Autores

Avelino, E. (IFMT) ; Santos, A. (IFBA)

Resumo

Esta pesquisa tem o objetivo utilizar o sensoriamento remoto para o mapeamento das unidades de relevo no município de Maragojipe, na Bahia. A concepção teórica do estudo fundamentou-se nas seguintes contribuições: Projeto RADAMBRASIL (1981); Ross (1992); Valeriano (2004) e Guerra & Marçal (2006). A pesquisa utilizou a carta topográfica, em formato vetorial, da folha Baía de Todos-os-Santos (IBGE, 1967) e Santo Antônio de Jesus (SUDENE, 1977), com escala 1:100 000, fez uso de imagens do satélite ASTER GDEM, cena S13W039 e S13W040, resolução espacial de 30m, ano de 2009, cedidas pelo METI (Japão) e pela NASA (USA). Os resultados permitiram identificar seis unidades de relevo na área de estudo, denominadas de: (i) Planície Fluvial; (ii) Planície Fluviomarinha; (iii) Baixadas Costeiras; (iv) Superfícies Tabulares; (v) Tabuleiros Rebaixados e (vi) Tabuleiros Pré-Litorâneos. Os resultados desse estudo legitimaram a importância do Sensoriamento Remoto no mapeamento do relevo.

Palavras chaves

GEOMORFOLOGIA ; SENSORIAMENTO REMOTO; MAPEAMENTO

Introdução

O mapa de relevo tornou-se relevância nos estudos ambientais, uma vez que esse tipo de informação permite identificar as áreas passíveis à ocorrência de inundações; de deslizamentos de terras e de processos erosivos, criando condições para que o espaço seja ocupado de maneira racional. De acordo com Ross (2009), o relevo da superfície terrestre é o chão onde a humanidade constrói e desenvolve as suas atividades, nesse sentido, a Geomorfologia ajuda a explicar como os espaços territoriais se organizam a partir das ações humanas. O relevo possuem dinâmicas com velocidades diferentes, senso assim, ora são estáveis, ora são instáveis (ROSS, 1992). Estes comportamentos são resultados não apenas dos processos naturais, mas tem relações com as diversas formas de intervenção humana no espaço. Sendo assim, a necessidade de compreender a complexidade existente na formação do relevo contribuiu para a elaboração de diferentes propostas de classificação geomorfológica. No Brasil, pode-se destacar os trabalhos realizados por Azevedo (1949); Ab‘Sáber (1964) e Ross (1985). Na produção de mapas de relevo uma questão que se destaca diz respeito à escala do mapeamento. Nesse sentido, Ab‘Sáber (1998) em revisão de trabalhos sobre mapeamentos de relevos chamou a atenção para a escassez de pesquisas feitas em escalas mais detalhadas, como por exemplo 1:100.000. Vale ressaltar que a classificação taxonômica do relevo proposta por Tricart (1965) e a sua leitura adaptada ao contexto brasileiro por Ross (1992) constitui um procedimento metodológico que tem ajudado a adequar as questões da representação do relevo e da escala do mapeamento aos recortes espaciais menores. Diante das considerações expostas, esta pesquisa tem o objetivo de utilizar o Sensoriamento Remoto para o mapeamento das unidades de relevo, no município de Maragojipe, na Bahia. Nos últimos anos, a área de estudo passa por processo de reorganização de suas funções produtiva, devido a reativação da atividade de produção de navios para transporte de cargas. O município de Maragojipe possui 42.815 habitantes (IBGE, 2010), está localizado na Região do Recôncavo, situado a cerca de 150 km de distância de Salvador, a capital do Estado da Bahia (BAHIA, 2012). Nos últimos anos, muito se tem pesquisado acerca do município de Maragojipe, entretanto, as informações desses estudos, em boa parte, estão dispersas ou são de difícil acesso. Sendo assim, os resultados dessa pesquisa ajudam a compreender a realidade geográfica da área de estudo.

