inclui comunidades, instituições de ensino e pesquisa e poder público que atuam nessa bacia foi uma resposta à esse processo. No âmbito dessa rede está sendo realizada a produção de um vídeo sobre a temática de desastres. Este artigo traz uma análise da construção deste vídeo como forma de apoio à construção da cultura de gestão de riscos de deslizamentos. Este vídeo está sendo construído coletivamente, a partir da articulação de instituições, mas é um produto de autoria dos jovens que estão à frente do processo de construção técnico. Observa-se que esses jovens estão se apoderando da temática de gestão de riscos de desastres e que estão disseminando essa cultura para suas famílias.

Palavras chaves

Gestão de riscos; Rede de gestão; Deslizamentos

Introdução

Os deslizamentos são fenômenos naturais característicos de regiões montanhosas tropicais, sendo recorrentes na região serrana do estado do Rio de Janeiro há, pelo menos, 10 mil anos (Coelho Netto et. al, 2015). O aumento da frequência das chuvas extremas observados na Região Sudeste (Figueiró & Coelho Netto, 2010) tende a fazer com que esses eventos tenham maior probabilidade de ocorrência. Em associação às mudanças aceleradas no uso do solo, especialmente relacionadas à expansão desordenada das áreas urbanas (Coelho Netto et al., 2010), há uma potencialização da ocorrência de desastres socioambientais na região serrana. Nessa área têm prevalecido deslizamentos do tipo translacional raso, os quais podem ter sua origem nas partes superiores das encostas e se propagar encosta abaixo incorporando outros mecanismos de fluxos detríticos, gerando efeitos de grande periculosidade à jusante. A propagação destes fenômenos tem causado desastres de grande magnitude, como aquele ocorrido em Janeiro de 2011 nos municípios de Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis, denominado de “Megadesastre da Região Serrana” (DRM, 2011). Estima-se que tenha havido mais de 900 mortes e 350 desaparecimentos (Bertone & Marinho, 2013). Neste contexto, a formação de uma rede de articulação institucional e comunitária voltada à gestão de riscos desastres é uma estratégia que pode apresentar melhores resultados do que apenas o fortalecimento das estruturas administrativas formais de gestão (Comfort, 2005). Esta estratégia embasou a formação da Rede de Gestão de Riscos de Córrego Dantas (REGER-CD), que vem sendo estruturada por um grupo de instituições e a comunidade local (Freitas et al. 2016). No âmbito dessa rede, foi definida coletivamente a produção de um vídeo socioeducativo com a finalidade de sensibilizar as pessoas e influenciar na ampliação da cultura de gestão riscos de desastres (Freitas, 2015). Segundo Weiss, Marchand e Colbeau-Justin, as certezas individuais relativas ao estado do meio ambiente condicionam a percepção dos riscos ambientais. Devido à ciência não ter alcançado um grau satisfatório de influência sobre os conhecimentos da sociedade, o que se tem é um público que não sabe avaliar o risco. A representação do risco depende das fontes de informação que o indivíduo ou grupo privilegia e da percepção da vulnerabilidade. Ou seja, as pessoas escolhem suas fontes de informação segundo critérios que refletem sua pertinência cultural e também suas motivações, preocupações pessoais e conhecimentos. (KUHNEN, A. 2009) A gestão de áreas de risco constitui um processo que se inicia quando a sociedade, ou parte desta, percebe que as manifestações aparentes ou efetivas de certo perigo ou ameaça podem provocar consequências danosas (NOGUEIRA, 2002), Sendo assim, a gestão do risco prende-se a tomada de decisões que envolvem a definição de necessidades, o reconhecimento das opções aceitáveis e a escolha de estratégias apropriadas (TOBIN & MONTZ, 1997). Nesse contexto, a produção de materiais capazes de sensibilizar a sociedade para a necessidade da gestão dos riscos de desastres em uma área altamente suscetível a deslizamentos é de grande importância. Entre essas ferramentas, a produção de um vídeo é uma alternativa com grande capacidade de sensibilização. O objetivo central do presente trabalho é discutir o processo institucional de construção coletiva do vídeo que está sendo produzido no âmbito da REGER-CD como forma de sensibilização para a gestão de riscos à desastres derivados de deslizamentos.

