Autores

Lima, L.P. (UFS) ; Santos, A. (UFS) ; Araújo, H.M. (UFS) ; Macedo, H.S. (UFS) ; Campos, I.M. (UFS) ; Cruz, R. (UFS)

Resumo

O risco se constitui na probabilidade de perda e/ou danos do ponto de vista socioambiental a qual a população esteja exposta. Nesse contexto, o presente estudo buscou analisar os riscos ambientais físicos geomorfológicos a partir das interferências antrópicas nas vertentes com o modo de uso e ocupação. Para o alcance dos objetivos propostos, fez-se o levantamento bibliográfico e cartográfico em diversas fontes e instituições públicas, além do trabalho de campo para evidenciar e registrar os riscos geomorfológicos e hidrológicos. As áreas com maiores evidencias de riscos geomorfológicos (erosão e movimentos de massa) estão atrelados a precarização ou inexistência de infraestrutura básica e a ocupação nas vertentes da Formação Barreiras do município.

Palavras chaves

Vertentes; Riscos geomorfológicos; Processos morfogenéticos

Introdução

O uso indevido dos sistemas ambientais físicos de Aracaju tem causado impactos e riscos ambientais. Os impactos, por sua vez, acompanharam todo o processo de construção do ambiente urbano local. No rápido crescimento de Aracaju houve a expansão tanto da sua área periférica quanto da sua zona de expansão sobre os municípios vizinhos, resultando num processo de metropolização. Essa nova dinâmica urbana, segundo França (1999), gerou os assentamentos precários e alto grau de degradação ambiental. Diante dessa problemática o presente texto se propõe a estender a reflexão sobre a modificação vulnerabilidade e riscos ambientais do município de Aracaju expondo dados sistematizados sobre as ocorrências, freqüência e tipologia dos riscos. Para tal objetivo, utilizou-se de metodologia que versou o trabalho de gabinete e de campo aplicando uma visão holística entre a existência dos condicionantes ambientais físicos e o nível de ocupação do território resultado em vulnerabilidade e riscos ambientais. As vertentes em Aracaju estão associadas às formações superficiais cenozóicas existentes em Aracaju, abrangem o Grupo Barreiras e as coberturas quaternárias, com predomínio da holocênica. Na perspectiva geomorfológica, os Tabuleiros Costeiros ocupam a parte mais interna do município principalmente na zona oeste (bairros Jabotiana, Santa Maria, América), norte (Porto Dantas, Cidade Nova e Santos Dumont) e em alguns locais da parte central (Bairro Cirurgia, Getúlio Vargas e Suíssa). Desenvolveu-se em colinas e morros dissecados apresentando formas arredondadas. Em se tratando do índice de declividade, as áreas de remanescentes da superfície tabular apresentam altitudes variáveis entre 50 e 100m, e declividade das vertentes entre 6% a 12%. Em gradientes mais altos, encontra-se declividade superior a 45%, a exemplo do Morro do Urubu. Considerando o perfil das encostas, em Aracaju podem ser encontradas vertentes côncavas e convexas. As formas côncavas facilitam a convergência de águas, induzindo a formação de cicatrizes no solo. Enquanto as vertentes convexas funcionam como área dispersora de água e em geral estão associadas à ocorrência de erosão mais uniforme e laminar. Este tipo de feição tende a sofrer maior instabilidade na ocorrência de fluxo concentrados (AZAMBUJA, 2007). Esse tipo de feição encontra-se nos Bairros Cidade Nova, Santa Maria, Porto Dantas/Coqueiral. As intervenções nas encostas para a ocupação e retirada de sedimentos para a construção civil no município alterou a geometria da vertente. As feições antrópicas formadas a partir da ação humana vêm permitindo a dinâmica erosiva e de movimento de massa nas vertentes em nível local. Nesse contexto, Reckziegel et al (2005) ressalta que os cortes e aterros realizados para a construção de moradias em terrenos com declividade acentuada, são obras que provocam alterações na forma original do terreno, e estão sujeitas à erosão pela ação das águas pluviais e também de movimento de massa devido à ruptura abrupta da forma.

