Autores

Cruz, L.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA - UFU) ; Rodrigues, S.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA - UFU)

Resumo

A Geomorfologia é a disciplina que analisa as formas do relevo, buscando compreender os processos que geraram e atuam sobre ele. No entanto, entender e ensinar os complexos conteúdos geomorfológicos não é uma tarefa fácil. Diante desse contexto, o uso de recursos didáticos pode favorecer esse processo de ensino-aprendizagem. Assim, o presente trabalho tem como objetivo discutir a inserção dos recursos didáticos tecnológicos no ensino de Geomorfologia e abordar a percepção dos professores de Geomorfologia sobre uso de recursos didáticos no contexto tecnológico atual.

Palavras chaves

Geomorfologia; Ensino; Recurso didático

Introdução

A vida dos seres humanos é diretamente influenciada pelo relevo, objeto de estudo da Geomorfologia. É nele que se estabelece a construção de moradias, de grandes obras de engenharia, o manejo de culturas agrícolas, obtém-se recursos e matérias-primas para diversos fins, explora-se atividades turísticas ou mesmo planeja-se estratégias de guerra. Desse modo, os seres humanos se interessam pelas formas da superfície terrestre seja pelos aspectos de observação da paisagem ou por interesses econômicos e estratégicos. A Geomorfologia analisa as formas do relevo, buscando compreender os processos que geraram e atuam sobre ele, está incluída na ciência geográfica e constitui importante subsídio para a apropriação racional do relevo, como recurso ou suporte (CASSETI, 1994). De acordo com Bertolini (2010) o ensino do relevo promove a aquisição de diversas habilidades cognitivas importantes como, por exemplo: "o pensamento conceitual, o deslocamento entre diferentes escalas de tempo e espaço, a análise dos espaços considerando a influência dos fenômenos da natureza e da sociedade, observando inclusive a possibilidade de predomínio de um ou de outro tipo de origem do evento, a capacidade de abstração, a construção de uma inteligência espacial e a capacidade de diagnosticar problemas ambientais." (BERTOLINI, 2010, p.03) Mesmo diante dessa relevância são poucas as pesquisas que se propõem a discussão do ensino de Geomorfologia. No que se trata do uso de recursos didáticos utilizados para esse fim, esses trabalhos são ainda mais raros. Trazer para o contexto de sala de aula, ou para o conhecimento dos alunos o entendimento dos processos geomorfológicos pode se tornar uma tarefa menos complexa por meio do uso de subsídios que facilitem, ampliem e aprofundem essa compreensão. Assim, o presente trabalho tem como objetivo discutir a inserção dos recursos didáticos tecnológicos no ensino de Geomorfologia e abordar a percepção dos professores de Geomorfologia do uso de recursos didáticos no contexto tecnológico atual. A proposta desta pesquisa fundamenta-se na análise do ensino de Geomorfologia, visando refletir acerca das metodologias desenvolvidas com enfoque na relevância do uso de recursos didáticos tecnológicos a partir da percepção dos professores de Geomorfologia.

Material e métodos

A pesquisa foi realizada a partir do levantamento bibliográfico incluindo livros, artigos, periódicos, revistas, trabalhos científicos, dissertações e teses. Em conjunto com esse levantamento foi feita uma investigação em sites e blogs, considerando autores e grupos de pesquisa que tratam de assuntos vinculados à Geomorfologia e aos temas relacionados como a Geologia, Pedologia, Climatologia Biologia, Ciências da Natureza e a própria Geografia como um todo. Concretizado esse levantamento prévio realizou-se a análise das fontes pesquisadas relacionando ao objetivo principal do trabalho. Diante dessas informações estruturadas foi elaborado um questionário com questões que abordavam diversos aspectos da prática docente em Geomorfologia, dentre elas o uso de recursos didáticos e especialmente com as novas tecnologias. A elaboração do questionário tem como função a aproximação dos sujeitos que fazem parte do contexto a ser estudado. Foram elaboradas questões discursivas e de múltipla escolha em busca da compreensão das práticas, no intuito de obter dados a partir do ponto de vista dos pesquisados. O questionário foi enviado para o número maior possível de professores de Geomorfologia que atuam nos cursos de Geografia de diferentes instituições e regiões brasileiras. No total foram enviados a 44 questionários, dos quais até o momento obteve-se resposta de 21 e para esses pesquisados foi garantido o anonimato. O referido questionário é parte de pesquisa de doutoramento que ainda está em curso e pretende-se alcançar um número ainda maior de professores. Para elaboração do presente artigo, foi selecionada parte do questionário que condizia com o objetivo do trabalho. Diante dessa pesquisa espera-se observar e avaliar os recursos didáticos utilizados e ainda analisar o avanço no uso das novas tecnologias em benefício do processo de ensino aprendizagem no campo da Geomorfologia. Desse modo, pretende-se realizar uma análise mais apurada acerca desse processo.

