Autores

Lopes, G.P.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO) ; Bricalli, L.L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO)

Resumo

O objetivo dessa pesquisa foi aplicar a técnica de Perfil em Varredura para analisar blocos tectônicos (altos e baixos topográficos) na bacia do rio Juara (sudeste do Brasil). A base metodológica consistiu na elaboração de um perfil em varredura na orientação NE-SW sobre uma base cartográfica, escala 1:50.000, elaborado perpendicularmente à estruturação do relevo e da drenagem. Foram extraídos pontos cotados e topos de morros e esses valores foram apresentados em gráfico de dispersão e, posteriormente, interpretados blocos tectônicos. Os resultados mostram que o perfil na orientação NE-SW, apresenta 8 (oito) feições de horst e 7 (sete) feições de gráben, presente predominantemente, nas rochas da Formação Barreiras. A presença desses blocos demonstra o possível controle tectônico na bacia estudada, pois as falhas normais são responsáveis pela origem dos grabens e horsts e podem estar relacionadas aos eventos neotectônicos apontados em estudos anteriores realizados na área.

Palavras chaves

Falha; Neotectônica; Perfil em Varredura

Introdução

A área estudada corresponde a uma bacia hidrográfica, denominada bacia do Juara, localizada no município de Serra, estado do Espírito Santo, a norte da capital Vitória (Figura 1). Essa bacia apresenta aspectos fisiográficos importantes para os estudos de Neotectônica e Geomorfologia Tectônica. Tais como uma rede de drenagem organizada geometricamente, com destaque para a presença de duas lagoas retilíneas e alinhadas (SOUZA, 2015), por corresponder a uma bacia assimétrica, por grande parte de a mesma corresponder a rochas sedimentares da Formação Barreiras, com presença de afloramento falhados (BRICALLI, 2011). Além da presença de 2 (dois) compartimentos geológicos e 3 (três) compartimentos geomorfológicos com características geológicas e geomorfológicas bastante peculiares. O objetivo desta pesquisa foi aplicar a técnica de Perfil em Varredura para analisar blocos tectônicos (altos e baixos topográficos) em uma direção na bacia, sendo um meio de analisar o controle neotectônico, com dados pré- existentes da área. A bacia do Juara está inserida no Orógeno Araçuaí (HEILBRON et al., 2004) e apresenta 2 (dois) compartimentos geológicos, dentro desses 4 (quatro) Unidades geológicas diferenciadas. Os compartimentos estão predominantemente divididos em duas partes na porção leste os depósitos cenozoicos e a oeste, o embasamento pré-cambriano (Figura 1). Nos Depósitos Cenozoicos há a presença dos depósitos sedimentares aluvionares. Tendo em sua composição sedimentos advindos recentemente dos rios, além de areia e argila (CPRM, 2014) e da Unidade Formação Barreiras que apresenta em sua litologia sedimentos de depósitos dentríticos, como a argila, areia e também horizontes lateríticos provenientes do Neógeno (CPRM, 2014). No embasamento pré-cambriano ocorre a presença do Maciço Mestre Álvaro, presente na porção sul-sudoeste da área estudada (Figura 1), apresenta composição de granito alcalino de granulação fina a média, por vezes porfirítico, tipo I da Era Paleozoica e do Período Cambriano (CPRM, 2014), com presença de foliações e lineamentos bem marcados, estando os lineamentos situados no morro Mestre Álvaro, com orientação NNW-SSE e a foliação no Morro do Vilante, com caimento para sudeste. E Na porção extremo oeste da bacia, encontra-se a unidade Complexo Nova Venécia composta por rochas silimanita-granada-cordierita-biotita gnaisse bandado com intercalações de calcissilicáticas, datados da Era Neoproterozóica e Período Ediacariano (CPRM, 2014). A bacia do rio Juara localiza-se no domínio “D” (porção norte do estado do Espírito Santo: maior presença de lineamentos NW-SE, alternados com NE-SW) – Bricalli (2011) no mapa de lineamentos manuais. Já no domínio C (Tabuleiros da Fm. Barreiras a norte do estado: predomínio das direções N70-90E e N40- 60W com distribuição significativa de lineamentos com orientações N0-20W e N70-80W), no mapa de lineamentos semi-automático – Bricalli (2011). Geomorfologicamente, a bacia estudada apresenta 3 (três) unidades geomorfológicas: i) Colinas e Maciços Costeiros; ii) Tabuleiros Costeiros e; iii) Planícies Costeiras (GATTO et al., 1983). A unidade Colinas e Maciços Costeiros, presente na porção oeste da bacia, é caracterizada por colinas côncavo-convexas e um conjunto morfológico mais elevado, integrado pelas serras e maciços litorâneos (BRICALLI, 2011). Os Tabuleiros Costeiros correspondem a colinas altas e baixas com topos alongados e tabulares, vertentes abruptas (GATTO et al., 1983). Este compartimento apresenta vales bem encaixados e as diferenças altimétricas podem estar relacionadas ao controle neotectônico (RIBEIRO, 2010). Essa unidade corresponde a maior parte da bacia. A Planície Costeira apresenta uma série de ambientes diversificados e complexos, afetados por oscilações eustáticas e climáticas (GATTO et al.,1983).