Material e métodos

A metodologia adotada nesse estudo consistiu em reconhecer os locais de perigo ou as áreas de risco por meio da caracterização ambiental de Aracaju e da pesquisa dirigida junto aos órgãos competentes, buscando registro e freqüência de ocorrência de riscos ambientais de natureza geológico- geotécnico (deslizamento de encostas) e os de natureza hidrogeológica (inundação e enchente). Visando aprofundar o conhecimento sobre a problemática ambiental do espaço urbano, houve o levantamento da literatura existente sobre a temática, bem como as bases cartográficas da área de Aracaju (mapas, ortofotocartas, imagens de satélite). As informações sobre a propriedade dos componentes físicos e bióticos foram obtidas através da aquisição dos dados, tanto em formato analógico quanto digital e informações básicas sobre os estudos geológicos, geomorfológicos, pedológicos, climáticos e hidrológicos. As observações em campo da dinâmica da paisagem e o registro fotográfico permitiu a identificar os processos morfogenéticos atuantes na área de estudo. Na fase de trabalho de campo para estudo priorizou as observações in loco, utilizando-se como instrumento de apoio o GPS, bem como a câmara fotográfica digital a qual serviu de base para o registro dos diversos cenários apresentados na paisagem urbana de Aracaju. Esta fase, auxiliada através da caderneta de campo possibilitará descrever o acentuado grau degradação ambiental/riscos evidenciados pela ação antrópica/natura ao longo dos anos. A elaboração do Inventário sobre a distribuição temporo/espacial das ocorrências de movimentos de massa e de inundações, permitiu identificar a tipologia e magnitude, bem como os prejuízos socioambientais causados pelos movimentos de massa em uma ordem cronológica, na perspectiva de diagnosticar e prognosticar as áreas de risco onde a população está inserida. Os dados utilizados no inventário foram coletados junto a Defesa Civil e Corpo de Bombeiros.

