Autores

Passos, M.R.S. (UFES) ; Coelho, A.L.N. (UFES)

Resumo

Este artigo tem como principal objetivo apresentar o “Projeto Mapeamento Geomorfológico do Espírito Santo” por meio de uma aplicação WebGIS, que incorpora a cartografia geomórfica em aplicações móveis, de forma interativa, para aprimorar os estudos e o mapeamento em atividade de campo. A proposta explora conceitos geomorfológicos, envolvendo a linguagem cartográfica, por meio de diferentes recursos da WebGIS, acessíveis em dispositivos portáteis. Os resultados mostram que mapas interativos nesses dispositivos são importantes instrumentos nas campanhas de campo, contribuindo no maior entendimento do relevo local e regional, na percepção sociedade/natureza, além de permitir o complemento de informações nos bancos de dados existentes, como também a inclusão de novos planos de informação para diferentes estudos da paisagem por meio de funcionalidades colaborativas

Palavras chaves

Cartografia Geomorfológica; WebGIS; Mapeamento Colaborativo

Introdução

Reconhecer no espaço geográfico a relação sociedade e natureza é refletir, antes de tudo, nas questões ambientais e sociais, atribuindo à linguagem cartográfica elementos de leitura e representação das intervenções antrópicas. Partindo da premissa que os estudos associados ao relevo contribuem com as interpretações das condições ambientais, as geotecnologias subsidiam a visão sistêmica e a análise integrada da multitemporalidade da paisagem, possibilitando a publicação, a análise e a visualização de dados cartografados, aqui representados pela geomorfologia, “ciência que estuda as formas de relevo” (CHRISTOFOLETTI, 1980. p.1). Acerca dos estudos do relevo e da crescente transformação da paisagem, o meio ambiente tornou-se palco das investigações espaciais para fins de planejamento e gestão ambiental, como destaca Suertegaray (2002, p. 48 apud Coelho, 2007, p. 7): “Vivemos um momento da história onde na sociedade tudo tornou-se ambiental”, como: a expansão da urbanização, a degradação ambiental, os sistemas fluviais, entre outros. Neste cenário, as geotecnologias trazem importantes contribuições no ensino da geografia física, ampliando a construção do pensamento geográfico, principalmente com a investigação em campo e coleta de dados, que necessitam da caracterização paisagística. Diante do exposto, os estudos ambientais abarcam novas formas para explorar e perceber tanto as transformações da expansão urbana como a ocupação de áreas vulneráveis; essas novas formas de explorar e perceber partem de uma interação espacial entre o espaço da WebGIS - que possibilita o acesso a mapas dinâmicos - o homem (pesquisador, aluno, professor) e os órgãos de planejamento territorial. Nesta perspectiva, estas tecnologias incluem recursos e possibilidades no acesso e na coleta de informações em campanhas de campo, que contribui no estudo do relevo e na análise do espaço geográfico de forma dinâmica e interativa. Lo e Yeung (2007), Nogueira (2008), Miranda (2010), Sheeha (2015) e Maguire et al (2013) apresentam o conceito de mapas dinâmicos - conjunto de mapas com funcionalidades de interação. Nos mapas dinâmicos, o usuário pode escolher as variáveis cartográficas, navegar no mapa aplicando recursos de movimento, ampliar e reduzir para diferentes visualizações, inserir pontos com coordenadas conhecidas, imprimir visualizações, entre outras. Desta forma, a comunicação visual por meio de recursos da cartografia com emprego de novas tecnologias, a exemplo da WebGIS, contribui e incrementa as pesquisas voltadas para o estudo do relevo, da paisagem, dos recursos naturais, da dinâmica de ocupação territorial em pesquisas educacionais, servindo de suporte para compreender as relações sociais, os processos de organização espacial e os usos que causam impactos ao meio. Nesse contexto, o presente artigo tem como objetivo principal apresentar o “Projeto Mapeamento Geomorfológico do Espírito Santo” por meio de uma aplicação WebGIS, que incorpora a cartografia geomorfológica em aplicações móveis, de forma interativa para aprimorar os estudos e o mapeamento em atividade de campo. Como objetivos específicos, o estudo pretende: elaborar o website e disponibiliza-lo para visualização, consulta e mapeamento colaborativo; apresentar o WebGIS como recurso didático na exploração de mapas temáticos, imagens de satélite multitemporais e serviços adicionais, a fim de contribuir para o ensino da cartografia geomorfológica e estudos ambientais.

