Autores

Neto, B.M.S. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA) ; Estevam, A.L.D. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA) ; Góis, D.V. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA)

Resumo

Este trabalho tem como objetivo investigar a relação entre a Cobertura Vegetal, Uso do Solo e Modelados na Microbacia do Rio Pedra Branca, localizada no Recôncavo Sul da Bahia. A pesquisa investigou os moldes de exploração dos recursos naturais. Procurou diagnosticar os Meios Morfodinâmicos a partir das relações morfopedogenéticas, segundo a proposta estabelecida por Jean Tricart (1977). A metodologia aplicada, a partir do uso das ferramentas dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG). Gerou-se os Mapas Usos dos Solos, Mapa Altimétrico, Mapa Clinográfico, Mapa de Declividades e Mapa Morfodinâmico. Mapas Confeccionados a partir da análise de imagens ETM-Landsat 7 e Cartas Topográficas da SUDENE na escala de 1.100.000. Constatou-se que a Microbacia do Rio Pedra Branca, encontra-se num estado de acentuada degradação dos solos, principalmente no seu alto curso, setor da bacia no qual predomina as zonas influenciadas pelos Meios Fortemente Instáveis.

Palavras chaves

Recursos Naturais; Meios Morfodinâmicos ; Microbacia

Introdução

A utilização dos recursos naturais sempre foi e será fundamental para sobrevivência dos seres humanos, mas nas últimas décadas o avanço da ação antrópica no meio natural tem provocado intensas mudanças no meio ambiente, como, por exemplo, grandes áreas desmatadas, grandes construções e habitações próximos ao rios e mananciais entre outros. Partindo desse pressuposto, pesquisadores e boa parte da população estão se mobilizando para procurarem meios de amenizar tais impactos no meio ambiente. É interessante comentar, o Brasil é um dos países com leis ambientais mais aperfeiçoadas do mundo, algo que pode ser percebido pela rigidez do Código Florestal Brasileiro, que tem a função de regular a biodiversidade existente no nosso país baseando-se em metas de coibição ao desmatamento e fortalecimento para proteção ambiental. Todavia, apesar de possuir leis que assegurem o cuidado com o meio ambiente, no Brasil, ainda é crescente os crimes ambientais, principalmente em áreas rurais, haja vista, a maioria dos pequenos e médios agricultores tirarem o sustento quase que exclusivamente do solo, o que contribui para a redução da cobertura vegetal. Diante disso, grandes áreas de terras que deveriam ser preservadas, devido a sua relevância para o equilíbrio ambiental como as Área de Preservação Permanente, vem sendo degradadas continuamente. Esses processos de degradação são determinantes para a alteração da dinâmica nos sistemas de drenagem numa bacia hidrográfica. Os impactos antrópicos produzidos no relevo por diversos tipos de ocupações interferem continuamente no fluxo natural dos lençóis freáticos e na modelagem do relevo, nesse sentido o território utilizado em diversos estudos científicos, assim como nesta pesquisa também, é a Bacia Hidrográfica, visto que esta constitui um sistema natural bem delimitado no espaço terrestre que reflete toda a dinâmica responsável pelas formas de relevo (GOIS, 2010). A utilização do termo microbacia está associada mais ao tamanho da área de que se deseja estudar, sendo que essa área não é, contudo fixa. Para Botelho (1999) a microbacia deve abranger uma área suficientemente grande, para que se possa identificar as inter-relações existentes entre os diversos elementos do quadro socioambiental que a caracteriza, e pequena o suficiente para estar compatível com os recursos disponíveis, respondendo positivamente à relação custo/benefício. Sendo assim a microbacia hidrográfica do Rio Pedra Branca atende esses critérios. O principal objetivo dessa pesquisa é investigar o balanço pedogênese/morfogênese na área da microbacia hidrográfica do Rio Pedra Branca, no intuito de diagnosticar Zonas Morfodinâmicas e as principais unidades de uso e ocupação do solo. A partir desta análise será traçado o perfil morfodinâmico em pontos representativos da bacia do Rio Pedra Branca.

