Autores

Nascimento, S.T. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO) ; Castro, P.T.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO)

Resumo

O mapa geomorfológico da região do Anticlinal de Mariana proposto neste trabalho foi realizado com a utilização de dados Shuttle Radar Topography Mission (SRTM). O Anticlinal de Mariana está localizado na região sudeste no Quadrilátero Ferrífero, região central do estado de Minas Gerais, entre os municípios de Ouro Preto e Mariana. Foram confeccionados quatro mapas base para classificação geomorfológica da área de estudo: declividade, orientação das vertentes, drenagens e o mapa de elevação do terreno (modelo digital de terreno), além de três perfis longitudinais na área de estudo. Com esta ferramenta de trabalho, possibilitou-se a identificação e espacialização prévia das unidades de relevo, caracterizando oito unidades geomorfológicas na região.

Palavras chaves

Mapeamento; Geomorfologia; Anticlinal de Mariana

Introdução

O Anticlinal de Mariana está localizado na porção sudeste no Quadrilátero Ferrífero, região central do estado de Minas Gerais, entre os municípios de Ouro Preto e Mariana. Segundo Alkmim & Marshak (1998), o Quadrilátero Ferrífero apresenta, litoestratigraficamente, os seguintes conjuntos rochosos: os complexos metamórficos que formam embasamento cristalino arqueano (Belo Horizonte, Caeté, Bomfim, Santa Bárbara e Bação); o Supergrupo Rio das Velhas; o Supergrupo Minas; as intrusivas do Supergrupo Minas e o Grupo Itacolomi. No modelado atual da região, destaca-se o Anticlinal de Mariana, formado por rochas arqueanas do Supergrupo Rio das Velhas e proterozoicas do Supergrupo Minas, que se encontram justapostas (Ladeira 1988). Souza et al. (2005) ao proporem uma divisão de unidades geomorfológicas para o município de Mariana chegaram à seis unidades básicas: relevo ondulado, oeste, no limite com o Município de Ouro Preto; no setor centro-norte, estendendo-se para sudeste, com altitudes médias de 800m; e no extremo sudeste do território municipal; relevo suave ondulado, com distribuição espacial no setor central do Município, a noroeste, no extremo norte e no extremo sudoeste, reflete as elevações típicas do Planalto Dissecado, formando mares de morros; relevo de serra, porções mais representativas são a Serra do Caraça, a noroeste, as Serras de Ouro Preto e Itacolomi a oeste, e a região da Serra do Carmo, a sudoeste; relevo de planícies aluviais, ocorrem no setor norte do Município; relevo de planalto é representado por altitudes próximas a 750m, caracterizando uma plataforma elevada; relevo escarpado, extensa faixa que se estende de sudoeste, no contraforte das Serras do Itacolomi e Cibrão, a região sudeste, possuem elevações alongadas com vertentes íngremes e topos em crista são as feições mais marcantes, as altitudes são inferiores aos 800m, com desníveis dos topos para os fundos dos vales entre 200 e 300m; relevo de planície aluvial, são as zonas de aporte de materiais provenientes dos relevos maiores, representadas pelos fundos dos vales mais abertos. Oliveira (2010) apresenta seis unidades morfológicas presentes na paisagem de Ouro Preto, sendo estas: escarpas abruptas dissecadas com grande número de canais; vale grande e aberto com encostas côncavas e pouca densidade de canais; colinas com topos aplainados e baixo número de canais; colinas com topos ondulados, vertentes convexas dissecadas e alta densidade de canais; morro com topos arredondados, vertentes convexas e alta densidade de canais; morro com topos angulosos, vertentes côncavas e alta densidade de canais. Os produtos da Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) - Missão Topográfica de Radar Transportado permitem a reprodução de altitudes e, através do processamento destes, é possível gerar os Modelos Digitais de Terreno (MDT) gerando uma base para estudos espaciais, como os geomorfológicos. As aplicações das imagens SRTM, segundo Carvalho & Latrubesse (2004), permitem análises quantitativas e qualitativas do relevo e seus agentes modificadores, através de mapas hipsométricos e clinográficos (declividade), e, ainda, de perfis topográficos. Neste trabalho, apresenta-se o mapeamento geomorfológico da região do Anticlinal de Mariana com a utilização de dados SRTM.

