Anais: Interações pedo-geomorfológicas

Aplicação do Ground Penetrating Radar na caracterização de horizontes pedológicos na topossequência da Fazenda Canguiri (PR).

AUTORES
da Silva Petelak, K. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ) ; Jarentchuk Junior, O. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ) ; José Cordeiro Santos, L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ)

RESUMO
Foi utilizado o Ground Penetrating Radar na caracterização da variabilidade espacial dos horizontes de um Cambissolo em uma topossequência na Fazenda Canguiri, Pinhais (PR). Identificaram-se os horizontes no radargrama pela mudança na permissividade dielétrica causada pela diferença na textura e presença de minerais primários do solo. Essa técnica geofísica produziu um imageamento contínuo dos horizontes, reduzindo custos e o tempo necessário para o estudo da topossequência.

PALAVRAS CHAVES
Ground Penetrating Radar; Solos; topossequência

ABSTRACT
The GPR was used in characterization of spatial variability of a Cambisol’s horizons toposequence in Canguiri Farm, Pinhais (PR). The horizons were identified on the radargram through dielectric permittivity variation of soil texture and primary minerals. This geophysical technique generated a continuous imaging of the horizons, reducing costs as well as work time demanded by the toposequence study.

KEYWORDS
Ground Penetrating Radar; Soils; Toposequence

INTRODUÇÃO
O Radar de Penetração do Solo (Ground Penetrating Radar - GPR) é um equipamento geofísico que utiliza emissão e recepção de ondas eletromagnéticas para imageamento em alta resolução de subsuperfície (SCHROTT e SASS, 2007). O princípio físico de funcionamento do GPR fundamenta-se na emissão e recepção de pulsos eletromagnéticos de alta frequência (10MHz a 6GHz) em intervalos de tempo entre 0,5 a 10 ns (Jarzyna et al 2012). O pulso é gerado por uma antena transmissora e se propaga no solo que possui materiais com diferentes permissividades dielétricas. Essa diferença na permissividade dielétrica interfere na propagação, reflexão e difração da onda eletromagnética. O pulso refletido é então captado pela antena receptora, amplificado e digitalizado, e os dados são armazenados pelo equipamento gerando a imagem de subsuperfície (UCHA et al 2002). Segundo Barboza (1999), o alcance em profundidade do sinal do GPR varia de acordo com a frequência da antena utilizada e com as propriedades físicas do meio de propagação. "A frequência é inversamente proporcional à profundidade de penetração, enquanto a resolução possui relação direta com a frequência” (BARBOZA, 1999). Apesar do grande desenvolvimento do GPR nos últimos dez anos, essa técnica tem sido pouco utilizada em pesquisas aplicadas à ciência do solo (UCHA et al 2002). Esse método geofísico não destrutivo pode ser de grande interesse para o entendimento da distribuição, transição e espessuras dos horizontes de diferentes tipos de solos de maneira rápida e econômica, em comparação a métodos tradicionais empregados na pedologia (UCHA, VILAS BOAS e HADLICH, 2010). O objetivo desse trabalho foi a aplicação do GPR em topossequência na Fazenda Canguiri, localizada no município de Pinhais (PR), com o intuito de obter dados de variabilidade espacial (profundidade e continuidade lateral) dos horizontes do solo. Os dados gerados foram então comparados a caracterização morfológica realizada por Rakssa (2007) de maneira convencional.

