Autores

Pina, N.V.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DA BAHIA) ; Costa, D.H. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DA BAHIA) ; Santos, G.B. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DA BAHIA) ; Carvalho, L.G. (UNIVERSIDADE FEDERALDO OESTE DA BAHIA)

Resumo

Este trabalho teve como objetivos monitorar o processo erosivo em um seguimento da encosta da Serra do Mimo no bairro Morada da Lua em Barreiras/BA, e identificar a formação de depósitos coluviais na mesma vertente, estudando as causas dos processos na área monitorada. Foram quantificadas taxas erosivas utilizando-se o métodos dos pinos e para identificação do material coluvial foi feito uma sondagem com trado mecânico, além disso, foi realizado um levantamento com GPS Geodésico para elaborar o perfil da vertente. As maiores taxas médias mensais de erosão e deposição, foram registradas respectivamente na porção côncavo-convergente 0,19 cm e na porção retilíneo-convergente 10 cm. A interpretação da granulometria revelou que na porção côncavo-convergente,o material textural é mais homogêneo, enquanto nas porções retilíneo-planar e retilíneo-convergente, foi registrado descontinuidades texturais,que podem caracterizar estas áreas como zonas de mudança de velocidade de infiltra

Palavras chaves

Erosão em vertente; Deposição; Ocupação antrópica

Introdução

A erosão é um processo natural condicionado por uma série de fatores, tais como a ação das águas pluviais, fluviais e marinhas, situação da cobertura vegetal, topografia e forma do terreno e que pode ser intensificada pela ação antrópica. No município de Barreiras, situado na mesorregião do Extremo Oeste Baiano, a expansão acelerada e desordenada da mancha urbana tende a condicionar a ocupação irregular nas áreas de encostas que por sua vez resulta em diversas mudanças nas características físico naturais das vertentes, tendo em vista que, o uso inadequado do solo em terrenos impróprios para a construção de assentamentos urbanos, modifica a dinâmica da paisagem e interfere no processo natural destas, alterando o equilíbrio entre a morfogênese e pedogênese local, o que consequentemente, acarretará em sérios danos socioambientais. Além disso, a retirada da cobertura vegetal intensifica os processos dinâmicos de vertentes. As vertentes ou encostas compreendem uma forma de relevo, e seu estudo é de grande importância em pesquisas geomorfológicas, uma vez que a sua má utilização tende a alterar o equilíbrio dinâmico e ocasionar a desestabilização da mesma, principalmente naquelas localizadas em áreas urbanas. A urbanização, o desmatamento, a retirada de solo e o parcelamento do solo sem a drenagem das águas pluviais são condicionantes para o aceleramento do processo erosivo em áreas de vertentes, o que consequentemente resulta em danos como: destruição de ruas, assoreamento de rios e inundações, que conforme Guerra e Jorge (2013) demonstram que a erosão não é apenas um problema para a área em que ela ocorre, mas, também para as áreas de deposição de sedimentos. Os depósitos de encosta ou colúvios são importantes registros da evolução geomorfológica da paisagem, sua formação se da por meio do transporte gravitacional de solos ao longo da vertente, resultante da relação dos processos de morfogênese e pedogênese. Nesta perspectiva, objetiva-se com este estudo analisar os processos erosivos e deposicionais em um seguimento da vertente da Serra do Mimo, situada no bairro Morada da Lua de cima, bem como, identificar a formação de depósitos coluviais ao longo da mesma, visto que a área analisada encontra-se em processo de ocupação.O bairro fica localizado na região sudeste do município de Barreiras no oeste da Bahia (Figura 1), é limitado a oeste pela Rua Ruy Barbosa, a leste pela serra do Mimo, a norte pelo bairro Aratu, e a sul pelo loteamento Park Verde. No que se refere à geologia, na área de estudo afloram arenitos do Grupo Urucuia, na borda da escarpa erosiva, ao longo dos patamares erosivos (média vertente) são expostos metarcóseos da Formação Riachão das Neves, no sopé da vertente, materiais inconsolidados recobrem rochas da Formação Serra da Mamona. Quanto à estrutura geomorfológica, relevo local apresenta vertentes escarpadas com topos planos e declividades que variam entre 430 a 600 metros de altitude, as quais apresentam em suas bordas feições do relevo ruiniforme (Rocha 2013) que de acordo com Gaspar (2009, p. 39) é resultante da “ação do intemperismo e erosão sobre os arenitos do Grupo Urucuia”. O clima segundo a classificação de Köppen é tropical do tipo Aw, com temperaturas médias entre 20º e 30º C, com um período chuvoso que abrange os meses de outubro a abril e precipitações médias que variam 800 a 1600 mm/ano. A vegetação predominante é do tipo cerrado arbóreo aberto sem florestas de galerias e florestas estacionais sem deciduais e deciduais, as quais aparecem em pequena escala na região de vales. Quanto à hidrografia, o município é drenado por importantes rios que estão inseridos na maior bacia da margem esquerda do rio São Francisco, a bacia do rio Grande no qual seus principais afluentes possuem suas nascentes próximas à Serra Geral e constituem duas importantes sub-bacias hidrográficas: A bacia do rio Branco e a bacia do rio de Ondas (EMBRAPA, 2010).

