Autores

Sousa, S.G. (UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI - URCA) ; Macedo, F.R.B. (UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI - URCA) ; Ribeiro, S.C. (UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI - URCA)

Resumo

Embasado em suas experiências cotidianas e conhecimentos vernaculares, o homem sertanejo vem desenvolvendo seus próprios conceitos a respeito da dinâmica socioambiental de sua localidade. A Etnogeomorfologia, foco de análise científica, busca compreender como se dão as relações entre as comunidades tradicionais e as paisagens que a circudam. A presente pesquisa tem como objetivo fazer uma análise do etnoconhecimento que os produtores rurais familiares tem sobre a correlação existente entre solo e relevo, sua utilização no uso e manejo do solo e os processos morfoesculturadores atuantes. Para tanto, usou-se como metodologia a preconizada na tese de doutoramento de Ribeiro (2012). Colhidos os resultados, constatamos que estas comunidades possuem um vasto acervo de saberes que precisam ser valorizados, pois podem ser grandes aliados às políticas públicas de conservação dos recursos naturais.

Palavras chaves

Etnociência; Geomorfologia; Pedologia

Introdução

O município aqui tratado encontra-se inserido na realidade semiárida nordestina. Que tem como características seu clima seco, com baixos índices pluviométricos, irregularidade espaço-temporal das chuvas, com médias anuais variando entre 250 a 800 mm, elevadas temperaturas, solos rasos, pedregosos e pobres em matéria orgânica, vegetação esparsa, com predomínio do bioma da Caatinga, e evapotranspiração potencial dos solos e vegetação excedendo o volume pluviométrico anual. Configurando o déficit hídrico. Frente às fragilidades de um ecossistema que se mostra cada vez mais instabilizado para as atividades do campo, o produtor rural nordestino, que necessita diretamente dos recursos naturais desse ambiente para sua sobrevivência, se apoia em crenças, e principalmente nos conhecimentos que lhes foi transmitido por gerações anteriores, para driblar tais adversidades, buscando um equilíbrio entre a exploração e conservação destes recursos. Embasado, também, em suas experiências cotidianas este vem desenvolvendo ao longo do tempo seus próprios conceitos a respeito da dinâmica socioambiental de sua localidade, sendo também responsável por transmitir tais conhecimentos as gerações futuras. Esse processo se dá de forma natural. Neste sentido O homem é o resultado cultural do meio em que foi socializado. Ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquiridas pelas numerosas gerações que o antecederam. A manipulação adequada e criativa desse patrimônio cultural permite as inovações e as invenções. Estas não são, pois, o produto da ação isolada de um gênio, mas o resultado do esforço de toda uma comunidade. (LARAIA, 2009, p.45) A Etnogeomorfologia surge, então, com o propósito de estudar o conhecimento que as comunidades tradicionais têm acerca dos processos morfoesculturadores da paisagem e sua correlação com os demais processos ambientais. Segundo Ribeiro (2012, p.49), esta seria uma ciência híbrida, que estuda o conhecimento que a uma comunidade tem acerca dos processos geomorfológicos, levando em consideração os saberes sobre a natureza e os valores da cultura e da tradição locais, sendo a base antropológica da utilização das formas de relevo por dada cultura O presente trabalho objetiva realizar um estudo sobre os conhecimentos vernaculares dos produtores rurais familiares dos sítios Timbaúbas e Várzea, município de Farias Brito/CE, sobre as formas geomórficas locais, os tipos de solo e os processos morfoesculturadores da paisagem, dando ênfase à relação condicionante entre solo e relevo, até que ponto o relevo exerce influência na qualidade, uso e manejo do solo nessas comunidades tradicionais. Para que posteriormente possamos avaliar o grau de similitude entre os etnoconhecimentos o conhecimento científico/acadêmico.

