Autores

Souza, D.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA) ; Rodrigues, S.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA) ; Andrade, I.F. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA)

Resumo

O artigo em questão tem por objeto apresentar um mapa geomorfológico da área nomeada como Serra da Canastra e Entorno, que teve como base metodológica a taxonomia do relevo proposta por Ross e a utilização de geotecnologia para o tratamento, análise e obtenção de dados, afim de gerar o mapa geomorfológico de forma semiautomática. A análise de dados e informações da área de estudo possibilitou a identificação de unidades morfoestruturais, morfoesculturais, Unidades Morfológicas, sendo identificadas oito morfologias que variam entre modelados de agradação e denudação. A análise dos mapas e de todas as informações coletadas possibilitou concluir que trata-se de uma área de estudo muito complexa, principalmente com relação a estrutura geológica que condiciona as formas de relevo da área. Dessa forma o trabalho em questão se mostra de grande importância pois, poucos são os trabalhos com essa temática apresentados na área.

Palavras chaves

Geomorfologia; Compartimentação Geomorfológica; Geotecnologias

Introdução

Como um dos constituintes da litosfera, o relevo durante milhões de anos vem sendo criado e moldado por ações provenientes do interior e exterior a crosta terrestre, além disso, o homem tem desenvolvido diversas alterações no meio físico natural, devido ao seu modo de utilização e ocupação do espaço, colocando-o como um importante agente transformador das formas de relevo. Neste contexto, Silva (2012, p. 20) descreve que após meados do século 20 cada vez mais são realizados estudos e/ou pesquisas frente a morfologia terrestre devido a mesma indicar as consequências das alterações do relevo e resultantes da ação humana no processo de produção do espaço geográfico. Como uma forma de entender a evolução ou os processos formadores do relevo, a Geomorfologia é um campo da Geografia, que apresenta como objeto de estudo as formas de relevo e seus condicionantes, ou seja, a Geomorfologia não se preocupa apenas com as formas em si, mas também com os processos endógenos e exógenos, que estão relacionados tanto com os processos naturais (como o clima, o movimento de placas tectônicas, entre outros), quanto com os processos associados as ações antrópicas, onde ambos, modificam o meio dando novas formas e características ao relevo. Um importante instrumento na pesquisa do relevo, é a Cartografia Geomorfológica, a qual proporciona uma abordagem dinâmica, através da elaboração de cenários gráficos, espaciais e temporais. Souza e Rodrigues (2014) ressaltam que tal cartografia tem ganhado apoio e novas técnicas de abordagem devido aos avanços tecnológicos ocorridos nas últimas décadas. As chamadas geotecnologias têm contribuído não só para a Geomorfologia, mas para as Ciências da Terra (Geologia, Pedologia, entre outros) e para a elaboração de projetos ambientais. Essa contribuição tem se pautado, principalmente, no que se refere à espacialização de informações, ou seja, a elaboração de mapas de elementos ou atributos do terreno que ajudem a compreender a organização e a dinâmica do relevo de forma espacializada. Neste contexto a cartografia e o mapeamento geomorfológico têm ganhado destaque, e diversos são os trabalhos de cunho geomorfológico que apresentam mapas como produtos gerados durante a pesquisa ou como o produto final da mesma. Nesse sentido o artigo em questão tem por objeto apresentar um mapa de unidades geomorfológicas da Serra de Canastra e entorno a partir de técnicas de geoprocessamento e análise de campo. Vale destacar que a escolha da área de estudo adveio pela mesma ser dotada de grande importância científica, por apresentar uma grande diversidade geomorfológica e geológica, pois trata-se de uma área de contato entre duas estruturas de eventos geológicos distintos, que condicionam a variação topográfica, litológica e consequentemente as formas de relevo. Além disso, a área carece de trabalhos e estudos de cunho geomorfológicos. Nessa lógica, a realização de uma cartografia geomorfológica em escala de semidetalhe, da área determinada como Serra da Canastra e entorno proporcionará uma espacialização das diferentes fisionomias do relevo exaltando a organização e relações que as feições estabelecem entre si, além de apresentar sua morfologia e morfogênese, que podem indicar características de manejo de uso que estejam de acordo com a dinâmica ambiental.

Material e métodos

Grande parte das pesquisas de cunho geomorfológico possui quatro fases sendo que em um primeiro momento se faz uma revisão bibliográfica sobre o tema escolhido determinando os objetivos e a linha a ser trabalhada, pois segundo Libault (1971, p. 03), “nenhuma ciência pode se apoiar apenas sobre bases imaginárias, e necessita de uma fase inicial de constatação”, posteriormente são levantados dados e/ou informações da área de estudo (além da coleta de materiais relevantes deve ser realizado trabalho de campo para reconhecimento da área de estudo), esses são analisados e tratados possibilitando a elaboração e obtenção de resultados e por fim são realizados trabalhos de campo para conferencia dos resultados. Dessa forma, o trabalho em questão seguiu essa lógica de pesquisa, destacando que para a elaboração do mapeamento geomorfológico utilizou-se a metodologia proposta por Ross, em que foram abordados os três primeiros táxons, sendo: Unidades Morfoestruturais, Unidades Morfoesculturais e Unidades Morfológicas. Nesse sentido, para alcançar o objetivo desta pesquisa, ou seja, gerar um mapa de compartimentação geomorfológica na escala 1:100.000 da Serra da Canastra e entorno, foram feitos estudos frente ao tema do trabalho e sobre a área de estudo e posteriormente foram elaborados procedimentos em ambiente computacional, utilizando os softwares ENVI 5.1, RockWorcks15 e a plataforma ArcGis 10.2 seguindo o seguinte procedimento (Figura 01): Figura 01: Fluxograma da metodologia aplicada