Material e métodos

Para que os objetivos propostos nesse estudo fossem alcançados, foi realizado o levantamento teórico conceitual, sobre temas referentes à cartografia geomorfológica: a) o conceito de espaço total, segundo Ab’Sáber (1969), b) o estudo da geomorfologia integrado as transformações territoriais, segundo Guerra e Marçal (2006), c) as vulnerabilidades dos ambientes resultantes da relação homem e natureza, d) a WebGIS e as aplicações mobile. No que tange a linguagem cartográfica e a cartografia geomorfológica foram considerados alguns autores como Joly(1990), Fitz (2008ab), Florenzano (2007 e 2008). Em seguida, foram adquiridos os dados cartográficos do Projeto Mapeamento Geomorfológico do Espírito Santo, disponibilizados gratuitamente pelo Instituto Jones dos Santos Neves – IJSN através do sítio eletrônico: www.ijsn.es.gov.br/ (IJSN, 2013). A manipulação, o processamento e a exportação dos dados vetoriais e matriciais foram realizados no SIG ArcGIS 10.3.1, disponível no Laboratório de Cartografia Geográfica e Geotecnologias - LCGGEO da UFES. O processo de migração para diferentes plataformas de acesso à aplicação envolveu etapas distintas: na primeira foi utilizado o Google FusionTables - plataforma livre que possibilita a produção, armazenamento, visualização, consulta de mapas, gráficos e tabelas - permitindo que os dados sejam compartilhados na nuvem computacional do Google e visualizados instantaneamente em web sites e blogs (Google, 2015). O próximo passo foi à configuração do website que é um canal de comunicação e troca, com a construção do um site denominado Cartografia Gemorfológica, disponível em <http://cartografiageomorfologica.blogspot.com.br/>.