Material e métodos

Para iniciarmos a pesquisa sobre a Etnogeomorfologia Sertaneja, buscamos construir uma base teórica partindo de leituras e análises de obras que tratam de Ciência, Etnociência, Etnoecologia, Etnogeomorfologia, Etnopedologia, Cultura e Geografia, dentre outros temas relacionados à ciência geográfica e às demais áreas pesquisadas, tendo como referencia primaz, em conceitos e metodologia, os estudos desenvolvidos por Ribeiro (2012), em sua tese de doutorado, acerca dos conhecimentos etnogeomorfológicos das comunidades tradicionais residentes nas áreas que perfazem a Sub-bacia do rio Salgado/CE. Tudo com o objetivo de compreender, em um primeiro momento, como as comunidades tradicionais concebem as paisagens que as circundam e que relações mantêm com a mesma. Para a caracterização geoambiental dos recortes espaciais escolhidos, foram feitos levantamentos de mapas temáticos pré existentes e produção de outros, sobre as características físicas/ambientais/sociais do município de Farias Brito. Foram confeccionados mapas de localização das áreas, produzidos no QGis 2.8, usando bases cartográficas disponibilizadas pelo IBGE, cobertura vegetal, uso e ocupação do solo, usando como base os dados disponibilizados pela FUNCEME (2006) em seu Zoneamento geoambiental do estado do Ceará: parte II Mesorregião do Sul Cearense, e de hipsometria, produzido através das bases de dados SRTM da Embrapa (MIRANDA, 2005). Todos tratados no software ArcGis. As informações sobre as classes de solo foram retiradas de mapas produzidos pela FUNCEME, em seu Levantamento de Reconhecimento de Média Intensidade de Solos – Mesorregião do Sul Cearense (2012). Quanto a Geologia, utilizamos como base cartográfica o mapa Geodiversidade do Estado do ceará, produzido pela CPRM (2014). Para o desenvolvimento da pesquisa, cujo foco principal é a Geomorfologia, escolhemos recortes espaciais que apresentam diferentes feições geomórficas em sua paisagem. No município de Farias Brito/CE encontramos duas unidades geomórficas distintas, típicas de regiões semiáridas, o Maciço Residual, conhecido localmente como Serra do Quincuncá e a Depressão Sertaneja. Ambas apresentam litotipos, classes de solo e unidades geomórficas diferentes. Foram realizadas previamente visitas as áreas pesquisadas para identificação e delimitação das unidades geomorfológicas e análise do uso e manejo do solo pelas comunidades tradicionais. Para, assim, partirmos para a aplicação de entrevistas roteirizadas com perguntas relacionadas principalmente aos processos morfoesculturadores do relevo, a geomorfologia local e ao uso e manejo do solo, além de questões sobre clima, vegetação, hidrografia, etc. A partir da análise dos dados e produções textuais sobre as informações colhidas, traçamos perfis topográficos demonstrativos das unidades geomorfológicas focadas pelos produtores rurais através da ferramenta 3D Parth Profile/Line of Sight do software Global Mapper 16, usando como base as imagens SRTM. Para, então fazermos a correlação dos dados etnogeomorfológicos, colhidos em campo, com os conhecimento científicos/acadêmicos. Foram entrevistados ao todo 20 produtores rurais (10 em cada comunidade), sendo dezessete do sexo masculino e três do sexo feminino, todos com idades variando entre os 28 e 72 anos. Grande parte dos entrevistados nasceram e vivem na sua comunidade até os dias atuais, os demais residem lá há mais de trinta anos. Poucos tiveram acesso ao ensino básico e a idade mínima com que tiveram o primeiro contato com as atividades agropecuárias foi aos oito anos de idade, sempre guiados pelos pais.

