Autores

Silva, R.S.F. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ)

Resumo

O presente artigo tem como objetivo caracterizar as unidades geomorfológicas que compõem o Baixo Jaguaribe, assim como apontar indicadores da atuação da neotectônica na evolução da área. A localização da pesquisa está situada no Estado do Ceará, no baixo curso do Rio Jaguaribe, Nordeste do Brasil. Nessa área, a atuação de climas no passado, assim como a tectônica, variações do nível de base e a formação de terraços fluviais, permite entender a constituição das unidades geomorfológicas presentes. Pode-se identificar as seguintes unidades: planície fluvial, tabuleiros interiores, borda de cuesta. A metodologia está pautada em material bibliográfico, trabalhos de campo e análise de imagens SRTM com resolução de 30 m. Espera-se que o trabalho possa contribuir para um maior entendimento sobre as unidades geomorfológicas presente no Baixo Jaguaribe e para uma melhor obtenção de uma visão mais abrangente do setor de pesquisa.

Palavras chaves

Baixo Jaguaribe; Unidades geomorfológicas; Neotectônica

Introdução

No Nordeste brasileiro, inúmeras pesquisas que dão ênfase a geomorfologia, procuram entender os processos atuantes e de que forma a evolução do relevo regional se configura. Nesta região, as diferentes fases de evolução pela qual foi submetida são fundamentais para o conhecimento e aprofundamento dos processos passados, com o objetivo de tentar fazer uma reconstituição dos ambientes. Diversos eventos comandaram a origem e evolução das paisagens no Nordeste. Os episódios de aglutinação e de separação dos continentes foram relevantes no processo de ampliação do arcabouço morfoestrutural do Nordeste, onde o papel da tectônica foi crucial, assim como as oscilações climáticas ocorridas no Quaternário, onde alterou o nível de base geral, ocasionando mudança no transporte e na forma de deposição do Rio Jaguaribe. A planície fluvial do referido rio a qual se insere a área de pesquisa,recebe sedimentos do Alto curso e médio curso, predominando a deposição em seu baixo curso. É o baixo vale que compõe o resultado de todo processo que ocorre a montante, estes sedimentos que estão depositados na área é proveniente da ação do transporte ao longo do curso do rio Jaguaribe(Carvalho Neta, 2007). O presente trabalho trata da caracterização do Baixo Jaguaribe, contextualizando sobre as unidades geomorfológicas. A área de estudo (Fig. 1) localiza-se no Nordeste do Brasil, Estado do Ceará. O Ceará possui 11 bacias hidrográficas, a qual a bacia do Jaguaribe é a mais expressiva, abrangendo 48% do Estado. A mesma apresenta uma área de 74.000 km2 e possui extensão de 610 km, onde deságua no Oceano Atlântico, no município de Fortim. (Maia, 2005). Os primeiros levantamentos hidrogeológicos no vale do Jaguaribe ocorreram no ano de 1967, através da SUDENE (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), realizando o estudo geral de base do Vale do Jaguaribe, (GVJ). Esse estudo dividiu, no baixo curso, as seguintes formações em: Aluviões( argilas, areias argilosas e cascalhos) formando uma planície de 10 km, Formação Faceira(conglomerado e arenitos), Formação Jandaíra(calcários, folhelhos e siltitos) e Formação Açu(arenitos, siltitos, folhelhos) (Fig. 2). As duas últimas formações pertencem a Bacia Potiguar, onde sua borda está situada na área de estudo. A Bacia remonta ao Cretáceo da era Mesozoica, onde os processos endógenos foram os responsáveis pelo soerguimento e distensões causando deposições de ordem marinha e também continental (CPRM, 2003). Os processos divergentes entre o continente brasileiro e africano provocaram a ruptura crustal, onde as águas oceânicas ocuparam o espaço formado entre os dois continentes. Os grabens existentes na bacia, de direção SW-NE foram preenchidos de sedimentos marinhos no período Cretáceo. A formação da Bacia Potiguar está diretamente relacionada à ação da tectônica, pois com os processos de distensão no final do Cretáceo Inferior, ocorreu o processo de subsidência térmica, onde as zonas de riftes foram submetidas à sedimentação progressiva, constituindo o pacote sedimentar, composto pelo arenito e calcário. (Claudino- Sales e Peulvast, 2007). Estudos atuais sobre o baixo Jaguaribe apontam um outro fator relevante, relacionado à tectônica quaternária, considerada por Saadi et.al (2005) apud Maia(2008) como uma das regiões do Brasil com maior atuação da Neotectônica. O Nordeste possui indicadores desse agente, quando observamos a direção da drenagem seguindo o sentido das zonas de cisalhamentos.

Material e métodos

Para a realização da pesquisa, encontrada em fase inicial, foram realizadas quatro fases, que consistem em levantamento bibliográfico, trabalhos de campo, organização de dados e geoprocessamento. O levantamento bibliográfico, contribuiu para o acervo teórico da pesquisa, constituindo uma importante etapa para o entendimento de como os processos atuaram e atuam na região e para entender como se dispõe a configuração do Baixo Jaguaribe. Os trabalhos de campo, auxiliaram na visualização dos elementos na paisagem, relacionando o teórico com o observado em campo. Assim como os trabalhos de campo,a organização de dados em gabinete forneceram um detalhamento da área. O uso de ferramentas de geoprocessamento foram indispensáveis pois possibilitaram um maior e melhor detalhamento. A utilização de imagens SRTM 30m e a construção de mapa de localização e da geologia da área no software QGis, contribuem para o análise da espacialização das formações que compõem a região do Baixo Jaguaribe.