Resultado e discussão

As vertentes em Aracaju estão associadas às formações superficiais cenozóicas existentes em Aracaju abrangem o Grupo Barreiras e as coberturas quaternárias, com predomínio da holocênica. Na perspectiva geomorfológico, os Tabuleiros Costeiros ocupam a parte mais interna do município principalmente na zona oeste (bairros Jabotiana, Santa Maria, América), norte (Porto Dantas, Cidade Nova e Santos Dumont) e em alguns locais da parte central (Bairro Cirurgia, Getúlio Vargas e Suíssa). Desenvolveu-se em colinas e morros dissecados apresentando formas arredondadas e de considerável cota altimétrica. Em se tratando do índice de declividade, as áreas de remanescentes da superfície tabular apresentam altitudes variáveis entre 50 e 100m, e declividade das vertentes entre 6% a 12%. Em gradientes mais altos, encontra-se declividade superior a 45%, a exemplo do Morro do Urubu. Considerando o perfil das encostas, em Aracaju podem ser encontradas vertentes côncavas e convexas. As formas côncavas facilitam a convergência de águas, induzindo a formação de cicatrizes no solo. Enquanto as vertentes convexas funcionam como área dispersora de água e em geral estão associadas à ocorrência de erosão mais uniforme e laminar. Este tipo de feição tende a sofrer maior instabilidade na ocorrência de fluxo concentrados (AZAMBUJA, 2007). Esse tipo de feição encontra-se nos Bairros Cidade Nova, Santa Maria, Porto Dantas/Coqueiral. As intervenções nas encostas para a ocupação e retirada de sedimentos para a construção civil no município alterou a geometria da vertente. As feições antrópicas formadas a partir da ação humana vêm permitindo a dinâmica erosiva e de movimento de massa nas vertentes em nível local. Nesse contexto, Reckziegel et al (2005) ressalta que os cortes e aterros realizados para a construção de moradias em terrenos com declividade acentuada, são obras que provocam alterações na forma original do terreno, e estão sujeitas à erosão pela ação das águas pluviais e também de movimento de massa devido à ruptura abrupta da form Os processos de antropização (cortes de vertentes para criação de estradas, desmatamento, construção de casas, retiradas de sedimentos) e morfogenéticos (erosão em lençol e laminar, movimentos de massa, volume de precipitação) são os principais responsáveis pelas formas das encostas e a produção de áreas de risco presentes no município de Aracaju. Apesar dos processos de movimentos de massa, no caso deslizamentos, caracterizam-se em riscos quando apresentam perigo à vida humana e aos seus bens materiais de acordo com algumas formas de ocupações antrópicas. A erosão acelerada, de relevância interferência na evolução das vertentes, no espaço urbano, é efeito da combinação entre os processos morfogenéticos e as degradações provocadas pelas ações humanas, como a alteração das características das condições naturais, seja pelo desmatamento, remoção e ocupação de encostas, aumento das áreas impermeabilizadas e pela criação de caminhos preferenciais por meio da construção de vias de acesso (ARAÚJO, 2010). A ocupação desordenada da população em áreas de maior declividade dinamizando em parte as vertentes e tem estimulado, sobremaneira, o processo erosivo que se constitui em uma ameaça a sua própria sobrevivência, principalmente nos ambientes litologicamente sedimentares envolvendo os bairros Porto Dantas (Coqueiral), Cidade Nova, Santos Dumont, América e Santa Maria. Esta ocupação instalada nas encostas dos Tabuleiros Costeiros aumenta o desequilíbrio entre a pedogênese e a morfogênese em escala local, um exemplo é a criação de retomada de erosão linear e voçorocamento de encosta próximas às áreas de ocupações urbanas recentes (Figura 01). Nas zonas de Morros dissecados nas superfícies tabulares a presença do solo Argissolo concentra-se as ocorrências dos processos erosivos nos cortes dos taludes, principalmente no Morro do Avião. Nessas condições, se manifestam os tipos de erosão: a laminar ou em lençol, a linear e o voçorocamento. Ocorre, inicialmente, a erosão laminar causada pelo escoamento difuso das águas de chuva que, ao se acumularem nas depressões do terreno, começam a descer pela encosta devido à saturação do solo e pouca contenção das águas pelas poças. A erosão linear provocada pela concentração das linhas de fluxo das águas superficiais forma sulcos na superfície do terreno o qual, ao aprofundar, causa o aparecimento das ravinas. Os sulcos estão principalmente na parte de urbanização mista, na parcelada e periférica. As principais consequências registradas são danos ao piso das ruas, seja ela pavimentada ou não. Em locais onde os sulcos são abundantes, ocorre a destruição do piso das vias públicas, a exemplo do observado em áreas pavimentadas que foram traçadas ao longo da declividade da vertente, situação observada principalmente no Conj. Manoel Preto, Coqueiral, Porto Dantas, Cidade Nova e Santa Maria(Figura 02). A evolução das ravinas se configura em erosão por voçorocamento, em que há além da perda de solo, a formação de áreas que comprometem a estabilidade das moradias. Por sua vez, algumas voçorocas estão conectadas ao fluxo de drenagem, a qual desenvolve a formação de dutos e de erosão e desmoronamento em sua área interna. Outros níveis de ocupação estão sujeitas ao risco de escorregamento/desmoronamento duplo, podendo ocorrer tanto no talude localizado atrás dela, como no patamar em que está assentada. No contexto de ocupação do risco geomorfológico a maioria da população se encaixa nas condições sociais mais precárias, pode-se encontrar casas feitas de papelão e maderito, além da alvenaria, estão dispostas, muitas das vezes, em ruas com padrão urbano desordenado que em consonância com a ausência de saneamento básico intensificam o fluxo de escoamento superficial concentrado. A ocupação mais intensa dos terrenos próximos às ocorrências erosivas multiplica os riscos. Junto com os riscos de acidentes, geralmente as ravinas e voçorocas se tornam áreas de despejo de lixo, às vezes até como tentativa desastrosa de contenção. Os movimentos de massa são processos com menor amplitude e freqüência no município, em relação aos eventos erosivos. Nessas áreas o padrão das moradias é precário, os cortes das vertentes para ocupação ou fornecimento de aterros não são devidamente compactados. Outro agravante é a ausência de saneamento básico que permite o lançamento dos resíduos sólidos e líquidos diretamente ao solo, aumentando assim, os movimentos de sedimentos. Entre as ocorrências dos movimentos de massa encontra-se o nível de rastejamento em pontos do Bairro Cidade Nova (principalmente nas ruas 6 e 7 e circunvizinhas), Bairro América (Av. Desembargador, Rua Argentina e Alaska), Bairro Santa Maria, apesar de apresentar velocidade baixa e de movimento constante, contém uma geometria de movimento definida. O desencadeamento de escorregamentos em Aracaju depende de vários condicionantes naturais, porém, a chuva é um dos fatores mais significativos. Nos meses de alto índice pluviométrico há o aumento do peso potencial dos sedimentos argilosos das áreas de vertentes aracajuanas, quando saturado, ocorre o escorregamento de massa.

