Autores

Santos, R. (UNICAMP) ; Perez Filho, A. (UNICAMP)

Resumo

O presente trabalho, teve como objetivo propor uma caracterização geomorfológica para o Estado do Amapá, como subsídio ao planejamento ambiental. Para isso, foi utilizada a compartimentação em unidades geomorfológicas como metodologia descritiva, bem como o banco de dados do IBGE e o software ArcGis 10.1 para a elaboração de mapas. Foram considerados quatro compartimentos para o Estado (Colinas do Amapá, Tabuleiro Costeiro, Tabuleiro Rebaixados e Planície Costeira). Esta análise foi realizada em uma escala pequena, considerando as proporções do Estado do Amapá, como um estudo prévio, podendo ser empregada aos municípios, gerando dados para um planejamento ambiental em função do uso da terra apropriado.

Palavras chaves

Geomorfologia; Caracterização; Planejamento Ambiental

Introdução

As formas de relevo, que englobam a paisagem, encontram-se em processo dinâmico de evolução, incluindo sua gênese, em que na escala de tempo integra os demais elementos da paisagem, formando geossistemas que por sua vez, movimenta entre si matéria e energia. Assim para estabelecer o processo de evolução da paisagem deve-se considera os elementos climáticos, geológico, geomorfológico, pedológico, hidrográfico e biológico. A partir de tal interação de fluxo, resulta em um sistema aberto, em que a inserção do sistema antrópico forma os sistemas ambientais, promovendo significativa mudança na paisagem. De tal modo os sistemas ambientais podem ser considerados elementos organizados, de maneira que sua espacialização se torna uma de suas características marcantes, vinculada a estrutura e funcionamento de/entre seus elementos, como também da dinâmica evolutiva (CHRISTOFOLETTI, 1999). Conforme Ross (1992), a Geomorfologia oferece suporte para o entendimento dos ambientes naturais, onde a sociedade humana se estrutura, extrai os recursos para a sobrevivência e organiza o espaço físico-territorial. Os estudos geomorfológicos contribuem significativamente para o planejamento e conservação dos recursos ambientais, empregando formas sustentáveis de utilização desses recursos. De acordo com Rodriguez e Silva (2010), o planejamento ambiental tem uma ligação intrínseca com os elementos ambientais, sendo estas variáveis indispensáveis em uma análise ambiental. Assim o mapeamento geomorfológico se torna importante, por apresentar cartograficamente e resumidamente a pesquisa geomorfológica. De acordo com Tricart (1965), segundo Ross (1990), o mapeamento geomorfológico “constitui a base da pesquisa e não a concretização gráfica de pesquisa já feita”. No ano de 1991 o Território Federal do Amapá foi instituído como unidade federativa do Brasil deixando de ser território e passando a ser Estado, integrado por 16 municípios. Entretanto passaram-se mais de duas décadas de desterritorialização e ainda uma significativa parte do território não foi integralizada ao Estado. Diante disse as propriedades não possuem titulação, fazendo com que o usa da terra seja marginalizado a ilegalidade. Bem como o surgimento de um novo cenário agrícola, em que o Estado do Amapá foi considerado pela Embrapa, como uma das últimas fronteiras agrícolas, promovendo a inserção de novas atividades agrícolas como o plantio de soja. Mediante a esse cenário a caracterização geomorfológica ganha respaldo pois os resultados desse estudo podem subsidiar ações direcionadas ao planejamento ambiental no Estado, pois o conhecimento geomorfológico pode ser utilizado para amenizar os efeitos da erosão, na classificação de terrenos suscetíveis aos deslizamentos e entre outas aplicações (CHRISTOFOLETTI, 2012). Assim este estudo tem como objetivo propor uma caracterização geomorfológica para o Estado do Amapá, como subsídio ao planejamento ambiental.

Material e métodos

Área de Estudo O estado do Amapá está localizado na região norte do Brasil, integrando a região Amazônica. O estado é cortado pela linha do Equador, inserido no hemisfério Norte e Sul. População estimada em 766,679 hab, dividida em 16 municípios, embora 60% da população reside na capital Macapá (IBGE, 2014). Metodologia Os procedimentos metodológicos estabelecidos para fundamentar a pesquisa foram essenciais para o alcance do objetivo traçado. Como critério para compartimentação do relevo, a delimitação das unidades geomorfológicas teve como base a proposta taxonômica de Ross (1992), mais as contribuições de Penteado (1985) e Christofoletti (2012). O levantamento de material cartográfico serviu de apoio para a construção dos mapas. A base cartográfica, que se empregou, foram as cartas do projeto Geodiversidade do Estado do Amapá (CPRM, 2012) em escala de 1:500.000, o banco de dados do Instituto de Pesquisas Cientificas e Tecnológicas do Estado do Amapá-IEPA (2008) em escala de 1:300.000 e a folha 22 do RADAM BRASIL (1974) mais o banco de dados do IBGE. Assim forfam considerados os mapas do relevo, pedológico, climatológico, vegetação e de unidades de conservação do Estado do Amapá. Para a delimitação dos compartimentos geomorfológico e elaboração do mapa com os mesmos, utilizou-se o software ArcGis 10.1 e suas ferramentas. Além do Sistema de Informação Geográfica (SIG), constitui uma das principais ferramentas para a descrição e análise geomorfológica, pois auxiliam a compreensão das relações geográficas na visualização, pesquisa e modelagem dos dados espaciais (BORGES, 2008). Foram considerados IV compartimentos a saber; Colinas do Amapá, Tabuleiro Costeiro, Tabuleiro Rebaixado e Planície Costeira. Tendo os subsistemas caracterizados para possíveis analises e elaboração de planejamento ambientais que visem o uso racional dos recursos naturais do estado.