Material e métodos

Área de Estudo: A bacia do Córrego Dantas (53 km2), fortemente afetada por deslizamentos em 2011, drena uma área inserida no município de Nova Friburgo, na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro e apresenta desnivelamento topográfico de cerca de 1.500m. Trata-se de uma área piloto do GEOHECO-UFRJ para pesquisas fundamentais sobre mecanismos e condicionantes de deslizamentos voltados ao aprimoramento metodológico da construção de cartas de suscetibilidade e riscos; ressalta-se que no balanço de riscos se busca integrar a visão e proposição da população sob riscos. Na bacia hidrográfica do córrego Dantas há predomínio de formações vegetais antropizadas, com destaque para a cobertura de gramíneas. Manchas de áreas agrícolas são observadas nas encostas e fundos de vale; as áreas urbanas se espraiam nos fundos de vale, especialmente na porção inferior da bacia. Construção do Vídeo: A base para o presente trabalho e para a própria construção da REGER-CD é o conceito de pesquisa-ação, definido como um trabalho de investigação participante, no qual a compreensão de um objeto científico é parte da prática (KETELE & ROEGIERS, 1993; ENGEL, 2000). Portanto, o trabalho de análise do processo de construção do vídeo foi realizado a partir de uma reflexão sobre a construção concreta do vídeo. Parte, portanto, de uma observação participativa dos autores sobre processo de produção do vídeo, desde sua produção político institucional, até a edição das imagens. Além disso, foram levantadas informações sobre a REGER-CD em documentos produzidos por pesquisadores sobre esta rede. Especialmente nos relatórios dos seminários e das oficinas de construção do vídeo e nos artigos que discutem a construção da Rede. A partir dessa vivência e pesquisa, foi constituída uma análise focada nas relações interinstitucionais que estão possibilitando a realização do vídeo, desde o processo de financiamento e definição de sua realização, até a presença nas oficinas e filmagens.

Resultado e discussão

A construção do vídeo não se iniciou no momento de realização das oficinas ou das filmagens. Começou quase um ano antes, logo após a criação formal da REGER-CD, ocorrida em 17 de novembro daquele ano. Foi articulado e realizado coletivamente no contexto da REGER-CD. Em dezembro de 2014, o representante do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes) da Fiocruz direcionou uma doação da empresa Deloitte Touche Tohmatsu para atividades da rede. Coletivamente, em seminário realizado em março de 2015, foi definido que os recursos seriam aplicados na produção de um vídeo que abordasse a temática dos desastres e fosse realizado com a participação de jovens moradores locais. Para iniciar o trabalho, estabeleceu-se uma comissão com representantes da REGER-CD interessados em contribuir com essa iniciativa. Essa comissão se reuniu em 23/4 de 2015, na UFRJ, com a presença 8 pessoas, representando 5 instituições ou grupos: Colégio Pedro II (CPII), Geoheco/UFRJ, Escola Polítécnica/UFRJ; Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) ONG e Vivario, Esse foi o momento de definir a metodologia institucional e uma agenda de trabalho inicial para a construção desse vídeo. Através de articulação realizada pela AMBCD, em maio de 2015 o representante do Geheco/UFRJ contatou o Colégio Estadual Etelvina Schottz para a seleção de alunos interessados em participar do projeto. Com apoio deste colégio, foi realizada a seleção. Inicialmente, 9 alunos demonstraram interesse. Porém, em função da demora na liberação dos recursos e na articulação comunitária, no momento de começar o trabalho, 4 meses após a seleção dos alunos, apenas 3 puderam participar. Desse modo, o processo de produção técnica do documentário está sendo realizado por 3 jovens do C.E. Etelvina Schottz e 3 jovens do Núcleo de Pesquisa e Estudos Audiovisuais em Geografia (NEPAG) do CPII que possuem experiência na produção de vídeos. Supervisionados por professores do CPII e Vivario e com produção executiva de um integrante da UFF e Geoheco-UFRJ. Além disso, contou no processo de articulação institucional com integrantes do Geoheco-UFRJ, AMBCD e Fiocruz (tabela 1). A oficina inicial para a construção do vídeo ocorreu em 26 de setembro de 2015 e contou com 16 participantes, de 6 instituições: 4 integrantes do NEPAG / CPII, 3 integrantes do C.E. Etelvina Shottz, 2 integrantes da ONG Vivario, 3 integrantes da AMBCD, 2 integrantes da Fiocruz e 2 integrantes do Laboratório de Geo-hidroecologia - Geoheco / UFRJ. Foi um momento de apresentação dos participantes, discussão sobre os objetivos do trabalho e estabelecimento de uma agenda de trabalho. A segunda oficina sobre a produção do vídeo ocorreu em 12 de janeiro de 2016 e contou com 11 participantes, de 6 instituições: 5 do NEPAG / CPII, 2 do E.E. Etelvina Shottz, 2 da ONG Vivario,1 do Laboratório de Geo-hidroecologia - Geoheco / UFRJ e 1 da UFF e do Geoheco/UFRJ. A AMBCD contribuiu com a cessão do espaço do Centro Cultural. Esta oficina ocorreu iniciou com uma apresentação por parte de membros do Geoheco/UFRJ sobre o megadesastre de 2011 na Região Serrana, com foco na bacia do Córrego Dantas e na construção da REGER-CD como alternativa à gestão integrada dos riscos dos desastres. Seguiu com uma apresentação dos técnicos do Vivario sobre as bases para a construção de um vídeo. Na parte da tarde foram definidos o argumento do vídeo e estabelecida uma agenda de curto prazo para o trabalho. A terceira oficina, realizada também no Centro Cultural da AMBCD, ocorreu no dia 04 de fevereiro de 2016. Contou com 07 participantes, pertencentes às 4 instituições que estão participando diretamente da realização técnica do vídeo: 04 integrantes do NEPAG / CPII, 2 do E.E. Etelvina Shottz e 1 do Laboratório de Geo-hidroecologia - Geoheco / UFRJ e da UFF. Esta oficina teve um foco no processo efetivo de realização do vídeo, como produção do roteiro e capacitação em filmagem, além do início das filmagens. Durante a terceira oficina, os participantes, a partir de roteiros semiestruturados, realizaram entrevistas com moradores da bacia e com atores chaves na gestão de riscos aos desastres, tanto comunitários, como técnicos. Além disso, realizaram filmagens de elementos relevantes para a discussão de desastres, como obras de contenção das encostas, casas destruídas pelo evento, etc. A partir da tabela 1 percebe-se que, no total, a construção do documentário envolveu diretamente 8 instituições integrantes da REGER, que realizaram funções diversas e de escalas distintas, desde a articulação institucional e levantamento de recursos, até a manipulação de câmeras. Além disso, observa-se que houve uma variação na representatividade das instituições nas oficinas, relacionada ao objetivo da oficina. A tendência é pela redução na participação das instituições a partir do aumento da especificidade das oficinas. No primeiro encontro, 7 das 8 instituições participaram (além de outras 8 instituições pertencentes à REGER-CD, mas não incluídas na tabela). No último apenas 4. Este processo permitiu uma redução da sobrecarga para alguns integrantes da REGER-CD na medida que a articulação político-institucional não foi mais necessária, possibilitando aos coordenadores da Rede a realização de outras ações. Além disso, essa redução na participação das demais instituições torna o produto final de autoria dos jovens que estão participando de sua construção, uma vez que a realização técnica do vídeo é de responsabilidade deles. Estão previstas mais duas oficinas, uma focada na finalização do material bruto para a construção do vídeo e outra na edição deste material. Após essa etapa, haverá necessidade de se restabelecer de modo mais forte o processo de articulação institucional, mas agora com o objetivo de disseminar o vídeo para a comunidade de Córrego Dantas e região Serrana. Mais uma vez a REGER-CD e diversas de suas instituições integrantes terão papel fundamental. Órgãos da Prefeitura de Nova Friburgo, como Secretarias de Defesa Civil, Educação, Meio Ambiente e Saúde, escolas e associações de moradores terão papel fundamental para a disseminação local. Instituições de pesquisa e ensino, ONGs e as Associações de Moradores terão papel preponderante na disseminação regional e nacional. Deste modo, a divulgação do vídeo será realizada por muito mais do que as 7 instituições envolvidas diretamente, ampliando o caráter de rede da REGER-CD.