Resultado e discussão

O uso desta técnica possibilitou difundir a cartografia geomorfológica por meio de diferentes recursos da WebGIS, acessíveis em dispositivos portáteis, servindo de suporte para compreender as formas de relevo e suas inter-relações aos estudos dos problemas decorrentes do processo de interferência da paisagem pelo homem. Como exemplo prático apresenta-se, na Figura 1, o site “Cartografia Geomorfologica” possibilitando o acesso a um conjunto de mapas em diferentes ambientes, seja no computador desktop, em notebooks e em dispositivos móveis como tablets e smartphones. O site está subdividido em várias secções, apresentando na página inicial o acesso as principais informações e as páginas “Morfoestruturas”, “Regiões” e “Unidades” resultado da configuração dos arquivos KML no Google Fusion, enquanto página WebGIS, mostra o conjunto de camadas integradas, resultado da configuração app ArcGIS. Já na página “Mapeamento Colaborativo” os usuários podem interagir com a base de dados da aplicação, desenvolvendo o relatório de campo, enviando fotos com coordenadas e informações sobre a paisagem. Este recurso traz contribuições importantes para o ensino da geografia e de áreas correlatas, inferindo novos caminhos e possibilidades, que ampliam o potencial para a construção do pensamento geográfico, principalmente com a investigação em campo, que necessitam da caracterização paisagística e a validação de dados. De forma detalhar uma das possíveis consultas no site destacamos as Unidades Morfoestruturais - Primeiro Táxon - acessadas em um dispositivo móvel como smartphone (Figura 2), que corresponde aos grandes conjuntos de formas que apresentam características geológicas prevalecentes, tais como direções estruturais que se refletem no direcionamento geral do relevo ou no controle da drenagem principal (Ross e Fierz, 2005 e IBGE, 2009). Estas Unidades Morfoestruturais no Estado do Espírito Santo estão divididas em três classes: a primeira corresponde aos Depósitos Sedimentares caracterizados pela ocorrência de sedimentos arenosos, argilo-arenosos com níveis de cascalho e locais de acumulação fluvial, abrangendo 37% Estado. A segunda classe representa as Faixas de Dobramentos Remobilizados evidenciados pelos movimentos crustais, com marcas de falhas, deslocamentos de blocos e falhamentos transversos, impondo nítido controle estrutural sobre a morfologia atual, cobrindo 51% do ES; e a terceira classe é representada pelos Maciços Plutônicos (Figura 3a) destacados pela ocorrência de grandes massas intrusivas predominantemente ácidas de idades diferentes, correspondentes a suítes intrudidas em rochas proterozoicas de litoestruturas variáveis abrangendo 12% do Estado (IJSN, 2013). Na Figura 3b, nota-se que o mapa base foi alterado para a imagem de "Satélite" do google maps. Além das funcionalidades descritas, o usuário poderá alterar o mapa base para “Terreno”, que representa a altimetria em visão tridimensional. As Regiões geomorfológicas referem-se ao segundo táxon, trata-se de “grupamentos de unidades geomorfológicas que apresentam semelhanças resultantes da convergência de fatores de sua evolução” (BARBOSA et al, 1984). Essa classificação subdivide o relevo estadual em Planícies Costeiras, Piemontes Inumados, Piemontes Orientais, Planícies da Mantiqueira Setentrional, Compartimentos Deprimidos e Planalto Soerguidos. O terceiro táxon refere-se às Unidades Geomorfológicas, correspondem às formas fisionomicamente semelhantes em seus tipos de modelado; a similitude resulta de uma determinada geomorfogênese, inserida em um processo sincrônico mais amplo. Cada Unidade Geomorfológica mostra tipos de modelado, processos originários e formações superficiais diferenciadas de outras (BARBOSA, op. cit). Já o exemplo da Figura 4 mostra no smartphone o formulário “Mapeamento Colaborativo” sendo possível enviar imagens do levantamento de campo, em que o usuário habilita a funcionalidade Geotag no aplicativo de fotografia do dispositivo. Este formulário também permite a inserção de textos, sendo possível a inclusão de dados para contato e validação da informação. Diante das funcionalidades exemplificadas acima, pode-se constatar que a leitura de mapas voltados para pesquisas geomorfológicas servem de suporte para estudos acerca da relação sociedade e natureza, na qual a compreensão das unidades geomórficas revelam as relações entre os ambientes climáticos no tempo-espaço. Assim, sobre o relevo são associados os processos de transformação e apropriação, uma vez que “todas as formas de ocupação na superfície terrestre são feitas sobre alguma forma de relevo e sobre algum tipo de solo, que, conforme o nível de degradação provocado pelo homem e o grau de resistência do meio físico atingido, darão suas respostas” (GUERRA, 2006, p.61). De modo geral, o uso dessa tecnologia contribui para o ensino da cartografia e estudos ambientais, abrindo espaço para o compartilhamento e transferência de conhecimentos, explorados em aplicações colaborativas, potencializando a contextualização das representações geográficas em diferentes escalas, além incluir novos recursos na exploração do espaço geográfico e, principalmente na compreensão dos processos e transformações atuantes.

Figura 1

Tela inicial do Blog em um dispositivo móvel.

Figura 2

Visualização do Mapa das Morfoestruturas em um dispositivo móvel.

Figura 3

Visualização do mapa das unidades morfoestruturais do ES (a), utilização do mapa base imagem de satélite do Google maps (b).

Figura 4

Formulário para monitorar e descrever a paisagem de forma colaborativa.

Considerações Finais

A presente pesquisa abordou a linguagem cartográfica como processo construtivo para o reconhecimento das formas de relevo, utilizando novas ferramentas através da WebGIS, revelando que as geotecnologias podem contribuir no estudo da paisagem, através dos dispositivos móveis e da internet, oferecendo subsídios importantes para diagnosticar a situação dos recursos naturais, bem como para o conhecimento e monitoramento do espaço geográfico. Uma vez que o uso de mapas interativos em campo constitui um importante instrumento de pesquisa e de validação de dados. As geotecnologias enquanto sistema integrador de dados espaciais e alfanuméricos, contribuem para gestão e restruturação destes espaços herdados da natureza e (re)construídos pelos homens, principalmente quando possibilitam a percepção da transformação dos fenômenos em mapas, por meio de cenários cartografados, advindos de técnicas de Sensoriamento Remoto e da modelagem de dados, tais como os decorrentes do processo da urbanização como a pavimentação dos solos, livres para infiltração, que repercutem no território na forma de inundações urbanas. Cabe pensar novas produções que integrem a cartografia geomorfológica a mapas de uso e ocupação do solo, mapas de pedológicos, mapas da rede hidrográfica, e que proporcionem ao pesquisador uma série de facilidades durante a realização de trabalhos em campo.

Agradecimentos

Referências

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