Autores

Serra Lisboa, G. (GEOMAP) ; Silva de Morais, M. (UEMA) ; Rodrigues Bezerra, J.F. (UEMA) ; Vale Barros, D. (UEMA)

Resumo

A pesquisa tem como objetivo apresentar os resultados sobre o monitoramento da erosão nas cabeceiras das voçorocas identificadas. Os procedimentos metodológicos constaram de: Levantamento bibliográfico; Trabalho de campo; e Monitoramento. Foram identificadas diferentes feições erosivas na bacia do Bacanga como as voçorocas da Vila Industrial II, Torres , e CEPROMAR. O monitoramento foram realizados de acordo com a proposta de Guerra (1996) que utiliza estacas colocadas ao redor das voçorocas; trena para fazer mensurações da distâncias até a borda da feição erosiva e bússola de geólogo (tipo Brunton) para obtenção da orientação das medidas. Os resultados do monitoramento das estacas nas voçorocas indicam que as cabeceiras estão mais ativas principalmente no processo erosivo Torres, onde o voçorocamento está mais acelerado na estaca 1 ponto C evoluindo 2,56 m; na Vila Industrial II na estaca 3 no ponto A progrediu 1,22 m e na voçoroca CEPROMAR na estaca 1 no ponto C avanço de 65cm.

Palavras chaves

Monitoramento; Bacia Hidrográfica; Voçorocas

Introdução

Para Bertoni & Lombardi Neto (2010), a erosão é produto da interação de forças ativas como as características da chuva, declividade e comprimento do terreno e a capacidade de absorver água do solo e, as forças passivas, constituídas pela resistência do solo à abrasão da água, bem como, pela densidade da cobertura vegetal. As áreas degradadas, segundo Morgan (1981), podem ser definidas como a perda da produtividade da terra, quantitativamente ou qualitativamente, através de vários processos como erosão, ação eólica, salinização, diminuição dos nutrientes, deteriorização da estrutura do solo e poluição. A perda da produtividade pode ser parcial ou total. Os danos causados pela degradação de terras são primeiramente analisados em relação aos aspectos físicos do ambiente, como solo, relevo e clima. Outro aspecto muito importante no processo de degradação é a ação antrópica. Faz-se neste artigo uma abordagem a dinâmica e evolução dos processos erosivos acelerados na bacia do rio Bacanga, considerando os processos e agentes morfodinâmicos responsáveis pelo inicio e desenvolvimento das feições erosivas, como o escoamento superficial concentrado, os elevados índices pluviométricos, as características das encostas e morfológicas dos solos. O monitoramento da erosão laminar (BACCARO, 2012; MAFRA, 2012; LEPSCH, 2002; BERTONI& LOMBARDI NETO, 2010), em lençol (GUERRA, 1998; BACCARO, 2012) ou entressulcos (MONTOLAR-SPAROVEK et al., 1999; CANTALICE et al., 2005), bem como as erosões lineares (NASCIMENTO, 1994; DOMINGUES et al., 1998; INFANTI JR. & FORNASARI FILHO, 1998; CASTRO et al., 2004; MARTINS et al., 2006) é uma forma de compreender a dinâmica evolutiva desses processos erosivos, visando o planejamento de prevenção e contenção desses fenômenos, minimizando os impactos sócio-ambientais decorrentes do uso do solo.

Material e métodos

Para a realização desse artigo tornou-se essencial o levantamento e análise do material bibliográfico que trata do assunto e que fundamente a pesquisa. Foram pesquisados conteúdos relacionados à processos erosivos , áreas degradadas, monitoramento e erosão superficial. As atividades de campo foram realizadas no município de São Luís, entre os períodos de janeiro á junho de 2015, tendo como objetivo o monitoramento das cabeceiras nas voçorocas. Nas três voçorocas identificadas (Vila Industrial II, Torres e CEPROMAR) forma feito o monitoramento do recuo das cabeceiras nas voçorocas para o entendimento da evolução dos processos erosivos , considerando o método apresentado por Guerra (1996), que utiliza: estacas colocadas ao redor da voçoroca; trena para fazer as mensurações das distâncias das estacas até a borda da feição erosiva e bússola de geólogo (Brunton) para obtenção da orientação das medidas.

