Anais: Interações pedo-geomorfológicas

Compartimentação Morfopedológica na área da Bacia Hidrográfica do Ribeirão Feijão no município de São Carlos-SP.

AUTORES
Cerminaro, A.C. (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO) ; Oliveira, D. (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO)

RESUMO
O trabalho busca a análise dos condicionantes físicos na área da bacia hidrográfica do Ribeirão Feijão,no município de São Carlos-SP,através da metodologia de Compartimentação Morfopedológica (TRICART&KILIAN,1979;CASTRO& SALOMÃO,2000).O objetivo da pesquisa é a elaboração do Mapa de Compartimentos Morfopedológicos, com base na descrição dos fatores que agem na esculturação da paisagem.Entendendo bacia hidrográfica como unidade de planejamento,o mapa possibilitará proposições adequadas para um uso e ocupação equilibrados do meio.

PALAVRAS CHAVES
bacia hidrográfica; compartimentação; morfopedologia

ABSTRACT
This study searches a holistic analysis of physical constraints in the watershed of Ribeirao Preto, in the São Carlos county of Sao Paulo. The aim is, by morphopedological compartiments methodology (TRICART & KILIAN,1979; CASTRO & SALOMÃO, 2000), to elaborate a Morphopedological compartiments map, based on geological geomorphological and pedological description and constraints in sculpturing of the landscape. Understanding watershed as planning unit, the map will allow appropriate proposals for a balanced use and occupation with the environment.

KEYWORDS
watershed; compartments; morphopedological

INTRODUÇÃO
A bacia hidrográfica como unidade de planejamento, se constitui como sistema natural bem delimitado geograficamente, onde os fenômenos e interações podem ser tratados como unidades geográficas (NASCIMENTO & VILAÇA, 2008). A Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Feijão está localizada em sua maior área no município de São Carlos, região central do Estado de São Paulo, e têm fundamental importância enquanto principal manancial urbano para a cidade. A área que compreende a bacia do Ribeirão do Feijão está localizada na APA Corumbataí, e no município de São Carlos compreende a Área de Proteção e Recuperação de Mananciais do Ribeirão do Feijão (APREM), instituídas pela Lei 13.944 de 2006. A legislação vigente sobre o local expressa a necessidade e preocupação para conservação e gestão sustentável dos recursos hídricos ali disponíveis. O estudo dos compartimentos morfopedológicos além de permitir a compreensão individualizada dos compartimentos, dada a interação dos fatores físicos rocha- relevo-solo-vegetação, possibilita um melhor compreensão do funcionamento atual de tais superfícies para um melhor planejamento de uso e ocupação do solo, numa perspectiva de re-equilíbrio ambiental (CASTRO & SALOMÃO, 2000). O presente trabalho busca a análise comparativa e associativa dos condicionantes ambientais na área da bacia hidrográfica do Ribeirão do Feijão. A escolha da metodologia desenvolvida por Tricart & Killian (1979) e metodologicamente difundida por Castro & Salomão (2000) permite testemunhar os processos responsáveis pela elaboração do relevo e dedução do comportamento da paisagem. O Mapa de Compartimentação Morfopedológica deverá ser o produto final da presente pesquisa, sendo uma representação cartográfica das relações naturais produzidas pelos fatores de formação e evolução da paisagem, podendo revelar-se como instrumentos para os programas de controle preventivo e corretivo de uso do solo.

MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia de Compartimentos Morfopedológicos (TRICART & KILLIAN, 1979) descrita didaticamente por Castro & Salomão (2000) abrange e visão de totalidade e interligação entre os componentes do meio físico que dão forma à paisagem, e propõe assim a investigação na feição de tais fisionomias e as relações dinâmicas entre os processos que contribuem para sua evolução histórica. A Compartimentação Morfopedológica mais eficiente para estudos em escalas de detalhe e semi-detalhe (1.50000 ou maiores, Castro & Salomão, 2000) possibilita apontar diretrizes para o ordenamento de uso e ocupação do solo. Foram utilizados como dados cartográficos as Cartas Ambientais do Município de São Carlos- Edição Comemorativa do Sesquicentenário - distribuídos gratuitamente pela Coordenadoria do Meio Ambiente do município. As cartas de substrato geológico, pedologia, hipsometria, declividade e perfis topográficos foram elaborados a partir da Carta do Município de São Carlos- Edição 146° aniversário, e foram elaboradas pelo LAPA/UFSCAR e LabSIG/SHS/EESC-USP, publicados em novembro de 2003. A partir da superposição cartográfica, no programa ArcGis 9.2 dos mapas de geologia, hipsometria e pedologia foi possível a identificação de unidades homogêneas na área da bacia do Ribeirão Feijão, tendo como principal condicionante a declividade dos terrenos. O estudo de Compartimentação Morfopedológica requer níveis sucessivos de tratamento, numa abordagem integrada, para a obtenção de indicadores comportamentais mais seguros, Castro & Salomão (2000) apontam a necessidade de nesse tipo de estudo não se produzirem respostas imediatas e fragmentadas. É essencial a posterior correlação entre o Mapa de Compartimentação Morofopedológica com os usos históricos e/ou atuais da área e suas conseqüências, visando dados que sejam úteis ao planejamento e ação sobre o território.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Apresenta-se como resultados parciais além dos mapas temáticos de pedologia, substrato geológico, hipsometria e declividade da área da Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Feijão no município de São Carlos, o Mapa de Compartimentos Morfopedológica (MCM). Foi realizada uma descrição física dos atributos representados nos mapas,com uma análise interpretativa, visando apontamentos de correlações para a construção do produto final, o MCM. Abaixo serão descritos os quatro compartimentos morfopedológicos (CM) apontados para área: CM 1- “Planície Fluvial” O CM 1 corresponde à Planície Fluvial da bacia hidrográfica, em seu setor no município de São Carlos. Têm altimetria entre 680- 740m, com fundos de vale amplos, planos e drenagens encaixadas. A baixa declividade, inferior a 2%, facilita a infiltração de água, diminuindo o desenvolvimento de processos erosivos, predominando assim os processos agradacionais (CASSETI,2005). As colinas amplas, com baixa densidade de drenagem estão sob a Formação Serra Geral e Pirambóia. A pedologia corresponde aos Neossolos Quartzarênicos, mas a probabilidade de ocorrência de gleissolos é muito grande, já que a área é alagada por inundações periódicas. CM 2- “Topos de Morros” O segundo compartimento corresponde as áreas mais altas da bacia, os “topos de morros” com altimetria entre 940-1010m. A declividade varia entre 0 e 5%, em relevo plano a suave ondulado, circundados nas bordas por vertentes com declividades superiores a 25%. O substrato geológico é da Formação Serra Geral, e a principal classe de solos são os Argissolos Vermelho Amarelo. Os fundos de vale são estreitos e encaixados e há grande número de cabeceiras de drenagem. Pela probabilidade de ser enquadrado como um compartimento de cimeira, numa superfície pediplanada, será feita em campo a conferência de ocorrência de lateritas (CASSETI,2005). CM 3- “Transição” Corresponde as áreas de transição altimétrica e de declividade entre o CM4- Dissecado e o CM2- Topos de Morros. A altitude varia entre 812-944m, e as declividades são superiores a 20%. Há ocorrência nas bordas de desníveis que configuram a presença de escarpas com declividade de até 50%. Deste modo a cobertura pedológica de Latossolos Vermelhos Distróficos e Neossolos Quartzarênicos, dá margem à hipótese de solos mais rasos nestas declividades, como Neossolos Litólicos. A cobertura geológica oriunda de Coberturas de Serra, dão sustentação à erosão remontante que ocorre, entalhando vales e reduzindo as áreas de topo (CM2). Na base das vertentes neste compartimento têm se a ocorrência de muitas nascentes (total de 23 cabeceiras de drenagem) o que especifica a necessidade de proteção da área CM 4- “Dissecado” O quarto compartimento é denominado “Dissecado” devido à baixa altimetria que varia entre 746 e 812m e a presença de longas vertentes de baixa declividade - maior parte inferior a 2%- com algumas áreas de transição com o CM3 com declividades entre e 5 e 12%. Geologicamente sustentado pela Formação Pirambóia, o relevo plano a suave ondulado, faz com que as drenagens se apresentem bem espaçadas. Predominam na área os Neossolos Quartzarênicos, que pela natureza de suas partículas constituintes (quartzo), e do seu arranjo (por empilhamento ou amontoamento) são solos macroporosos e bem drenados (OLIVEIRA,2005), assim são muito suscetíveis à erosão, tanto laminar quanto linear. Abaixo, as etapas que sucederão a pesquisa: descrição do relevo e interação solo-paisagem (CASSETI, 2005); análise das cabeceiras de drenagem como apontamentos para realizar a distinção dos compartimentos, ênfase nas formas e relação com a densidade e padrão de drenagem; elaboração de mapa de orientação das vertentes para análise e correlação do funcionamento hídrico na bacia; cálculo de área do compartimento; apontamentos sobre uso e ocupação de cada compartimento segundo a metodologia de potencialidades e fragilidades do meio elaborada por Ross (1994;2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclusões parciais A presente pesquisa busca caracterizar o meio físico de uma bacia hidrográfica, enquanto sistema integrado, visando contribuir no planejamento de uso e ocupação do solo, favorecendo a diminuição de degradação do meio e contemplando o desenvolvimento econômico e social dentro de uma perspectiva conservacionista dos recursos naturais do principal manancial da cidade de São Carlos. Com este objetivo e no estágio atual de desenvolvimento da pesquisa, de análise minuciosa e descritiva das relações físicas em cada compartimento e proposições adequadas sobre suas fragilidades e potencialidades (ROSS, 1994:2006) é possível apontar a área como um exemplo de divisão de territórios por meio de recurso hídrico, neste caso São Carlos e Itirapina. Fugindo da situação ideal para um manejo equilibrado de um manancial, sendo essencial que os dois municípios realizem o manejo adequado das margens dos rios e entorno, essa realidade seria politicamente mais fácil se esta área pertencesse a um único território.

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