Resultado e discussão

Diante do objetivo exposto neste artigo e dos estudos teóricos sobre geomorfologia e mapeamento geomorfológico e do reconhecimento da área de estudo, chega-se aos resultados onde são apresentados uma sequência hierárquica de subprodutos que possibilitaram a identificação de unidades geomorfológico que são caracterizadas e apresentadas no mapa de compartimentação geomorfológica da Serra da Canastra e Entorno. Nesse sentido o primeiro produto gerado foi o mapa de unidades morfoestruturais, unidades essas que foram classificadas a partir da análise geológica da área e intituladas por: Coberturas Cenozoicas, Faixa Canastra, Bacia Bambuí e Sistema de Intrusão Piumhi. Segundo Ross (1996),as morfoestrituras são as maiores formas de relevo e de maios extensão em área e determinadas por características estruturais, litológicas e geotectônicas. Após essa primeira classificação do relevo, foram feitas análises de perfis topográficos, de mapas de hipsometria (Figura 02), declividade (Figura 03), e padrões de rugosidade do relevo para definir compartimentos menores que se encontram "dentro" das unidades morfoestruturais. Com a análise hipsométrica observou-se áreas com elevadas altimetrias que variam entre 960 e 1400 metros, que se encontram, principalmente, nas porções oeste e sudeste (onde estão as morfoestruturas: Faixa Canastra e Sistema de Intrusão Piumhi). As demais áreas com tons de verde, caracterizam altimetrias menores que variam entre o ponto mais baixo de 660 metros e o ponto mais alto de 960 metros, tal intervalo é predominante nas morfoestruturas Bacia Bambuí e Coberturas Cenozoicas. Ao comparar os dois intervalos, tem-se que o intervalo entre 660 e 960 tem maior representatividade, ou seja, atingem uma área maior. Destaca-se que os intervalos de 720 a 780 e 780 a 840 apresentam maior área, nesse sentido ao somar as áreas que correspondem ao intervalo de 660 a 960 chega-se ao resultado que o mesmo representa 66% da área total. A declividade permitiu visualizar formas de relvo planas, com padrões diferentes de ondulações (suave, ondulado e forte), e escarpadas. Dessa forma tem-se que o intervalo menor de 2° representa áreas planas que estão presentes, principalmente nas coberturas cenozoicas. Já o intervalo entre 5 e 12° abrange uma área de 43% do perímetro determinado para o estudo em questão, tal intervalo corresponde aos relevos ondulados, ou seja, as superfícies de topografia pouco movimentada (EMBRAPA, 2006). Outro ponto observado no mapa é que o intervalo entre 12 e 25° se expressa principalmente em áreas mais próximas as drenagens, destacando relevos mais dissecados e/ou materiais superficiais frágeis, mais susceptíveis a erosão, tal afirmação é notória nas proximidades dos rios Samburá, Santo Antônio, do Peixe e São Francisco na morfoestrutura Bacia Bambuí. Com relação ao intervalo de maior declive, o mesmo ressalta as bordas das Serras da Canastra e da Babilônia onde encontra-se as formas escarpadas, ou seja, formas abruptas caracterizando superfícies muito íngremes. Como já citado, essas análises morfométricas (hipsometria, declividade, perfis topográficos) e os padrões de rugosidade, permitiu definir as unidades morfoesculturais, que segundo Ross (1992), esse segundo táxon corresponde a compartimentos de relevos menores e de idade inferior, quando comparados ao táxon anterior, além disso, tais compartimentos são formados e/ou esculpidos pela ação climática no decorrer do tempo geológico. As unidades morfoesculturais definidas foram denominadas da seguinte forma: Planícies fluviais, Superfícies Residuais Planas, Depressão, Planalto Dissecado, Superfície de Cimeira, Planalto São Francisco, Planalto Dissecado e Serras e Cristas Isoladas. Com as unidades Morfoesculturais delimitadas, foram identificadas, também, Unidades Morfológicas ou Padrões de Formas Semelhantes, que segundo Ross (1996), tal compartimentação é caracterizada a partir dos aspectos fisionômicos decorrentes das ações dos processos erosivos. Dessa forma ao realizar a análise visual da imagem Landsat 5 e estudo de perfis topográficos foram determinadas superfícies de Agradação e Denudação. A área de acumulação se encontra na Planície Fluvial e é caracterizada como (Apf) área plana resultante de acumulação fluvial sujeita a inundação (IBGE, 2009). Com relação aos modelados de denudação ou dissecação, foram determinadas sete classificações sendo: relevo dissecado (D) com topo convexo (c), plano (p) e aguçado (a), relevo de dissecação estrutural (DE) com topo convexo e aguçado e dissecação caracterizada pela ação da água, apresentando um relevo com uma alta intensidade de incisões resultantes da atuação predominante da erosão pluvial (Dr). Os relevos dissecados com topos convexos tem maior representatividade na área de estudo e são encontrados nas unidades morfoesculturais: Planalto São Francisco, Planalto Dissecado do Sistema de Intrusão de Piumhi, Planalto Dissecado da Faixa Canastra e Depressão. No que se refere a identificação de formas lineares e escarpadas, a análise visual da imagem Landsat 5 sensor TM com a composição RGB543 em conjunto com a rede de drenagem, permitiu identificar 257 lineamentos que variam entre 815m e 1200m e escarpamentos que se encontram nas bordas das Serras da Canastra e da Babilônia. Ao observar o mapa, percebe-se que há um direcionamento preferencial dos lineamentos, grande maioria desses, principalmente os presentes a oeste da área possuem o direcionamento NO – SE (Figura 04). Nesse sentido, ao relacionar esse resultado com os processos geológicos pretéritos, conclui-se que a tectônica brasiliana teve grande influência na formação desses lineamentos que se encontram no setor oeste, assim como na formação dos escarpamentos (Figura 04). E por fim com a obtenção, elaboração e análise de todos esses produtos chega-se ao mapa final de compartimentação geomorfológica que apresentará os três primeiros táxons propostos por Ross, além de lineamentos estruturais e escarpamentos presentes nas Serras da Canastra e da Babilônia (Figura 04).