Resultado e discussão

A geomorfologia é uma das ciências que mais se beneficia da tecnologia e, atualmente, dispõe de uma grande variedade de métodos, técnicas, e equipamentos que permitem estudar com profundidade formas de relevo e processos geomorfológicos, ao combinar modelos de previsão, observações de campo e informações extraídas de dados de sensoriamento remoto e de experimentos em laboratório. (FLORENZANO, 2008, p.12) A utilização das diferentes linguagens é uma estratégia que possibilita o enriquecimento das aulas de geomorfologia, colaborando para a sensibilização das relações existentes entre os conceitos geomorfológicos a sociedade e a natureza. A compreensão do relevo de uma região é alcançada por meio da observação dos mais variados ângulos, recorrendo às experiências acumuladas nas ciências da terra, fazendo uso de mapas, cartas topográficas, fotografias aéreas e terrestres; e também da investigação do terreno. (Ab’Saber, 1975, p. 10) Ainda sobre a compreensão do relevo, acredita-se que haja necessidade de evocar ideias que façam a ligação do raciocínio conceitual com a realidade, seja ela mais ou menos perceptível. Segundo Sanchez, Prieur e Devallois (2004, apud BERTOLINI, 2010), para lidar com essas relações implícitas torna-se necessária a construção de recursos que contenham uma semântica rica capaz de exprimir de maneira clara, sob os padrões humanos, as relações entre o visto e o não visto, entre o conferido e o inferido. O uso dos recursos didáticos na sala de aula permite uma maior participação e interação dos alunos e professores, constituindo-se parte do procedimento de construção da aprendizagem. Nessa conjuntura, o professor tem uma função importante, sendo o mediador entre o aluno e a informação recebida, desenvolvendo a capacidade do aluno de contextualizar e conferir significados às informações (PONTUSCHKA et.al., 2007). Contribuindo, desse modo, para o desenvolvimento cognitivo, auxiliando o indivíduo na construção de uma consciência crítica, necessária para a compreensão das informações. Os recursos didáticos, enquanto mediadores do processo de ensino- aprendizagem nos diferentes níveis, obedecem, em sua seleção e utilização, a alguns critérios, tais como adequação aos objetivos propostos, aos conceitos e conteúdos a ser trabalhados, ao encaminhamento do trabalho desenvolvido pelo professor em sala de aula e às características da turma, do ponto de vista das representações que trazem para o interior da sala de aula. Pontuchka et. al. (2007) afirma que sob a denominação de recursos didáticos, inscrevem-se vários tipos de materiais e linguagens: [...] como livros didáticos, paradidáticos, mapas, gráficos, imagens de satélite, literatura, música, poema, fotografia, filme, videoclipe, jogos dramáticos. Algumas dessas produções já foram incorporadas pelos livros didáticos, colaborando para a compreensão dos textos e aprofundando o conhecimento do espaço geográfico (PONTUSCHKA et. al., 2009, p.216) O avanço tecnológico por sua vez, tem proporcionado uma significativa mudança no fluxo de informações alterando sua produção, acumulação e transmissão, acrescentando novas possibilidades aos recursos didáticos. Outras linguagens como o som e a imagem passaram a compor as formas de escrita e leitura, além de que as noções de tempo e espaço estarem sendo alteradas. Diante do exposto, como supracitado, foi elaborado um questionário com objetivo de compreender a prática atual no ensino de Geomorfologia, evidenciando como os recursos didáticos estão sendo utilizados e a partir de tais informações será possível elaborar uma reflexão sobre essa prática. Baseado na interpretação e análise das contribuições elaboradas por professores de Geomorfologia foi elaborada uma síntese das ideias por eles destacas nos questionários. Assim, acerca das contribuições dos recursos tecnológicos na formação dos alunos os docentes apontaram: • As técnicas são facilitadoras, e partir da definição do objetivo de se estudar determinado conteúdo, o professor define “como” utilizar os recursos disponíveis; • Os recursos tem auxiliado muito na otimização do tempo de exposição dos conteúdos; • Os recursos possibilitam variar a metodologia de ensino e favorecem a consolidação da teoria vista nas aulas expositivas; • Os recursos auxiliam na exemplificação da compreensão do estudo das formas de relevo e dos processos associados e na visualização de diferentes paisagens; • A observação direta em campo e/ou por imagens (fotografias ou esquemas, desenhos, ilustrações e blocos diagramas) são fundamentais para a abstração da geometria das formas na paisagem e compreensão do relevo. Sobre o ensino de Geomorfologia diante do contexto tecnológico atual os professores destacaram: • O uso das novas tecnologias podem ampliar a participação dos alunos, favorecendo que haja um maior interesse e interatividade; • Os recursos auxiliam na observação indireta e representação das formas de relevo; • Os processos ambientais envolvidos na Geomorfologia devem ser entendidos nas mais diversas escalas; • Com o desenvolvimentos de satélites, programas e outros recursos áudio visuais e desde que a situação socioeconômica permita, os recursos podem promover uma percepção mais aprofundada da Geomorfologia; • Com a possibilidade da visualização em 3D da superfície terrestre, das formas de vertentes, e integração dos processos internos e externos que resultam na rugosidade topográfica, há maior possibilidade de uma aprendizado efetivo; • Os avanços tecnológicos ainda estão em processo de construção e irão se tornar ainda mais presente e fundamental; • As aulas de Geomorfologia com imagens do Google Earth em 3D e uma série de aplicativos práticos possibilitam melhorar o ensino-aprendizado; • Aproxima o ensino do contexto tecnológico vivenciado no dia-a-dia do aluno. No entanto, ainda sobre o ensino de Geomorfologia diante do contexto tecnológico atual os professores fizeram algumas ressalvas: • Os recursos didáticos tecnológicos não contribuem necessariamente para o desenvolvimento do raciocínio geomorfológico. É necessária uma mudança conjunta de postura com relação à aquisição de habilidades e competências. Ou seja, as técnicas, ou recurso tecnológico por si só não garantem o aprendizado. • Os recursos tecnológicos não substituem os laboratórios e o trabalho de campo empírico, no qual os alunos observam, coletam materiais, analisam as vertentes, identificam as morfologias e suas curvaturas. • Diversos profissionais da Geografia não têm conseguido acompanhar, adequadamente essa evolução. • Em muito casos, o uso de tecnologias desperta o interesse do estudante, mas este não tem conseguido ir além da sua função enquanto ferramenta.

