Autores

Santos, Y.R.F. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA) ; Valdati, J. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA) ; Rodriguez, F.G. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA) ; Oliveira, F.H. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA)

Resumo

O Parque Municipal da Lagoinha do Leste é uma Unidade de Conservação localizada na Ilha de Santa Catarina, município de Florianópolis/SC. O objetivo deste trabalho é mapear a área de influencia dos principais processos geomorfológicos ocorrentes na Bacia hidrográfica da Lagoinha do Leste, que servirá de base para a elaboração de uma carta geomorfológica de detalhe. Por meio de fotointerpretação e trabalhos de campo foi realizado o zoneamento dos processos marinhos, eólicos, de encostas, os ligados às águas correntes superficiais e os antrópicos.

Palavras chaves

Cartografia geomorfológica; processos geomórficos; Lagoinha do Leste

Introdução

O Parque Municipal da Lagoinha do Leste está localizado no município de Florianópolis – SC. O parque é uma Unidade de Conservação de proteção integral, dentro do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), foi criado em 1992 por intermédio da Lei Municipal nº 3701/92 e do Decreto Municipal n º8.701. Situado no sudeste da Ilha de Santa Catarina, no distrito do Pântano do Sul, o parque tem uma área total de aproximadamente 790 hectares e leva o nome da praia, Lagoinha do Leste, que é juntamente com a lagoa ali existente seu principal atrativo turístico. O acesso ao parque se dá por trilhas ou por transporte marítimo feito por pescadores locais. Neste trabalho é apresentado o zoneamento realizado com base nos principais processos geomorfológicos ocorrentes na Bacia Hidrográfica da Lagoinha do Leste. O zoneamento representa as áreas de influencia dos processos de encosta, marinhos, eólicos, os ligados às águas correntes superficiais e os antrópicos. Este trabalho é resultado de uma das etapas do projeto de pesquisa “Aplicação da cartografia geomorfológica à valorização de recursos geomorfológicos em unidades de conservação”, desenvolvido pelos acadêmicos bolsistas e professores do curso de Geografia da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC, e financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq.

Material e métodos

Segundo Tricart (1965), a carta geomorfológica é a base para a realização de uma pesquisa em geomorfologia, para isso é preciso uma definição da escala adequada. Este autor foi o primeiro a discutir uma sistematização destas cartas, quanto à escala e o nível de detalhamento que ela possibilita. Baseado nos trabalhos de Tricart, estudiosos italianos aprimoram, a partir de 1970, tal sistematização. Primeiramente Dramis e Bisci (1998) conceituam a Cartografia Geomorfológica de Detalhe, como a representação em grande escala das feições e processos geomórficos. Estes estudiosos italianos, dentre eles o geólogo Mario Panizza, criaram normativas técnicas de legenda, as quais foram adotadas em todos os mapas geomorfológicos elaborados na Itália. Para cada tipologia de processo foram definidas cores para sua representação: vermelho para os processos gravitacionais que ocorrem nas encostas; verde para os processos ligados as águas correntes superficiais; turquesa para os processos eólicos; azul/violeta para os processos marinhos; preto para os processos que envolvem a ação do homem e etc. Para os processos ativos usa-se a cor cheia, ou seja o matiz, e para os processos não ativos usa-se graduação desta mesma cor, de modo que a mesma fique menos intensa. A cartografia geomorfológica de detalhe, adotada nesta pesquisa, permite a apresentação das feições de relevo mais próximas à percepção visual humana. Segundo Rodrigues & Brito (2000), as cartas de detalhe possibilitam a representação de características muito específicas do relevo, como a declividade, as quebras ou rupturas de relevo, os processos erosivos e uso do solo, indicando as tendências futuras das formas do relevo. Por tal motivo, destaca-se a afirmação de Panizza (2005), a aplicação deste tipo de cartografia requer um grande conhecimento da dinâmica geomorfológica da área de estudo. As ferramentas utilizadas neste trabalho foram técnicas de Geoprocessamento, aliado ao Sistema de Informações Geográficas – SIG. Estas técnicas e ferramentas permitem a aquisição e avaliação conjunta de diversos dados em ambiente digital, de maneira rápida e eficaz. A base para o mapeamento realizado foi o Modelo Digital de Terreno – MDT, este consiste em um plano de informação que descreve a altitude, ponto a ponto numa superfície contínua, de uma determinada área. A manipulação de dados do MDT, possibilitou extrair diversas informações, além de permitir obter uma visão tridimensional da superfície terrestre da área a ser estudada, facilitando assim a análise dos aspectos geomorfológicos e a interpretação dos processos relacionados. O software empregado para a manipulação, análise e representação dos dados geográficos foi o ArcGis, versão 10.1. As fotografias aéreas e os modelos digitais usados neste trabalho são provenientes de um levantamento aerofotogramétrico, realizado na escala aproximada de 1:10.000 feito entre os anos de 2010 e 2012 pela Secretaria do Estado do Desenvolvimento Sustentável do Estado de Santa Catarina - SDS, e consistem em uma Ortofoto digital georreferenciada da Ilha de Santa Catarina e Modelo Digital de Terreno e Modelo Digital de Elevação (MDE) georreferenciados, ambos com precisão altimétrica de aproximadamente um metro e de levantamento em escala 1:10.000. Para esta pesquisa foram essenciais os trabalhos de campo, estes tiveram como objetivo observar formas e processos não legíveis nas fotografias aéreas e em outros fontes cartográficas disponíveis, sobretudo para validar as características já identificadas e entrar em contato real com o espaço geográfico em questão. Após o levantamento de dados sobre a geologia e geomorfologia do local, foram identificados os processos geomorfológicos atuantes na área através de trabalhos de campo, onde se constatou a origem dos diversos tipos de formas e depósitos ali existentes. Os processos definidos foram: de encosta, eólicos, ligados às aguas correntes superficiais, marinhos e antrópicos.

