Autores

Laszlo, J. (FCT-UNESP)

Resumo

O perfil longitudinal de um rio mostra a sua declividade, ou gradiente, sendo a representação visual da relação entre a altimetria e o comprimento de determinado curso de água, para as diversas localidades situadas entre a nascente e a foz. Os dados dos perfis longitudinais foram extraídos de cartas topográficas nos valores de 1:50.000 do IBGE, no qual os dados tabulados em gráficos para a obtenção das curvas de declives dos Rios Aguapeí e Peixe, assim sendo analisados juntamente com as cartas geomorfológicas e principalmente geológica da área de estudo. No Rio Aguapéi foi encontrado apenas uma anomalia em seu canal fluvial causado por um “salto” em seu médio curso, e no Rio do Peixe por sua vez, foram constatados duas anomalias ou as chamadas rupturas de declive, uma em seu alto curso, causada pela oscilação entre diferentes litologias, e uma segunda, causada por um barramento de um PCH, que eleva o curso d’água, criando um nível de base hidrológico.

Palavras chaves

Perfil Longitudinal; Geologia; Bacia Hidrográfica

Introdução

O levantamento das características de uma bacia hidrográfica é um dos primeiros e mais comuns métodos a serem feitos em análises hidrológicas ou ambientais, e tem como objetivo esclarecer as várias questões relacionadas com o entendimento da dinâmica ambiental de uma determinada bacia hidrográfica. Em uma bacia hidrográfica existem parâmetros e índices sugeridos para os estudos analíticos, como o perfil longitudinal e suas rupturas de declive, tipologia dos canais fluviais, padrões e densidade de drenagem, estudos litológicos e estruturais dentro outros, que ajudam a compreender a dinâmica e os processos que ocorrem neste ambiente fluvial. As rupturas de declive podem ser definidas como um ponto de mudança abrupta no perfil longitudinal de um curso d’água (Christofoletti 1974), ou seja, por ocorrência de mudanças principalmente por fatores litológicos ou tectônicos que geram descontinuidades no canal fluvial, ou até mesmo por intervenção antrópica, como a construção de uma hidrelétrica. Um fator de extrema importância para o entendimento do sistema físico de uma bacia hidrográfica se dá pelo levantamento e caracterização das estruturas geológicas e geomorfológicas da bacia hidrográfica em análise, onde se torna uma ferramenta de grande valia tanto para as variações morfométricas ou morfológicas da bacia, assim podendo estabelecer relações que possibilitam articular as estruturas geológicas e geomorfológicas com valores de declividade, padrão de drenagem, densidade de drenagem, tipologias de canal fluvial, etc. Os rios do Peixe e Aguapeí que estão em evidencia neste trabalho, se caracterizam como rios meandrantes, ou seja, um rio que corre em sua planície aluvial e que muda de forma e posição com as variações de maior ou menor energia e carga fluviais durante as várias estações do ano. Meandros são caracteristicos de planícies aluviais (topografia madura), mas podem coincidir em uma feição mais restrita, como por exemplo, em terrenos sedimentares horizontalizados. Christofoletti (1981) afirma que “em virtude da importância da atividade fluvial na esculturação do modelado terrestre, a análise do perfil longitudinal é tema de longas raízes na Geomorfologia”. Por definição o perfil longitudinal de um rio mostra a sua declividade, ou gradiente, sendo a representação visual da relação entre a altimetria e o comprimento de determinado curso de água, para as diversas localidades situadas entre a nascente e a foz. O perfil longitudinal de um canal fluvial resulta do trabalho que o rio executa para manter o equilíbrio entre a capacidade e a competência de um lado, e a quantidade e granulometria da carga detrítica do outro (Rocha, 2001). Diferentes perfis longitudinais são relacionados em larga escala ao desenvolvimento geológico, influenciado pela história tectônica, mudanças no nível de base e mudanças climáticas (Petts & Foster, 1990). O perfi longitudinal de um rio é um elemento importante da geomorfologia da bacia de drenagem em que, juntamente com a rede de canais, fixam as condições de contorno para os processos de inclinação (Knighton, 1984). O mapeamento de variáveis do relevo como altitude, declividade, curvaturas vertical e horizontal, orientação de vertentes etc., que são combinados para identificar elementos de terreno, que são por sua vez combinados em padrões de terreno (Dent & Young, 1981). Assim, o perfil do rio pode ser afetado por condições que não estejam diretamentes associados ao controle de bacias hidrográficas, pois os efeitos das atividades tectônicas podem ser muito variável, considerações sao dadas apenas às mudanças no nível de base no final da jusante de um rio (Knighton, 1984).