Material e métodos

Para realização da pesquisa, foi feito um levantamento altimétrico da área, por meio de GPS Geodésico, monitoramento do processo erosivo utilizando pinos e sondagem dos depósitos correlativos por meio do trado mecânico. O procedimento adotado para realização do levantamento altimétrico foi a coleta de dados por meio do método estático–rápido, que segundo Albuquerque e Santos (2003, p. 21) apud Leik (1990) é utilizado para “levantamentos locais com alta produtividade, possibilitando a determinação da linha de base”. Após a coleta, os dados foram processados no laboratório de Geoprocessamento da Universidade Federal do Oeste da Bahia no software LeicaGeo Office Combined (específico para o processamento de dados do GPS geodésico Leica) e exportados para o software ArcGis 9.3 para elaboração do perfil. Para o monitoramento e quantificação das taxas erosivas e deposicionais, baseou- se na metodologia proposta por Guerra (2002, p.150), que consiste em alojar no solo “pinos que podem ser pregos ou vergalhão com aproximadamente 10 cm de comprimento, deixando apenas a parte de cima fora do solo”. Assim, foram instalados na área de estudos 13 pinos de vergalhão, medindo 50 centímetros para verificar a erosão e deposição de material ao longo da encosta. Os mesmos foram alojados no solo, ficando 10 centímetros ou mais exposto a depender do local de instalação, e o recuo medido a partir do grau de exposição dos pinos. O monitoramento foi feito mensalmente com o auxilio de uma trena em um período de 9 messes (agosto de 2014 a maio de 2015) correspondentes a parte do período seco e o período chuvoso, as informações coletadas foram armazenadas em uma planilha do software Microsoft Excel e posteriormente foram calculados o recuo mensal e a intensidade da erosão em cada pino. No cálculo da magnitude, baseou- se na seguinte equação utilizada por Casado et al. (2001) apud Fernandez (1996). Em = (L1 - L0)/t onde Em - corresponde à magnitude da erosão (cm/mês), L1ao comprimento do pino exposto pela erosão (cm), L0 ao comprimento do pino deixado exposto após cada mensuração (cm), e t é o tempo decorrido em meses entre cada visita de campo. As sondagens dos depósitos correlativos foram feitas ao longo da rua, onde inicialmente foram definidos três pontos para as perfurações, sendo que o primeiro ponto escolhido fica localizado na porção superior da área analisado a qual apresenta uma maior declividade e seguimento da vertente com forma côncavo- convergente. O segundo em uma área mais aplainada correspondente ao seguimento retilíneo-planar e o terceiro foi perfurado na porção inferior próximo ao sopé da vertente e, onde foi identificada a forma do tipo retilíneo-convergente. Em cada sondagem, foram coletadas amostras com intervalos de 50 centímetros, até atingir 2 metros de profundidade, com exceção do terceiro ponto que atingiu três metros. As amostras coletadas foram utilizadas para determinação da granulometria da área, as quais foram submetidos à separação granulométrica no Laboratório de Física do Solo do Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa (LFS/UFV).

