Autores

Laszlo, J. (FCT-UNESP)

Resumo

Os estudos das morfologias do relevo efetuados através do uso de índices de dissecação do relevo e padrões de formas do relevo permitem o mapeamento geomorfológico da área em evidência, no caso as Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe. Deste modo possibilitou representar as variações espaciais e suas relações com a estrutura, litologia e processos advindos das ações climáticas, bem como com a própria dinâmica processual e evolutiva. Para o mapeando geomorfológico dos padrões de dissecação do relevo destas bacias, foi utilizado a matriz dos índices de dissecação, adaptada de ROSS (1992), baseada em informações da dimensão interfluvial média e entalhamento médio dos vales. Assim com a aplicação da metodologia proposta, foram encontrados dissecações de topos tabulares (Dt), dissecações de topos convexos (Dc) e por fim áreas de Planícies e Terraços Fluviais (Apf), mostrando a homogeneidade destas bacias e de sua monotonia geomorfológica.

Palavras chaves

Padrões de Dissecação; Morfologias; Bacia Hidrográfica

Introdução

Um fator a muito importante a se destacar em estudos de geomorfologia é a influência das estruturas geológicas e litológicas de uma determinada área, ou no caso, de uma bacia hidrográfica; mas não somente a geologia (forças endógenas) faz parte desse sistema que molda as formas do relevo, há também a influência climática (forças exógenas) e também as ações antrópicas. Contudo a geologia caracteriza-se como agente causador de maior importância dentro desta equação quando o assunto é afeiçoar as formas do modelado terrestre. Os estudos das morfologias do relevo efetuados através do uso de índices de dissecação do relevo e padrões de formas do relevo permitem o mapeamento geomorfológico da área em evidência, possibilitando representar as variações espaciais e suas relações com a estrutura, litologia e processos advindos das ações climáticas, bem como com a própria dinâmica processual e evolutiva (estágio evolutivo do relevo). Conforme estudos feitos por ROSS (1992), no qual o mesmo elaborou uma matriz que deve ser utilizada como referencial morfométrico para pequenas e médias escalas, baseadas nas relações de densidade de drenagem/dimensão interfluvial média para a dissecação no plano horizontal e nos graus de entalhamento dos canais de drenagem para dissecação no plano vertical, sendo classificadas categorias que variam de muito fraca a muito forte. Deste modo Devicari (2010), descreve que na coluna da dimensão inter-fluvial média os valores mais altos dos interflúvios estão à esquerda, diminuindo para a direita. Já nas colunas verticais, os graus de entalhamento dos vales crescem do topo para a base da matriz, do menor para o maior grau de entalhamento. Esta metodologia consiste em estudar todos os canais de primeira ordem, ou seja, foram tomadas medidas considerando desde os vales entalhados, a partir dos canais de primeira ordem até os maiores hierarquicamente. O mesmo autor (2010), afirma que dimensão interfluvial média os valores são inversamente proporcionais, ou seja, quanto maior a densidade de drenagem menor a dimensão interfluvial média. Com relação ao índice de dissecação, o menor valor numérico é a dissecação mais fraca (11) e o maior valor numérico é a dissecação mais forte (55).

Material e métodos

O mapeamento dos padrões de dissecação do relevo e a identificação e distinção das morfologias predominantes, foi obtido da matriz dos índices de dissecação, adaptada de ROSS (1992), baseada em informações da dimensão interfluvial média nas colunas horizontais e entalhamento médio dos vales nas colunas verticais. Assim a dimensão interfluvial ficará classificada em: Muito Grande, Grande, Média, Pequena e Muito Pequena e o entalhamento médio dos vales ou classes de entalhamento classificam-se em: Muito Fraca, Fraca, Média, Grande e Muito Grande, sendo isto já descrito anteriormente no texto. Na proposta taxinômica do relevo cartografada, foram compiladas as unidades de formas semelhantes do relevo propostas por Ross (1992), ou seja, a 3° proposta taxinômica do relevo, que as define como “conjuntos de tipologias de forma que guardam entre si elevado grau de semelhança, quanto ao tamanho de cada forma e o aspecto fisionômico. E por fim o 4º táxon, que são as formas de Relevos Garcia & Trombeta et al (2013), definem por letras minúsculas indicando, por exemplo, formas dos topos convexos (c), tabulares (t), entre outros, caracterizadas por diferentes tamanhos e inclinação de vertentes.