Material e métodos

A concepção do estudo fundamentou-se nas contribuições de Guerra & Marçal (2006); de Valeriano (2004) e na proposta metodológica de Ross (1992). A pesquisa utilizou a carta topográfica da folha Baía de Todos-os-Santos (IBGE, 1967); da folha Santo Antônio de Jesus (SUDENE, 1977) e a base cartográfica do Município de Maragojipe (IBGE, 2010) em formatos vetoriais. Além disso, usou imagem do satélite ASTER GDEM, cena S13W039 e S13W040, resolução espacial de 30m, ano de 2009, cedidas pelo The Ministry of Economy, Trade and Industry of Japan (METI, Japão) e National Aeronautics and Space Administration (NASA, USA). Além disso, dados da estrutura geológica da área de estudo obtido por meio do Projeto RADAMBRASIL (1981). O primeiro procedimento do mapeamento do relevo consistiu na identificação da estrutura rochosa (morfoestrutura apud ROSS, 1992) da área de estudo, a partir da leitura e interpretação dos dados geológicos segundo o RADAMBRASIL (1981). Em seguida ocorreu o processamento da imagem ASTER GDEM, por meio da qual, extraíram-se os dados de: (i) hipsometria – identificar a variação das formas do relevo com base na altitude do terreno; (ii) declividade - identificar nas unidades de relevo as vertentes mais inclinadas e as mais suaves; (iii) relevo sombreado - visualizar a variação das formas de relevo no terreno e fazer relação com os padrões de drenagens. A partir da análise da estrutura rochosa da área de estudo (RADAMBRASIL, 1981) constatou-se que o município de Maragojipe está inserido em três estruturas rochosas denominadas de: Embasamento Cristalino, Estrutura Sedimentar e Depósitos Quaternários. Estes dados foram relacionados aos produtos extraídos da imagem de satélite ASTER GDEM (hipsometria, declividade e relevo sombreado). Dessa maneira, por meio do uso da técnica da sobreposição dos dados foi possível identificar seis unidades de relevo no município de Maragojipe, Bahia. No que refere-se às identificação do relevo, faz-se importante destacar que a estrutura rochosa e os dados de hipsometria, declividade e relevo sombreado foram os principais parâmetros utilizados nesse estudo para a identificação das unidades de relevo. Assim, a sobreposição desses dados em conjunto com o uso de técnicas visuais ligadas à fotointerpretação (cor, textura, tamanho, altura, forma, localização e contexto) foi possível identificar em cada estrutura rochosa duas unidades de relevo, por meio da qual foi criada a legenda do mapa e se estabeleceu as seguintes nomenclaturas: PLANÍCIE FLUVIAL, PLANÍCIE FLUVIOMARINHA, BAIXADA COSTEIRA, SUPERFÍCIES TABULARES, TABULEIRO REBAIXADO E TABULEIRO PRÉ-LITORÂNEO. Vale ressaltar que a diferenciação entre PLANÍCIE FLUVIAL e PLANÍCIE FLUVIOMARINHA deu-se em função da análise dos dados de hipsometria, bem como dos elementos visuais ligadas à fotointerpretação da imagem de satélite, tais como: cor, textura, forma, localização e contexto. A etapa seguinte foi delimitar as unidades de relevo na imagem de satélite ASTER GDEM, com base no método denominado de paralelepípedo, segundo as técnicas de classificação supervisionada de imagem de satélite (CROSTA, 1999). Por fim, a última etapa do estudo foi a aplicação da técnica de amostragem aleatória simples que ajudou a definir as áreas a serem visitadas na atividade de campo, com o intuito de legitimar as unidades de relevo mapeadas.

Resultado e discussão

O processamento das imagens ASTER GDEM favoreceu a aquisição dos seguintes produtos: (i) HIPSOMETRIA - na área de estudo, os intervalos variaram de 30m até 240m, sendo que as áreas de planície estão situadas de 30-60m; o relevo das áreas intermediárias está entre 61-90m de altitude; e as altitudes das áreas mais elevadas estão entre 91-240m (figura 1a). (ii) DECLIVIDADE - foram estabelecidas cinco classes de declividade, conforme a proposição de Ross (1992), por meio desses dados se constatou que na área de estudo predomina as áreas planas e com relevo pouco acidentado (figura 1b). (iii) RELEVO SOMBREADO - imagem sombreada ajudou na identificação dos aspectos texturais, de orientação da rede de drenagem e do relevo, por meio do qual, se conseguiu visualizar as áreas planas, os vales, os topos de morros e entre outras feições (figura 1c). Os dados de hipsometria, relevo sombreado, declividade e curva de nível auxiliaram na identificação das unidades de relevo, bem como na elaboração da legenda do mapa. A sobreposição desses dados auxiliou na visualização das seguintes unidades de relevo: (a) Planície Fluvial; (b) Planície fluviomarinha; (c) Baixadas Costeiras (d) Superfícies Tabulares; (e) Tabuleiros Rebaixados e (f) Tabuleiros Pré-Litorâneos (figura 2). a) Planície Fluvial Esta unidade geomorfológica se desenvolveu a partir da acumulação de sedimentos e está localizada nas áreas baixas e planas, com altitude de 11- 60m. As planícies fluviais constituem depósitos do tipo arenosos ou argiloarenosos, formadas em terreno aplainado e susceptível à inundação, se estende ao longo dos afluentes do rio Paraguaçu. No mapa essa unidade é representada pelo padrão Apf. b) Planície Fluviomarinha A planície fluviomarinha constitui às áreas baixas e planas situadas ao longo de regiões costeiras, estuários e baías, onde a dinâmica dos ciclos das marés predomina sobre os movimentos das ondas marítimas (BRASIL, 1981). Em Maragojipe, essa unidade está situada entre 0-10m de altitude, o relevo possui modelado de acumulação e se desenvolveu a partir da combinação de processos geológicos e climáticos que resultaram na acumulação de sedimentos nas terras baixas e planas. No mapa essa unidade é representada pelo padrão Apfm. c) Baixadas Costeiras O relevo está sustentado pelas rochas sedimentares do Grupo Brotas, situado entre os materiais argilo-siltosos (Leste) e as rochas do embasamento cristalino (Oeste). Constitui colinas rebaixadas e remanescentes de tabuleiros, com altitude entre 31-60m. A drenagem é do tipo dendrítica, onde são encontradas as seguintes formas: colinas, rampas e lombas. No mapa essa unidade é representada pelo padrão De. d) Superfícies Tabulares Nessa unidade geomorfológica os tabuleiros costeiros não são dissecados, por conta da ausência de rede de drenagem sobre o terreno plano. As altitudes variam 90-180m, se caracterizando por apresentar extensas áreas planas, sendo as suas bordas delimitadas por vertentes íngremes. No mapa essa unidade é representada pelo padrão Dp. e) Tabuleiros Rebaixados Essa unidade de relevo se desenvolveu sobre as rochas do embasamento cristalino. As feições desse tipo de tabuleiros tiveram rebaixamento devido à influência do clima sobre o modelado de dissecação homogênea. Os seus interflúvios correspondem aos outeiros e colinas com vertentes convexas e convexo-côncava (BRASIL, 1981). Possui altitudes que variam de 60-120m, onde se encontram colinas e vales em “U”. No mapa essa unidade é representada pelo padrão Dt1. f) Tabuleiros Pré-Litorâneos Essa unidade de relevo está sobre as rochas do embasamento cristalino. Os Tabuleiros Pré-Litorâneos possui modelado de dissecação homogênea, os seus interflúvios correspondem aos outeiros e morros com vertentes convexas e convexo-côncava, com topo abaulado (BRASIL, 1981). Os Tabuleiros Pré- Litorâneos possuem nível altimétrico acima de 91- 240m, ocupando os terrenos mais elevados. No extremo Oeste da área de estudo, predominam os morros com vales encaixados (vales em “V”) e as vertentes com declividades que variam entre 30° e 45° (BRASIL, 1983). No mapa essa unidade é representada pelo padrão Dt2.