Resultado e discussão

Toda a área do Parque Municipal da Lagoinha do Leste se caracteriza pela ocorrência de derrames e diques de riolito e depósitos de rochas piroclásticas ácidas, localmente associados a corpos graníticos menores de natureza sub-vulcânica. Este tipo de formação que ocorre, principalmente, na porção sul da Ilha de Santa Catarina constitui a Suíte Plutono-Vulcânica Cambirela (TOMAZZOLI; PELLERIN, 2014). Com esta designação são descritos derrames e diques de riolito, riodacito, dacito, por tufos e lapilli tufos ignimbríticos e também granito de grãfina (Granito Itacorubi) (TOMAZZOLI; PELLERIN, 2014). Quanto a geomorfologia, de acordo com Herrmann e Rosa (1991) as formas de relevo da área da Bacia Lagoinha do Leste basicamente se dividem em dois tipos de modelados: de dissecação e de acumulação. O modelado de dissecação: terrenos altos, nos quais justamente por isso os processos de erosão predominam sobre os processos de sedimentação. Nestes modelados as formas de relevo são esculpidas nas rochas cristalinas (riolito, granito) e são suscetíveis à atuação de fenômenos erosivos como deslizamentos, queda de blocos, etc. O modelado de acumulação: terrenos mais baixos, que por isso, predominantemente são áreas de acumulo de sedimentos. As praias, os terraços marinhos, as planícies de restinga, as planícies lacustres e as planícies de maré são as formas de relevo encontradas nesse ambiente/compartimento (LUIZ, 2004). A delimitação da área de influência de cada processo foi realizada considerando o processo geomorfológico predominante (figura 1). Contudo as áreas podem sofrer a influência de mais de um processo, porém estão vinculadas neste mapa, somente ao processo predominante. A área ligada aos processos de encosta, por exemplo, sofre forte influência dos processos ligados às águas correntes superficiais, como é o caso dos fluxos de escoamento superficial concentrado, porém outros tipos de processos também agem nesta área, motivo pelo qual se optou por classificá-la englobando todos os processos que ocorrem nas encostas. O mesmo se aplica para todas as outras áreas: o processo representado não é exclusivo e sim o predominante. Figura 1 http://www.sinageo.org.br/trabalhos/6/imagens/6-185-4b740e5132.jpg (Mapa do Zoneamento dos processos geomorfológicos da Bacia Hidrográfica da Lagoinha do Leste) Na área de estudo, os processos de encosta ocorrem nas áreas do embasamento cristalino, circundando a área da planície. Além dos processos ligados às águas correntes superficiais referidas acima, também ocorrem nas áreas de menor declividade as rampas de dissipação, formando depósitos coluviais. Os processos ligados às águas correntes superficiais prevalecem na área central da bacia, especificamente no limite entre a lagoinha e a encosta, ocorrendo também nas áreas adjacentes ao canal lagunar. Os depósitos ali encontrados resultam do acúmulo de materiais provenientes das encostas, sendo eles mal selecionados, bem como de sedimentos bem selecionados provindos dos depósitos eólicos. Os processos marinhos atuantes na área de estudo ocorrem sobre a linha de costa e podem ser divididos em dois grupos essenciais: erosivos e deposicionais. Os processos erosivos ocorrem nas áreas dos costões rochosos (norte e sul), onde o mar atua sobre o embasamento cristalino desgastando-o através de suas ações mecânicas e químicas. Já os processos de deposição marinha ocorrem na parte leste da bacia, em uma faixa de deposição arenosa com uma extensão aproximada de 1.400 metros, entendida como compartimento praial. Os processos eólicos distinguem-se na porção central da bacia, adjacentes ao compartimento praial tendo sua área dividida pelo canal lagunar em duas porções principais: a primeira, adjacente ao compartimento praial, e que apresenta sedimentos expostos e altitude máxima de 10 metros; e a segunda, localizada entre o canal e a lagoa, que apresenta sedimentos cobertos por vegetação e altitude máxima de 20 metros. Os depósitos de dunas, principalmente os mais próximos à linha de costa possuem a mesma direção do compartimento praial, sendo esta SO – NE. A hidrografia da bacia se caracteriza pela existência de canais de drenagem distribuídos sobre a encosta, sendo que com exceção de um canal identificado na porção sul da bacia que deságua diretamente no compartimento praial, todos os outros deságuam na lagoa, principal componente do meio hidrográfico da área de estudo. O canal lagunar apresenta-se meandrante e é barrado pelo compartimento praial na porção norte da bacia, estando, geralmente isolado do mar. Contudo, em eventos de ressaca ou de altas pluviosidades, esta barreira é rompida permitindo que a água da lagoa alcance o mar. No que concerne aos processos antrópicos, as trilhas são as únicas formas identificadas para a área de estudo. Estas aparecem representadas na área de encosta, ocorrendo uma no costão norte da bacia, que leva à praia do Matadeiro, e, outra na porção sudoeste da bacia que tem como destino a localidade do Pântano do sul.

