Autores

Machado, E. (UNICENTRO) ; Borbosa da Silva, W. (UNICENTRO)

Resumo

O presente trabalho empregou a técnica Ground Penetrating Radar ou GPR para a localização de túnel assim como na sua profundidade já que esses processos erosivos são identificados em diferentes solos e ocupações. A pesquisa se desenvolveu na encosta schwab onde foi localizada uma estrutura de abatimento que geralmente esta relacionada com a presença de tuneis sendo assim o método georadar foi aplicado para o imageamento da subsuperficie onde se mostrou eficiente expondo hipérboles de mudança de materiais e a profundidade, sendo favorecido por pneus e manilhas colocado pelo proprietário.

Palavras chaves

Georadar ; Túneis ; Erosão subsuperficial

Introdução

As formas e feições reconhecidas como túneis são responsáveis pela remoção de grande quantidade de materiais e que, de acordo com Dunne (1990), são geralmente relacionados às diferenças texturais de sequência litoestratigráficas ou de horizontes pedológicos estruturais. Nesses túneis pode ser observada a ação constante de fluxos de água, com interação de fluxos subsuperficiais e superficiais conforme evoluem para canais abertos em superfície. O mesmo processo erosivo foi observado em paisagens naturais e antropogênicas, em diferentes climas, litologias e depósitos, bem como em diferentes usos do solo e coberturas vegetais (ROMERO DÍAZ et. al., 2007). Com a retirada de materiais, seja por processos mecânicos ou químicos, constituem-se rotas preferenciais de fluxos de água subsuperficial (SELBY, 1982; CAMARGO, 1998), responsáveis por diversos mecanismos de erosão, refletindo a interação crítica entre as condições climáticas, características da formação superficial e características locais dos gradientes hidráulicos (BRYAN & JONES, 1997). Seguindo essas premissas e de acordo com a observação de que esse processo erosivo ocorre, muitas vezes, em áreas agricultáveis ou de pastoreio (HOLOCHESKI, 2011; SILVA, 2011; BAZZOTTI, 2013), buscou-se avaliar a aplicabilidade do método de georradar na localização de sistemas de túneis em encosta. A área de estudos (FIGURA 1) está localizada na encosta nominada de “Schwab”, no distrito de Barra Bonita, no município de Prudentópolis, estado do Paraná. Prudentópolis é um município localizado morfoestruturalmente no Segundo Planalto Paranaense, com rochas sedimentares paleozoicas do Grupo Passa Dois das formações Rio do Rasto, Teresina, Serra Alta e Irati e rochas mesozoicas intrusivas básicas, diques e soleiras de diabásio (MINEROPAR, 2001). Especificamente, a encosta se localiza nos solos argilosos oriundos da Formação Teresina (260 Ma), com declividade média de 10%, sendo utilizada até o momento da coleta de dados para o plantio de culturas de época, como soja, milho e aveia, e por vezes, morangos. O Ground Penetrating Radar (GPR) ou Radar de Penetração do Solo, ou simplesmente, Georradar, é uma técnica de investigação geofísica de alta velocidade, não intrusiva, utilizada no imageamento de materiais em subsuperfície. Para o desenvolvimento do trabalho foram realizadas coletas de dados com o conjunto coletor modelo SIR-3000 e antena blindada de 270 MHz e seu processamento sendo realizado no laboratório de Geoanálise da Universidade Estadual do Centro Oeste – Unicentro.

Material e métodos

O método GPR está embasado na teoria da propagação e atenuação das ondas eletromagnéticas no meio, consistindo em um conjunto de equipamentos, metodologias e técnicas utilizado para detectar e identificar estruturas em subsuperficie. A capacidade de alcance desse método depende de alguns fatores como as perdas por condução elétrica, relaxação dielétrica, espalhamento geométrico e dispersão Ortega (2006), a profundidade de penetração da onda eletromagnética depende da frequência do sinal transmitido (RODRIGUES, 2004), assim o método apresenta uma melhor eficiência em estruturas rasas, sendo uma técnica não intrusiva e não invasiva onde fornece um grande volume de dados, (KNIGHT, 2001). Os principais fatores que regem a coleta de dados são a condutividade elétrica, permissividade dielétrica e permeabilidade magnética Ortega (2006). Desse modo foi utilizado para coleta de dados de campo o Ground Penetrating Radar (GPR) fabricado pela Geophysical Survey System Inc. (GSSI), que permitiu o caminhamento (arraste) em campo do conjunto de equipamentos, formados basicamente por, uma antena brindada com frequência de 270 MHz acoplada odômetro para registrar a distância percorrida e coletor modelo SIR- 3000. Todo o equipamento foi gentilmente fornecido pelo Laboratório de Geoanálise da Universidade Estadual do Centro Oeste – Unicentro. Os locais escolhidos para a coleta de dados (grids) foram os que apresentaram indicações em superfície da presença dos túneis (estrutura de abatimento). O modo de arraste das antenas se dá transversalmente aonde se acredita que estejam formados os canais em subsuperfície. Após a coleta dos dados em campo é feito o tratamento dos radargramas em laboratório utilizando o Software de Processamento de Dados Radan 7 para melhoria da qualidade das imagens geradas, uma vez que, estas sofrem atenuações que, somadas a ruídos (naturais e artificiais), podem mascarar os sinais refletidos Ortega (2006). É durante o processamento que se torna possível a detecção de canais. O resultado final é uma imagem (radargrama) pós processada onde pode ser interpretada a existência do canal e o material circundante.

