Autores

Machado, A.D. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO - COLÍDER) ; Machado, C.S.D. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO - COLÍDER) ; Andrade, L.N.P.S. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO - COLÍDER)

Resumo

O presente estudo objetivou avaliar a evolução das feições morfológicas no rio Paraguai entre a foz do rio Jauru e o Morro Pelado no município de Cáceres no Estado de Mato Grosso nos últimos 31 anos. O desenvolvimento deste trabalho contou com algumas etapas: introdução com revisão de literatura, visando elucidar conceitos e assuntos referentes à pesquisa, o mapeamento do espaço temporal das feições morfológicas utilizando imagens de satélite IMB, resolução de 30 m, com 5 bandas espectrais para o período de 1984 e 2015. No ano de 1984 pode-se identificar a presença de 248 baías, 23 lagoas, 07 canais secundários e 8 ilhas. Enquanto que, em 2015 apresentou 25 baías, 148 lagoas, 11 ilhas sem a presença de canais secundários. Ao longo desses anos pode se perceber que houve mudanças no leito do rio, ocasionadas principalmente pelo funcionamento natural do rio, mas percebe-se ainda que o uso/ocupação da terra no entorno contribuem para tais transformações.

Palavras chaves

Feições morfológicas,; espaço temporal,; rio Paraguai.

Introdução

Os rios constituem um dos componentes mais sensíveis da paisagem, apresentando habilidades de respostas rápidas às perturbações que passam na bacia hidrográfica e no próprio canal. Quaisquer mudanças no canal alteram o sistema natural, que podem variar consideravelmente o regime do fluxo, ou a carga de sedimentos transportados e depositados pelo rio, acentuando o desequilíbrio e funcionamento do canal (SILVA et al., 2012 apud SOUZA, 2004). Com o desequilíbrio, vários são os problemas ocasionados pela deposição de sedimentos como a destruição de habitats, enchentes, assoreamento, reduz a vida útil dos reservatórios, prejudica a prática de navegação e eleva o custo de tratamento da água e entre outros (ANDRADE et al., 2013). Nessa discussão o rio Paraguai passa por transformações que está prejudicando todo sistema hídrico, devido o uso/ocupação desta bacia hidrográfica. O rio Paraguai constitui um dos rios mais importantes de planície do Brasil, com seus afluentes percorrendo vasta área de planície, podendo ser considerado pela sua forma de anfiteatro como imensa bacia de recepção de águas e sedimentos (SOUZA et al., 2012). O canal do rio Paraguai apresenta-se com vários padrões de canais (anastomosado, meandante e retilíneo) ao longo do seu percurso, enquanto que na planície são encontradas várias feições fluviais dentre as quais baías, lagoas, vazantes, braços, furados e diques (SOUZA et al., 2012). As lagoas “são corpos de água delimitados por área emersa possuindo solo, sem ligação direta com o leito do rio em período de cheia são abastecidas por água e sedimentos que transbordam do leito do rio” (SILVA, 2012, et al, p.437) as inundações propiciam o aumento e o tamanho dessas lagoas ou até mesmo a sedimentação devido a força e turbulência das águas. As baías é outra feição fluvial encontrada ao longo de seu percurso pesquisado. As baías são “áreas deprimidas, contendo água, delineando formas circulares, semicirculares ou irregulares”. Essa feição apresenta-se ligadas diretamente ao canal principal do rio Paraguai até mesmo em época de estiagem (SILVA, 2012, et al, p. 346). Considerando as pesquisas realizadas no Brasil referentes à dinâmica fluvial destacam-se os trabalhos de Fernandez (1990) sobre as mudanças no canal fluvial do rio Paraná; Rocha (2002) sobre a dinâmica dos canais no sistema rio – planície do alto rio Paraná; Fontes (2002) sobre o baixo curso do rio São Francisco; Souza e Cunha (2007) que discutiram a evolução das margens do rio Paraguai entre a cidade de Cáceres e a Estação Ecológica da Taimã/Mato Grosso; Bayer et al. (2008) que diagnosticou os processos de erosão/assoreamento na planície do Araguaia; Carvalho (2009) abordou o transporte de sedimentos no médio Araguaia e Bühler (2011) verificou os tipos de sedimentos transportados pelo rio Paraguai no perímetro urbano de Cáceres – Mato Grosso; Silva et al. (2012) Evolução das Feições Morfológicas do rio Paraguai no Pantanal de Cáceres-Mato. O presente trabalho objetivou avaliar a evolução das feições morfológicas entre os anos de 1984 e 2015 entre a foz do rio Jauru e o Morro Pelado no município de Cáceres/Mato Grosso.