Material e métodos

CARACTERIZAÇÃO DA PAISAGEM E LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE INVESTIGAÇÃO A microbacia hidrográfica do Rio Pedra Branca está situada no Recôncavo Sul da Bahia, abrangendo quatro municípios: Dom Macedo Costa e Conceição do Almeida ao norte, Santo Antônio de Jesus ao sul e Muniz Ferreira a leste, este último onde se encontra sua foz. Sendo que 70% das nascentes estão presentes nos municípios de Dom Macedo Costa e Conceição do Almeida. METODOLOGIA O Método aplicado a esta pesquisa será o Geossistêmico, pois é o que proporciona melhor interpretação das ações naturais e antrópicas na microbacia hidrográfica do Rio Pedra Branca. Estevam (2010), em sua tese de doutorado colabora ao afirmar que o estudo por meio de análise dos Geossistemas é importante para os trabalhos de natureza integralizadora da paisagem, os quais refletem cartograficamente unidades ambientais homogêneas. O que pode ser perfeitamente aplicável a unidade da paisagem em escala regional, sub regional ou numa dada bacia hidrográfica, na qual o nível escalar abrangente possibilite esta alternativa de análise e a interconexão entre os constituintes geológicos, geomorfológicos, pedológicos, vegetacionais, hidrográficos e dos usos do solo. As discussões teórico-metodológicas desta pesquisa estão pautadas nos pressupostos da Ecodinâmica aplicada por Tricart (1977), associados aos paradigmas do Método Geossistêmico. A pesquisa tem como objetivo investigar o balanço pedogênese/morfogênese na área da microbacia hidrográfica do Rio Pedra Branca. Neste contexto, será diagnosticado e analisado os Meios Morfodinâmicos. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS As fases metodológicas constituíram-se essencialmente em três etapas distintas, porém, interdependentes que são: etapa de gabinete, etapa de laboratório e etapa de campo. Etapa de Gabinete Foi realizado o levantamento bibliográfico sobre o tema em teses, dissertações e artigos científicos. Organizou-se um banco de informações necessárias ao desenvolvimento teórico da pesquisa, juntamente com os documentos cartográficos. Etapa de laboratório As analises foram realizadas no laboratório de Geoprocessamento na Universidade do Estado da Bahia Campus V a partir do software Spring 5.2.3. onde foram elaborados e georreferenciados os limites da microbacia hidrográfica do Rio Pedra Branca. Os dados utilizados foram a carta topográfica de Santo Antônio de Jesus folha SD-24-V-B-VI, a carta de Modelo Digital do Terreno, para definir as classes altimétricas, uso de imagens de satélite ETM-Landsat-7 que contribuíram para identificação de objetos da paisagem, a carta de vegetação e uso atual do solo que está interligado a carta morfológica que analisa os ambientes estáveis, intergrades e instáveis da área correspondente a microbacia. Dados cartográficos A princípio criou-se um banco de dados e um projeto de estudo localizado entre as coordenadas planas x1 468817.9063 x2 490970.0000 e y1 8560990.0001 y2 8577624.0000, no sistema de coordenadas UTM abrangendo toda a microbacia do Rio Pedra Branca – BA. Obtidos pelo levantamento cartográfico que correspondeu à área da pesquisa, utilizando-se da carta topográfica de Santo Antônio de Jesus folha SD-24-V-B-VI na escala de 1:100.000. Para delimitação da microbacia utilizou-se de um mapa hipsométrico, através das curvas de nível a partir da base cartográfica digital da SEI (Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia) Folha de Santo Antônio de Jesus escala 1:100.000, juntamente com os temas rodovias, hidrografias no sistema de coordenadas UTM. Dentro destes limites foram identificadas parte dos municípios de Santo Antônio de Jesus, Dom Macedo Costa, Muniz Ferreira e Conceição do Almeida, contudo o curso principal do rio corresponde apenas dois municípios: Dom Macedo Costa e Conceição do Almeida.

