Autores

Cavalcante, A.R.O. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE) ; Carvalho, A.C.B. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE) ; Barra, O.A.O.L. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE) ; Vasconcelos, F.P. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE)

Resumo

Este trabalho aborda os problemas ocasionados pela erosão na praia de Morgado no município de Acaraú/CE. Além disso, propõe uma forma de gestão e planejamento para que os impactos negativos ocorridos na área sejam resolvidos ou um impacto normatizado. O município de Acaraú está localizado no oeste do estado do Ceará, a 248 km da capital Fortaleza, e possui uma área de 840km², com aproximadamente 53 km de linha de costa. A metodologia adotada se deu a partir dos princípios de planejamento e gestão amparados na análise de levantamento de dados in situ: visitas em campo, registros fotográficos da paisagem e perfis topográficos da faixa de praia realizados a cada 2 meses através de Estação Total Ruide RTS 825. Os resultados a partir dos perfis praiais e dos registros fotográficas nos permite afirmar que os trechos mais próximos ao berma são de maior exposição a erosão.

Palavras chaves

Processos erosivos; Gestão; Praia de Morgado/CE

Introdução

O município de Acaraú está localizado no oeste do estado do Ceará, a 248 km da capital Fortaleza e possui uma área de 840km², com aproximadamente 53 km de linha de costa (SEMACE, 2006). As praias do Ceará têm como característica uma linha de costa formada por cordões litorâneos que são soldados ao continente, bem como a formação de depósitos submersos, ambos formados pela variação de maré, pela deriva litorânea e pelo transporte de sedimento. Outra característica marcante são as praias mais expostas, chamadas dissipativas, caracterizadas por apresentar uma extensa região de quebramento de onda, que em maré baixa deixam a disposição uma grande área para o transporte eólico. Para Muehe (2013), "praia" pode ser definida como a área conhecida como estirâncio ou zona entre as marés alta (preamar) e baixa (baixar mar) compostos por sedimentos, e retém a energia vinda das ondas, e é limitada em direção ao continente por bermas ou falésias. A cidade de Acaraú é banhada pelo rio o qual leva o nome do município. O rio Acaraú possui um setor estuarino rico em área de manguezal sobreposta à planície flúvio-marinha. Esse rio é responsável pela descarga de sedimento no setor da desembocadura, formando depósitos submersos que aparecem na maré baixa. Este trabalho analisa uma área do litoral de Acaraú que está passando por processos de mudança da linha de costa no que diz respeito ao avanço ou recuo da linha de preamar: a localidade da praia do Morgado (Figura 1). Trata-se de uma praia composta por cordão litorâneo anexado ao continente e caracteriza-se como uma unidade geoambiental altamente passiva de mudanças causadas pela deriva litorânea. As ações antrópicas constituem-se como um dos principais fatores para a problemática da erosão costeira. Os processos erosivos se dão através de construções de barragens, extração de sedimentos fluviais – processos que afetam o aporte sedimentar ao litoral, e a degradação dos sistemas costeiros naturais, como os campos de dunas. A erosão costeira é um fenômeno frequente e quanto mais o litoral é ocupado, mais se acentua o problema, que cresce em magnitude e importância. Tal problemática é constatada na praia de Morgado onde está instalado um parque eólico. Como consequência deste evento, as bases dos aerogeradores estão sendo danificadas devido ao avanço da linha de preamar em direção ao continente. Esta pesquisa resulta dos dados iniciais do "Programa de Automonitoramento de Proteção Costeira: Estudo da Dinâmica Costeira e Sedimentar da Central Eólica Volta do Rio Acaraú/CE" realizado pelo Laboratório e Grupo de Pesquisa de Gestão Integrada da Zona Costeira (CNPq e Universidade Estadual do Ceará).