Material e métodos

Para a realização da presente pesquisa foi elaborado 1 (um) perfil em varredura, segundo a metodologia de MEIS et.al (1982), que aplicaram essa metodologia na bacia do Médio-Baixo Paraíba do Sul. A utilização de Perfis em varredura auxilia a análise de blocos tectônicos, uma vez que apresentam altos e baixos topográficos de uma área, pois demonstra o comportamento das variações da altitude do relevo e também a identificação das inclinações dos grandes moldes topográficos (MEIS et al., 1982). Foi elaborado 1 (um) perfil em varredura sobre a base cartográfica do IBGE (1978) nas cartas topográficas de Nova Almeida (SF-24-V-B-I-2) e Serra (SF- 24-V-B-I-1) ambas na escala de 1:50.000, as quais abrangem a bacia estudada. Segundo essa metodologia, o perfil tem que ser elaborado perpendicularmente à estruturação do relevo e da drenagem, na largura de 20 cm para as escalas 1:50.000. Dessa forma, o perfil foi elaborado na orientação NE-SW (Figura 2). Foram extraídos todos os pontos cotados e os topos de morros que não possuem pontos cotados (MEIS et al., 1982) em papel vegetal milimetrado. Na sequência, os valores de altitudes das áreas altas foram analisados no software Excel®, onde foi elaborado um gráfico em dispersão, apresentando a altitude dos topos e pontos cotados e a distância da carta topográfica, respeitando-se a escala de 1:50.000. Por fim, foram interpretados os blocos tectônicos no perfil, utilizando-se do softwarePhotoscape 3.7® para essa execução.