Resultado e discussão

Partindo das morfoestruturas até a escala taxinômica analisada, as Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe, estão inseridos na Bacia Sedimentar do Paraná que de acordo com Loczy & Ladeira (1976) apud Ross & Moroz (1997), a Bacia Sedimentar do Paraná representa uma complexa fossa tectônica. Seu embasamento é constituído principalmente de rochas cristalinas pré- cambrianas e, subordinadamente, por rochas eo-paleozóicas afossilíferas e encontra-se preenchida por sedimentos na maior parte continentais e alguns depósitos marinhos, datados do Siluriano Superior até o Cretáceo (Grupo Bauru), além de lavas basálticas de idade mesozoica. Embutida na morfoestrutura Bacia Sedimentar do Paraná encontra-se a morfoestrutura denominada Bacias Sedimentares Cenozóicas, representada na área de estudo pelas planícies fluviais (unidades morfoescultural). Quanto às Morfoesculturas, foram identificadas o Planalto Central Ocidental e o Planalto Residual de Marília (inseridos na morfoestrutura Bacia Sedimentar do Paraná) e as Planícies Fluviais (morfoestrutura Bacias Sedimentares Cenozóicas). O Planalto Central Ocidental é definido por Garcia & Trombeta et al (2013), como terrenos sedimentares com idades desde o Devoniano ao Cretáceo, e “todo contato dessa unidade com as depressões circundantes é feito através de escarpas que se identificam como frentes de cuesta única, ou desdobradas em duas ou mais frentes” (ROSS, 2009). Já o Planalto Residual de Marília segundo Santos & Nunes (2007) é típico de centro de bacia sedimentar, por isso tem gênese e evolução singular, sendo denominado de Tabuliforme. Seu principal agente esculturador foram as sucessivas alternâncias climáticas ocorridas no período geológico do Quaternário com sedimentação fluvio- lacustre (rios e lagos) e cimentação carbonática. Para a identificação das morfologias e dos índices de dissecação, um fator preponderante e de extrema importância e a utilização correta da cartográfica geomorfológica no âmbito dos estudos de áreas naturais e não naturais. A geomorfologia e a cartografia geomorfológica assumem o papel de representar a realidade das paisagens, onde se torna possível correlacionar diferentes outros fatores, tanto naturais como antrópicos, na busca de mitigar questão que abrangem a escalar a ser analisada. De acordo com a proposta taxinômica escolhida para a análise das morfologias e dos índices de dissecação do relevo, foram encontradas em grande parte das Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe, modelados de dissecação com topos convexos (Dc), apenas uma área com modelados de dissecação com topos tabulares (Dt) e três áreas de Planícies e Terraços Fluviais (Apf), mostrando a homogeneidade destas bacias e de sua monotonia geomorfológica. A figura 1 mostra a distribuição das morfologias presentes nas Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe. Garcia & Trombeta et al (2013), utilizam da definição de que os modelados de dissecação com topos tabulares (Dt) como feições de rampas suavemente inclinadas. Em geral, são definidas por rede de drenagem de baixa densidade, com vales rasos, apresentando vertentes de pequena declividade. Resultam da instauração de processos de dissecação, atuando sobre uma superfície aplanada (IBGE, 2009) e constituem Formas de Relevos identificadas como colinas amplas e baixas, cujos Índices de Dissecação do Relevo indicam que o grau de entalhamento dos vales varia entre fraco e médio e que a densidade de drenagem é baixa. Já os modelados de dissecação com topos convexos (Dc), de acordo com o IBGE (2009), são caracterizados por vales bem definidos e vertentes de declividades variadas, entalhadas por sulcos e cabeceiras de drenagem de primeira ordem. Os Índices de Dissecação do Relevo obtidos na área de estudo indicam graus de entalhamento dos vales variando entre fraco e médio e densidade de drenagem média, o que caracteriza Formas de Relevo de colinas baixas e médias com topos mais estreitos e alongados. . As unidades morfoesculturais planícies fluviais são relevos que correspondem às áreas essencialmente planas, geradas pela agradação de sedimentos recentes de origem fluvial estão associadas geralmente aos depósitos do Quaternário, principalmente do Holoceno (ROSS, 1996). Estas áreas estão totalmente associadas com a área de influencia do reservatório da Usina Hidrelétrica de Porto de Porto Primaveira, localizadas nos baixos cursos dos Rios Aguapeí e Peixe. Agora em números absolutos e relativos, a figura 2, mostras a distribuição das formas presentes na Bacia hidrográfica do Rio Aguapeí, que apresenta um predominio maior de formas dissecadas de topos tabulares, distribuidas em cerca de 6.489,436 km² (49,2%) ao longa desta área de drenagem, já as formas dissecadas de topos convexos se distribuem por 5.796,868 km² (44%) e por fim as áreas de planicies fluviais representam 896,565 km² (6,8%). Na Bacia Hidrográfica do Rio do Peixe, conforme mostra a figura3, há uma mudança significativa na distribuição das unidades de padrões de formas semelhantes, na qual a um predomínio mais acentuado das formas de dissecação de topos convexos que se distribuem em aproximadamente 6.489,436 km² (61%), onde na Bacia Hidrográfica do Rio Aguapeí, as formas de dissecação de topos tabulares eram mais expressivas. As formas de dissecação de topos tabulares ocupam cerca de 3.656,959 km² (34%) e já as áreas de planícies fluviais correspondem a cerca de 537,846 (5%), na qual tantos os números absolutos quantos relativos se apresentam menores na Bacia Hidrográfica do Rio do Peixe, por apresentar uma única área de Planície Fluvial encontra na foz do mesmo. Por fim na figura 4, o contexto geral das Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe, as formas de dissecação de topos convexos se destacam de uma forma geral, se apresentando em cerca de 12.326,943 km² (51,7%), distribuídos em sua maioria na Bacia Hidrográfica do Rio do Peixe, como salientado anteriormente. As formas de dissecação de topos tabulares correspondem a aproximadamente a 10.146,395 km² (42,3%) concentradas mais ao longo da Bacia Hidrográfica do Rio Aguapeí. E, as áreas de planícies fluviais são totalizadas ao longo das Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe por cerca de 1.434,411 km² (6%).