Figura 1

Mapa do Zoneamento dos processos geomorfológicos da Bacia Hidrográfica da Lagoinha do Leste

Considerações Finais

É hoje amplamente reconhecido que as formas de relevo são a base sobre a qual ocorrem as interações ecológicas naturais e a dinâmica que propicia a evolução destas formas influencia diretamente no desenvolvimento do ambiente como um todo. Sendo assim, o mapeamento geomorfológico é uma importante ferramenta para o gerenciamento e monitoramento ambiental, pois permite a melhor visualização dos processos, contribuindo, deste modo, para o entendimento da dinâmica de um determinado lugar. O zoneamento dos processos geomórficos realizado é uma representação simplificada da dinâmica da área de estudo, no entanto, por estar em grande escala, promove a percepção do que é a geomorfologia processual, de forma que proporciona uma leitura inteligível, sobretudo para os interpretadores não especializados na área da cartografia geomorfológica, devido ao seu caráter ilustrativo. A riqueza de processos geomorfológicos da Bacia hidrográfica da Lagoinha do Leste demonstrou que a área propicia à aplicação da metodologia de cartografia geomorfológica de detalhe, esta ainda está em desenvolvimento, no fim irá proporcionar uma visão completa da influencia dos processos geomorfológicos nesta bacia.

Agradecimentos

Referências

DRAMIS, F., BISCI, C., 1998. Cartografia Geomorfologica: manuale di introduzione al rilevamento ed alla rappresentazione degli aspetti fisici del territorio. Pitagora Ed., Bologna. 215pp.
HERMANN, M. L. P.; ROSA, M. O.; Mapeamento Temático do Município de Florianópolis – Geomorfologia – Síntese Temática – IBGE/PUF, 1991.
LUIZ, E.L em FLORIANÓPOLIS, 2004. Atlas de Florianópolis. PMF/IPUF – Prefeitura Municipal de Florianópolis, Instituto de Planejamento de Florianópolis, 2004.
PANIZZA, M. 2005. Manuale di Geomorfologia Applicata. Franco Angeli. Milano 530 pp.
RODRIGUEZ, S.C; BRITO, J.L.S. Mapeamento Geomorfológico de detalhe – Uma proposta de associação entre o mapeamento tradicional e as novas técnicas em geoprocessamento. Caminhos da Geografia – Revista online programa de pós graduação UFU, set/2000.
TOMAZZOLI, E.R; PELLERIN, J.R.G.M. Aspectos geológico-geomorfológicos do sul da ilha de Santa Catarina. Observatorio geográfico de américa latina- revista online, 2014.
TRICART, J. Principes et méthodes de l geomorphologie. Paris: Masson Ed., 1965, 201p.