Figura 01

Ocupação irregular no Morro do Avião (Bairro Santa Maria) em áreas de grandes focos erosivos. Créditos: Alizete dos Santos, 2011.

Figura 02

Ocupação irregular na encosta, no bairro Porto Dantas. Créditos: Alizete dos Santos, 2011.

Figura 03

Deslizamento de terra no Alto da Jaqueira, Bairro Cidade Nova. Fonte: Defesa Civil, 2009.

Quadro 01

Distribuição e tipologia dos riscos geomorfológicos de Aracaju. Fonte: Defesa Civil e pesquisa de campo entre 2009 e 2011.

Considerações Finais

As vertentes localizadas na superfície tabular dissecada em colinas, de modo geral é possível encontrar o relevo plano de aspecto rampeado, com sua inclinação em direção ao litoral, dissecado por interflúvios tabuliformes. Na zona norte e nordeste do município de Aracaju a formação está no aspecto de morros e colinas, com alto grau de declive. Com a presença dos solos Argissolos Vermelho Amarelo Distrófico e Eutrófico. Vegetação Gramínea herbácea, vegetação subcaducifólia, com aspectos de vegetação secundária, ocorre diversos pontos de desmatamento para retirada de material e atender a dinâmica de expansão urbana, facilita a intensificação dos processos morfogenéticos. Apresenta ocupação consolidada e mista nas mediações da Cidade Nova, Bairro América, Jabotiana, Santa Maria e Soledade e no bairro Santa Maria. Ambiente estável e instável em áreas de maiores declives e Áreas legalmente Protegidas nas alta Declividade das encostas. Forte susceptibilidade à erosão e movimento de massa sobretudo, devido a dinâmica da expansão da malha urbana da capital de Sergipe, Aracaju.

Agradecimentos

Referências

ARAÚJO, H.M; SOUZA, A. C.; COSTA, J. de J.; SANTOS, G. J. dos. O Clima de Aracaju na Interface com a Geomorfologia de Encostas. Revista Scientia Plena, Vol. 6, nº8, 2010
ARAÚJO, H. M.; Encostas no Ambiente Urbano de Aracaju. In: ARAÚJO, H. M.; VILAR. J. W. C.; WANDERLEY, L. de L.; SOUZA. R. M. e (Orgs). O ambiente urbano: visões geográficas de Aracaju. São Cristóvão: Departamento de Geografia da UFS, 2006.
AZAMBUJA, R. N. Análise Geomorfológica em áreas de Expansão Urbana no Município de Garanhus/PE. Dissertação (Mestrado em Geografia), Universidade Federal de Pernambuco, 2007.
RECKZIEGEL, B. W. et al. Mapeamento de áreas de risco geomorfológico nas bacias hidrográficas dos Arroios Cancela e Sanga do Hospital, Santa Maria-RS. GEOGRAFIA Revista do Departamento de Geociências v. 14, n. 1, jan./jun. 2005. Disponível em http://www.geo.uel.br/revista
SANTOS, A. Riscos geomorfológicos e hidrológicos em Aracaju. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente), Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão-SE, 2012
SANTOS, L. I. da C. Identificação dos impactos ambientais na APA Morro do Urubu - Aracaju/SE. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Engenharia Florestal) - Universidade Federal de Sergipe. 2009.