Considerações Finais

Diante do exposto, verifica-se que é consenso que muitas vezes os alunos apresentam dificuldades em aprofundar seu entendimento acerca da complexa dinâmica do relevo. Assim o uso de recursos didáticos, especialmente nos últimos anos com as contribuições da evolução tecnológica, tem colaborado para amenizar tais dificuldades. No entanto, é relevante destacar que os recursos são um meio para se alcançar uma melhor compreensão, e que o uso dos mesmos deve passar por um processo no qual primeiramente é importante avaliar “o que ensinar”, “pra quem ensinar”, e por último como ensinar. Compreende-se assim que os recursos didáticos, quando utilizados de forma adequada, possibilitam um melhor desenvolvimento das atividades, potencializam o aproveitamento no processo de ensino e aprendizagem e promovem um enriquecimento na qualidade e efetividade do ensino proporcionado aos alunos.

Agradecimentos

A FAPEMIG - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – pelo apoio à participação no XI SINAGEO, ao LAGES – Laboratório de Geomorfologia e Erosão dos Solos, ao IFTM – Instituto Federal do Triângulo Mineiro.

Referências

AB’SABER, A. N. Formas de Relevo: Texto Básico. São Paulo, FUNBEC/Edart, 80p., 1975
BERTOLINI, W. Z. O ensino do Relevo: Noções e Propostas Para Uma Didática da Geomorfologia. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2010. 124 p.
CASSETI. V. Elementos de Geomorfologia. Editora da UFG, 1994. 1ª Ed. 137p.
FLOREZANO, T.G. Introdução à Geomorfologia. In: Geomorfologia – Conceitos e Tecnologias Atuais. Oficina de Textos, São Paulo, 318p. 2008. P.11-30
PONTUSCHKA, N. N.; PAGANELLI, T. I.; CACETE, N. C. Para ensinar e aprender geografia. São Paulo: Cortez, 2007. 383 p.