Autores

Souza, S.O. (UNICAMP)

Resumo

O objetivo deste trabalho é discutir a identificação de feições costeiras, a partir de imagens disponibilizadas pelo Satélite Rapid Eye. A área em estudo constitui a Região Costa das Baleias, localizada no extremo sul do estado da Bahia, entre os paralelos 17°28'52.23"S e 18°20'4.26"S e os meridianos 39°11'41.93" e 40°29'27.03"W de Greenwich, abrangendo os municípios de Alcobaça, Caravelas, Nova Viçosa e Mucuri. Para esta identificação utilizou-se como base as Imagens da constelação de satélites RapidEye disponibilizadas gratuitamente pelo Ministério do Meio Ambiente no portal GeoEye, processadas e posteriormente integradas no Sistema de Informação Geográfica, pelo software ArcGis. Os resultados obtidos demonstram a presença dos Tabuleiros Costeiros e a existência de extensas Planície de Inundação, Planície Costeiras e Cordões Praiais. A técnica utilizada pretende contribuir aos estudos geomorfológicos da área e subsidiar melhores propostas de planejamento e ordenamento costeiro.

Palavras chaves

Geomorfologia Costeira; Sensoriamento Remoto; Planejamento

Introdução

O planejamento e a gestão dos recursos naturais constituem-se na contemporaneidade uma necessidade para se evitar o comprometimento dos recursos naturais e a potencialização ou o desencadeamento de processos morfogenéticos negativos. Nos ambientes costeiros esta situação torna-se preocupante, haja visto que tais ambientes apresentam uma geologia e geomorfologia cuja natureza e evolução favorecem a atuação intensa de processos complexos e dinâmicos (ALVES; SILVA e FONTES, 2011). Para que o mencionado planejamento seja possível faz-se necessário um levantamento do substrato físico-natural da área a ser gerenciada. Considerando-se que o relevo é um componente deste substrato, organizado em formas, as quais oferecem sustentáculo para arranjos espaciais de produção humana (ROSS, 2006), o levantamento e a análise das características do relevo tem relevância para os processos de planejamento e ordenamento ambiental. Neste contexto, a identificação de feições costeiras é um recurso importante por possibilitar identificar o quadro espacial em que tais compartimentos se estruturam e se desenvolvem. Assim, a representação das feições costeiras pode fornecer dados sobre as condições locais para o uso e a ocupação ou, ainda, em caso de uso e ocupação já efetivos, pode auxiliar na identificação de áreas potencialmente problemáticas (CUNHA, 2011). Tendo como área em estudo, a Região Costa das Baleias (DOMINGUEZ, 2008), localizada no extremo sul do estado da Bahia, entre os paralelos 17°28'52.23"S e 18°20'4.26"S e os meridianos 39°11'41.93" e 40°29'27.03"W de Greenwich, abrangendo os municípios de Alcobaça, Caravelas, Nova Viçosa e Mucuri, totalizando uma área aproximada em 6.893,78 km². Este trabalho visa discutir a identificação de feições costeiras, a partir de imagens disponibilizadas pelo Satélite Rapid Eye.

Material e métodos

Para alcançar os objetivos propostos neste estudo, o mesmo foi dividido em três principais etapas sendo a primeira composta pela realização de revisão bibliográfica acerca da compartimentação geomorfológica com base em imagens. A segunda etapa composta pela aquisição imagens RapidEye, definição do mosaico dos pares e identificação de formas. A terceira etapa é caracterizada pela integração dos dados em ambiente de Sistema de Informação Geográfica (SIG) e pela redação final da pesquisa. Apresenta-se a seguir, o detalhamento dos principais procedimentos relativos à segunda e terceira etapas: Aquisição das imagens RapidEye. A missão RapidEye é formada por uma constelação de cinco microssatélites multiespectrais, lançados em 29 de Agosto de 2008 em um foguete russo (RAPIDEYE, 2013). Os sensores instalados obtêm imagens da Terra em cinco faixas espectrais, sendo estas, o Azul (440–510nm), Verde (520-590nm), Vermelho (630-685nm), Red-Edge (690-730nm) e Infravermelho Próximo (760- 850nm), com uma área imageada de 77,25 km. O período de revisita dos satélites é de 24 horas (off-nadir) e 5,5 dias (nadir). A resolução espacial oferecida pelo sensor é de 6,5 metros e 5 metros nas ortoimagens. Para realização do trabalho foram utilizadas três Imagens da constelação de satélites RapidEye disponibilizadas gratuitamente pelo Ministério do Meio Ambiente a partir da assinatura de acordos de cooperação técnica. Integração dos dados. Posteriormente a obtenção das imagens realizou-se a construção em ambiente SIG com uso do software ArcGISTM 10.1 de um mosaico com todas as imagens. Não houve a necessidade de nenhum tipo de registro, pois as mesmas foram adquiridas em formato georreferenciado no Datum SAD 1969. Para uma melhor visualização dos alvos o histograma das imagens foi reamostrado, utilizando o método estatístico Minimum e Maximum e posteriormente se realizou uma interpretação visual das principais feições morfológicas identificadas na linha de costa com base no Manual Técnico de Geomorfologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2009).