Resultado e discussão

A partir das análises realizadas em campo, verificou-se que na área de estudos apresenta vertentes com seguimentos côncavo-convergente, retilíneo-convergente e retilíneo-planar (Figura 2), sendo que a forma côncavo-convergente aparece na porção superior da vertente e corresponde às áreas com declividades mais acentuadas e com tendência de concentração de fluxo pluvial o que a deixa mais vulnerável aos processos erosivos. A forma retilíneo-planar corresponde à porção intermediária com uma declividade mais suave que a anterior e o fluxo pluvial é bem distribuído por toda vertente. E a forma retilíneo-convergente ocorre nas porções mais próximas ao sopé da encosta, apresentando uma forma plana, o que propicia maior infiltração e dispersão de fluxo hídrico, diminuindo a energia do escoamento superficial. Verificou-se ainda, que os dados obtidos no monitoramento dos pinos, além de indicarem uma variação nas taxas de recuo, registraram áreas de perdas e deposição de sedimentos, o que por sua vez está relacionado aos processos naturais e antrópicos que ocorrem no local. Além disso, após a aplicação dos cálculos, observou-se que as maiores taxas de erosão e deposição, bem como, a magnitude de tais processos, foram registradas entre os meses de Novembro de 2014 a Janeiro de 2015, período que correspondeu maior ocorrência de precipitação no município, cerca de 285 mm, e os maiores índices de erosão e deposição se concetraram respectivamente nas porções côncavo-convergene e retílineo convergente da vertente (Figura 3). Os pinos instalados na unidade côncavo-convergente, onde apresenta um relevo ondulado (8-20%) e forte ondulado (20-45%), foram os que registraram as maiores taxas de erosão média mensal, com um recuo de 0,55 cm e magnitude de 0,19 cm, resultantes principalmente da ação das águas pluviais associada a pressão antrópica exercida sobre as formas da vertente, como: cortes, aterros e retirada da cobertura vegetal para construções de moradias. Eventos estes, que tendem a desequilibrar a dinâmica de escoamento e infiltração da água no solo, e consequentemente resulta no aceleramento do processo erosivo linear. Já nas unidades retilíneo-planar e retilíneo-convergente, devido ao fato dos pinos estarem instalados em uma área de declividade suave ondulada (8 a 20%), caracterizada por sua baixa susceptibilidade aos processos erosivos, ocorreram deposições de sedimentos, sendo a maior taxa registrada no mês de dezembro com um acúmulo de 10 cm e o soterramento de um dos pinos pelo material carreado encosta abaixo durante os eventos pluviométricos. Vale ressaltar que alguns pinos, principalmente os instalados na porção intermediária da vertente, por estarem situados em área com presença de vegetação apresentaram-se estáveis, já que a mesma ao amenizar o impacto do splash, possibilita a infiltração da água no solo e reduz a velocidade do escoamento, prevenindo, portanto a ocorrência de erosão. E outros foram removidos pela ação antrópica. Quanto a análise das características texturais nas três unidades da vertente (Tabela 1) verificou-se que onde foi feito a primeira coleta de solo, os materiais tem grande homogeneidade, apresentado predominantemente textura argilosa, o que demonstra que o material mais grosseiro dos colúvios foi amplamente removido e depositado nas duas unidades inferiores adjacentes da vertente. A trincheira aberta na unidade retilíneo-planar, apresentou apenas uma descontinuidade textural ao longo dos 200 centímetros analisados. Nos 100 primeiros centímetros foram registrados maior porcentagem de areia (franco- argilo-arenoso), a partir daí até 200 centímetros de profundidade o material se torna mais argiloso (argila). A trincheira aberta na unidade retilíneo-convergente apresentou uma grande variedade textural. Até 100 centímetros de profundidade do material houve predominância de textura arenosa (franco-argilo-arenoso e franco-argiloso), de 150 a 200 centímetros ocorreu o aumento da porcentagem de argila, que a partir desta profundidade volta a apresentar maior quantidade de areia. Esta variedade reflete a típica característica dos colúvios, por possui material mal selecionado, visto que materiais grosseiros e finos se misturam por meio do processo de transporte e deposição. Na porção média e inferior da vertente os colúvios apresentaram descontinuidades texturais em profundidade, que podem ser consideradas como zonas de mudança de velocidade de infiltração da água, o que pode ocasionar rupturas e deslocamento de massas de solo, caso haja uma saturação hídrica nestes locais.

FIGURA 1

MAPA DE LOCALIZAÇÕ DA ÁREA DE ESTUDOS

FIGURA 2

Perfil Altimétrico da área de estudos.

FIGURA 3

Gráfico de erosão e deposição de sedimentos por forma da vertente.

TABELA 1

Caracterização textural dos colúvios por unidade de forma da vertente

Considerações Finais

A partir das análises e informações obtidas em campo constatou-se que as características texturais do material coluvionar coletado ao longo da vertente, estão associadas a processos de transporte e deposição de sedimentos, e também, pode estar relacionada a ação antrópica exercida sobre a área. Na unidade côncavo- convergente, os sedimentos são mais homogêneos e foi registrado maiores porcentagens de argila. Nas unidades retilíneo-planar e retilíneo-convergente, o material é variado, apresentando descontinuidades texturais em profundidade que tendem a aumentar à medida que se aproxima da baixa vertente.Quanto ao monitoramento do processo erosivo, evidenciou que além da variável climática, fatores como a declividade, forma do terreno e a ocupação antrópica também influenciam na dinâmica do processo erosivo local. Nas áreas de perfil côncavo- convergente onde a declividade é mais acentuada e com a presença de assentamentos humanos, os processos morfogênicos são mais intensos, diferente do que ocorre nas áreas mais aplainadas, onde devido baixa suscetibilidade aos processos erosivos, foi registrado deposição de sedimento. Diante disso, conclui-se que as alterações no sistema geomorfológico que ocorrem na área em questão, estão relacionadas às atividades antrópicas combinadas com a morfologia das vertentes, bem como com as características de variação granulométricas dos colúvios da porção da vertente estudada.

Agradecimentos

Referências

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