Figura 1

Figura 1: a) Hipsometria; b) Declividade; c)Relevo sombreado. Elaboração, Avelino, 2016.

Figura 2

Figura 2: Unidades de relevo, município de Maragojipe, Bahia. Elaboração: Avelino, 2016

Considerações Finais

A utilização da imagem ASTER GDEM permitiu a extração de dados sobre a hipsometria, curvas de níveis, declividade e relevo sombreado. Estes dados foram correlacionados com dados sobre as características das unidades rochosas da área de estudo, considerando as concepções de morfoestrutura e morfoescultura, segundo Ross (1992). Por meio dos aspectos teóricos e procedimentos metodológicos foi possível identificar e mapear na área de estudo seis unidades de relevo, denominadas como: (i) Planície Fluvial; (ii) Planície Fluviomarinha; (iii) Baixadas Costeiras; (iv) Superfícies Tabulares; (v) Tabuleiros Rebaixados e (vi) Tabuleiros Pré-litorâneos. Os resultados do estudo legitimou a importância do sensoriamento remoto para o mapeamento das unidades de relevo, considerando o recorte espacial do município. Além disso, contribuiu para a compreensão geográfica do município de Maragojipe, na Bahia.

Agradecimentos

Agradecemos ao IFMT Campus Avançado Diamantino e ao IFBA Campus Salvador por custear despesas que viabilizaram a participação no XI SINAGEO.

Referências

AB‘SÁBER, Aziz Nacib. Megageomorfologia do território Brasileiro. In: CUNHA, S. B.; GUERRA, A. J. T., (org.). Geomorfologia do Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998, p. 71-94.
BAHIA. Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais. Estatística dos Municípios Baianos. v. 4, n. 1. Salvador: SEI. 2012.
BRASIL. Ministério de Minas e Energias. Secretaria Geral. Projeto RADAMBRASIL folha 25/25 Aracaju/ Recife; geologia, geomorfologia, pedologia vegetação e uso potencial da terra. Rio de Janeiro, 1981.
CROSTA, A. P. Processamento digital de imagem se sensoriamento remoto. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1999.
GUERRA, Antônio José Teixeira; MARÇAL, Mônica dos Santos. Geomorfologia Ambiental. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
IBGE. Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.
ROSS, Jurandir. Ecogeografia do Brasil: Subsídios para o planejamento ambiental. São Paulo: Oficina de Texto, 2009.
______. O registro cartográfico dos fatos geomórficos e a questão da taxonomia do relevo. Revista do Departamento de Geografia. São Paulo, n. 6, p. 17-29, 1992.
TRICART, Jean. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE, 1977.
VALERIANO, Márcio de Marisson. Modelo Digital de Elevação com Dados SRTM Disponíveis para América do Sul. São José dos Campos: INPE, 2004.