Fluxograma da metodologia aplicada

Fluxograma representando a metodologia utilizada

Figura 02: Mapa hipsométrico

variação topográfica da área

Figura 03: Mapa de declividade

variação da declividade de área de estudo

Figura 04: Mapa Geomorfológico

geomorfologia da área de estudo

Considerações Finais

Com relação ao mapa Geomorfológico, percebe-se que há uma grande diferença entre os compartimentos presentes nas estruturas Faixa de Dobramentos e Cráton do São Francisco. De uma forma geral a análise desse mapa e os demais produtos permitiu concluir que as áreas de maior resistência aos processos erosivos caracterizam relevos mais elevados, com ocorrência de afloramentos de rochas provenientes do metamorfismo, com topos ondulados além de um significado controle estrutural, no setor oeste onde essa característica é bem representativa, há um grande número de feições lineares condicionando a drenagem, a qual geralmente segue zonas de fraqueza, ou seja, fissuras, fraturas, falhas dentre outros aspectos. Em contra partida, as áreas de menor resistência aos processos erosivos estão presentes nas áreas mais baixas, que se localizam principalmente no setor leste (cráton), e em algumas porções do setor oeste, não demonstrando um controle estrutural significativo, dessa forma a drenagem não apresenta um padrão retilíneo. O material superficial dessa área, em sua grande maioria, possui uma granulometria mais fina com maior susceptibilidade a erosão caracterizando rochas sedimentares.Tais aspectos condicionam relevos mais dissecados ou com maior rugosidade além de apresentar um número significativo de processos erosivos nas vertentes. Vale destacar que as técnicas de geoprocessamento foram satisfatória para a elaboração do mapa e o trabalho de campo essencial para conferencia do mapa

Agradecimentos

Agradeço a FAPEMIG, pelo apoio financeiro permitindo a minha participação no evento e agradeço, também a CAPES pela bolsa de mestrado.

Referências

CHRISTOFOLETTI, A. Introdução à Geomorfologia. In: ______. Geomorfologia. 2. ed. São Paulo: Blucher, 1980. p. 01.

EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solo. Sistema Brasileiro de classificação de solos. Brasília: Embrapa Produção de Informação, Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2006.

IBGE- Instituto de Geografia e estatística. Manual tácnico de Geomorfologia. IBGE, Coordenação de Recursos Naturais e Estudos Ambientais. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. 182 p.

ROSS, J. L. S. O registro cartográfico dos fatos geomorfológicos e a questão da taxonomia do relevo. Revista do Departamento de Geografia, São Paulo: Edusp. n. 6. p. 17-30, 1992.

ROSS, J. L. S.; MOROZ, I. C. Mapa geomorfológico do Estado de São Paulo. Revista do Departamento de Geografia, São Paulo: Edusp. n.10, p.41-56, 1996.

SILVA, Q. D. Mapeamento Geomorfológico da Ilha do Maranhão. 2012. 249f. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2012.

SOUZA, D. A. de; RODRIGUES, S. C. Aspectos Morfoestruturais e Morfoesculturais da Serra da Canastra e Entorno (MG). Revista do Departamento de Geografia – USP, São Paulo, v. 27, p. 47-66, 2014.