Resultado e discussão

O perfil foi realizado na orientação NE-SW e apresenta 8 (oito) feições de horst e 7 (sete) feições de graben(Figura 3). Essas que são feições morfotectônicas originadas por falhas normais (SUMMERFIELD, 1986; SUMMERFIELD, 1987), presentes predominantemente, no compartimento dos Depósitos Cenozoicos, na Formação Barreiras, com exceção do horst Mestre Álvaro, localizado no compartimento do embasamento pré-cambriano. Os horsts e grabens interpretados foram denominados de Graben e Horst do Mestre Álvaro, Graben e Horst Serra Sede, Graben e Horst Doutor Robson, Graben e Horst do Córrego Jacaré, Graben e Horst do Ribeirão Juara, Graben e Horst Lagoa do Juara, Graben Córrego Laranjeiras e, por último, Horst das Laranjeiras (Figura 3). A bacia se encontra basculada para nordeste (Figuras 1, 2 e 3). Os grabens dos depósitos cenozoicos apresentam-se preenchidos por areias, argilas e cascalhos quaternários e conglomerados, argilitos e arenitos. Os horsts correspondem aos topos das rochas sedimentares da Formação Barreiras. A presença desses blocos demonstra o possível controle tectônico na bacia estudada. As falhas normais responsáveis pela origem dos grabens e horsts podem estar relacionadas aos eventos neotectônicos apontados por Bricalli (2011) na bacia e no estado do Espírito Santo. Apesar da literatura relatar que a diferença litológica para algumas áreas pode explicar relevos com diferentes altitudes, o perfil em varredura (Figura 3) demonstra que o controle altimétrico está relacionado à neotectônica. Uma vez que, os blocos delimitados abrangem rochas da Formação Barreiras, que se apresentam em grande parte, neste estado, falhadas neotectônicamente, assim como na bacia, onde foi encontrado um afloramento falhado. Estudos anteriores (SOUZA, 2015) apontam para existência de lagoas de grande porte, retilíneas e alinhadas, bacia com forte assimetria, rede de drenagem com organização geométrica compatível com drenagem condicionada pela neotectônica e a presença de feições morfotectônicas, como facetas triangulares, alvéolos de sedimentação e vales estrangulados, além de escarpas de falha. Feições estas, descritas na literatura, como típicas de ambientes que apresentam controle tectônico. Além disso, trabalhos realizados no Brasil (BEZERRA et al., 2001; MIRANDA, 2009; RIBEIRO, 2010; BRICALLI, 2011) apresentam interpretações semelhantes a esse respeito.

Figura 1 – Localização do Perfil Topográfico em Varredura

Localização do Perfil Topográfico em Varredura sobre Modelo Digital de Elevação (MDE) na bacia do rio Juara (Espírito Santo- sudeste do Brasil)

Figura 2 - Mapa geológico da bacia do rio Juara

Os compartimentos geológicos “Depósitos Sedimentares”, a leste e “Embasamento pré- cambriano”, a oeste. Fonte: Souza, 2015. Adaptado de CPRM (2014).

Figura 3 – Perfil topográfico em Varredura

Perfil topográfico em Varredura em forma de gráfico em dispersão e intrepretação de blocos tectônicos (horts e grabens) interpretados sobre o perfil.

Considerações Finais

A análise do perfil em varredura e os blocos tectônicos interpretados a partir dele, sugere que a bacia do rio Juara pode ser controlada por tensões neotectônicas, atuando especialmente nas rochas da Formação Barreiras. As falhas normais que delimitam os blocos tectônicos (horsts e grabens) podem ser relacionadas ao estudo de Bricalli (2011), que apontou, em um afloramento na bacia, a existência de falhas normais e sinistral NW-SE e uma normal N-S, geradas por esforços distensivos NE-SW e;falhas normais NE-SW, geradas por esforços distensivos NW-SE; enquadrados, respectivamente em 2 (dois) eventos neotectônicos (BRICALLI, 2011): i) transcorrência dextral E- W, atribuída a uma idade pleistocênica a holocênica, associada à geração predominantemente de falhas normais NW-SE, falhas dextrais NW-SE a E-W e falhas sinistrais NNE-SSW a NNW-SSE e; ii) distensão NW-SE, atribuída a uma idade holocênica, associada à geração predominantemente de falhas normais NE-SW a ENE-WNW. Os trabalhos de Souza (2015) e de Machado Filho et. al.(1983)apontou, respectivamente,a existência de feições morfotectônicas e; a existência de relevo em blocos escalonados (horst e grabens), na Serra da Mantiqueira (adjacente a bacia do rio Juara), podendo refletir esse comportamento tectônico. Ressalta-se a necessidade de medição de dados estruturais rúpteis (falhas/estrias), para elaboração de mapas de lineamentos e de mapa estrutural (falhas tectônicas na bacia), as quais estão em andamento.

Agradecimentos

Referências

BEZERRA, F.H.R; AMARO, V.E; VITA-FINZI, C; SAADI, A. 2001. Pliocene-Quaternary fault control of sedimentation and coastal plain morphology in NE Brazil. Journalof South American Earth Sciences, 14: 61-75.

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