Resultado e discussão

A localização de túneis apresenta-se, por vezes, prejudicada pela falta de formas expostas em superfície. Das principais formas superficiais reconhecidas onde há túneis, destacam-se as estruturas de abatimento e subsidência do teto, sendo que por último, a presença de incisões lineares, nas formas de ravinas e voçorocas. As estruturas de abatimento são marcadas pelo desabamento do teto e abertura de formas aproximadamente circulares que fazem a ligação dos canais com a superfície. A subsidência do teto diz respeito ao rebaixamento, sem a abertura de incisão, da superfície. Incisões lineares são consideradas como o estágio final existente no sistema de túneis, onde há desabamento completo do teto e avanço lateral da erosão. Na encosta estudada ocorre o aparecimento de estrutura de abatimento, onde é possível observar o fluxo e direção que o túnel segue até sua saída. Após identificada estrutura de abatimento e a saída de água do túnel, foi delimitado os perfis transversais para a passagem do georradar. Durante a etapa de aquisição dos dados, foi utilizado uma configuração do GPR SIR-3000 da GSSI composta por antena de 270 MHz, acoplada a um coletor e a um hodômetro. As aquisições foram realizadas com o arraste contínuo das antenas com a coleta sendo feita por distância no “modo Terra Sirch” e constante dielétrica variando de 6 a 8,5. Com essa configuração foram realizadas três coletas (perfil 17, 23, 28) em sentido SE/SE (FIGURA 2). Os radargramas gerados indicaram claramente a presença de hipérboles provocadas pela variação dos tipos de materiais, no caso a diferença é gerada por pneus e manilhas colocados pelo proprietário o longo do túnel, além dos vazios gerados pela existência do próprio túnel. O radargrama do perfil 17 apresentou no ponto onde foi feita “marca” (mark) hipérbole formada a profundidade 2,20 m em um perfil com profundidade de 4 m antes da perda de energia do sinal. A hipérbole formada foi interpretada como sendo o túnel, que através de informações coletadas no distrito, foi “canalizado” com pneus e manilhas quando o teto desabou e tornou a erosão subsuperficial em superficial. O perfil 23, gerado na parte central do grid, apresenta hipérbole com sinal forte a profundidade de 2,40 m. Essa hipérbole foi interpretada como sendo a continuação do túnel, mesmo não sendo possível afirmar que essa parte da encosta foi canalizada com pneus, manilhas ou outro tipo de material. É possível interpretar a imagem como sendo um local com saturação do material com água pelo forte reflexo gerado. A marca dada na superfície da encosta auxilia a identificação do provável local onde aparecerá o canal, auxiliando na interpretação. No perfil 28, saída do túnel para vala aberta, a profundidade em que aparece a hipérbole interpretada como sendo o local por onde passa o túnel é de 1,30 m (figura 3). A interpretação da imagem indica a localização exata da manilha colocada na saída do fluxo de água. O forte reflexo é consequência da diferença dos materiais encontrados nesse trecho da encosta, onde foi possível observar o canal durante a passagem da antena sobre o grid escolhido, a hipérbole indicada pela seta 1corresponde a saída de agua do túnel com manilha, a outra hipérbole destacada pela seta 2 corresponde como sendo as saídas de água que eram exfiltradas na vala aberta que por sua vez não possui manilha sendo seu reflexo diminuído e a seta 3 corresponde a marca que foi dada exatamente no local do canal como foi feita nos radargramas anteriores Para efeito de comparação, foi feita a superposição e aumento da transparência do radargrama do perfil 28 em cima das fotos retiradas da manilha (FIGURA 4).sendo a seta 1 correspondendo a saída do túnel com o readargrama sobreposto, a seta 2 mostra com detalhe a manilha ondeo radargrama se encaixa com perfeição mostrando a eficiência da técnica e a seta 3 mostra a saída de agua do túnel sem radargrama sobreposto.

Figura 1

Localização da encosta Schwab no distrito de Barra Bonita, Prudentópolis, PR, fonte autores

Figura 2

Encosta Schwab com linha de criação do grid(linha sólida) de coleta de dados.A seta indica a estrutura de abatimento existente no local,fonte autrores

Figura 3

Radargrama com setas respectivamente sendo, saída de túnel,saída secundaria, marca efetuada em superfície.

Figura 4

Seta 1 foto com radargrama sobreposto, seta 2 radargrama sobreposto da manilha, e foto sem sobreposição inticando a saída do tunel

Considerações Finais

O GPR demostra vantagens de utilização por ser uma técnica de rápida coleta de dados sendo utilizado principalmente em pesquisas ambientais arqueológicas e de engenharia (DANIELS, 2000). Nas coletas realizadas na encosta Schwab, entendeu-se que o túnel foi localizado decorrente do aparecimento de uma estrutura de abatimento em meia encosta e pela localização de sua saída. O aparecimento de reflexos nos radargramas foi fortemente influenciado pela existência de materiais colocados dentro do canal. O melhor reflexo foi gerado pela existência de manilha no final do túnel, como pode ser visto no perfil 28. Sem a existência de estrutura de abatimento e a colocação de materiais dentro dos canais, a identificação dos túneis seria muito prejudicada e até mesmo impossibilitada. O GPR apresenta-se como uma ferramenta útil para se conhecer a direção, profundidade e tamanho de túneis ou sistema de túneis, mas não para a localização dos canais sem feições superficiais.

Agradecimentos

Referências

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