Material e métodos

Os perfis longitudinais foram obtidos a partir de dados planialtimétricos de cartas topográficas e foram extraídos valores de distância e variação altimétrica ao longo do curso do rio, os dados de distância foram tabulados no software Excel de posteriormente elaborados os gráficos. A análise do gráfico dos perfis foi comparada com os dados geológicos, geomorfológicos, pedológicos e de cobertura da terra obtidos de cartas temáticas já existentes e disponibilizadas no sitio do CBH-AP e seu Relatório Zero do ano de 1997. Baseado nos gráfico dos perfis longitudinais dos rios Aguapeí e Peixe foi feita a identificação e os cálculos de declividade média dos trechos foram conduzidos a partir das variações topográficas em conjunto com a variação das distâncias. A caracterização geológica, geomorfológica e estrutural das duas bacias foi baseada em cartas pré-existentes de órgãos e institutos como CBH- AP, SIGRH e IPT, disponíveis no Laboratório de Geologia, Geomorfologia e Recursos Hídricos da FCT/UNESP. A discussão dos resultados foi efetuada em articulação com o referencial teórico e estudos de casos obtidos a partir de revisão bibliográfica, e compilação de trabalhos prévios da região a ser estuda. O relacionamento dos diferentes trechos dos canais fluviais com os componentes geológicos, geomorfológicos e estruturais foi dado através de planilhas tipo e Excel e outros software como o Statistica.

Resultado e discussão

A geologia apresenta-se como instrumento base e por assim dizer chave para o entendimento das formas e aspectos do relevo, porém não sendo único fator atribuído às características do modelado terrestre. Os estudos geológicos tornam-se de suma importância nesta pesquisa por determinar as variações de declividade dos cursos d’água, suas anomalias e por fim forma da distribuição da drenagem das Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe e, sendo fator que mais altera a dinâmica fluvial e geomorfológica de uma determinada área. Com isso a natureza e o arranjo espaciais das do substrato geológico condiciona diversas formas e padrões dentro de uma mesma bacia hidrográfica. Os perfis longitudinais caracterizam-se como ferramentas para a identificação de anomalias, diferenciações de declives e variações litológicas e estruturais de um determinado ambiente fluvial. O principal fator condicionante para que haja a ocorrências de rupturas de declive em um canal fluvial, é determinado pela geologia local/regional de uma determinada bacia hidrográfica, na qual molda os cursos d’água. Mas não é somente o perfil longitudinal de uma bacia hidrográfica que é afetado pelas variações geológicas e estruturais de uma bacia hidrográfica, como por exemplo, padrão de drenagem, densidade de drenagem e a própria morfologia do relevo, se vê fadada a dinâmica interna do terreno. Com os dados dos perfis longitudinais dos Rios Aguapeí e Peixes obtidos em pesquisas anteriores foram possíveis analisar as influências da geologia (figura 1) nos canais fluviais em questão e na própria forma do relevo, na qual o canal fluvial foi compartimentado em 5 segmentos desde sua nascente até a foz. Em trabalhos anteriores Etcheberehe (2005), utilizou da metodologia RDE (Relação Declividade x Extensão), para fazer o levantamento longitudinal do Rio do Peixe, mas está metodologia é empregada para toda a bacia hidrográfica, na qual também capta anomalias contidas fora do curso principal, no qual Laszlo (2013) se preocupou essencialmente aos cursos principais dos Rios Aguapeí e Peixe. Etcheberehe op. cit, serviu como base para os levantamentos dos perfis longitudinais dos Rios Aguapeí e Peixe, sendo não somente analisadas as anomalias dos canais fluviais também chamadas de ruptura de perfil, mas também feito o levantamento das características morfológicas dos canais fluviais, nas quais foram dividas em 4 grupos diferentes, sendo: Aluvial, quando o canal fluvial encontra-se em áreas de planícies aluviais que predomina a deposição de sedimentos, sem nenhum rompimento desta característica em seu trecho pela baixa declividade. Aluvial com algumas rupturas, quando há uma intercalação de trechos aluviais com encaixados, mas com predomínio da morfologia aluvial. Encaixado, sendo caracterizado pelo predomínio da erosão e forte declividade no qual o trecho se encontra. Encaixado com áreas aluviais, sendo a relação inversa dos trechos aluviais com algumas rupturas, ou seja, a uma intercalação entre os trechos encaixados e aluviais, mas a um predomínio da morfologia encaixada. Os resultados obtidos apontaram pouca variação no canal fluvial do Rio Aguapeí o que o caracterizou com um rio com um alto grau de sinuosidade, com apenas uma grande ruptura em seu perfil, causa pela variação litológica, criando o chamado “Salto do Botelho” em seu médio curso, assim determinando neste trecho de seu canal fluvial um nível de base estrutural. Já o perfil longitudinal do Rio do Peixe apresentou-se com uma maior variação de seu canal fluvial, apresentando diversas rugosidades e duas grandes rupturas de declives, sendo a primeira causada pela sutura de Ribeirão Preto (Etechbehere et. al. 2004) e de uma declividade muito abrupta no alto curso do Rio do Peixe, que caracterizada pela região das escarpas na região da cidade de Marília. A segunda ruptura mostrou uma grande influencia da variação litológica da bacia e também certa influencia antrópica, criando pequenos saltos e pela presença de uma represa que “quebra” com a dinâmica fluvial da região assim criando um nível de base hidrológico, elevando o nível da água. A presença da Represa de Quatiara, que eleva o nível de base hidrológico causando irregularidades no canal fluvial, tanto a montante quanto a jusante da represa, o qual Christofoletti (1981) manifesta que o com o represamento, o nível de base é elevado da sua posição anterior, o leito do canal para o da superfície de água do reservatório, no lugar em que esta intersectar o leito original, a montante. A elevação máxima, que corresponde à amplitude, é o topo da barragem. Verifica-se que, além do descolamento altitudinal, há deslocamento horizontal do nível de base. Assim nos dois cursos d’água analisados a geologia mostra-se como fator determinante dos aspectos e anomalias dos canais fluviais e por si só, da própria bacia hidrográfica, na qual os perfis longitudinais e suas variações serão altercados com os padrões de drenagens, que se distribuem conforme as estruturas e as litologias de uma bacia hidrográfica. Outro fator a se salientar, mostrou que Laszlo (2013) buscou analisar a influência das morfologias dos segmentos dos canais fluviais dos Rios Aguapeí e Peixe, nas anomalias encontradas nos cursos d’água juntamente com as zonas de tendências erosivas-deposicionais destas bacias hidrográficas, no qual somente pela análise das retas dos perfis longitudinais mostradas nos gráficos 1 e 2, definem o Rio Aguapeí muito mais deposicional em relação ao Rio do Peixe, onde o predomínio das características morfológicas atribuídas ao Rio Aguapeí, reforçam esta afirmação.