Resultado e discussão

Na área objeto de estudo, assim como em toda a Ilha do Maranhão, as estruturas geológicas superficiais são constituídas por rochas da Formação Itapecuru, originárias do Cretáceo, sobrepostas, em algumas áreas, por camadas da Formação Barreiras que datam do Terciário, e por sedimentos quaternários da Formação Açuí (BEZERRA, 2011). As principais feições geomorfológicas identificadas na área da bacia do rio Bacanga foram: Superfície tabular, colina dissecada, planície fluvial e planície fluviomarinha (BEZERRA, 2011) O município de São Luis ocupa a maior parte da ilha, a qual possui clima equatorial quente- úmido, temperatura média do ar de 28º C, ventos dominantes NE e velocidade média de 6 m/s. A pluviometria média é de 2.900 mm/ano. Os meses em que mais chove são: fevereiro, março, abril e os mais quentes são: outubro, novembro e dezembro (ARAÚJO & SALGADO; 2012). O solo identificado na área de estudo segundo EMBRAPA (2006) com maior abrangência é o Neossolos Regolíticos caracterizam-se por formarem solos poucos desenvolvidos, profundos, ácidos, permeáveis, muitos bem drenados e com fertilidade natural muito baixa (FEITOSA, 1996). Os Neossolos Regolíticos encontram-se bem distribuídos na bacia do rio Bacanga, onde evidenciam-se a presença de vários processos erosivos acelerados, como as voçorocas CEPROMAR, e Torres. Os Argissolos Vermelho Amarelo na voçoroca Vila Industrial II que são caracterizados como solos profundos a moderadamente profundos geralmente com uma boa drenagem e porosidade, apresentando atividade argilosa baixa,horizonte B textural imediatamente abaixo do horizonte A (BEZERRA, 2011). Nas voçorocas Torres, CEPROMAR e Vila Industrial II, localizadas no município de São Luís, foram identificados subprocessos como as alcovas de regressão são feições erosivas que podem ser esculpidas tanto pelo escoamento superficial na forma de filetes subverticais, quando pelo afloreamento do lençol freático ou pela combinação dos dois mecanismos (OLIVEIRA,1999 apud GUERRA, et. al., 2012). Na voçoroca Vila Industrial II, foram instaladas três estacas no dia 05/01/2015, monitorando três pontos ( A, B, e C) cada estaca. Na segunda visista realizada no dia 27/03/2015 pode-se obervar (Figura 1) que na estaca 1, o ponto C avançou 3 cm os outros pontos continuaram estavéis. O terceiro período de monitoramento foi realizado no dia 13/06/2015 sendo a estaca 3 do ponto A houve um avanço de 1,22 cm, os demais pontos não houve evolução permanecendo os mesmos valores encontrados inicialmente. Na voçoroca Torres, foram instaladas três estacas, monitorando três pontos (A, B e C) sendo a estaca 1 com quatro pontos (A, B , C e D), com início no dia 06/01/2015, e o segundo acompanhamento das taxas de avanços foi realizado em 13/06/2015. Na estaca 1, o ponto A obteve avanço de 73 cm, o ponto B avançou 1,77 m, o ponto C 2,56m e o ponto D foi de 10 cm. Na estaca 2 houve uma grande evolução dos pontos porém a estaca foi perdida com o grande indice pluviométrico que ocorreu na área em questão. Na estaca 3 todos os pontos avançaram no ponto A foi de 1,28 m, no ponto B de 2 cm e no ponto C o avanço foi de 60 cm (Figura 2). Na voçoroca CEPROMAR, o monitoramento teve início com a instalação de três estacas no dia 06/01/2015 que para cada estaca foi realizada três medidas ( A, B e C). No segundo dia de campo realizado em 27/03/2015, a estaca 1 obteve avanço em dois pontos, sendo que no ponto A o avanço foi de 35 cm, o ponto C de 20 cm. Na estaca 2 o ponto A obteve um avanço de 6cm, já o ponto B não houve avanço e o ponto C avançou 35 cm. Na estaca 3 obteve avanço em todos os pontos, sendo que no ponto A o avanço foi de apenas 5cm, o ponto B expressivos 90 cm e no ponto C o avanço de 35 cm. O terceiro período de monitoramento foi realizado no dia 13/06/2015 durante esse período por conta do volume das chuvas, obteve-se avanço erosivo em todos os pontos das três estacas, na estaca 1 o ponto A avançou 65 cm, no ponto B progrediu 45 cm e no ponto C o valor foi de 30 cm; na estaca 2 o ponto A avançou 10 cm, no ponto B progrediu 2 cm e no ponto C o valor foi de 45 cm; na estaca 3 o ponto A avançou 29 cm, o ponto B 9 cm e o ponto C permaneceu com os mesmos 45 cm do início do monitoramento (Figura 3).

Tabela 1: Monitoramento das estacas na cabeceira da voçoroca Vila Indu



Tabela 2: Monitoramento das estacas na cabeceira da voçoroca Torres



Tabela 3: Monitoramento das estacas na cabeceira da voçoroca CEPROMAR



Considerações Finais

Foram identificados três processos erosivos dentro da bacia do rio Bacanga, com as mais diferentes tipologias de solos, com características de baixa fertilidade natural e com presença de atributos físicos e morfológicos favoráveis à ampliação destas voçorocas. Os impactos provocados pelas feições erosivas estão associados ao assoreamento dos cursos d’água, a imposição de risco e prejuízo às comunidades que vivem e utilizam esses recursos. Todos esses fatores estão relacionados à ausência de um manejo conservacionista e à falta de planejamento das atividades urbanas. A análise dos dados de monitoramento das cabeceiras das voçorocas Vila Industrial II, Torres e CEPROMAR revelou uma evolução destas, considerando o pouco tempo de monitoramento de 6 meses, os maiores recuos observados foram na estaca 1 da voçoroca Torres e na voçoroca CEPROMAR também na estaca 1 que ocorreram devido aos pequenos movimentos de massa, principalmente nas cabeceiras com alto grau de compactação.

Agradecimentos

Agradecemos ao CNPq e a FAPEMA pelo apoio, aos companheiros do Grupo de Pesquisa Geomorfologia e Mapeamento (GEOMAP) da UEMA pelo apoio e auxilio durante todas as etapas da pesquisa.

Referências

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