Material e métodos

Esta pesquisa é a construção de um levantamento feito no primeiro semestre do ano de 2015, nos meses de fevereiro, abril e junho. Trata-se da determinação do comportamento da linha de costa de uma área localizada no município de Acaraú, em Morgado com 6,5 km de extensão. O estudo foi feito a partir de levantamento de dados in situ: visitas em campo, registros fotográficos e levantamentos topográficos da faixa praial a cada dois meses, onde a morfologia da praia foi realizada com o auxílio de uma Estação Total Ruide RTS 825, com suporte de dois prismas, nível topográfico e mira graduada. Esses procedimentos constituem-se como ferramentas aplicadas no planejamento e gestão, contribuindo com a geração de conhecimentos e informações necessárias para entender as mudanças ocorridas no ambiente, o que é fundamental para futuros diagnósticos que visem o aproveitamento sustentável dessas regiões, bem como sua estabilidade atual. Como este trabalho visa a determinação do comportamento da linha de costa da praia de Morgado (Acaraú/CE) faz-se necessário a aplicação de uma Gestão Integrada da Zona Costeira – GIZC, uma vez que alguns empreendimentos foram construídos neste local, o qual representa um ambiente extremamente instável. Sobre a GIZC, Vasconcelos (2005, p. 16) aponta: "O princípio da GIZC consiste em fornecer aos administradores públicos elementos para que eles compreendam melhor como funciona o complexo ecossistema costeiro, onde coabitam o meio natural e as atividades humanas. Esse conhecimento pode ajudar na tomada de decisões, evitando ou atenuando impactos negativos, contribuindo para a preservação ambiental e para o desenvolvimento das atividades humanas de modo sustentável." A análise da topografia da área foi de fundamental importância para se classificar o tipo de praia, levando em consideração que a inclinação do terreno em conjunto com o tipo de arrebentação e a granulometria do sedimento vai influenciar diretamente no poder erosivo atuante na zona costeira, que é bastante dinâmica. A maior parte do levantamento foi feito em períodos de maré baixa, o que garante uma qualidade melhor dos dados para perfis de praia, uma vez que uma área maior de estirâncio esteve disponível durante a coleta. Ou seja, à medida que a maré foi baixando, mais sedimentos entre a linha de baixa mar e preamar ficou a disposição na hora do levantamento. A partir da confecção dos perfis foi possível calcular a declividade da faixa praial que está atrelada aos estados dissipativo, intermediário ou refletivo da zona de estirâncio. Estes estados denotam o comportamento da energia de onda e sua intensidade de atuação na praia. Diante disso, foi realizado o levantamento de 3 perfis praiais na central eólica de Morgado, o primeiro no extremo leste da eólica, o segundo no centro do parque eólico, e o terceiro no extremo oeste da eólica. Essas áreas foram demarcadas por representar uma melhor espacialização do local.

Resultado e discussão

A descrição da linha de costa, relacionada à sua morfologia e tipos de sedimentos, está explanada nos gráficos representados nas figuras 2, 3 e 4, demonstrando o comportamento do perfil praial. Pelos perfis realizados verifica-se que estes encontram-se cerca de 5 metros acima da cota zero do nível do mar (Zero hidrográfico/Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha do Brasil – DHN). Fevereiro No mês de fevereiro os perfis topográficos (Figura 2) levantados mostram que a preamar do terreno encontra-se cerca de 4 a 6 metros acima da cota zero do nível do mar e tem-se uma média de faixa de praia (estirâncio) de 118.66 metros. Nesse mês a praia teve característica dissipativa à intermediária. Os agentes dinâmicos ainda atuam com intensidade em praias que possuem este caráter e, consequentemente, provocam a retirada de material na zona da berma, devido à atividade erosiva. Se for levada em consideração a inclinação da faixa de praia no trecho mais próximo do berma, a declividade pode alcançar valores bem maiores e, consequentemente, assumir um caráter refletivo. Isso ajuda a entender porque, mesmo com uma praia tendo em sua maior parte um caráter dissipativo, os eventos de erosão são rotineiros. Uma vez que as forças de maré, ondas e correntes chegam neste ponto, que é mais inclinado, e depois de ter passado pela parte que não é íngreme, cria-se uma resistência da faixa de praia, logo provocando o evento de erosão. Abril No mês de abril os perfis topográficos levantados (Figura 3) mostram que a preamar do terreno ainda encontra-se cerca de 4 a 6 metros acima da cota zero do nível do mar e tem-se uma média de faixa de praia (estirâncio) de 206.20 metros. Nesse mês a praia teve um caráter dissipativo. Os agentes dinâmicos atuam com menor intensidade em praias que possuem este caráter, porém, este trecho de Morgado possui pontos do perfil mais próximo do berma com uma inclinação que confronta com os agentes dinâmicos, ondas, correntes e marés, fazendo com que a erosão ainda aconteça, e estes pontos coincidem com os pontos de instalação dos aerogeradores. Junho No mês de junho os perfis topográficos (Figura 4) levantados mostram que a preamar do terreno ainda encontra-se cerca de 4 a 6 metros acima da cota zero do nível do mar e tem-se uma média de faixa de praia (estirâncio) de 143.46 metros. Nesse mês a praia teve um caráter dissipativo. Assim como o mês anterior, este trecho de Morgado apresentou pontos do perfil mais próximo do berma com uma inclinação que confronta com os agentes dinâmicos, ondas, correntes e marés, fazendo com que a erosão ainda aconteça, e estes pontos coincidem com os pontos de instalação dos aerogeradores. Fazendo a comparação topográfica entre os três meses – no que diz respeito a variação de altura e rebaixamento dos perfis, durante esse período foi de aproximadamente 1,09m para aumento na altura do perfil e 0,56m para o rebaixamento de sua cota altimétrica. No ponto 1 e 3 houve uma possível perda de material e, consequentemente, rebaixamento da cota. No ponto 2 o perfil praial elevou.