Resultado e discussão

Para analisar o Baixo Jaguaribe é importante inserir diversos aspectos: clima, mudança de nível de base, tectônica e ação erosiva e deposicional do curso fluvial do rio Jaguaribe. O fator clima constitui um elemento importante na paisagem jaguaribana, Segundo o IPECE (Instituto de Pesquisa e Estatística Econômica do Ceará), o Estado do Ceará tem médias anuais de temperatura em torno dos 29°, mesmo não tendo amplitude elevada, a atuação do clima exerce função na morfogênese mecânica, contribuindo na esculturação da paisagem. As mudanças climáticas ocorridas no quaternário foram responsáveis pela formação de terraços no Baixo Jaguaribe, pois com estas mudanças os níveis de base dos rios foram alterados, assim como a forma de escoamento, pois o rio passa a possuir uma maior energia e assim o maior fluxo e transporte ocasionaram a deposição no baixo curso e posteriormente o entalhamento dos vales, formando assim os terraços aluviais encontrados na área de estudo (Maia, 2005). Para a formação dos terraços fluviais é necessário que ocorra rebaixamento de nível de base, assim como fluxo turbulento (fig.3). Este processo depende da energia do rio em transportar, assim como o tamanho das partículas, gravidade, índice de precipitação, o grau de intemperização à montante e fisiografia do canal. (Maia, 2005).Através dos trabalhos de campo foi possível visualizar a deposição fluvial ao longo da planície, os níveis deposicionais da formação faceira. Em se tratando da neotectônica, a ocorrência de sismos nos municípios de Palhano e Jaguaruana, inseridos no Baixo Vale, (Gomes Neto, 2007), tem sido comprovado como atuante neste setor. Os indicadores, como as deformações observadas em rochas pré-cambrianas, direção da rede de drenagem seguindo lineamentos e o limite retilíneo NE-SW entre a Chapada do Apodi e a Planície Fluvial do rio Jaguaribe, são identificados como indicadores desta atuação. Foi possível perceber em campo a direção do curso fluvial do Jaguaribe, seguindo um alinhamento, assim como material saprolítico em inselbuergue exumado, tratando-se de uma intrusão granítica posicionado na planície fluvial com presença de enclaves máficos, ainda bem preservados e o predomínio de fragmentação de rocha e predomínio de morfogênese. O Baixo Jaguaribe possui expressivas unidades geomorfológicas caracterizadas por litologias bastante diferenciadas, constituindo fáceis capazes de demonstrar como se deu a forma de deposição e de evolução. A configuração atual das unidades geomorfológicas que constituem a região do baixo Jaguaribe é extremamente importante para o entendimento dos processos que atuaram na paisagem. A disposição das formações, assim como os materiais constituintes, podem contribuir no conhecimento da evolução geomorfológica da área. Através da pesquisa é possível perceber que a atuação da tectônica e o clima foram fatores que predominaram para a formação e evolução do Baixo Jaguaribe.

figura 1:

Área de pesquisa. Fonte: Braga e Silva, 2016

Figura 2:

Geologia da área de estudo.Fonte:Silva,2016

Figura 3:

Processo de formação de terraços fluviais. Fonte: Maia, 2005.

Considerações Finais

O trabalho procurou demonstrar de forma preliminar sobre as unidades geomorfológicas presentes no Baixo Jaguaribe e os processos predominantes. Os estudos sobre estas unidades contribuem para o entendimento da geomorfologia da área. Através da pesquisa, desde o referencial bibliográfico, trabalho de campo e análise de imagens SRTM, foi possível detalhar a área e perceber que os principais fatores que contribuíram para a configuração do relevo do Baixo Jaguaribe esta diretamente relacionado com a tectônica e a ação climática, como já exposto anteriormente. O trabalho que se encontra em fase inicial, elucidará posteriormente etapas para a realização de metodologias para a ampliação de conhecimento sobre a área, como perfis estratigráficos e seção colunar nos terraços fluviais. Para o estudo em Neotectônica, posteriormente será observado as reativações ocorridas e atividades sísmicas no Baixo curso. A Neotectônica tem sido comprovada como importante na evolução do baixo Jaguaribe, estes esforços tem causado mudanças na morfologia, na rede de drenagem, assim como mudanças nos ambientes de sedimentação.

Agradecimentos

A Mickaelle Braga pela colaboração na confecção de mapas, assim como na etapa final, Ana Beatriz,Thiago Rodrigues e Pedro Edson pela contribuição nas etapas de campo. Aos membros do LAGECO, pela motivação e sugestões para a execução do trabalho. A CAPES pelo financiamento.

Referências

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MAIA, R. P et.al. Vales Fluviais do NE: Considerações Geomorfológicas. Revista OKARA: Geografia em debate, v.2, n.2, p. 128-206, Joao Pessoa- PB, 2008

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