Figura 1 – Mapa das unidades de padrões de formas semelhantes nas Baci



Figura 2 – Gráfico representativo das distribuições percentuais das un



Figura 3 – Gráfico representativo das distribuições percentuais das un



Figura 4 – Gráfico representativo das distribuições percentuais das un



Considerações Finais

Entrando um pouco no mérito das relações dos processos e dinâmicas endógenas e exógenas, as morfologias das vertentes das Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe, contem uma relação intrínseca com os processos endógenos, ou seja, sendo determinados justamente por variações geológico-litológicas de uma determinada área, porém ainda sim sofrendo a influências dos fenômenos externos, como as oscilações climáticas e do próprio homem, como agente geomorfológico, questão que vem sendo fortemente debatida. Assim as morfologias das vertentes aparentemente, teriam como fator determinante, os processos exógenos citados anteriormente, todavia, são as dinâmicas internas da terra que determinam inúmeros processos geomorfológicos, onde a esculturação do modelo terrestre e a velocidade do mesmo, é dada pela resistência do embasamento rochoso, que juntamente com a competência dos fatores climáticos, criam e modelam formas que são apreciadas em todo o planeta.

Agradecimentos

Referências

DEVICARI, L. F. O modelado do relevo como fator topográfico na equação universal de perdas de solo, 2010. 64 f. Dissertação (mestrado em geografia e geociências, área de concentração em análise ambiental e dinâmica espacial) Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria.
GARCIA, R.M.; TROMBETA, L.R; NUNES, R.S.; GOUVEIA, I. C. M. C.; LEAL, A. C. Mapeamento geomorfológico da unidade de gerenciamento de recursos hídricos Pontal do Paranapanema, São Paulo, Brasil. In : Workshop Internacional Sobre Planejamento e Desenvolvimento Sustentável em Bacias Hidrográficas, 2013, Presidente Prudente. Anais do IV Workshop Internacional Sobre Planejamento e Desenvolvimento Sustentável em Bacias Hidrográficas, 2013, v.IV. p. 1487-1500.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Manual técnico de geomorfologia. 2 ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009.
ROSS, J. L. S. O registro cartográfico dos fatos geomorfológicos e a questão da taxonomia do relevo. Revista do Departamento de Geografia. São Paulo, v.6, p.17-29.1992.
ROSS, J. L. S.; MOROZ, I. C. Mapa geomorfológico do Estado de São Paulo. Revista do Departamento de Geografia. São Paulo, v.10, p.41-58.1997.
ROSS, J. L. S. Ecogeografia do Brasil: subsídios para planejamento ambiental. São Paulo: Oficina de Textos, 2009.
SANTOS, C. A. M.; NUNES, J. O. R. Mapeamento geomorfológico do perímetro urbano do munícipio de Marília – SP. Geografia em Atos (UNESP, Impresso), v.1, p. 13/2-28, 2007.