Figura 1 - Mapa de localização da praia de Morgado



Figura 2: Perfis de praia mês de Fevereiro

Fonte: Vasconcelos et al. (2015)

Figura 3: Perfis de praia mês de Abril

Fonte: Vasconcelos et al. (2015)

Figura 4: Perfis de praia mês de Junho

Fonte: Vasconcelos et al. (2015)

Considerações Finais

De acordo com o levantamento realizado neste trabalho, foi possível perceber que os dados dos perfis de praia não apresentaram alterações consideráveis entre os meses de fevereiro e abril de 2015, entretanto, o mês de junho demonstrou algumas diferenças em relação ao perfil. A partir dos levantamentos topográficos foi possível perceber os eventos dinâmicos da linha de costa, que são comuns em todo o litoral cearense. Com a análise feita na praia foi constatada a ocorrência de processos erosivos na localidade onde se encontra o parque eólico de Morgado. Diante disso, é preciso que sejam tomadas medidas mitigadoras que trabalhem em comunhão com a dinâmica natural costeira, para que nem os equipamentos que estão instalados nem os processos de sedimentação responsáveis pelo equilíbrio dos ecossistemas envolvidos sejam prejudicados. Durante as atividades de campo, nos meses de fevereiro, abril e junho de 2015 foi possível observar um trabalho constante da empresa Central Eólica Praia do Morgado S/A, responsável pelo parque eólico, de manutenção e conservação das estruturas de proteção costeira existente na área na forma de enrocamentos e pequenos espigões . Esse trabalho é fundamental para a análise da linha de costa atual, impedindo um avanço do mar em direção as estruturas instaladas, que faz a produção de energia.

Agradecimentos

Referências

Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha do Brasil – DHN.

MUEHE, Dieter. Erosão costeira, mudança do clima e vulnerabilidade. In: GUERRA, A.J.T & JORGE, M.C.O.(orgs.) Processos erosivos e recuperação de áreas degradadas. São Paulo: Oficina de Textos, 2013.

SEMACE/LABOMAR. 2006. Mapeamento das Unidades Geoambientais da Zona Costeira do Estado do Ceará. (Zoneamento Ecológico-Econômico do Litoral e Ecossistemas Associado do Estado do Ceará – ZEE, 2006). Coordenador Prof. Dr. Luís Parente Maia. Fortaleza – CE.

VASCONCELOS, F. P. Gestão Integrada da Zona Costeira: Ocupação antrópica desordenada, erosão, assoreamento e poluição ambiental do litoral. Editora: Premius Editora, Fortaleza, 2005, 87p.

VASCONCELOS, F. P. et.al. Programa de Automonitoramento de Proteção Costeira: Estudo da Dinâmica Costeira e Sedimentar da Central Eólica Praia do Morgado no Município de Acaraú/Ce. LAGIZC, Fortaleza, 2015, 81p.