Material e métodos

Área de Estudo A área de estudo está localizada entre a foz do rio Jauru e o Morro Pelado entre as coordenadas geográficas 16º 20’ 37.58’’ de latitude sul e de 57º 47’ 45.85’’ longitude oeste no município de Cáceres/Mato Grosso. Figura 1. Localização da área de estudo entre a Foz do riu Jauru e Morro Pelado, Cáceres - MT Procedimentos metodológicos Na primeira etapa, foi de fundamental importância que se fizesse uma revisão de literatura, visando elucidar conceitos e assuntos referentes à pesquisa. Utilizou-se de mapas como ferramenta para analisar as alterações das feições morfológicas mais significativas que ocorreram na área de estudo entre 1984 e 2015. Trabalho em Gabinete Elaboração da base cartográfica Foram confeccionados mapas de localização e das feições morfológicas nos anos de 1984 e 2015. Os referentes períodos foram selecionados, por serem os dados (imagens) mais antigos, intermediária e outro mais recente. O Sistema de Informações Gerenciais - SIG, permite analisar e interpretar trechos relativos à superfície terrestre (OLAYA, 2011). Segundo ESRI (2012), o geoprocessamento de dados representa formas sobre a terra – edificações, cidades, rodovias, rios, e estados – através do computador. As pessoas usam o sistema SIG para visualizar, questionar, analisar, e entender os dados sobre o mundo e as atividades humanas, através de mapas e analise espacial podemos revelar pontos ou problemas, e mostrar as conexões avançadas por meio de banco de dados. O mapa de localização foi desenvolvido no software ArcGis 10.2 utilizando imagem do satélite RapidEye – 2013 – IMB, resolução de 30 m, com projeção espacial em escala 1:50.000 em 5 bandas espectrais.

Resultado e discussão

Evolução das feições Morfológicas O segmento estudado está inserido no corredor fluvial com extensão de aproximadamente 41 km e com 334,84 m de largura na foz do rio Jauru e 212,22 m de largura no Morro Pelado. Apresenta diferentes feições morfológicas (baías, lagoas, influenciadas diretamente pela dinâmica fluvial (erosão, transporte e deposição de sedimentos), bem como com a intensificação pelo o uso/ocupação da terra contribuindo com o aumento da carga sedimentar do rio Paraguai. O mapeamento das feições morfológicas da área de estudo que se inicia na Foz do rio Jauru até o Morro Pelado no município de Cáceres, por meio a imagens de satélite dos anos de 1984 e 2015 apresentaram várias feições como: lagoas, baías, ilhas e canais secundários. Analisando as imagens, identificou-se que existem áreas desmatadas voltada principalmente para a agropecuária. Os dados de 1984 foram levantados no período de estiagem apresentando 248 baías, 23 lagoas e 8 ilhas e 07 canais secundário. As margens do rio Paraguai encontram-se com vegetação preservada. Porém, alguns pontos o uso dessa área a atividade econômica está voltada, sobretudo para criação de gado e agricultura de subsistência (Figura 2, Tabela 1). Figura 2. Feições Morfológicas do ano de 1984 Tabela 1. Feições Morfológicas entre o rio Jauru e o Morro Pelado nos ano de 1984 e 2015 Cáceres – MT De acordo com Silva et al. (2012) entre o Furado do Touro e a Passagem Velha no corredor fluvial do rio Paraguai no período de 1981 e 2010 sucederam várias modificações nas feições morfológicas com o aumento/diminuição e aparecimento/desaparecimento de lagoas e baías. Os dados do ano de 2015 foram levantados no período de cheia onde verificou- se a existência de 25 baías, 184 lagoas e 11 ilhas não havendo a presença de canais secundários. Observa-se que o desmatamento ainda continua crescendo devido as ações antrópicas no entorno (Figura 4, Tabela 1). Figura 4. Feições Morfológicas do ano de 2015. Percebe-se que houve alteração no número de baías e lagoas, algumas secaram, outras foram colmatada ou conectaram-se a outras lagoas e baías. Os constantes transbordamentos (água e sedimentos) contribuem para sedimentação e desaparecimento de baías e lagoas. E o processo de erosão fluvial no período da cheia pode ocasionar o aparecimento dessas feições morfológicas. Segundo Souza, (2012) no período de cheia e estiagem há mudanças na configuração do canal “o nível da água no período da cheia eleva-se provocando a remoção dos sedimentos sendo que parte da água e dos sedimentos transportados vão para os canais secundários no período de estiagem perdem força e depositam-se”. O desmatamento das margens do rio Paraguai devido a criação de gado e a ocupação inadequada por fazendas como a Descalvado e a Barranco Vermelho situadas no corredor fluvial. A fazenda barranco vermelho está situada na margem esquerda a 45 km da cidade de Cáceres – Mato Grosso e hoje faz parte do patrimônio arqueológico da cidade. Nessas fazendas ocorre turismo cultural principalmente por turistas estrangeiro que também praticam ecoturismo integrando o homem a natureza onde são realizados passeios fluviais (SOUZA, 2012). Pode-se observar que o rio Paraguai na área estudada apresenta meandros abandonados, de acordo com Souza (2012), “Os mesmos possuem planície deprimida com baías, lagoas a qual é drenada, principalmente no período de cheias”. Christofoletti (1990) complementa que os meandros abandonados “são os que não mais possuem ligação direta com o curso de água atual, quando isolados, formam lagoas ou pântanos, e são numerosos nas planícies aluviais”. Esse tipo de canal meandrante possuem vários braços (baías) com ligação direta com o rio. “As baías constituem áreas deprimidas, contendo água, delineando formas circulares, semicirculares ou irregulares” (SOUZA, 2012). No trecho estudado apresenta ainda ilhas que surgem durante o período de estiagem devido a quantidade de sedimentos carregados e depositados. A população Cacerense utiliza esses locais para acampamentos em feriados e finais de semana tornando-se pontos turísticos. Souza, (2012) complementa que “os barrancos e as praias são usados para instalação de acampamentos de pescadores e banhistas, enquanto em outros trechos são usados para a pastagem de gado”.