Resultado e discussão

A compartimentação geomorfológica do Estado do Amapá levou em consideração os processos morfogenéticos e morfodinâmicos do relevo, através da análise e da caracterização dos parâmetros morfológicos e morfométricos o que possibilitou a caracterização e descrição o relevo do estado do Amapá, com base na escala regional, por meio de mapa. A utilização das ferramentas de geoprocessamento em conjunto com a cartografia permitiu identificar três unidades estruturais (morfoestrutura) na área de estudo: (a) Embasamento Cristalino (b) Estrutura Sedimentar e (c) Depósitos do Quaternário. A partir dessa etapa, houve classificação das feições do relevo do estado do Amapá, estabelecendo as seguintes unidades geomorfológicas (morfoescultura): (i) Colinas do Amapá, (ii) Tabuleiros Costeiros, (iii) Tabuleiros Rebaixados e (iv) Planície Costeira (Figura 1). Considerando a analise sistêmica do estudo, a unidade a Estrutura Sedimentar foi subdividida em duas unidades geomorfológica, por apresentarem feições de paisagem diferenciadas como aspectos geológicos, classes de solo e vegetação. O Clima do estado do Amapá é classificado como Equatorial quente e úmido, tendo de dois a três meses de seca e temperatura média maior que 18ºC. Apresenta duas estações definida, o verão amazônico que tem início no mês de julho e vai até o mês de novembro, com os menores índices pluviométricos e o Inverno amazônico que tem início no mês de janeiro e vai até o mês de junho, com grande índice pluviométrico provocando as cheias dos rios na região. Assim todos os compartimentos integram o mesmo tipo climático, considerando a escala regional. COLINAS DO AMAPÁ, ocupa maior área espacial do Estado, apresenta embasamento cristalino, como duas idades geológicas distintas. A porção sul do compartimento apresenta complexos do Arqueano, com rochas que sofreram metamorfismo regional, com predominância de Gnaisse, Granitóide, Granulito, Migmatito, Ortoanfibolito e Ortognaisse. A porção norte do compartimento com complexos do Proterozóico com rochas ígneas. O relevo do compartimento integra três domínios geomorfológicos. O Domínio Colinas do Amapá com totalidade espacial no compartimento expõe morros baixos amplos e suaves e alguns registros de inselbergs, Domínio de Morros e de Baixos Morros ondulados, estes recobertos pela classe predominante na unidade de LATOSSOSLOS VERMELHO-AMARELO, distrófico, sob o ecossistema de Floresta de Terra Firme Densa. Por fim o Domínio Montanhoso fortemente ondulado e montanhoso, apresenta a classe de latossolos já mencionada e pequenas manchas de argissolos e neossolo litólicos sob Floresta de Terra Firme Submontana, apresenta maior altitude registrada no estado com o pico Serra do Tumucumaque com 701m altitude o mais elevado do estado. Este compartimento está totalmente inserido em sua espacialidade em cinco Unidade de Conservação a saber Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, Floresta Estadual do Amapá, Floresta Federal do Amapá, Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru e Reserva Extrativista Beija-Flor Brilho de fogo. Entretanto encontra-se em forte pressão antrópica devido ao garimpo ilegal. TABILEIRO COSTEIRO – Esta Unidade de relevo se desenvolveu sob rochas sedimentares do Grupo Barreiras formadas por Arenito conglomerático, Argilito arenoso e Siltito. O relevo apresenta-se plano, suavemente ondulado e ondulado dissecado pela rede de drenagem dentrítica e pelos processos climáticos com alto índice pluviométrico. O compartimento é recoberto por LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO distrófico, ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO distrófico petroplintico, GLEISSOLO HÁPLICO e inclusões de PLINTOSSOLO PÉTRICO Concrecionário, sobre vegetação de Cerrado Arbóreo/Arbustivo. No ano de 2014 a Embrapa-AP lançou o Zoneamento Ecológico Econômico do Estado, considerando as áreas de Cerrado como uma das últimas fronteiras de expansão agrícola do Brasil, mediante a esse estudo 180 mil hectares foi considerado aptos para o plantio de soja (Embrapa, 2014). Esse compartimento também é dotado de grande plantio de eucalipto que ocupa uma boa parte das áreas plana dessa unidade. Em termos de conservação é o mais desprotegido considerando que não há nenhuma unidade de conservação nesta unidade. TABULEIRO REBAIXADO: o relevo deste compartimento está sustentado por rochas sedimentares da formação Alter do Chão, formadas por Quartzo arenito e Arenito. Na porção sul do compartimento o relevo plano e suavemente ondulado está associado a Floresta de Terra Firme Densa sobre LATOSSOLO AMARELO Distrófico, ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico PLINTOSSOLO PÉTRICO, PLINTOSSOLO HÁPLICO Distrófico. Na porção norte da unidade com relevo ondulado e fortemente ondulado com Floresta de Terra Firme Densa Submontana, sobre LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico, PLINTOSSOLO ARGILÚVICO Distrófico e ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico. A Unidade de Conservação Reserva Extrativista do Rio Cajari integra o compartimento, cuja UC desenvolve a extração de Castanha do Brasil que é beneficiada por cooperativas comunitárias dentro na Resex. PLANICIE COSTEIRA Corresponde as áreas baixas e planas situadas ao longo da costa do estado, no extremo leste do Estado corresponde a unidade mais recente geologicamente como componentes do Paleoceno e Holoceno, desenvolvida a partir de processos geológicos e geomorfológico e climáticos o que resultou na acumulação de sedimentos distintos ao longo da costa. Na porção sul apresenta, sedimentos inconsolidados de origem Flúviomarinha, na porção central presença de uma unidade com depósitos Flúviolacustre e Fluviomarinho, na porção sul presença de depósitos aluvionares. A classe de solo predominante são os Gleissolos, com presença também de Plintossolos e Neossolos, sobre estas classes encontra-se Campos de Várzea, Floresta de Várzea e manguezal. Embora a unidade seja de difícil acesso, devido ao longo períodos de inundação natural do sistema, com presença apenas de comunidades ribeirinhas, esta vem sofrendo impactos da pecuária bubalina, abertura de canais na rede hídrica, ações que intensificam os processos erosivos dos solos. Incêndios são constantes no período de Verão, devastando imensas áreas e matando um grande montante de fauna e flora na unidade. O Compartimento apresenta a inserção de unidades de conservação; Reserva Biológica do Lago Piratuba, Parque Nacional do Cabo Orange, e duas unidades em ilhas Estação Ecológica Maracá-Jipioca e Reserva Biológica do Parazinho.