Figura 1 – Mapa geológico das Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e



Figura 2 – Mapa geolmorfologico das Bacias Hidrográficas dos Rios Agua



Gráfico 1 – Perfil Longitudinal do Rio Aguapeí compartimentado de acor



Gráfico 2 – Perfil Longitudinal do Rio do Peixe compartimentado de aco



Considerações Finais

Com a análise do perfil longitudinal, que tornaria-se possível integrar diversas variáveis que para o entendimento das formas e ocorrências de um determinado fenômeno em um dado espaço geográfico. Com isto o conhecimento e o detalhamento das características geomorfológica de uma certa área, ou porque não mesmo dizer, de uma bacia hidrográfica, torna-se essencial para o gerenciamento pretendido dos recursos naturais e assim, mudando a forma de agir e pensar sobre as fragilidades quanto ao seu uso e ocupação. Em suma, é valido mais uma vez ressaltar que os perfis longitudinais dos rios mostram-se como instrumentos para uma avaliação preliminar do quadro de deformidades ao longo dos canais fluviais, onde o estabelecimento de relações com outras variáveis dentro de um sistema fluvial é vital para o entendimento da morfologia e morfometria de um rio dentro de uma determinada bacia hidrográfica. Porem os estudos dos perfis longitudinais não deve abranger somente a calha fluvial ou o entorno deste ambiente, mas toda uma bacia hidrográfica, no qual um curso d´água tem influência e é o principal recurso hídrico para a manutenção da vida.

Agradecimentos

Referências

CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia – São Paulo: Edgard Blucher: EDUSP, 1974, 149 p.
CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia fluvial – São Paulo: Edgard Blucher: FAPESP, 1981, 313 p.
Dent, D.; Young, A. Soil Survey and Land Evaluation. London: George Allen & Unwin (Ed.), 1981. 278p.
Etchebehere, M. L. C.; SAAD, A. R.; CASADO, F. C. Análise morfoestrutural aplicada no vale do Rio do Peixe (SP): uma contribuição ao estudo da neotectônica e da morfogênese do planalto ocidental paulista – Revista UnG – Geociência – X (6): 45-62, dezembro de 2005.
Etechbehere, M. L. C.; Saad, A. R.; Fúlfaro, V. J.; Perinotto, J. A. J. – Aplicação do Índice Relação Declividade-Extensão - RDE na Bacia do Rio do Peixe (SP) para Detecção de Deformações Neotectônicas. Revista do Instituto de Geociência – USP Geol. USP Sér. Cient., São Paulo, v. 4, n. 2, p. 43-56, outubro 2004
Knighton, David. Fluvial forms and processes – London: Edward-Arnold Publishers Ltda, 1984, 218 p
Laszlo, J. M.; ROCHA, P. C. . Os Perfis Longitudinais dos Rios Aguapeí e Peixe: Análise de Suas Descontinuidades. 2013. (Relatório de pesquisa CNPQ).
PETTS, G.; FOSTER, I. Rivers and Landscape – New Caste, Great Britain, The Athenaeum Press, 1990, 3 ed.
Relatório de Situação dos Recursos Hídricos das Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe – 1997.
ROCHA, P. C.; SOUZA FILHO, E. E. Morfogênese e hidrodinâmica nas planícies de inundação e seus sistemas fluviais – Monografia, (Pós-Graduação em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais) – Centro de Ciências Biológicas, Universidade Estadual do Maringá, Novembro de 2001, 47 p.