Resultado e discussão

O município de Farias Brito conta com aproximadamente 19.000 habitantes é composto por quatro distritos, incluindo o distrito sede (IPECE, 2014). Aqui, foram focados dois deles com geomorfologias distintas. O distrito de Quincuncá (Maciço Residual), onde abordamos o sítio Timbaúbas e o distrito de Nova Betânia (Depressão Sertaneja), com o sítio Várzea. Durante a aplicação das entrevistas roteirizadas, constatamos que os sertanejos fazem compartimentações de subunidades geomórficas dentro de unidades maiores, e usam diversas taxonomias para descrevê-las. O Maciço Residual - com cotas altimétricas atingindo 670 m. é onde se localiza o sítio Timbaúbas que tem como substrato litológico rochas do complexo granitoides deformados (CPRM, 2014), que sob influência de condições climato-botânicas e do relevo deram origem a classes de solo do tipo Nitossolo Vermelho, de maior predominância, e que em algumas áreas encontram-se combinados com outras classes como o Neossolo Litólico e o Argissolo Vermelho (FUNCEME, 2012). Nessa comunidade são utilizadas as seguintes nomenclaturas para classificar as compartimentações feitas a partir da unidade geomórfica maior, o Maciço residual. “Chapadão” – Corresponde a áreas localizadas na cimeira do Maciço Residual, possuindo as maiores altimetrias de toda a formação e com declividades reduzidas. “Quebrada” – Encostas íngremes, ou pouco íngremes que na paisagem encontra-se na paisagem local entre a “chapada” e o “baixi”. “Baixi” – Terrenos rebaixadas do relevo (alvéolos), onde se localizam os depósitos superficiais e subsuperficiais de água. Pela sua localização na área de estudo, sempre entre duas encostas, tem como característica principal ser um local propício a deposição de grande volume de sedimentos transportados pela a ação pluvial, elevando o nível de base dessas áreas. Sobre os solos, foram descritos dois tipos de solos presentes na região. A “terra ariúsca”, também chamada de “terra branca”, correspondem ao Neossolo Litólico, que por apresentar arenosidade, pedregosidade e devido a sua localização, sempre associada às encostas (“Quebradas”), condiciona a sua baixa capacidade de infiltração e alta suscetibilidade aos processos erosivos, não são apropriadas para todos os tipos de cultivos. Aqui são feitos plantios apenas de feijão, pois esse grão não necessita de muita umidade e se desenvolve em solos com baixa fertilidade natural. Alguns também realizam o plantio do milho e da fava, porém reconhecem que existem dificuldades para o desenvolvimento dessas culturas. Por conta da declividade, aqui foram identificados ravinamentos, chamados pelos sertanejos de “grotas”, “erosão”, “vala”, “rachão”, e voçorocamentos “grotão”, “grotona”, “erosão”, “voçoroca”. Estes processos ocorrem principalmente nas áreas em que são feitos os plantios, tendo como causa principal apontada o desmatamento seguido da ação erosiva das chuvas. A “terra vermelha” ou “terra de barro”, visivelmente com maior predominância na região, corresponde ao Nitossolo Vermelho, de alta fertilidade natural, por isso é considerado pelos produtores rurais uma “terra muito forte” apropriada a todos os tipos de cultivo. Sua localização está associada ao “chapadão”, podendo também ocorrer na “quebrada”. No “baixi” a sua coloração varia de tons avermelhados a amarronzados, devido a concentração de matéria orgânica. Grande parte dos cultivos (milho, feijão, amendoim, fava) são realizados nesse tipo de solo, devido a sua fertilidade natural, boa capacidade de infiltração, o que favorece a retenção de umidade. Sua localização, em grande parte em terreno aplainados, diminui a suscetibilidade aos processos erosivos. A Depressão Sertaneja – Cortada pelo vale do rio Cariús, tem sua origem intrinsecamente relacionada ao processo de pediplanação (erosão intensiva e recuo de vertentes). O substrato geológico do sitio Várzea é composto por Metassedimentos siltico-argilosos, que se estendem do sopé do maciço residual até as margens (direita e esquerda) do rio Cariús, e os Ortognaisses, que predominam em todo o território da depressão. Nas áreas com predomínio dos Metassedimentos, e com influencia primordial do curso d’água presente no local e suas aluviões, desenvolve-se a classe de solo Neossolo Flúvico eutrófico, com inclusão de Cambissolo, e no domínio das Ortognaisses encontramos o Neossolo Litólico, com inclusões de Argissolo, Nitossolo, Neossolo Flúvico e Luvissolo Crômico. (FUNCEME, 2012) As unidades geomórficas identificadas e compartimentadas pelos produtores rurais do sítio Várzea, foram descritas usando as seguintes nomenclaturas: “Serra” – Maciço residual com cotas altimétricas atingindo os 670 m. e de superfície medianamente aplainada. “Morro” ou “lombo” – Colinas residuais que apresentam variações altimétricas pouco acentuadas e topos convexos. Encontram-se distribuídas como pequenos pontos pela Depressão sertaneja. “Tabuleiro” – Relevo com altimetrias medianas entre o “morro” e o “baixi”. “Baixi” – Planície fluvial desenvolvida a partir do acúmulo de sedimentos aluviais. Quando indagados sobre os tipos de solos que identificam na sua localidade, definiram quatro tipos, os principais estão localizados nas áreas onde realizam as atividades agrícolas e pecuárias e onde estão localizadas suas moradias. O primeiro encontra-se às margens do rio Cariús e são áreas com predominância de Neossolo Flúvico, e resquícios de Cambissolo, descritos popularmente como “terra preta”, “terra de barro”, “terra de baixi” e “massapê”, tendo como características principais o seu alto teor de fertilidade, a presença constante de umidade e coloração escura, devido ao acúmulo de matéria orgânica. Tais características tornam esse tipo de solo o mais procurado para os cultivos de capim e arroz, quando mais próximos do leito, e milho, feijão e fava. Devido a declividade quase inexistente, nessas áreas não ocorrem processos erosivos. O segundo é denominado de “terra branca”, “terra ariúsca”, “carrasco”, “piçarra”, que correspondem ao Neossolo Litólico, e tem como principais características apontadas a baixa fertilidade, presença de materiais primários e impermeabilidade, o que dificulta o uso e manejo desse tipo de solo. Além de outros fatores como sua localização, que ocorrem nos “morros” e “lombos”, o que facilita o surgimento de processos erosivos chamados pelos sertanejos de “grota”, “levada” (ravinas) e “buracos” (microrravinas e sulcos). O terceiro diz respeito a um tipo de solo avermelhado, de baixa fertilidade, relevo com pouca declividade, chamado de “terra escravada”. Segundo os entrevistados, o que caracteriza e nomeia essa área como “tabuleiro” são as condições de degradação do seu solo. Essa característica associado ao nível acelerado e concentrado de processos erosivos (Voçorocamentos, chamados de “gruteão” e “cratera”) existentes faz com que nessas áreas não sejam realizados nenhum tipo de atividade agrícola. Pelas condições de degradação do solo e da vegetação quase inexistente, o que se percebe são indícios de processo de desertificação. E, por último, a “terra vermelha” localizada na superfície da “serra”. Apesar dos produtores do sítio Várzea não desenvolverem suas práticas agropecuárias nesse local, descrevem com propriedade as características do Nitossolo Vermelho, considerado de boa fertilidade natural e por isso, adequado para todos os tipos de cultivo: milho, fava, feijão, amendoim, capim, entre outros. Os produtores ainda apontam processos erosivos nessa área causados por dois motivos, pela declividade dos terrenos e pela aragem feita no solo. Chamam esses processos de “grota”, “levada” (ravinas) “buracos” (microrravinas e sulcos).