MATERIAL E MÉTODOS
O equipamento utilizado foi um GPR da Geophysical Survey System, modelo SIR- 3000, com antena de frequência central de 270 MHz. O arranjo utilizado foi o Common Off-set, que desloca simultaneamente as antenas transmissora e receptora com uma distância fixa entre elas, permitindo a geração de uma seção contínua de imageamento sob a linha de deslocamento (BARBOZA, 1999). A topossequência selecionada possui 183,4 m de extensão, 4 trincheiras abertas (T1, T2, T3 e T4) e está inserida em uma vertente de 250m de extensão. O imageamento foi realizado entre as trincheiras T3 e T4. Para auxiliar a interpretação do radargrama foram implantadas entre os horizontes A e B, nas trincheiras T3 e T4, hastes metálicas que apresentam alta reflectância para o pulso emitido em função de seu material constituinte, facilitando a identificação da transição dos horizontes no radargrama. Sua implantação ajudou na interpretação correta da leitura em profundidade de imageamento com a eliminação da onda direta, que consiste na reflexão de parte do sinal em superfície. A constante dielétrica (K) que melhor se ajustou em profundidade de penetração e resolução do sinal de resposta foi K=12. Essa constante foi definida empiricamente em função da média dos materiais constituintes do solo e conforme o radargrama apresentado pelo Keypad no local. O radargrama obtido foi processado com o software RADAN 6.0, a fim de melhorar a resolução da imagem. Foram aplicados filtros para redução de ruídos de alta e baixa frequência, conforme o intervalo do espectro eletromagnético no qual a antena utilizada opera (entre 70 e 450 MHz), bem como a compensação exponencial dos sinais empregados, com o intuito de amplificar a imagem em função da perda de energia do pulso eletromagnético por atenuação. Após o processamento, as imagens foram exportadas para o software AutoCad para o trabalho de interpretação dos radargramas e com finalização da representação dos perfis pedológicos utilizando o software ArcGIS 9.3.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A figura 1 apresenta o radargrama da topossequência na Fazenda Canguiri, com profundidade máxima de 2,5m e extensão de 88,42m. A figura 2 mostra a topossequência feita de maneira convencional. A descrição morfológica e a topossequência da figura 2 são encontradas em Rakssa (2007). O solo estudado foi classificado como Cambissolo. O GPR captou as diferenças na permissividade dielétrica dos diferentes materiais constituintes do solo, como teor de argila e minerais primários. O contato entre os horizontes A e B foi identificado no radargrama devido à mudança nos padrões de reflexão das ondas eletromagnéticas, associado ao aumento no teor de argila no horizonte B. O horizonte A no radargrama apresenta profundidade de 30 cm na trincheira T3, chegando à profundidade máxima de 70 cm. A partir de então, em direção à jusante há uma oscilação na profundidade e então diminuição, chegando a 40 cm na trincheira 4. A transição dos horizontes A/B mapeada em campo não foi encontrada no radargrama, o que confirma a afirmação de Doolittle e Butnor (2009) de que o GPR não detecta mudanças sutis nas propriedades dos solos, como horizontes transicionais, cor, mosqueados, estrutura e porosidade. O horizonte B no radargrama apresenta profundidade entre 30 a 250 cm na trincheira T3. Em direção jusante há uma diminuição na espessura, chegando à profundidade entre 70 a 150 cm. A partir desse ponto ocorre uma oscilação na espessura do horizonte B chegando à profundidade entre 40 a 250 cm na trincheira T4. Observam-se fortes refletores nos horizontes B e C, justificado pela presença de clastos de quartzo de tamanhos variados a partir do topo do horizonte B. O contato entre os horizontes B e C não foi bem definido no radargrama porque não apresentou variação significativa na permissividade dielétrica. Isso porque a textura dos horizontes B e C são as mesmas, ou seja, argilosas e ambos apresentam clastos de quartzo. Sendo assim, esse contato foi identificado pela pequena variação na textura da imagem. O horizonte C só aparece no radargrama a alguns metros de distância da trincheira T3, e sua profundidade mínima é de 140 cm, mantendo-se razoavelmente constante até próximo à trincheira T4, quando há o desaparecimento do seu sinal no radargrama.

Figura 1

Radargrama da topossequência entre as trincheiras T3 e T4 na Fazenda Canguiri.

Figura 2

Topossequência completa efetuada por Rakssa (2007) com indicação da área imageada com o GPR (quadrado tracejado vermelho). Fonte: Rakssa (2007).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O método empregado mostrou-se satisfatório com os objetivos propostos, foi possível identificar a variabilidade espacial dos horizontes do solo utilizando o GPR. Nos horizontes A e B o radargrama apresentou correlação parcialmente satisfatória com a descrição de Rakssa (2007), devido aos diferentes métodos de aquisição dos dados e representação da topossequência. O GPR mostrou-se uma ferramenta poderosa no mapeamento dos horizontes do solo, pois foi capaz de produzir um imageamento contínuo, além de reduzir custos e o tempo necessário para o estudo da topossequência. O conhecimento das propriedades físicas do solo foi fundamental para o efetivo uso do GPR, pois sem essa informação o levantamento geofísico pode ser passível de ambiguidades e incertezas na interpretação. O GPR aplicado ao estudo de solos não dispensa a utilização dos métodos tradicionais usados na pedologia, como sondagens a trado, mas pode maximizar a taxa de cobertura da área e minimizar o número de perfurações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
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