FiG 1

Mapa das unidades geomorfológica do estado do Amapa

Considerações Finais

O planejamento ambiental é uma das ferramentas mais precisas no que condiz ao ordenamento territorial sendo imprescindível para as práticas e atividades de uso da terra, favorecendo ações que promovam o manejo adequado da área, a conservação ambiental e o seu uso sustentável. O estudo dos recursos naturais tem como principal foco estabelecer diretrizes frente às tipologias de uso exercidas sobre os ambientes, de acordo com as potencialidade e limitações de cada ambiente. Este trabalho se tratar da caracterização de um Estado apresentando em uma escala pequena. Assim para melhor nível de detalhes, efetivação de ações e elaboração de zoneamentos ambientais. Está metodologia pode ser empregada por municipais em uma escala maior, auxiliando os órgãos que geram as ações de planejamento e a efetivação das mesmas. Torna-se indispensável a realização de estudos ambientais prévios, compreendendo a importância e conservação da paisagem e as características ambientais que as regulam.

Agradecimentos

Referências

AMAPÁ. Instituto de Pesquisa cientificas e Tecnológica dp Amapá. Macrodiagnóstico do Estado do Amapá: primeira aproximação do ZEE/ Equipe Técnica do ZEE - AP. -- 3. ed. rev. ampl. --Macapá: IEPA, 2008.

BORGES, M.E.S. Mapeamento geomorfológico da bacia do rio Preto e suas relações com a agricultura. (Dissertação de mestrado). Universidade de Brasília. Brasília, 2008.

CHRISTOFOLETTI, Antonio. Modelagem de sistemas ambientais, 1ª ed. São Paulo: Edgard Blucher, 1999.

CHRISTOFOLETTI, Antônio. Aplicabilidade do conhecimento geomorfológico nos projetos de planejamento. In: GUERRA, Antônio José Teixeira; CUNHA, Sandra Baptista (org.). Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 11ª ed. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 2012, p. 415-440.

DNPM. RADAM. Folha Belém, S A 22. Rio de Janeiro, 1974. vol.05

PENTEADO, Margarida Maria Orellana. Metodologia integrada no estudo do meio ambiente. Geomorfologia, Rio Claro – SP, v. 10, n. 20, p. 125-148, 1985.

RODRIGUEZ, J.M. e SILVA. E. V. da. Geoecologia: Uma visão das Paisagens. Fortaleza: Edições UFC, 2010. 222 p

ROSS, Jurandir Luciano Sanches. Geomorfologia: Ambiente e Planejamento. São Paulo: Contexto, 1990. 85p

ROSS, Jurandir. O registro cartográfico dos fatos geomórficos e a questão da taxonomia do relevo. Revista do Departamento de Geografia. São Paulo, n. 6, p. 17-29, 1992.

TRICART, Jean. Principes et méthodes de geomorphologie. Paris: Masson Ed., 1965, 201p.