Figura 1. Localização dos sítios. Fonte: elaborado pelas autoras, 2015



Figura 2.

Perfil topográfico demostrativo das unidades etnogeomorfológicas identificadas no sítio Timbaúbas. Elaborado pelas autoras, 2015.

Figura 3.

Perfil topográfico demonstrativo das unidades etnogemorfológicas identificadas no sítio Várzea. Elaborado pelas autoras, 2015.

Figura 4.

Perfil topográfico demonstrativo das unidades etnogeomorfológicas identificadas no sítio Várzea. Elaborado pelas autoras, 2015.

Considerações Finais

Constatamos que estas comunidades possuem um vasto acervo de saberes e que a valorização dos etnoconhecimentos se configura atualmente, frente aos graves problemas de degradação e super exploração dos recursos naturais, como algo de indiscutível importância, pois a forma como o pequeno produtor rural lida sustentavelmente com a natureza, conhecendo sua fragilidade e sua dinâmica fazem com que possam ser grandes aliados das políticas públicas de conservação do meio ambiente. Esse fato contribui para que a Etnogeomorfologia, assim como as demais etnociências, ganhe notoriedade no âmbito científico, pois esta se mostra eficiente ao levar o pesquisador a entender como as comunidades tradicionais, que passaram por longos processos cumulativos de conhecimentos vernaculares, os aplicam como guias na exploração, conservação e classificação dos recursos naturais do seu âmbito de vivencia. Podendo ser também considerada uma ciência aliada à preservação ambiental, já que esta se preocupa com as condições de degradação do solo, vegetação e dos demais recursos naturais utilizados pelas comunidades tradicionais.

Agradecimentos

Á Universidade Regional do Cariri/URCA pelo apoio financeiro. À Profa. Dra. Simone Cardoso Ribeiro pelas orientações e incentivos à pesquisa. Ao Laboratório de Geomorfologia e Pedologia/GeoPed, pelo apoio técnico. E, por fim, aos produtores rurais dos sítios Timbaúbas e Várzea por compartilharem um pouco do seu vasto conhecimento conosco.

Referências

CPRM, Mapa Geodiversidade do Estado do ceará. Fortaleza: Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, 2014. Disponível em: <http://www.cprm.gov.br/publique/media/geodiversidade_ceara.pdf> Acesso em: 02/09/2015 as 09h06min.

FUNCEME, Levantamento de Reconhecimento de Média Intensidade de Solos – Mesorregião do Sul Cearense. Fundação Cearense de meteorologia e Recursos Hídricos, Fortaleza: 2012. 280 p.

FUNCEME. Zoneamento geoambiental do estado do Ceará: parte II Mesorregião do Sul Cearense. Fortaleza: 2006.

IPECE, Perfil Básico Municipal Farias Brito 2014. Instituto de Pesquisa e estratégia Econômica do Ceará, Fortaleza, 2014. Disponível em: <http://www.ipece.ce.gov.br/publicacoes/perfil_basico/pbm-2014/Farias_Brito.pdf> Acesso em: 15/11/2015 às 12h55min.

LARAIA, Roque de Barros; Cultura um conceito antropológico – 23ª Ed. – Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.

MIRANDA, E. E. de; (Coord.). Brasil em Relevo. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite, 2005. Disponível em: <http://www.relevobr.cnpm.embrapa.br>. Acesso em: 12/07/2014, às 21h30min.

RIBEIRO, Simone Cardoso; Etnogeomorfologia Sertaneja: proposta metodológica para a classificação das paisagens da sub-bacia do rio Salgado/CE. Tese de Doutorado, UFRJ/PPGG, Rio de Janeiro, 2012. 278 p.