Resultado e discussão

Entendendo a Planície Costeira como uma planície formada pela sucessão e justaposição de Cordões Litorâneos regressivos e/ou Terraços Marinhos. Atesta-se na Região Costa das Baleias a predominância dos processos deposicionais, decorrentes da ação fluvial (Planícies Fluviais), de processos marinhos (Cordões Litorâneos) e de processos conjuntos da ação fluvial e marinha (Planícies Flúvio-Marinhas), além de inúmeras terras úmidas, que testemunham a complexa evolução geomorfológica da área no decorrer do Quaternário (DOMINGUEZ, 2008). Dentre as formas existentes constatadas, destaca-se a presença de cordões litorâneos arenosos (Figura 1C), que segundo Dominguez et. al. (2002) apresentam em sua maioria, origem relacionada a estabilização de bancos arenosos formados pela emersão por ondas de bom tempo e nível de água normal. Otvos (2000) descreve em seu trabalho que cordões litorâneos são componentes frequentes de planícies costeiras quaternárias, sendo que estes podem servir como indicadores sensíveis do passado do nível do mar, de posições da linha de costa, de fases climáticas e das taxas de soerguimento isostático. Somada a presença de cordões praiais, evidencia-se na área em estudo a presença de planícies marinhas (Figura 1C), entendidas como um depósito de material inconsolidado, formado na interface marinha-continental e que participam de constante retrabalhamento de sedimentos (SOUZA, et. al., 2005). Ao longo de toda a sua extensão destacam-se registros que comprovam a intensa atividade oceânica ao longo do processo de retrabalhamento e sedimentação costeira. Entrecortando os Terraços Arenosos e os Tabuleiros Costeiros, encontram-se as planícies fluviais (Figura 1A), conhecidas como áreas depressionais, baixas e planas juntas aos cursos de água e formadas pela deposição de materiais aluviais provenientes da erosão de montante, constituídos por silte, areia e argila. Em toda área tal unidade apresenta-se associada a ação marinha, constituindo planícies fluviomarinhas, visivelmente recortadas por canais de maré acentuadamente curvilíneos, o que demonstra a efetiva proteção do estuário à ação das ondas. Vale ressaltar também a presença de Falésias (Figura 1E) no trecho sul da Região Costa das Baleias; Entendidas como escarpas erosivas dos Tabuleiros Costeiros devido ao fenômeno da abrasão marinha. Segundo Christofoletti (1980), tal fenômeno ocorre em virtude de modificação do nível do mar ou da terra, possibilitando o contato do mar com a escarpa íngreme emersa, estabelecendo assim condições para a sua esculturação, que ocorre através do entalhe e solapamento da escarpa, fato que provoca o desmoronamento da parte cimeira e elaboração da falésia.

Figura 1

Feições encontradas na Região Costeira Costa das Baleias – Bahia.

Considerações Finais

Este estudo permite a identificação simples e rápida de feições morfológicas costeiras. A depender do material fonte, pode ser usada também como forma de identificação de risco à banhistas, já que a possível presença de correntes de retornos, alterações na topografia da praia e determinados tipos de recifes, são componentes isolados ou conjugados que podem oferecer algum tipo de risco ao afogamento. Um estudo como este, se torna importante na medida em que pode ser utilizado como um norteador das políticas de gestão para esta parte da zona costeira e contribuir para que as novas ocupações e o desenvolvimento econômico e social sejam compatibilizados com a preservação ambiental. Fica claro a necessidade de estudos mais detalhados, com imagens de satélite com melhor resolução espacial, para se obter uma delimitação das feições mais precisa, que vise atender às necessidades do homem e à manutenção dos recursos costeiros.

Agradecimentos

O autor agradece a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP pelo apoio e financiamento desta pesquisa (nº 2013/25003-2).

Referências

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