Figura 1. Localização da área de estudo entre a Foz do riu Jauru e Mo



Figura 2. Feições Morfológicas do ano de 1984



Tabela 1. Feições Morfológicas entre o rio Jauru e o Morro Pelado nos



Figura 4. Feições Morfológicas do ano de 2015



Considerações Finais

Nesse trabalho vale ressaltar a importância dos avanços tecnológicos que permitiram a confecção de mapas pelos quais pode-se analisar a área de estudo entre o período de 1984, 1999 e 2015. Apareceram desapareceram diversas feições como: baías, furados, lagoas, vazantes e meandros. Também ocorrendo modificações no curso que estão relacionados ao tipo de atividades praticadas em torno do mesmo.

Agradecimentos

As autoras agradecem a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT) e ao CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e a Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) pela concessão de bolsa de Iniciação Científica.

Referências

ANDRADE, L. N. P da S.; LEANDRO, G. R. dos S.; SOUZA, C. A. Geoformas deposicionais e sedimentos de fundo na foz da baía Salobra confluência com o rio Paraguai Pantanal de Cáceres-Mato Grosso. Revista Brasileira de Geografia Física. V. 06, N. 02, 2013, p. 253-270.
CHRISTOFOLETTI, Antonio. Geomorfologia. SP: Edgard Blücher LTDA.
1980, p.87-88.
SILVA et al. Sistema hidrográfico do rio Paraguai – MT. In: SOUZA, C. A. Bacia Hidrográfica do rio Paraguai – MT: Dinâmica das águas, uso e ocupação e degradação ambiental. São Carlos: Editora Cubo, 2012, p.14.
SILVA, et al. Feições deposicionais e composição granulométrica dos sedimentos em alguns trechos do rio Paraguai: Passagem velha, Barranco do Touro, Baía do Quati e foz do Córrego Padre Inácio no município de Cáceres – MT. In: SOUZA, C. A. Bacia Hidrográfica do rio Paraguai – MT: Dinâmica das águas, uso e ocupação e degradação ambiental. São Carlos: Editora Cubo, 2012, p.119
SOUZA et al. Bacia Hidrográfica do rio Jauru e seus Afluentes. In:________ Bacia Hidrográfica do rio Jauru – MT: Dinâmica espacial e impactos associados. Ed: São Carlos: Rima editora, 2012, p 9.
SILVA. E, S, F; SOUZA. C, A de; LEANDRO. G, R, dos L; ANDRADE. L, N, P da S; GALBIATI. C; Evolução das Feições Morfológica do rio Paraguai no Pantanal de Cáceres – Mato Grosso. Revista Brasileira Geomorfologia, v. 13, n 4, p. 436 e 437, 2012.
SOARES et al. Caracterização Ambiental das Nascentes da bacia Hidrográfica do rio Jauru. In:______ Bacia Hidrográfica do rio Jauru MT: Dinâmica Espacial e Impactos Associados. Ed: São Carlos: Rima editora, 2012, p 165.
SOUZA. de, A, C; PIERANGELI. M, A; SOUSA. J, B; Análise Espaço Temporal do Corredor Fluvial do rio Paraguai no Trecho entre Cáceres e Ilha Taiamã –MT. Revista Brasileira de Cartografia, n 64/5: 551- 564, ISSN: 1808-0936, 2012, p 555 – 558.