Resultado e discussão

Análise dos Meios Fortemente Instáveis Analisando o Mapa de Uso Atual da Microbacia do Rio Pedra Branca (Figura 1), observa-se que dentre as seis unidades de paisagem, a de maior predominância é as unidades de campo limpo e os de campo sujo. As que correspondem a áreas de campo sujo apresenta solos degradados, no qual existe uma mistura de pasto com solo exposto, o outro tipo campo limpo estão as áreas que são constituídas em sua maioria por pastos viçosos, com elevado volume de gramíneas e com algumas árvores esporádicas que são localizados próximos as áreas alagadas. A seguir observa-se na Figura 1 as características do campo sujo, localizada na cabeceira do Rio Pedra Branca no município de Conceição do Almeida. Identificou-se a presença de área arada por tratores para plantio, o que contribuirá para assoreamento do rio isto é, com o período chuvoso que vai de março a julho provocará corridas de lama levando consigo pequenos depósitos para o canal fluvial, esse material erodido podem ser transportados para a corrente principal do rio Pedra Branca, se agravando caso tenha doses elevadas de agrotóxicos que sempre são utilizados na lavoura. De forma que esta área contribui com alto potencial de instabilidade morfodinâmica. Análise dos Meios Intergrades Ao analisar as áreas dominadas por este Meios Intergrades (Figura 2) identificou-se apresenta áreas próximos a foz do rio Pedra Branca que estão em equilíbrio, entre os Meios Estáveis e Instáveis, na referida microbacia a tendência maior é para as áreas dos Meios Fortemente Instáveis. Observa-se na parte superior relevo suave ondulado a ondulado com pouca cobertura vegetal, muito utilizado para pastagens, em virtude do modelo de uso do solo por parte desses municípios que priorizam pela criação de animal de forma extensiva, já na parte inferior há uma concentração de vegetação que ajuda na manutenção dos lençóis freáticos, mas que já começa a sofrer encolhimento devido a criação de gado, de sorte que são irrisórios as áreas de matas em toda microbacia do Rio Pedra Branca. Análise dos Meios Estáveis Os Meios Estáveis são identificados em áreas de menores proporções que são as matas ciliares e mata, que são constituídas por plantações perenes e semiperenes, com arvores nativas juntamente com plantações de laranjas, arvores frutíferas como manga, jaca, cajá entre outras que estão plantadas próximas as margens dos rios que compõe a microbacia hidrográfica do Rio Pedra Branca.

Figura 01 - Mapa de Uso do Solo na Bacia do Rio Pedra Branca



Figura 2 - Mapa dos Meios Morfodinâmicos aplicados à bacia do Rio Pedr



Considerações Finais

Nesses municípios, a maioria das propriedades rurais não cumprem o que estabelece o Código Florestal (2012) referente às áreas destinadas às APPs, sejam ao longo dos rios e riachos, ao redor de nascentes e reservatórios, topos de morro, entre outros, pois estes lugares estão ocupados, em sua maioria, por pastos, solos expostos e edificações o que proporcionam erosões e assoreamentos dos rios ocasionados pela grande degradação dos solos e pela ausência da cobertura vegetal adequada o que provoca o aceleramento dos meios morfogenéticos. No alto curso do rio Pedra Branca há uma maior concentração de áreas de pastagens em virtude do relevo ser pouco ondulado com grandes terrenos para criação de gado, nestas áreas as nascentes altamente degradadas devido ao desflorestamento. Neste sentido, é necessário a recomposição florestal no entorno das nascentes com no mínimo 50 metros. No curso médio do rio em direção a foz, observa-se o município de Muniz Ferreira onde o relevo da área é fortemente ondulado. Essa área encontra-se desprovida de cobertura vegetal, neste sentido os órgãos ambientais devem deter atenção redobrada, visto que os solos propiciam a lixiviação. O assoreamento também é um dos impactos mais observados. Na foz do rio Pedra branca há uma concentração maior de áreas de solo exposto acompanhado por zona urbanizada tais caraterísticas impõem ao sistema solo e relevo extrema vulnerabilidade aos processos erosivos.

Agradecimentos

Referências

BOTELHO, Rosangela Garrido Machado – Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1999.
BRASIL, Lei Federal. Novo Código Florestal Brasileiro – Lei Nº 12.651, DE 25 DE MAIO DE 2012, DF: Congresso Federal, 2012.
BRASIL, Lei Federal (1965). Código Florestal Brasileiro – Lei nº 4771, DF: Congresso Federal, 1965.
BRASIL. Ministério das Minas e Energia. Secretaria Geral. Projeto RADAMBRASIL: Folha SD. 24. Salvador; geologia, geomorfologia, pedologia, 1981.
ESTEVAM, André Luiz Dantas. Geomorfologia Ambiental e Paisagem Urbana no Recôncavo Baiano Sul da Bahia. Tese (Doutorado) do Programa de Pós-Graduação em Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia – UFBA, 2010.
GOIS, Djalma Villa. Planejamento Ambiental e o Uso do Geoprocessamento no Ordenamento da Bacia Hidrográfica do Rio da Dona – BA. Tese (Doutorado) do Programa de Pós-Graduação em Geografia – NPGEO. Universidade Federal de Sergipe – UFS, 2010.
SOTCHAVA, V. B. O estudo de Geossitemas. Instituto de Geografia da USP. São Paulo.1977.
TRICART, J. Ecodinâmica – FIBGE / SUPREN, Rio de Janeiro,1977.