Material e métodos

O mapeamento geomorfológico foi realizado através da extração de informações de declividade, orientação das vertentes, drenagens e do mapa de elevação do terreno. Os mapas de declividade e orientação de vertentes foi gerado a partir dos dados SRTM que tem resolução em pixels de 1 arco-segundo, aproximadamente 30m, de livre acesso no site do Serviço Geológico dos Estados Unidos (U.S.G.S. – United States of Geological Survey). Estes mapas foram trabalhados no software ArcGis 10.1 disponível no Departamento de Geologia (Universidade Federal de Ouro Preto). A partir destas imagens SRTM foi possível extrair as curvas de nível empregadas para construção do mapa de elevação do terreno. O banco de dados usado na geração do mapa de drenagens é o “Projeto Geologia do Quadrilátero Ferrífero: integração e correção cartográfica em SIG”, realizado pela Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais – CODEMIG (2005). Foram executados três perfis em diferentes direções a partir do mapa de elevação do terreno. A partir da análise das variáveis morfométricas e dos perfis topográficos gerados em ambiente SIG, foi então realizada a vetorização das unidades, segundo a classificação proposta Souza et al. (2005) e Oliveira (2010). Sendo assim, identificou-se as principais unidades morfológicas do Anticlinal de Mariana levando em consideração todos os produtos gerados neste trabalho.

Resultado e discussão

Seguindo a metodologia proposta, foram confeccionados quatro mapas base para classificação geomorfológica da área de estudo: declividade, orientação das vertentes, drenagens e o mapa de elevação do terreno (modelo digital de terreno). O mapa de declividade da área do estudo (figura 1A) mostra a predominância dos relevos ondulados e fortemente ondulados na maior parte da região, sendo a exceção a porção nordeste, em que há o relevo suavemente ondulado em maior distribuição. Na figura 1B, mapa de orientação das vertentes, é possível observar que existe um controle estrutural na vergência das encostas, sendo reconhecidas áreas com diferentes características. O flanco sul do Anticlinal de Marina (Serra de Ouro Preto) aparece com as vertentes com caimento para sul, sudeste e sudoeste, enquanto o flanco nordeste (Serra de Antônio Pereira) tem as vertentes com orientação para norte e nordeste. No núcleo do anticlinal há a indicação que as vertentes estão predominantemente orientadas para noroeste, seguindo a direção do vale do Rio das Velhas. No mapa de drenagens (figura 1C) é importante observar que existe um interflúvio na região. A serra de Ouro Preto, flaco sul do Anticlinal de Mariana, é o divisor das bacias hidrográficas do Rio Doce e Rio das Velhas. As drenagens possuem padrões paralelos, retangulares e dendríticos, variando conforme ao controle estrutural e litológico. Ainda no decorrer do trabalho, foi realizado o mapa de elevação, figura 1D, da área de estudo. A maior elevação é de 1560m, na Serra de Ouro Preto e menor elevação 690, ocorrente na região norte do município de Mariana. A partir dos mapas gerados e seguindo os critérios de classificação das unidades propostos por Souza et al. (2005) e Oliveira (2010) para a região, foram determinadas oito unidades geomorfológicas (figura 2) para o Anticlinal de Mariana: 1) Topo de morros: São topos em cristas com altitudes variando entre 1300m até 1560m. 2) Escarpas: elevações alongadas com vertentes íngremes e côncavas e alta densidade de canais. 3) Relevo ondulado: desníveis dos topos para os vales são menores que aqueles registrados na Escarpas com alta densidade de canais. 4) Encosta do Rio das Velhas: encostas com altitudes entre 1000m e 1100m. 5) Vale do Rio das Velhas: baixa densidade de drenagem com relevo suavemente ondulado; corresponde a cabeceira do Rio das Velhas. 6) Relevo de Planalto: caracterizando uma plataforma elevada, baixa densidade de canais. 7) Morros com topos arredondados, vertentes convexas e baixa densidade de canais; 8) Relevo Suave-Ondulado: baixa declividade com elevações típicas do Planalto Dissecado, formando mares de morros, com vertentes mais suaves que as unidades anteriores; Também foram gerados a partir do mapa de elevação do Anticlinal de Mariana (figura 3A) três perfis. O perfil A-B (figura 3B), com direção sudeste- noroeste, reflete que o Anticlinal é do tipo “esvaziado”, ou seja, o núcleo foi erodido (Vale do Rio das Velhas) enquanto os flancos (Serra de Ouro Preto e Serra de Antônio Pereira) foram preservados e mantêm as cotas mais altas da região. A figura 5C é um perfil gerado na direção noroeste-sudeste, passando pela zona de charneira do Anticlinal de Mariana e chegando ao relevo característico de planaltos, com altitudes inferiores a 1000m. Por fim, o perfil E-F da figura 5D mostra a Serra de Antônio Pereira (flanco nordeste) separando os domínios Vale do rio das Velhas e dos Morros com Topos Arredondados.