Figura 1

Esquema do roteiro do vídeo

Figura 2

Filmagens

Tabela 1

Conjunto de instituições que participou diretamente da construção do Vídeo em seus vários momentos e níveis de realização

Considerações Finais

A construção do vídeo é um processo institucionalmente coletivo, que envolveu indiretamente as 24 instituições que integram a REGER-CD e diretamente 8 dessas instituições. O produto final terá influência de uma discussão institucional. Ainda assim, será um produto autoral dos jovens que estão participando de sua construção, uma vez que a realização técnica do vídeo é de responsabilidade deles. Neste processo, foi possível perceber a disseminação da cultura de gestão de risco de desastres para as instituições pertencentes à REGER-CD, como o Vivario, e para instituições parceiras, como o C.E Etelvina Schottz. Além disso, através dos jovens esta cultura está se disseminando para famílias inseridas nos limites da bacia do Córrego Dantas, uma vez que a formação desses jovens influencia seus parentes, aumentando a percepção de risco dos moradores e sua resiliência perante os futuros desastres. Percebe-se que os jovens, através do processo das filmagens e da edição dos vídeos, se apoderam da temática, de modo que o próprio processo da produção do vídeo já um fator que contribui para uma melhoria na cultura da gestão dos riscos de desastre. A informalidade e a ludicidade da oficina contribuem para uma participação efetiva e curiosa, produzindo um certo encantamento, ou desejo de conhecer, experimentar. Quando o vídeo estiver finalizado, será um elemento fundamental na difusão dessa temática para o conjunto de instituições da REGER-CD e para as comunidades que vivem na região serrana.

Agradecimentos

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