(A) Mapa de declividade do Anticlinal de Mariana. (B) Mapa de orientaç

Mapas guias para caracterização geomorfológica

Mapa da unidades geomorfológicas do Anticlinal de Mariana.

Mapa da unidades geomorfológicas do Anticlinal de Mariana.

(A) Mapa de elevação do terreno. (B) Perfil longitudinal A-B. (C) Perf

(A) Mapa de elevação do terreno. (B) Perfil longitudinal A-B. (C) Perfil longitudinal C-D. (D) Perfil longitudinal E-F.

Considerações Finais

O mapeamento geomorfológico do Anticlinal de Mariana através dos dados SRTM possibilitou a identificação de oito unidades geomorfológicas na região. Com esta ferramenta de trabalho possibilitou-se a identificação e espacialização prévia das unidades de relevo. Além disso, foram gerados três perfis altímetros da área de estudo que permitem identificar tanto as unidades geomorfológicas como as toponímias regionais. Vale ressaltar que as unidades aqui descritas fazem parte de um mapa preliminar, o qual necessita de validação e averiguação em campo para sua posterior utilização.

Agradecimentos

Agradecimento ao Departamento de Geologia/UFOP e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Referências

Alkmim F. F. & Marshak S. Transamazonian Orogeny in the Southern São Francisco Craton Region, Minas Gerais, Brazil: evidence for Paleoproterozoic collision and collapse in the Quadrilátero Ferrífero. Precambrian Research, n. 90, p.29-58, 1998.
Carvalho T.M. & Latrubesse E.M. (2004) O uso de modelos digitais do terreno (MDT) em análises macrogeomorfológicas: o casa da bacia hidrográfica do Araguaia. Revista Brasileira de Geomorfologia, 5(1):85-93p
Felgueiras C.A. (1997) Análises sobre modelos digitais de terreno em ambientes de sistemas de informação geográfica. In: VIII Simpósio Latino Americano de Percepcíon Remota y Sistemas de InformaciónEspacial. Mérida, Venezuela.
Ladeira E. A. 1988. Metalogenia dos depósitos de ouro do Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais. In: Schobbenhaus, C.; Coelho, C. E. S. Principais Depósitos Minerais do Brasil. Brasília: DNPM, 1988. v. 3, p. 301-375.
Latrubesse E.M.; Carvalho, T.M.; Stevaux, J.C.; Moreira, O.L.M.; Rodrigues, P.A. (2005) Mapa Geomorfológico de Goiás e Distrito Federal. In: IX Simpósio de Geologia do Centro-Oeste,Goiânia, página 97.
Lobato L. M. et al. 2005. Projeto geologia do Quadrilátero Ferrífero: integração e correção cartográfica em SIG com nota explicativa. Belo Horizonte: CODEMIG, 2005. CD-ROM.
Souza L. A.; Sobreira F. G.; Prado Filho J. F. 2005. Cartografia e Diagnóstico Geoambiental aplicados ao Ordenamento Territorial do Município de Mariana-MG. Revista Brasileira de Cartografia Nº 57/03. p. 189-203.
Oliveira L. D. 2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de Minas. Departamento de Geologia. 137p.